Tabira, no Sertão do Pajeú, a 400 km do Recife, vai lotar, amanhã, a praça Gonçalo Gomes, principal cartão postal da cidade, para reverenciar a memória da filha ilustre Nevinha Pires, que Deus chamou em 2016. Grande escritora e poetisa, Nevinha foi escrever no céu suas paródias de amor ao Pajeú, especialmente sua amada Tabira.
Seu filho Pedro Pires, médico extremamente conceituado no Estado, era seu xodó. Não há um dia que Pedrinho, como é conhecido, deixe de perpetuar o legado da mãe. Criou até um congresso literário anual em Tabira com o nome da mãe.
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A modalidade deste ano vai culminar com um gesto de filho apaixonado que deixará Tabira envaidecida: a entrega de uma escultura da escritora e professora em praça publica, evento que será prestigiado por muita gente importante do Recife.
A produção foi dos escultores Jobson Figueiredo e Nara Cavalcanti. Ficou linda. Toda em bronze, inclusive o banco. A escultura pesa 300 kg. Seus custos foram assumidos em sua totalidade pelo filho. Nevinha era uma personalidade única no Pajeú. Como professora, seus alunos eram tratados com carinho e a doçura de mãe.
Seus escritos sobre o Sertão, sua Tabira e sua gente, eternizados em livros, são uma ode ao chão de vidas secas, lindíssimos. Estou em Brasília, mas ao pousar amanhã no Recife já sigo direto para Tabira.
Faço questão de compartilhar esse momento tão emocionante ao lado meu amigo Pedro. Nevinha, que conheci e convivi, era muito amiga do meu pai Gastão Cerquinha, que como ela, também foi escritor. Fazia ao seu lado tertúlias literárias tendo como cenário a lua cheia do Sertão que desbravaram juntos.
Já ouvi Pedrinho me dizer, em tom de desabafo, daqueles que explodem do fundo do coração: “Minha mãe Nevinha foi a mulher mais bonita que já vi. Tudo o que sou devo à minha mãe. Atribuo meu sucesso na vida à educação moral, intelectual e física que recebi dela”.
Que lindo, meu amigo Pedro!
A você, ofereço o poema Para sempre, de Carlos Drumond de Andrade:
Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
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