O tempo hoje é meu, tempo de rasgar o calendário da vida, tempo de renovar sonhos. Quando o homem deixa de sonhar, morre. Sou virginiano e, como tal, encaro o tempo como uma abelha atarefada, sem espaço para a tristeza.
Aprendi com Cora Coralina, a mulher que dobrou o tempo amando as montanhas de Goiás, que todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo, o conselheiro mais sábio de todos. Vivo de emoção, escrevo todos os dias com o coração.
O coração, o amor e a poesia me movem. O tempo pode até envelhecer o meu corpo, mas não envelhece a minha emoção, porque sou um homem feliz. Para mim, o tempo da felicidade não é medido com as batidas de um relógio, mas com as batidas do coração.
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Machado de Assis, que li muito à luz do candeeiro em Afogados da Ingazeira, recomendado como uma bíblia da literatura pelo meu pai, um devorador de livros, dizia que o tempo é um rato roedor das coisas, que as diminui ou altera no sentido de dar outro aspecto. Para mim, o tempo ensina que é preciso seguir, amadurecer e se fortalecer.
Gasto o meu tempo com sabedoria. Valorizo os momentos com minha família, minha Nayla, meus filhos Felipe, André Gustavo, Magno, João Pedro, Maria Beatriz e Maria Heloísa. Busco um propósito em tudo o que faço. Por isso, para mim o tempo é o senhor da razão. Coloca tudo no lugar, deixa ensinamentos valiosos para a vida.
Hoje, renovo meus sonhos diante do espelho. O espelho e os sonhos, segundo Camões, são coisas semelhantes. É a imagem do homem diante de si próprio. Dou valor às coisas, aos pequenos detalhes, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam. A vida não é o que a gente viveu e sim o que a gente recorda de bom, recorda para contar e se maravilhar. Não me engano: em cada momento da vida existe uma memória a ser guardada no coração.
Decidi colecionar memórias diárias do que bens materiais, o qual as traças irão corroer com o passar do tempo. Se tem algo que coleciono, são as boas lembranças. São elas que mantém viva a nossa alma, adicionam esperança nas dificuldades e nos movem para frente. Por isso, sou um fabricante de boas lembranças, algo nobre e gratuito.
O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim só colho o amor. Nunca paro de sonhar, porque tenho em mim todos os sonhos do mundo. Às vezes, ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido, reproduzo Fernando Pessoa. Mário Quintana disse que sonhar é acordar-se para dentro.
Minha vida está no que escrevo. Sou arquiteto das palavras. A junção das palavras me dá o sustento da vida. Vivo também dos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.
Sou tão feliz com o que Deus me dá na jornada incessante da vida que nem olho o relógio. Sigo sempre em frente, jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal. Também aprendi lendo Machado de Assis.
Quem possui a faculdade de encarar a vida neste meu tempo, com os meus olhos coloridos pela beleza, não envelhece nunca. Sei procurar o que há de fundamental em mim. O gosto da felicidade que encontro entre os que escolhi para compartilhar a vida.
Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte. O bom humor é a única qualidade divina do homem. Aquilo que se faz com alegria radiante está sempre além do bem e do mal. Como diz Rubem Alves, aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.
A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente. Penso assim, ajo assim, vivo assim, sou feliz assim. Dou valor as coisas que me fazem bem. Aprendi também que a grande receita da vida está no sorriso estampado. Por isso, ainda que chova, ainda que doa, ainda que a distância corroa as horas do dia e caia a noite sem estrelas, o mundo brilha um pouquinho mais a cada vez que sorrimos para a vida.
Aprenda a amar. Eu segui Camões e aprendi: amor é fogo que arde sem se ver. É ferida que dói e não se sente.
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