A vice que deu certo

Por Muciolo Ferreira 

Se até hoje no Brasil existiu um vice que deu certo, certamente errou quem apostou em José Sarney (vice de Tancredo Neves), Itamar Franco (vice de Fernando Collor) ou Michel Temer (vice da presidenta Dilma). Essa personalidade tem nome  e sobrenome: Maria Martha Hacker Rocha ou simplesmente Martha Rocha. 

E pensar que Martha foi eleita Miss Brasil em 1954 numa eleição quase  indireta apenas por um Colégio Eleitoral formado por sete jurados e sem a presença dos eleitores que seriam tempos depois traduzidos em numerosas platéias que lotavam o Ginásio Maracanãzinho poderia até parecer algo inusitado. Isso se não fossem a honestidade e a lisura dos  jurados na hora de escolher a Miss Bahia como a mais bela entre as seis candidatas de outros estados. Naquele júri ninguém foi  indicado pelo Centrão. 

Manoel Bandeira (poeta), Helena Silveira (escritora), Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Pompeu de Souza (jornalistas) jamais aceitariam se corromper nem receber propina para eleger outra menos competente nem bela para Embaixadora da Beleza Brasileira, mesmo sendo o Rio de Janeiro sede da competição ser o Distrito Federal e ter candidata. Daí ter sido legítima a eleição daquela que seria “A Primeira Namoradinha do Brasil”. 

Uma década depois para esse título ser da atriz Regina Duarte, mas sem direito a coroa, faixa e manto. Então, qual o motivo de Martha Rocha ser “A Vice que deu certo?”. Simples: Foi a partir de sua derrota no concurso Miss Universo por duas polegadas a mais no quadril que os concursos de miss em nosso País se popularizaram ao ponto de disputar a audiência no mesmo patamar de uma final da Copa do Mundo de Futebol. 

Isso até o final dos anos 60. Diferente dos outros vices que tivemos e não deram certo, Martha Rocha tinha carisma e sempre foi aplaudida nas aparições públicas. A eterna Miss Brasil nos deixou aos 87 anos. Teve uma vida de glamour. Tive o prazer de conhecê-la num evento no Recife promovido pelo coordenador do Miss Pernambuco, Miguel Braga. Ela resgatou um pouco a auto-estima do brasileiro que andava em baixa com as duas derrotas da seleção Canarinha nas Copas do Mundo de 50 e 54 e após o trágico suicídio de Getúlio Vargas. 

Teve amores e desamores. Mas isso é assunto para colunas de celebridades e de fofoca. O Blog do Magno é coisa séria. Ontem, Martha Rocha saiu de cena para entrar na história. 

*Jornalista