O intenso Ozair Cavalcanti que, se aqui estivesse, completaria 85 anos sexta-feira

Por Hylda Cavalcanti e José Ozair Cavalcanti Neto*

Se por aqui estivesse, José Ozair Cavalcanti (o José é por causa do santo padroeiro de Vertentes) estaria fazendo 85 anos na próxima sexta-feira (25). Falecido há 10 anos, três dias antes do seu aniversário, seus opositores até se irritam porque ele é conhecido e citado como um líder político relevante no agreste setentrional de Pernambuco até hoje, mesmo em meio a tantas novidades entre as lideranças nos últimos anos. O que nem todos sabem é que, apesar disso, o que menos Ozair fez na vida foi ser político.

Ozair detestava conchavos e todo o tipo de negociação, o que só fazia se existisse um motivo forte ou correto. Era do tipo sincerão que gostava de dizer as coisas na cara. Gostava de tudo certo, exigia dos seus subordinados o menor detalhe possível nos trabalhos. Era extremamente organizado e interessado em entregar o que prometia sempre, no tempo acertado. Características que passam longe da maior parte dos políticos contemporâneos, com poucas exceções.

Ozair foi, muito mais, um militante das lutas contra as desigualdades sociais (desde a juventude) do que o que se entende como um político tradicional. E fez tudo para, da forma que pôde, ajudar a melhorar a realidade à sua volta: o país, seu Estado e, principalmente, sua cidade — Vertentes.

Nascido de uma família de produtores e agricultores por parte de pai e de mãe, ele aprendeu cedo como pesavam as desigualdades. O pai, seu Cavalcanti, dono de sítios, a quem era muito apegado, quando ele era criança, apontou, dentre os amiguinhos com quem brincava, para um deles e cochichou no seu ouvido: “aquele também é seu irmão”. Foi o primeiro filho a chegar em casa e contar “eu tenho um outro irmão”, assunto que os outros já sabiam mas não comentavam por causa da mãe, magoada com a situação.

Com esse gesto, ele transformou o novo irmão num amigo de aventuras e muitas conversas e, quando adulto — com sua casa, esposa e filhos —, terminou por incluí-lo de vez e com muito orgulho na família, inclusive sendo cumprimentado por dona Conceição, a mãe, que entendeu, no final das contas, que o meio-irmão dos filhos não tinha nada a ver com a pulada de cerca do marido. Esse é só um exemplo do seu temperamento. Foi assim em todos os aspectos da vida. Orientou os filhos a distinguirem o que é certo do errado, a reconhecer quem tinha de ser reconhecido e também a que cobrassem sempre por seus direitos, evitando injustiças.

Ainda criança, fazia discursos dizendo que iria ser advogado quando crescesse. E era tão estudioso que a mãe o colocou para estudar o ensino médio, primeiro, num seminário, depois, em Vitória de Santo Antão. Por fim, no Recife, onde fez o curso clássico e passou no vestibular. Na Faculdade de Direito, nos anos 60, um novo mundo se abriu para ele, em meio à política estudantil, os livros de filosofia e literatura universal e o momento de ebulição no país.

Foi presidente do Diretório Acadêmico. Num período turbulento da sua passagem, quando a mãe de Che Guevara, dona Celia Guevara, esteve no Recife, foi escolhido pelos colegas para fazer discurso de saudações a ela, homenageando o seu filho. Só para resumir o clima quente daquele dia: as luzes da faculdade foram apagadas pela direção para evitar a homenagem e os estudantes a realizaram assim mesmo, usando velas.

Depois, houve um período em que os anos ficaram duros para todos. Ozair foi trabalhar na iniciativa privada, casou, concluiu o curso de Direito e voltou a morar em Vertentes, porque tinha chegado o momento da vida tão aguardado: de advogar na sua terra e adjacências. Tinha clientes de Limoeiro, Belo Jardim, passando por Surubim, Santa Maria do Cambucá, Vertentes, Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e outros municípios próximos até chegar na divisa de Pernambuco com a Paraíba. Para alguns, muitas vezes trabalhava pro bono.

Fez seu escritoriozinho no quarto que ficava na frente da casa, colado à sala de estar, e virou muitas noites na máquina de datilografia escrevendo petições, processos, pedidos de habeas corpus e o que mais tivesse pela frente ao lado da esposa, Geralda, também advogada. Os dois deixavam os filhos com as tias e a avó e passavam dois a três dias da semana viajando interior afora. Percorrendo fóruns, fazendo júris, tendo audiências, protocolando petições ou fazendo registros em cartórios, num tempo em que não existia a internet e esse tipo de providência tinha de ser feito presencialmente.

Alguns anos depois, foi chamado para ser superintendente do Sistema Penitenciário do Estado. E aí foi um período em que deixou a família louca, porque durante os sábados pegava a menina, de 8 anos, e o menino, de 6 anos, e os levava para visitar os presídios. Dizia que só poderia saber se o que pedia estava sendo bem feito, ouvindo dos próprios detentos. Chegava lá, embora sempre com um olhar atento aos filhos, que ficavam do lado ou brincando ao redor, e perguntava: “Como vocês estão sendo tratados aqui? A comida que lhes servem é boa? Vocês têm tido assistência disso ou daquilo? Tem havido muita briga entre os internos? ” Argumentava que uma prova de suas intenções e de que confiava neles, era que tinha ido ali levando os próprios filhos. Dava essas incertas sem avisar a ninguém e sempre afirmou que as conversas lhe deram grande aprendizado. Muitos desses, péssimos para os filhos, a quem impedia de chegar em casa tarde da noite quando adolescentes, por causa do que alegava ter ouvido dos presidiários.

Até o fim da vida, contava emocionado sobre o dia em que entrou num prédio, no centro do Recife, e o porteiro veio animado falar com ele: “Dr. Ozair, lembra de mim? Eu sou fulano, conheci o senhor quando estava preso e o senhor procurava saber como eu estava, me deu conselhos. E eu tive motivos para estar lá, doutor, fui um jovem delinquente. Hoje sou casado, sou pai e trabalho aqui, como porteiro”. Para resumir, a conversa resultou num almoço no domingo seguinte que Ozair ofereceu para o rapaz e a família em casa. Ele dizia que nunca iria se esquecer desse reencontro e que isso sim consistia na verdadeira ressocialização de um cidadão.

Com os amigos e conhecidos, Ozair abria as portas de casa. Com a família, escancarava. Perdeu as contas dos primos e primas que recebeu para temporadas que duraram poucos dias e outras que duraram meses. Dizia que seu lar era o lar de todos, sem exceção, mesmo que isso deixasse os filhos muitas vezes sem quarto, ou tendo de dormir em colchões improvisados no quarto dele e da mulher. Uma senhorinha que trabalhou muitos anos com a família, dona Lúcia, toda segunda-feira resmungava irônica: “como fica a programação da pensão esta semana? ”. Ele ria e nada dizia, mas sabíamos que gostava de ouvir aquilo.

Ozair também não tinha apego nem por livros nem por objetos que poderiam ser comprados facilmente em outro momento. Livro, se tivesse interesse em alguns, era melhor não o emprestar, porque ele doava para outra pessoa assim que lesse. Ou no meio de uma conversa ou então porque procurava a pessoa e dizia “sei que você precisa dessa leitura”. E depois procurava o dono e confessava: “Sinto muito, se quiser eu pago pelo livro, mas não posso lhe devolver mais porque passei adiante. Precisei fazer isso”. Sempre foi assim.

Da mesma forma, quando via alguém em dificuldade, tentava ajudar como podia. E se não podia, perguntava: “O que você sabe fazer? Sabe costurar? Se tiver uma máquina de costura, vai poder fazer uns clientes e colocar um dinheirinho dentro de casa? ”. E dessa forma, deu várias máquinas de costura da minha avó e da minha mãe, deu batedores e liquidificadores, que tirou diretamente da cozinha para as pessoas terem equipamentos que lhes permitissem fazer sucos e vitaminas, de forma a preparar e vender na feira para se sustentar. E assim por diante. Deu brinquedos dos filhos (que depois, com dor na consciência, substituiu por outros novos, ao vê-los chorando), deu bicicletas dos filhos e por aí vai. A mulher dizia no fim da vida que só não tinha dado as plantas do jardim, mas se enganou: ele também doou algumas, neste caso, como cortesia.

Veio a Prefeitura. Foi um dos primeiros prefeitos a instituir um plano de educação para o município. Mas não foi só a educação. Procurou a antiga Fidem, quando candidato, para estudar a cidade, saber suas viabilidades econômicas, os polos que demandavam maior investimento. Tudo coisa simples e corriqueira hoje, mas que nos anos 70, de governadores e prefeitos de capitais biônicos, em que a influência dos grandes políticos na eleição dos prefeitos de municípios do interior era muito maior, não era comum. Esse tipo de estudo prévio de um município ficava a cargo dos governos estaduais.

Voltou a governar Vertentes mais de dez anos depois, em 1993. Não são raros os vertentenses, hoje formados, que lembram quando ele ia de escola por escola para entregar fardas, cadernos e livros aos alunos. Fiscalizava as salas de aula, via de perto as condições de cada escola, olhava para eles e dizia: “estudem”.

Um episódio em especial, é considerado dos mais marcantes da sua vida. Num período de crise econômica no País, em que ele era o prefeito, houve uma onda de saques no interior de Pernambuco. A seca estava maltratando as cidades, as pessoas não estavam conseguindo ter um roçado e os agricultores se reuniram para entrar em muitos comércios nos municípios e tirar produtos para sobreviver. Menos em Vertentes. Ozair reuniu lideranças políticas e pequenos empresários. Conversou com eles e os convenceu que, pelo andar da carruagem, Vertentes seria uma das próximas cidades a serem atacadas, que a prefeitura se munir com policiamento para enfrentá-los, como muitos já tinham pedido, era a pior opção e ele não faria isso.

Explicou que essas pessoas não eram bandidos. Estavam famintas, sem perspectiva de vida, muitos tinham famílias e filhos e tinham razão nos seus propósitos. E fez uma negociação na qual todos doaram diversos produtos de seus estabelecimentos, lojinhas e casas (pois até donas de casa e pequenos comerciantes de sulanca ajudaram). Chamou o padre pedindo para entrar em contato com a pastoral da terra mais próxima, para que passasse o recado a esses grupos que os estava aguardando. E eles foram recebidos por boa parte da população da cidade num espaço repleto de gêneros alimentícios, cobertores e vários produtos para sua utilidade. Saíram de lá agradecidos e receptivos, sem qualquer tipo de violência.

Assim, seguiu a vida. Teve muitas vitórias e muitas derrotas na política. Fatos que, conforme dizia, só o ajudaram a ser mais forte como pessoa. Sempre ao lado do filho, Cavalcanti, que adulto, virou também advogado, político e um parceiro incansável. Foi ainda diretor do Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco, procurador da Fazenda de Pernambuco e ocupou outros cargos que não é possível contar num único texto. Tinha muita alegria e muita brabeza naquele 1,89 de altura e no vozeirão. Tinha, também, muita preocupação em fazer o melhor e fazer bem feito para as pessoas e para mudar a realidade das pessoas. Mas tinha, principalmente, muito acolhimento e propósito!

Recentemente, Theo Olivetto, filho do publicitário Washington Olivetto, falecido há poucos dias, disse que o pai era suavemente intenso. Lembrou um pouco Ozair. Ele conseguia ser tudo isso ao mesmo tempo: intenso, brabo, suave, carinhoso, agoniado e, também, muito forte em suas convicções e ponto de apoio de todos nos momentos mais difíceis das suas vidas. Uma pessoa que, se estivesse por aqui, estaria comemorando seus 85 anos com garra, brigando pelos direitos, cheio de ideais e com pique de fazer inveja a muitos jovens. Certamente, por tudo isso, uma pessoa que veio ao mundo para ficar na história.

*Hylda Cavalcanti é jornalista e filha de Ozair. José Ozair Cavalcanti Neto é economista e, por óbvio, neto de Ozair. Os dois resolveram, neste texto, escrever sobre ele na terceira pessoa pela primeira vez na vida porque acharam que seria uma outra forma de homenageá-lo, mostrando sua trajetória com certo distanciamento.

Por Maria Eduarda Barbosa Matos*

A Ordem dos Advogados do Brasil espelha não só uma instância de defesa de prerrogativas, fiscalização de preceitos éticos e técnicos, mas também um patamar de educação e conscientização acerca das necessidades da população brasileira: no jargão, o jurisdicionado. Nos últimos anos, é incontestável o cenário deficitário em todos esses papéis, o que bem explica a insatisfação da classe.

Por todos os cantos do nosso continental Brasil, estamos vendo despontar candidaturas às Diretorias de Seccionais voltadas a dar uma nova cara à advocacia brasileira, a cara do advogado de verdade: que é a face do anseio de cada cidadão brasileiro por melhorias na prestação do direito (mais do que jurisdicional) que emerge como atividade interligada às melhoras nos diversos setores da vida, bem como saúde. educação e segurança.

Aqui em Pernambuco, a chapa de Almir Reis e Fernanda Resende propõe, com vigor, esta mudança de paradigma tão necessária. Com representação dos diversos ramos e realidades da advocacia militante, é impossível não admitir como a melhor opção para a nossa seccional.

A justiça, valor que funda o Estado de Direito, começa no advogado e é nela que reside a igualdade de oportunidades tão buscada para que se tenha acesso às necessidades da vida já citadas. Só uma ordem forte é capaz de subsidiar o advogado, de inata coragem, para que possa atuar na medida que a população assistida merece. O advogado merece mais pois a população merece mais.

É hora de dar à OAB a cara do Brasil, representatividade: é hora da ordem ser tomada pelas mulheres, pelos jovens advogados, pessoas com deficiência, raças e etnias múltiplas. A OAB não pode representar apenas uma cara, mas dar face a cada brasileiro que necessita de um patrono qualificado, ético e firme no propósito de buscar o direito e a justiça.

E, com o otimismo que cabe a quem busca, me dou ao direito de cantarolar os novos tempos, assim como o poeta da terra de bravos guerreiros:

“Tu vens, tu vens
Eu já escuto os teus sinais…”

*OAB/PE 41.346, Mestra em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco

Por Machado Freire*

Meu caro irmão sertanejo e tricolor, Magno Martins!

Vamos ter que refazer a nossa luta que derrubou a ditadura de 1964. Só que hoje já estou setentão e os novinhos e novinhas ainda não acordaram para Jesus. As eleições que acabamos de acompanhar foram (quase) todas manchadas com dinheiro sujo. A compra de votos estava “dando na cara” feito papeira.

A situação é de uma gravidade gritante. Precisamos chamar de volta a Igreja de Dom Helder Câmara e os meninos seguidores de Doutor Arraes e Gregório Bezerra. Tenho pena do futuro dos meus netinhos e de todos os descendentes de homens e mulheres patriotas que conviveram conosco e junto a todos nós não tinham vergonha de defender os interesses da maioria da nossa Nação vilipendiada pelos seguidores de um tal sujeito que episodicamente chegou à Presidência da República.

E os péssimos maus exemplos deixados por ele estão sendo seguidos ao pé da letra. Um deles, é cada chefe político colocar um parente bem próximo (mulher, marido, irmão ou filho) na Câmara de Vereadores e na Prefeitura, para garantir a presença de sua família.

Em Salgueiro, foi assim e em muitos lugares também pelo Sertão afora. Pense num nepotismo imoral e desavergonhado por completo!

Jornalista*

Por Claudemir Gomes

Apesar da tentação — e do esforço —, não consegui ir à Ilha do Retiro na quarta-feira (16) para assistir ao jogo do Sport contra o Operário, no qual o rubro-negro pernambucano, por falta de foco, amargou uma derrota (2×1), que não foi bem digerida por sua torcida. Coisa do futebol!

Mas a noite foi marcada por um momento divino: a orquestração do já tradicional “cazá, cazá”, desta feita puxado pela torcedora Sandra Bertini.

Estou próximo a levantar a bandeira do cinquentenário como cronista esportivo. Nesta longa estrada, testemunhei momentos de grandes emoções de diversas tribos. Mas poucos foram tão profundos e significativos quanto aquele grito de amor, tendo a senhora Bertini como grande protagonista.

Na época de efervescência dos clubes sociais recifenses, vi o “cazá, cazá” ser entoado com arranjos dos maestros Nelson Ferreira, Duda, Fernando Borges e até do paulista Érlon Chaves.

Testemunhei as homenagens feitas pela torcida rubro-negro ao Mestre de Apipucos, Gilberto Freyre, e ao grande Ariano Suassuna, gritando seus nomes junto com o “cazá, cazá”.

O rubro-negro Severino Victor foi um dos fundadores da orquestra Treme Terra. Ele fazia questão de ressaltar que foi o primeiro a levar o frevo para as arquibancadas dos estádios pernambucanos.

Certa vez, Victor me revelou, na redação do Diario de Pernambuco, que era indescritível a emoção que sentia quando adentrava na Ilha do Retiro, à frente da Treme Terra, e a torcida leonina gritava o “cazá, cazá”.

Dona Sandra Bertini!

Fecho os olhos, exijo o máximo da memória, mas é impossível lembrar todas as vozes, formas e lugares onde testemunhei rubro-negros entoando o grito do “cazá, cazá”. Todos, sem exceção, ao seu modo, ao seu jeito, procuravam, através da marca registrada da tribo leonina, expressar alegria e emoção.

Entretanto, confesso que nenhum alcançou o estágio de sublimação como aquele momento, minutos antes de a bola rolar na Ilha do Retiro, quando fostes protagonista ao reger um coro de mais de vinte e seis mil torcedores, no mais inesquecível e emocionante de todos os “cazá, cazá” já entoados no estádio rubro-negro.

Não foi um grito de guerra!

Foi um brado que descortinou o mais puro amor. A paixão de uma mulher que já esteve na iminência de ser a primeira-dama do clube. Um grito que quebrou paradigmas, enterrou preconceitos.

Não estava presente ao estádio. Vi as imagens daquele momento sublime, pela primeira vez, através do smartphone. Emocionante!

Transferi o vídeo para o computador. Por fim, cheguei à conclusão de que, aquelas imagens eram coisas de cinema, e as transportei para a televisão.

Enganam-se os que pensam que não se pode orquestrar uma explosão de emoção coletiva. Sandra Bertini provou que é possível sim. A maestrina utilizou o corpo e a alma para interagir com os 26.345 leoninos presentes no estádio. E todos atenderam o seu chamado. Assisti ao vídeo inúmeras vezes. A cada visão, uma nova descoberta.

Aquele silêncio sepulcral, em fração de segundos, num estádio com mais de vinte e seis mil torcedores, dava para ouvir o bater de asas dos pirilampos encandeados pelos novos refletores da Ilha do Retiro. E veio a explosão com a voz forte e imperativa da maestrina Sandra Bertini: “E para sempre será!”.

Naquele momento todos entenderam porque o “Sport estremece a terra”.

Sandra!

Você colocou efeitos especiais num presente dos céus: seu amor pelo Sport.

Por Renata Berenguer*

A recente manifestação de Pedro Henrique Reynaldo, ex-presidente da OAB/PE, revela uma prática comum em tempos de eleições na Ordem: o “rei posto” tenta recuperar o protagonismo, reivindicando um espaço que já deixou, numa tentativa de reescrever sua própria história, neste caso, apresentando a defesa de gênero como um artifício retórico para favorecer uma única candidata nas eleições do Quinto Constitucional que ele apoia.

Até pouco tempo, Pedro Henrique era visto em almoços e eventos ao lado de Ingrid Zanella, demonstrando total alinhamento com a gestão atual. Pernambuco sempre contou com ex-presidentes admiráveis, mas tem sido um hábito que, a cada eleição, um deles busque retomar os holofotes, virando-se contra antigos aliados, movido por ambições pessoais.

Esse comportamento não é novidade para quem acompanha o histórico de Pedro. No passado, sua chapa contou com uma única mulher na diretoria e, subsequentemente, sob sua coordenação, houve um fato irreverente em que incluiu inicialmente uma mulher em sua chapa, mas, posteriormente, essa mulher foi substituída por ninguém menos que o próprio sócio dele. Esse tipo de artifício revela, já naquela época, o seu real objetivo.

A resolução que Pedro hoje contesta foi aprovada em abril de 2022 e amplamente festejada. Curiosamente, sua súbita defesa da paridade só surgiu quando sua candidata pessoal entrou na disputa do Quinto Constitucional; antes disso, ele nunca se opôs. Ainda mais contraditório é o fato de Pedro não apoiar outra candidata ao Quinto, que foi sua vice e a única mulher em sua chapa. Agora que seus interesses estão em jogo, ele tenta criar a impressão de que a mulher não tem sido prestigiada.

A adoção da paridade na lista sêxtupla não é um ato isolado, mas parte de um conjunto de avanços indiscutíveis promovidos pela OAB/PE em prol da equidade de gênero e raça. A nossa Ordem foi a quarta seccional do País a adotar a paridade na lista do Quinto Constitucional, o que é de grande relevância considerando que muitos Estados do Brasil ainda não contam com essa mudança e que não há uma regra estabelecida pelo Conselho Federal sobre o tema.

Na Paraíba, a paridade foi adotada recentemente, mas a cota racial mínima de 30% ainda não foi implementada. Lá, mesmo com uma mulher sendo a mais votada, o quarto candidato mais votado- um homem – não entrou na lista devido à aplicação da paridade. Isso demonstra que a realidade é muito mais complexa do que Pedro tenta simplificar. Ao contrário do que ele sugere, a atuação da Ordem tem sido firme e à frente no que diz respeito ao tema.

De maneira contraditória, Pedro agora promove a candidatura de um homem do interior, claramente tentando impedir a eleição de Ingrid . Essa estratégia só reforça a falta de coerência em seu discurso. Fica claro que, quando o interesse pessoal bate à porta, os princípios tendem a pular pela janela.

Não é salutar alinhar a regra pela exceção, nunca na história de Pernambuco tivemos três mulheres como as mais votadas na lista do Quinto Constitucional. A presença feminina sempre foi esparsa, e essas conquistas, até então, eram raras. Esse avanço é significativo, mas sabemos que ainda há muito a ser feito. Continuaremos trabalhando para que a realidade de Pernambuco sirva de exemplo ao Conselho Federal, e que, em breve, possamos aprovar uma nova redação em que a paridade de gênero não seja apenas uma meta mínima, mas uma regra efetiva e estabelecida.

*Advogada e Conselheira Federal da OAB.

Por Renato Fonseca*

É alarmante o estado em que o PT se encontra atualmente. O partido que outrora simbolizava a luta das classes trabalhadoras parece ter se perdido em alianças pragmáticas e oportunistas. Com o afastamento das bases populares, especialmente nas periferias, a extrema direita conseguiu enraizar-se rapidamente, ocupando o vácuo deixado pelo PT.

O resultado? Uma derrota esmagadora nas eleições de 2024, com o partido elegendo pouco mais de 200 prefeitos em todo o Brasil. O apoio a candidaturas de esquerda foi quase nulo, enquanto Lula, o atual presidente, fez aparições esporádicas, limitando-se a comparecer apenas duas vezes em São Paulo.

No Recife, o cenário é igualmente desolador. O PT tinha três vereadores e, neste ciclo, perdeu uma cadeira, conseguindo eleger apenas duas vereadoras: Liana Cirne e Kari Santos. Figuras históricas como Osmar Ricardo e Professor Jairo Brito, que já ocuparam mandatos importantes na câmara municipal, ficaram de fora.

Essa perda de espaço reflete não apenas a fraqueza do partido, mas também a influência das alianças que prevalecem nas decisões internas, até mesmo na hora de dividir o fundo partidário. Os aliados recebem mais, criando um cenário em que “tudo para os meus e nada para os outros” se torna a norma.

Além disso, a retaliação dentro do partido é uma prática comum. Aqueles que não obedecem às diretrizes da cúpula enfrentam expulsões. Eu mesmo posso ser expulso por expressar essas opiniões, o que é uma ironia triste, pois o PT nasceu da rebeldia e da luta contra o autoritarismo. Quando o partido adota essa postura, perde sua essência e se distancia de suas raízes.

No Estado de Pernambuco, a situação é ainda mais preocupante. Sob a liderança de Doriel Barros e a influência de Humberto Costa, o partido perdeu o protagonismo e se tornou um espectador passivo. A tentativa vexatória de assegurar a vice na chapa de João Campos (PSB) culminou em uma derrota humilhante, mostrando que o PT não só se afastou das suas raízes, mas também se comprometeu a perder espaço no debate político.

Alianças com figuras, como Yves Ribeiro e Elias Gomes, que ingressaram no partido apenas para disputar eleições, revelam um oportunismo preocupante. André Campos, que havia abandonado o PT para se juntar ao PSB, agora retorna ao partido, levantando dúvidas sobre suas intenções.

Outro aspecto crucial a ser considerado é a idade de Lula. Embora seja o atual presidente, é inquietante perceber que poucos falam sobre a sucessão de Lula. Ele não é eterno. O que será do PT e da esquerda quando não puder mais ser candidato? Por que é tão difícil discutir a renovação no campo da esquerda? Essa falta de diálogo e promoção de novas lideranças é um sinal claro de que o partido está se afundando em suas próprias tradições sem olhar para o futuro.

Ademais, o PT tem se aliado a partidos que no passado votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff, sem qualquer crítica. Essa estratégia levanta questões sérias: até onde o PT está disposto a ir em nome do poder? Quem será capaz de substituir Lula e conduzir o partido em direção a um futuro que já parece incerto?

É hora de refletir profundamente sobre esses pontos. O PT precisa urgentemente resgatar sua essência, revitalizar suas bases e abrir espaço para novas lideranças que possam dialogar com as demandas da sociedade contemporânea. Se não fizer isso, corre o risco de se tornar um mero apêndice de uma política de poder, esquecendo-se das lutas e dos valores que o tornaram um símbolo de esperança e resistência. O futuro do PT e da esquerda brasileira depende dessa transformação. Precisamos nos perguntar: o que faremos para garantir que o legado de luta e transformação social continue a ser uma prioridade?

*Militante petista

Por José Adalberto Ribeiro*

MONTANHAS DA JAQUEIRA – Na era da ditabranda, a Arena foi chamada de “O maior partido do Ocidente”. Era o partido dos grotões dos coronéis do Nordeste, este Nordeste das culturas do atraso. Coronéis de fancaria (não de títulos do Império) eram donos de fazendas e terras inúteis e de rebanhos de gado magro para ostentar poder. Na verdade, viviam pendurados nas mamadeiras dos cofres públicos. Estas eram as fontes do mandonismo.

A Arena, santo de pau oco, estava infestada de fungos. Todo poder malévolo atrai parasitas. A seita vermelha hoje está contaminada por sanguessugas, carcarás, cupins, serpentes e outros insetos da fauna comunista. A seita é um vírus mutante. O globalismo é o novo nome do urucum vermelho de guerra.

Falar que o Petrolão petista foi a maior corrupção da história é pleonasmo, é conjuntivite na vista. O ovo da serpente continua entranhado nos intestinos da seita.

Brizola, o Briza, que não alisava ninguém, foi injusto ao chamar o guru da seita vermelha de sapo barbado. Os sapos são criaturas adoráveis e do bem. “Debaixo do poste de iluminação os sapos engolem mosquitos”, cantou o poeta Manuel Bandeira. Também não deve ser chamado de “bode rouco”, porque os bodes são valentes e trabalhadores. Ele tem a voz de taboca rachada. Os bodes, as cabras e os pais de chiqueiro são os heróis sertanejos. A voz rouca é o charme deles.

Louis Armstrong, o grande cançonetista das Américas, inspirou-se nos bodes roucos e pais de chiqueiro do Sertão nordestino para entoar suas melodias. Era chamado Satchmo – O Bocão. Antes, deveria ser conhecido como o Pai de Chiqueiro das Américas, um título mais poético. A maravilhosa musa Janis Joplin é a versão feminina do bode rouco. Ouvir Janis é pura emoção. Elza Soares foi a voz das mulheres no estilo dos bodes roucos. Ela é a nossa Janis Joplin. Beleza de voz. Viva Janis! Viva Elza!

O guru da seita do cordão encarnado mais parece um lobisomem vermelho, um gafanhoto ou escorpião escarlate.

Prefiro mil vezes ouvir o relinchar dos jumentos ou o canto dos pais de chiqueiro sertanejos que os grunhidos dessa catrevagem que pulula no Rock in Rio e no Lollapalooza. Questão de sensibilidade artística, modéstia à parte. Relinchar é uma arte. Esta é minha tese de doutorado, em homenagem ao jumento nosso irmão, no dizer de Gonzagão, o rei do baião.

O sonho de consumo do guru vermelho é ser transformado num faraó, tipo o Ramsés do Egito. Com aquela voz cavernosa e perto da idade centenária, falta apenas ser mumificado. A cuidadora contou que foi “abrido” o livro dos “cidadões”.

“A última flor do Lácio inculta e bela”, assim cantou o poeta Olavo Bilac. O idioma português originou-se na região do Lácio, na Antiga Roma, derivado do Latim popular. Hoje a flor do Lácio está sendo maltratada por uma cuidadora inculta e não bela.

*Periodista, escritor e quase poeta

Por Clara Ant*
Para o Poder 360

Completou-se na segunda-feira (07) o aniversário de 1 ano do ataque do Hamas a civis israelenses numa área de fazendas coletivas fronteiriças à cidade palestina de Gaza. Ação brutal que teve como alvo famílias de moradores israelenses cujas relações cotidianas de vizinhança com famílias de moradores palestinos eram estreitas.

Centenas de jovens que se divertiam numa festa rave foram também vitimados. Nesse único dia, o Hamas massacrou, torturou, estuprou e queimou vivas mais de 1.000 pessoas, entre elas: crianças, mulheres e idosos. Sequestrou mais de 200! As imagens desse episódio foram registradas pelo próprio Hamas e divulgadas em todo o mundo.

De lá para cá, o governo israelense desencadeou uma ofensiva com o objetivo declarado de eliminar o Hamas. Mas o que foi anunciado como uma retaliação transformou-se em destruição de bairros inteiros e deslocamento de centenas de milhares de civis palestinos que vivem em condições precárias de moradia, sem água potável, comida, escolas e hospitais.

O assassinato de mais de 40.000 pessoas, crianças, mulheres, idosos, vitimadas por um tipo de castigo coletivo, prática que fere o Direito Internacional Humanitário, supera em milhares o número de combatentes do Hamas.

Apesar dos alertas e esforços de diferentes países, isoladamente ou na ONU (Organização das Nações Unidas), como o Brasil, que tentou mais de uma vez pautar o cessar-fogo e o diálogo, o conflito se intensificou e já é tratado como potencial início de uma guerra regional frente à escalada de Israel rumo ao Líbano e a entrada do Irã, que atacou diretamente Israel e dá sustentação a grupos extremistas como o Hezbollah e os houthis.

É preciso ainda registrar a agressividade de parte dos colonos extremistas israelenses, estranhamente impunes na expansão dos assentamentos já condenados pelo Direito Internacional, aproveitando o foco em Gaza para martirizar ainda mais a vida dos palestinos na Cisjordânia. Extremistas palestinos também martirizam, matam e ferem israelenses no cotidiano, como se viu há pouco nas proximidades de Tel Aviv e de Beer Sheva, o centro mais importante do sul do país.

A questão que se coloca é se o terror e a guerra podem substituir o diálogo e a diplomacia para conduzir a região para a paz e para a convivência entre todos. Mesmo se o conflito tivesse começado recentemente, seria possível acreditar em uma solução como a alegada por Netanyahu e possivelmente aprovada por uma parte dos israelenses, já que são eles que vivem debaixo da rota dos mísseis dos iranianos, do Hamas, do Hezbollah e dos houthis?

Antes do atentado de outubro de 2023, Netanyahu já era alvo de manifestações semanais, quando milhares de israelenses cobravam sua renúncia. Em 2024, os mesmos manifestantes, mais os familiares dos reféns e ativistas pela paz, têm como pauta o resgate dos reféns e o cessar-fogo.

Curiosamente, alguns líderes da comunidade judaica brasileira preferem ignorar a mobilização dos israelenses e dedicar seu tempo a justificar a ação nociva do primeiro-ministro, ao mesmo tempo que hostilizam o governo brasileiro e sua política externa.

O que dirão esses líderes da proposta de paz que acaba de ser divulgada por Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro de Israel, e Nasser Al Kidwa, ex-chanceler da Autoridade Palestina? Vale recordar que nos anos 1990, Netanyahu saiu às ruas contra os acordos de paz de Oslo, ocasião em que ele pedia, sim, atenção: a morte de Rabin, o líder das negociações de paz. Netanyahu é um vitorioso da morte e um negacionista da paz.

*Judia, filha de pais sobreviventes do Nazismo. Autora do livro “Quatro Décadas com Lula”. Assessora Especial do Presidente da República

Por Claudemir Gomes

A Era da Comunicação, como é chamada a nova ordem, por si só, explica uma enxurrada de besteirol que vemos nas redes sociais, rádios, televisão… A verdade é que tem muita gente se achando, sem ter condição de achar nada. Mas não adianta nadar contra a maré. O silêncio é o que existe de mais sábio a ser feito por um cidadão que tem um pouco de discernimento.

Os mestres do achismo atacam em todas as vertentes. O futebol, que segue sendo uma das maiores paixões do brasileiro, não poderia ficar de fora deste contexto em que os pitaqueiros são tratados como reis, e até fazem fortunas como influencers.

Vez por outra, até os profissionais experientes “dançam na maionese”. Recentemente, numa dessas mesas redondas da ESPN, com direito à presença de um ex-jogador tetracampeão, e jornalistas com várias coberturas de Copa do Mundo no currículo, o assunto dominante em mais de 15 minutos de programa foram as escorregadas dadas pelo jovem atacante Savinho durante uma coletiva de imprensa.

O rapaz de 20 anos, que começou sua carreira nas divisões de base do Atlético Mineiro, e atualmente está vinculado ao Manchester City, caiu em desgraça quando, do alto de sua sinceridade, revelou que não havia visto os últimos jogos da Seleção Brasileira. Vale lembrar que ele reside na Inglaterra, onde a diferença de fuso horário para o Brasil é de 5 horas. Sendo assim, quando um jogo é disputado aqui às 22 horas, lá já são 3 horas do dia seguinte.

Confesso que, em dado momento, pensei que estivesse vendo todos os “idiotas” que assustavam o mestre Nelson Rodrigues. Fiquei sem saber se o rapaz estava sendo entrevistado para um emprego na emissora de televisão, ou concorrendo a alguma cadeira da Academia Brasileira de Letras.

Ora! O que se deve exigir de um jogador que é convocado para defender a Seleção Brasileira de Futebol é que ele apresente um bom futebol, nada mais que isso. Tal como fez o Rivaldo no Mundial de 2002, quando foi um dos maiores protagonistas da conquista do penta. O craque pernambucano era terrível na comunicação, mas superava a tudo e a todos com a bola nos pés.

Nunca vi nenhum professor de oratória, nenhum imortal da ABL ou nenhum grande comunicador ser convocado para jogar na Seleção Brasileira. O problema do time comandado por Dorival Júnior não é de linguística. Tudo começa pela gestão da CBF que há muito tempo permite a farra dos empresários que empurram jogadores de qualidades discutíveis nas convocações.

Não existe nada mais melindroso nesse País do que a convocação da Seleção Brasileira. Dizem que é pior até do que insultar o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Entretanto, entra técnico, sai técnico, presidentes da CBF são trocados, mas o conluio dos empresários se mantém firme. É algo imprescindível na liturgia da entidade.

Mas é mais fácil espinafrar um jogador por conta do seu português ruim. A turma do achismo é tão amarga quanto um gol contra.

Por Vinicius Labanca*

Quem diria que uma das cidades mais politizadas do mundo, transbordando intelectualidade e conhecida por sua irreverência e independência, veria um jovem líder como João Campos se destacar de forma tão expressiva?

Ontem, João Campos se consagrou como o grande vencedor, não apenas de uma eleição, mas de corações e mentes. Vimos a história ser escrita por um cara que superou desconfianças, reacendeu o otimismo e trouxe a promessa de dias melhores, não só para o Recife, mas para todos os pernambucanos.

Essa vitória é fruto de muito trabalho e coragem. Paradigmas foram quebrados e um novo caminho foi traçado. João, com sua liderança ousada, coragem para inovar e sensibilidade única, não apenas venceu uma eleição – ele transformou expectativas em conquistas, provando que um futuro mais justo e cheio de oportunidades é possível. Agora, Recife e Pernambuco seguem com confiança renovada, prontos para o próximo capítulo de sua história.

O “João do TikTok”, “João Mídia”, “João do Insta” mostrou que é madeira de lei que cupim não rói. Aqueles que insistirem em duvidar do nosso “João do Povo” vão continuar se surpreendendo, porque ele é o presente – e será o futuro do Brasil.

Prefeito reeleito de São Lourenço da Mata*