Por Antonio Mario de Abreu Pinto*
Quando se fala em energia, uma série de fatos nos vem a mente, como os choques dos preços dos combustíveis, crises de suprimentos de energia, os apagões, a conta de luz, a poluição da atmosfera pela queima de combustíveis fósseis, a desigualdade no nível de consumo de energia entre os países industrializados e o resto do mundo, os acidentes nucleares, o que deixa a questão energética sempre na pauta do dia.
Uns recursos energéticos são renováveis sob forma hidráulica, solar, eólica, ou proveniente de biomassa. Outra parte, não renovável, representada por carvão, petróleo e gás natural, é associada ao risco de eventual exaustão a longo prazo. A captação e o uso de energia trazem danos ao meio ambiente, especialmente no caso dos combustíveis fósseis, pela emissão dos gases do efeito estufa, cujas consequências ambientais vem assustando toda gente.
Leia maisEm posição singular se situa a energia nuclear, em teoria ilimitada, cujo uso não provoca danos imediatos ao meio ambiente, evita o efeito estufa, nesse aspecto é uma energia limpa, mas que tem a sua imagem associada aos acidentes nucleares e envolve o problema da destinação dos rejeitos radioativos, além da lembrança das armas atômicas, fato que leva alguns por medo e desconhecimento a uma atitude de total intolerância e obscurantismo.
Precisamos levar a discussão para o campo da razão e tentar deixar a emoção para trás, o que é difícil face a maneira com que tomamos as decisões que sempre passam primeiro pela emoção, como já provou António R. Damásio, em sua obra “O erro de Descartes”.
A discussão sobre a instalação no sítio de Itacuruba é um exemplo da falta de racionalidade e da falta de uma análise técnica fria das vantagens e desvantagens que toda opção humana envolve.
Um exemplo, foi um artigo recente intitulado: “Contraponto / E se o vazamento fosse de uma central nuclear?”, publicado no site: www.brasilalemanha.com.br, que demonstra uma total parcialidade de sua opinião antinuclear, inclusive com inconsistência de ordem técnica, quando fala das usinas nucleares: além de confundir urânio com petróleo, afirma que o reator de Angra 3, do tipo PWR, é o “mesmo do acidente de Fukushima”. Ora, o reator de Fukushima é do tipo BWR (Boiling Water Reactor), o que caracteriza outra tecnologia.
E continua com outras impropriedades quando afirma que o assunto de usinas nucleares no Brasil “voltou à tona depois da eleição do governo de extrema direita”. Cabe aqui registrar que o assunto vem sendo tratado desde o governo do Presidente Lula e Dilma, incluindo as discussões do Plano 2030, do MME, além da retomada da implantação da usina de Angra 3 e nova usinas nucleares, inclusive no Nordeste.
Maliciosamente, finge ignorar o setor eletro energético comumente conhecido, quando menciona, com desdém, que a participação das usinas de Angra I e Angra II é irrisória. Na verdade, elas são responsáveis por 40% do atendimento ao mercado de energia elétrica do Estado do Rio de Janeiro, com energia firme de altíssima confiabilidade e qualidade, sem registro de nenhum acidente desde que iniciou sua produção de energia a mais de três décadas.
Na realidade, repete a ladainha, alarmista e inconsequente, de alguns ativistas antinucleares, que em geral pouco falam do alto índice de mortalidade anual de doenças cardiorrespiratórias, por conta da produção de eletricidade por combustíveis fósseis, que matam pelo mundo afora milhares de pessoas por ano. Além disso, não abordam o fato de a energia nuclear ser a forma, comprovadamente, mais segura e limpa de produção de eletricidade e nada falam da segurança energética e muito menos dos seus impactos positivos na economia.
Além, de colocarem a energia nuclear como inimiga das energias e eólicas e solares, ignorando que quanto maior a instalação de Usinas Nucleares maiores serão as possibilidades da instalação dessas energias intermitentes.
Esses mesmos ativistas antinucleares radicais, mencionam apenas três acidentes das usinas nucleares em 60 anos de atividade de produção de energia nuclear, falam dos três únicos acidentes das usinas de Three Mile Island (TMI) – EUA, ocorrido em 28 de março de 1979, Tchernobyl, na Ucrânia, em 28 de abril de 1986 e o acidente de Fukushima – Japão, em 11 de março de 2011.
Na verdade, o acidente de TMI, construída na margem de um rio, não causou vítimas e nem contaminação radioativa no ambiente. Segundo estudo sobre o acidente de Tchernobyl, realizado pela UNSCEAR – United Nations Scentific Committee on Effects of Atomic Radiation (2008), 22 anos após o acidente, houve 64 óbitos confirmados e que não há evidência de impacto na saúde pública atribuído à exposição à radiação.
Vale destacar que o acidente de Tchernobyl foi agravado pela forma como foi administrado pelos gestores soviéticos da época. Sem nos esquecermos que era uma unidade de produção projetada nos anos 40, onde não havia ainda supercomputadores e os cálculos eram realizados por réguas de cálculos. Onde a energia utilizava água e grafite.
Além disso um acidente com as mesmas características não poderia acontecer nos reatores de Angra dos Reis, onde os reatores utilizam apenas água pressurizada e não usam grafite como moderador. Os reatores nucleares brasileiros funcionam produzindo energia por 34 anos ininterruptos sem nenhum acidente nuclear. Por outro lado, o acidente de Fukushima foi causado por dois fatores: um terremoto de magnitude 9 na escala Richter, o maior já registrado no Japão, seguido de um tsunami de grandes proporções que vitimou aproximadamente 20.000 pessoas por afogamento e pelo desabamento de construções. No entanto, relatório da UNSCEAR de 2013 concluiu que não houve mortes causadas pelo acidente nuclear e que os impactos sanitários da radiação foram bastante limitados.
Quando se comparam esses números com o tempo de operação de usinas nucleares, funcionando 24 horas por dia, desde os anos 50, encontra-se um número muito menor de óbitos por TWh produzido, quando comparado com outras alternativas de produção de eletricidade.
A nuclear apresenta o menor índice de óbitos por TWh, segundo o estudo, científico, publicado pela revista FORBES de junho de 2012, que comprova o seguinte resultado: a produção de energia elétrica com base nuclear é a mais segura entre todas as demais atualmente existentes.
Os intolerantes ativistas antinucleares escondem que a Alemanha, com o seu desastroso programa energético, cujos investimentos chegam a quase 580 bilhões de dólares em energia intermitente, continua como um dos países mais poluidores da Europa, com mais de 40% de produção de eletricidade com base em carvão e com a maior tarifa residencial da região. Esquecem de mencionar a França, que é exatamente o contrário. Em 2015 a França alcançou os objetivos climáticos do acordo de Paris, menos de 50g de CO2 por kWh. Enquanto isso, muitos outros países membros da OCDE, permanecem com uma emissão de CO2 mais de 10 vezes maior do que a da França, onde a energia nuclear participa com quase três quartos da sua geração elétrica.
Não mencionam que o governo francês decidiu, recentemente, expandir seu programa nuclear a partir da tecnologia EPR – Evolutionary Power Reactor, cujo protótipo está em fase de conclusão em Flammanville, França. Dão preferência a alardear e incutir medo ao uso da energia nuclear para fins pacíficos, através de hipóteses absurdas, na esperança de parar o programa nuclear brasileiro deixando o nosso urânio para a exportação em detrimento do desenvolvimento do Brasil e suas regiões menos favorecidas economicamente.
Como é o caso agora, por exemplo, com a possível Central Nuclear de Itacuruba, grande projeto de desenvolvimento econômico regional e produção de energia elétrica, que vem sendo fortemente combatida, sem uma base consistente e razoável de argumentação, as vezes com um toque de obscurantismos medieval do qual foi também vítima Nicolau Copérnico quando propôs que o mundo girava em torno do sol.
Com um pouco de leitura e informação sobre produção de energia nuclear e desenvolvimento econômico associado a essa produção, ficaria demostrado como muitos dos argumentos utilizados contra esse tipo de produção de energia são frágeis e sem credibilidade científica.
É difícil imaginar algum sucesso real na narrativa equivocada que alguns setores insistem em defender e que não concorrem para o bem do Brasil em geral e de Pernambuco e Itacuruba em particular. A verdade é que a fonte nuclear proporciona uma energia limpa e segura. Atende plenamente a requisitos energéticos, com amplas e inequívocas vantagens e a exigências ambientais, sobretudo quanto à promoção do desenvolvimento econômico, social, educacional, científico e tecnológico.
Além de que as principais minas de urânio estão no Nordeste, ou seja, temos o combustível (apesar de maior parte do território nacional ainda não foi pesquisada), o que facilitará o comércio bilateral com o Brasil.
Não há como cotejar uma central nuclear, responsável e tecnicamente, com o absurdo das manchas de óleo que assombram o Nordeste. Estas, sim, uma ameaça sem precedentes ao nosso meio ambiente. Não há possibilidade de ocorrer nada com uma usina nuclear a ser implantada, em comparação à agressão ambiental que hoje o Nordeste brasileiro está enfrentando.
Hoje no mundo não existe uma forma mais eficiente de produção de energia limpa do que a termonuclear, apesar dos riscos que qualquer atividade humana enfrenta, até o que hoje ainda é uma incógnita técnica e econômica se torne realidade com o aproveitamento do potencial do hidrogênio.
*Advogado, economista, contador e ex-secretário de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco.
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