Em memória do “Menino de Água Branca”

Por Daslan Melo Lima*

Faz 10 anos que o jornalista e escritor José de Sousa Alencar, o Alex, natural de Água Branca, Alagoas, fez a Grande Viagem. Menino de origem humilde, o filho de Dona Sinhá, uma guerreira alagoana na melhor acepção da palavra, Alex formou-se em Direito; foi crítico de cinema; assistente do filme “O Canto do Mar”, de Alberto Cavalcanti; colunista social; coordenador do concurso Miss Pernambuco; escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.

Eu sempre lia religiosamente sua coluna dominical no Jornal do Commercio e aprendi muito a refletir sobre a condição humana ao mergulhar em suas sábias crônicas.

Tenho, num álbum de recortes, uma crônica de Alex onde ele afirma: “É tão estranha a vida, tão curiosa. E a morte, com sua realidade imponderável, deve ser, será sem nenhuma dúvida, um momento de mais absoluta solidão. Sim, será a morte um momento de solidão, do homem sozinho consigo mesmo, se não tiver fé, se não tiver o conforto e o consolo subjetivo de que existe algo mais além da vida”.

Alex sabia que existia algo além da vida. O eterno menino de Água Branca, que completaria 89 anos de idade em 05.08.2015, seguiu na Luz ao encontro de outra missão no dia 24.01.2015.

*Jornalista, advogado e blogueiro de Timbaúba

Por Antônio Campos* 

A guerra principal está nas redes sociais e na internet e há guerras também no chão, seja na Ucrânia, no Oriente Médio ou outras. Nas redes sociais, o passarinho canta na ilusão de ser livre, mas está numa gaiola. As grandes big techs, geridas por algoritmos, são máquinas de vender produtos, necessidades e levam muitos para onde querem. 

É estratégica a aproximação do novo governo americano com as big techs. Dados das pessoas customizados são o novo petróleo do século 21. As big techs sabem mais sobre nós que os nossos familiares.  Lá estão dados e verdadeiras biografias digitais. 

Na teoria da caverna de Platão, os homens que estão no interior da caverna pensam que o vêem é a realidade. Mas não é, eles vêem suas próprias sombras ou ilusões. Pensam assim porque não conhecem outro mundo. Com essa teoria, Platão compara a caverna ao mundo sensível onde vivemos, que é o mundo das aparências.

A teoria da caverna de Platão pode ser adaptada ao mundo das redes sociais e ao vínculo aos celulares que vivemos. Vivenciamos já uma meta-realidade, onde, para muitos, redes  sociais e as suas vidas reais se misturam num mundo de aparências e de influencers. 

É indiscutível que as redes sociais estão incentivando a compra de criptomoedas no momento, por exemplo. Gera um efeito manada. É tudo muito sutil ou até que não. Gera riqueza, destrói reputações, influencia eleições, entre outras questões. 

A regulação das redes sociais?

O Supremo Tribunal Federal (STF) está julgando os Recursos Extraordinários (REs) 1037396 e 1057258, que tratam da responsabilidade civil das plataformas da internet por conteúdos de terceiros e a possibilidade de remoção de material ofensivo, a pedido dos agredidos, sem a necessidade de ordem judicial.

O núcleo da controvérsia é sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que exige ordem judicial prévia e específica de exclusão de conteúdo para a responsabilização civil de provedores, websites e gestores de redes sociais por danos decorrentes de atos ilícitos praticados por terceiros.

As big techs convidadas pela AGU – Advocacia Geral da União para a audiência pública sobre moderação de conteúdo nas redes sociais não compareceram à audiência. A AGU fará o documento e enviará ao Supremo. 

Esse é um debate mundial, especialmente no Brasil e na Europa. Onde está o limite da informação e das fake News, entre outras anomalias?

O novo governo americano prega a liberdade máxima de expressão nas redes sociais. 

 A guerra do governo americano com o TikTok, que é chinês  e que teria acesso a muitos dados, demonstra a relevância desse assunto, no contemporâneo, seja na política, nas narrativas, na economia. 

Internet e redes sociais na Rússia e na China

A Rússia e a China utilizam redes sociais próprias e inclusive proíbem o uso de VPN, por considerar as redes sociais instrumentos de domínio e armas de guerra. 

A Starlink de Elon Musk

O projeto de Elon Musk com a Starlink e a internet via satélites é uma tentativa também de romper esse bloqueio, sendo uma rede de internet via satélite, com um projeto audacioso, que vai além de facilitar o acesso à internet. A Starlink já está disponível no Brasil desde 2022. 

E o Brasil?

Embora o Brasil precise de uma agenda econômica urgente mais clara e objetiva, o Presidente Lula, para os seus interesses políticos e do seu governo, agiu correto em mudar o rumo de sua comunicação, despertando para esse mundo digital, do qual estava perdendo feio o jogo ou fora dele. 

Certamente, o Supremo Tribunal Federal fará sua parte nesse capítulo.Além da economia, a questão das redes sociais está no núcleo da corrosão das democracias. Esse debate se prolongará durante todo 2025. 

Professor Frontman AI

O avatar ou alguém utilizando voz de inteligência artificial, que ganhou o nome de @frontman.ai, vem denunciando um projeto de dominação do mundo, através das redes sociais, com inteligência artificial e a utilização de algoritmos. O que ele diz merece uma reflexão e nem tudo é teoria da conspiração. 

A verdadeira liberdade é estar off-line

Nesse momento de excesso de informações e do impacto das redes sociais, a verdadeira liberdade é quando se está off-line. 

Quem dominar a comunicação, dominará o mundo 

Além das guerras tradicionais, talvez essa seja a maior guerra travada no momento, principalmente nas redes sociais e na internet, que é o domínio e o direcionamento da informação, na era da Inteligência Artificial. 

A verdadeira liberdade de expressão não pode ser mitigada por instrumentos tecnológicos a serviço comerciais ou outros. 

A ONU, através da UNESCO, lançou as Diretrizes Globais para a Governança de Plataformas Digitais. Contudo, é algo insuficiente e sem eficácia. 

Além do UNODC, que é um órgão de cooperação internacional contra os crimes cibernéticos, faz-se necessário criar um Tribunal Internacional de Crimes Cibernéticos, como existe o Tribunal Penal Internacional de Haia, com sede na Holanda, entre outras medidas.

O desafio e as dificuldades são gigantescos, mas é preciso que Davi enfrente Golias. 

*Advogado, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras, Membro da Associação Brasileira de Imprensa – ABI e do Pen Clube Brasil e ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco – FUNDAJ

Por Maurício Costa Romão*

O art. 45, § 1º da Carta Magna estabeleceu que o número total de deputados federais e a representação de cada estado seriam definidos por lei complementar (LC), proporcionalmente à população, cuidando para que nenhuma das unidades da Federação tenha menos de 8 ou mais de 70 deputados.

Posteriormente, a LC 78/93 dispôs que: (1) o número de deputados federais dos estados deve ser proporcional às suas populações; (2) o total de parlamentares federais não pode ultrapassar o teto de 513, e (3) nos anos anteriores às eleições o IBGE fornecerá dados atualizados das populações dos estados.

Todavia, desde a edição da referida LC, quando os atuais quantitativos de deputados foram fixados, não houve alteração nas representações dos estados, em ostensiva inertia deliberandi da instância legislativa, apesar das mudanças populacionais desde as eleições de 1994,1998, 2002, 2006, 2010, 2014, 2018 e 2022, gerando evidentes desproporcionalidades.

Em agosto de 2023 o STF obrigou o Congresso Nacional a editar lei complementar, até 30 de junho de 2025, promovendo as necessárias adequações. Ademais, designou o TSE para fazer os ajustes pertinentes, já com vistas a eleição de 2026, caso o Congresso continue desobedecendo o constituinte originário. 

A Corte Máxima estabeleceu no decisum que o saneamento da omissão seja feito consoante o Censo de 2022, mantendo-se o total de deputados em 513 e os limites constitucionais máximo de 70 e mínimo de 8 deputados federais nos estados. Por último, estatuiu que o método empregado para o cálculo da proporcionalidade na relação população/deputado seja o D’Hondt das maiores médias (o mesmo usado nas eleições proporcionais no Brasil).

A adequação promoverá alterações de bancadas federais em 14 estados (7 diminuindo e 7 aumentando). Como as vagas de deputados estaduais nas Assembleias Legislativas guardam relação com o número de parlamentares federais dos estados (CF, art. 27, caput e art. 32, § 3º), haverá correspondentes mudanças de vagas legislativas nos mesmos estados, para menos e para mais.

Irresignados com a iminente perda de parlamentares (14 no total), os estados prejudicados encetaram movimento (vide FSP, edição de 15/01/25) no sentido de aumentar em 14 o número total de vagas da Cãmara, passando dos atuais 513 para 527 deputados.   

A solução proposta colide frontalmente com a norma constitucional.

De fato, considere-se, à guisa de exemplo, o caso dos estados da Paraíba e do Amazonas. As populações destes estados são praticamente iguais, segundo o último Censo: 3.974 mil e 3.941 mil habitantes, em respectivo. Mas, a Paraíba tem 12 deputados federais e o Amazonas tem 8 apenas. A ausência de ajustes periódicos gerou essa assimetria, de sorte que no atual contexto um deputado paraibano representa 331 mil habitantes, ao passo que um amazonense arca com 493 mil habitantes, quase 50% a mais.

Com o ultimatum corretivo do STF, a Paraíba perde 2 deputados e o Amazonas ganha 2, ficando ambos com a mesma bancada de 10, aproximando as proporcionalidades de representação: 397 mil habitantes por parlamentar na Paraíba e 394 mil no Amazonas.

Na proposta sendo gestada no Legislativo, contudo, os estados com diminuição de bancadas manteriam seus efetivos vigentes, e os estados com aumento seriam agraciados com os acréscimos correspondentes. Nesta senda, a Paraíba continuaria com os 12 deputados atuais e o Amazonas ganharia 2 deputados a que tem direito, ficando com 10.

A propositura fere de morte o critério de proporcionalidade ditado pelo art. 45 da CF e pela LC 78, visto que o número de deputados por estado não é fixado de acordo com a respectiva população. In casu, o legislador paraibano continua a representar apenas 331 mil habitantes e o seu congênere amazonense 394 mil.

Impende destacar, na verdade, que qualquer tentativa dos estados que terão de diminuir suas bancadas de driblar a adequação em lide, mediante a manobra de acrescer o número total de parlamentares da Cãmara Federal, viola o princípio da proporcionalidade, dadas as balizas legais da CF e da LC 78. No interior desse universo legalmente delimitado não há como aumentar vagas de alguns estados sem diminuir as correspondentes vagas de outros.

*Ph.D. em economia pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos.

Por Ângelo Castelo Branco

O Brasil atravessa um momento político caracterizado por um cenário de polarização extrema, que impede avanços institucionais e o surgimento de lideranças capazes de promover a renovação e a reconciliação nacional.

Entre tensões internas e dilemas externos, os principais atores políticos contribuem para a sensação de surrealismo e desorientação no debate público. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta críticas contundentes por ações que contradizem promessas de campanha, como a transparência e o fortalecimento das instituições democráticas. O domínio do STF sobre as demais esferas da república sugere uma tutela inédita na história. Sob o silêncio complacente do palácio do Planalto.

A polêmica envolvendo supostas manipulações de dados do IBGE, a crise do PIX e a imposição de sigilos sobre gastos, afetam gravemente a imagem do presidente. A sensação de retrocesso ético e a percepção de que decisões estão sendo tomadas à margem do interesse público se refletem na queda de sua popularidade, evidenciada em pesquisas de avaliação do governo.

No plano internacional, Lula tem adotado uma postura de silêncio em relação a regimes autoritários e movimentos controversos, como o Hamas e governos não democráticos. O que esvazia seu discurso antifascista e suas críticas aos golpistas e bolsonaristas.

Isso prejudica a imagem do Brasil no cenário global e gera atritos desnecessários, como o desgaste diplomático com os Estados Unidos, agravado pela decisão de negar o passaporte ao ex-presidente Jair Bolsonaro – uma atitude que muitos consideraram desproporcional e inoportuna.

Por sua vez, Jair Bolsonaro, mesmo inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vive uma espécie de delírio cívico como se pudesse de fato disputar novamente a presidência em 2026. Esse posicionamento ignora a realidade política imposta pelas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e de seu ministro Alexandre de Moraes. A insistência de Bolsonaro em se manter como figura central da oposição não apenas limita o espaço para novas lideranças conservadoras, mas também reforça a polarização que estagna o país.

Quem se debruça imparcialmente sobre a realidade brasileira, constata uma intensa polarização entre lulistas e bolsonaristas, cenário este que paralisa o processo político e impede o surgimento de alternativas que possam reconciliar o país. A ausência de lideranças jovens e inovadoras no cenário nacional, reprimidas pelos donos da polarização, é um sintoma dessa estagnação, onde o debate político gira em torno de personalidades desgastadas e projetos que priorizam o confronto em vez da construção.

O Brasil precisa urgentemente de um novo caminho político, que passe pela superação das disputas ideológicas extremas e pela construção de um projeto nacional inclusivo e sustentável. Para isso, é fundamental que lideranças mais jovens e com propostas viáveis tenham a oportunidade de ocupar o espaço político, promovendo a renovação e a conciliação.

Sem essa mudança de paradigma, o país corre o risco de permanecer preso a um ciclo de estagnação e conflito, incapaz de avançar em questões cruciais para o desenvolvimento social, econômico e político. O Brasil merece mais do que repetir erros do passado e perpetuar uma disputa que não serve aos interesses da nação.

Os líderes atuais estão sufocados pela obsoleta cultura política ideológica dos anos 50, distantes dos processos civilizatórios exigidos pelas sociedades modernas. Estas sociedades escolhem seus gestores públicos com base na capacidade de entregar resultados, e não insultos, ameaças, censuras, mentiras, cassações e prisões. A história nos mostra que movimentos políticos inspirados por líderes conciliadores sempre foram recebidos de braços abertos pela nação brasileira.

Por Antônio Campos*

O legado de Nabuco como diplomata e do ideário do Pan-americanismo.

Além de seu legado como abolicionista, Joaquim Nabuco deixou um grande legado como diplomata e como um dos criadores do Pan-americanismo, um ideário, formulado nas últimas décadas do século XIX, que propunha a cooperação intelectual, cultural, política e comercial entre os países da América.

Nabuco anteviu os Estados Unidos como grande potência e a diplomacia americana reconhece o seu valor até hoje. Ele morreu em Washington, em 1910, tendo todas as honras de Chefe de Estado dadas pelo governo americano e brasileiro.

Quando fui presidente da Fundação Joaquim Nabuco, por três anos e meio, recebi cônsules e embaixadores americanos que visitaram a Fundação, onde está o seu acervo e que leva o seu nome, por considerarem Nabuco o maior embaixador brasileiro nos Estados Unidos, em todos os tempos.

Existe um livro importante para entender Nabuco e o Pan-americanismo, escrito por Olímpio de Souza Andrade, com última edição de 1950, que merece ser republicado, nesse momento, com prefácio e notas contemporâneas.

Seria o caso de um novo Pan-americanismo sob inspiração do ideário de Nabuco? Toda vez que o Brasil teve uma visão pragmática, sem colorações ideológicas, teve êxito. Certamente essa deveria ser a postura sobre os Estados Unidos, na era Trump, buscando colaboração e relações, dentro do possível, numa visão pragmática, inclusive sob a inspiração de Joaquim Nabuco, que era um idealista pragmático.

O grande historiador inglês Edward Gibbon, em seu clássico “A história do declínio e queda do Império Romano”, diz que o problema não foi só a queda de Roma, mas a demora da queda e a sua decadência. A tão pré-falada decadência americana, parece revigorada e fortalecida, com status de uma Nova Roma, de um Império que retoma a sua força, mesmo privilegiando ainda mais o seu país.

Aqueles que apostaram na decadência americana e no Oriente como grande eixo do mundo, certamente estão vendo que os Estados Unidos tem fôlego e o jogo vai ser de gigantes, no tabuleiro entre a China e os Estados Unidos.

O mundo e a vida são dinâmicos e nós precisamos dos Estados Unidos e também os Estados Unidos precisam de nós, nas Américas, sendo o atual tempo de uma visão pragmática de relações, o que Nabuco sempre foi um idealista pragmático. Espero que o governo brasileiro tenha essa visão, pois a política é dinâmica.

*Advogado, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras e membro da Associação Brasileira de Imprensa

Por Cláudio Soares*

A política pernambucana está, novamente, em ebulição com a expectativa da reunião entre o senador Humberto Costa (PT) e a governadora Raquel Lyra (PSDB). Há rumores de que a gestora poderia formalizar um convite ao PT, sinalizando uma possível aliança que, até o momento, se mantém apenas nas especulações.

O deputado João Paulo (PT) já manifestou publicamente a necessidade de o partido reavaliar sua posição de oposição à governadora que, na prática, vem se mostrando cada vez mais tênue.Raquel tem um histórico de estratégias ambíguas. Na última eleição, sua escolha de não declarar apoio a nenhum candidato à Presidência foi uma manobra que, embora controversa, lhe rendeu dividendos.

Ao se posicionar como uma candidata neutra, conseguiu conquistar o eleitorado bolsonarista, que acreditava que ela jamais votaria em Lula. Essa estratégia, somada à tragédia pessoal que a envolveu com a morte de seu marido no dia da eleição, criou um clima de empatia que a assegurou ao segundo turno, desbancando Miguel Coelho e Anderson Ferreira.

Naquela disputa, quem da chamada oposição chegasse ao segundo turno seria o governador de Pernambuco. O sentimento foi de mudança e renovação, derrotar Paulo Câmara e frear PSB/PT. No entanto, o cenário atual é bem diferente. A governadora, que prometeu uma nova abordagem e mudanças fundamentais, enfrenta uma gestão marcada por críticas severas.

Diversas áreas do Governo, incluindo saúde, educação e infraestrutura, têm sido alvo de descontentamento popular. As condições das estradas no Sertão, como os trechos entre Afogados da Ingazeira e Tabira, de Sertânia a São José do Egito, de Riacho do Meio a Santa Terezinha, estão em estado de abandono.

Na saúde, os hospitais Getúlio Vargas, Restauração e Agamenon Magalhães enfrentam um atendimento desumano e os repasses financeiros aos hospitais em convênios sofrem com a demora dos recursos, enquanto os educadores expressam revolta generalizada em relação à educação pública.

A segurança pública também não escapa à insatisfação. Delegacias operam em condições precárias, sem a estrutura mínima necessária para o trabalho.  

As pesquisas recentes, como as da Opinião e Quaest, revelam uma posição pessimamente para governadora com um forte indicativo de que, se as eleições fossem hoje, Raquel perderia para João Campos, atual prefeito do Recife.

Diante desse contexto, surge a pergunta: quem a governadora, com sua astúcia, conseguirá enganar desta vez? O ceticismo em relação à sua capacidade de liderar e promover mudanças é palpável entre a população que, cansada da ineficácia administrativa, já demonstrou não hesitar em mudar de rumo.

O futuro político da governadora parece cada vez mais incerto e o desafio de reconquistar a confiança do eleitorado será monumental. A junção com o PT poderá ser um passo relevante ou sua sepultura política, mas resta saber se ela se tornar petista será suficiente para reverter a maré de insatisfação que se instalou em Pernambuco.

*Advogado e jornalista

Por Ângelo Castelo Branco

A recente declaração do ministro Ricardo Lewandowski, revelando perplexidades perante a possibilidade de cada estado brasileiro possuir seu próprio código penal, evidencia a complexidade e os desafios da federação brasileira no âmbito legislativo. O comentário, feito no contexto de defesa da PEC da Segurança Pública, leva a uma reflexão profunda sobre o modelo federativo adotado no Brasil e seus impactos no sistema jurídico.

Nos Estados Unidos, um exemplo frequentemente citado, cada um dos 50 estados possui seu próprio código penal, adaptado às realidades locais. Além disso, existe um código penal federal que regula crimes de abrangência nacional, como terrorismo e tráfico interestadual. Essa pluralidade legislativa, longe de ser vista como um entrave, reflete o caráter descentralizado da federação norte-americana, onde os estados possuem ampla autonomia para legislar. Entretanto, tal modelo exige mecanismos robustos de coordenação e harmonização para evitar conflitos de competência e desigualdades excessivas.

No Brasil, por outro lado, a uniformidade das leis penais tem sido uma característica marcante, com o Código Penal de 1940 aplicando-se de forma indistinta em todo o território nacional. Embora essa homogeneidade seja vista como uma garantia de isonomia, ela ignora as particularidades regionais que podem influenciar a natureza e a gravidade dos crimes. Estados como São Paulo e Amazonas, por exemplo, enfrentam realidades criminais profundamente distintas, mas estão sujeitos às mesmas normas penais, o que pode limitar a eficácia das políticas de segurança pública.

A ideia de códigos penais estaduais no Brasil, apesar de improvável no curto prazo, provoca questionamentos importantes. Seria essa descentralização um caminho para aumentar a eficácia das legislações penais, adaptando-as às especificidades locais? Ou resultaria em uma fragmentação jurídica incompatível com o princípio da unidade nacional? A perplexidade expressa pelo ministro da Justiça ao imaginar tal cenário sugere que, no modelo federativo brasileiro, a centralização normativa é vista como essencial para manter a coesão do sistema jurídico.

Entretanto, essa centralização também gera problemas significativos. Em um país de dimensões continentais como o Brasil, com profundas desigualdades econômicas, sociais e culturais entre as regiões, a aplicação uniforme das leis pode ser ineficaz e, em alguns casos, até injusta. Além disso, a falta de autonomia legislativa dos estados dificulta a implementação de políticas inovadoras, que poderiam ser mais adequadas às demandas regionais.

A comparação com os Estados Unidos revela tanto os desafios quanto as possibilidades de um sistema legislativo mais descentralizado. Apesar das diferenças estruturais entre os dois países, a experiência norte-americana mostra que é possível conciliar autonomia estadual com coesão nacional, desde que existam mecanismos eficazes de harmonização legislativa. No Brasil, no entanto, essa discussão ainda é incipiente e enfrenta resistências significativas, tanto por razões históricas quanto políticas.

Assim, o comentário de Lewandowski não apenas reflete uma perplexidade legítima diante da complexidade do modelo federativo, mas também nos convida a repensar os limites e as possibilidades da centralização legislativa no Brasil. É preciso avançar para um modelo que, sem abrir mão da unidade, reconheça e respeite a diversidade regional, garantindo que as leis penais sejam, acima de tudo, instrumentos de justiça e eficácia.

Minhas ferias vapt-vupt, de apenas duas semanas, chegam ao fim amanhã, quando reassumo a edição geral do blog, a coluna diária, postada à meia-noite, e na radiofonia a ancoragem do programa político Frente a Frente, hoje transmitido para 48 emissoras em Pernambuco, Alagoas e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife.

Enquanto estive de pernas para o ar, o blog ficou sob o comando da minha equipe, à frente a editora Itala Alves, que reveza a edição ao longo da semana com Camila Emerenciano e nos finais de semana com Thaís Leandro, enquanto a coluna foi assinada pela jornalista Larissa Rodrigues. As redes sociais foram tocadas por Waleska Cambrainha.

Já o Frente a Frente foi apresentado pelo radialista Joffre Melo, com sonoplastia de Aldir Júnior. O tempo de descanso foi curto, mas dei uma boa relaxada. Estive na praia e no Sertão, curtindo minha família. Volto com as energias recarregadas para o batente. 2025 é um ano pré-eleitoral com vistas ao pleito para presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual em 2026.

Também 2025 marca os festejos dos 19 anos de fundação deste blog, pioneiro no Nordeste. Em abril, faremos um evento para assinalar a data, não tão amplo e magnífico como foi a grande festa dos 18 anos no ano passado, mas apenas para não deixar o aniversário passar em branco.

Do Estadão

O presidente Lula da Silva está atordoado após o vexame que foi sua reação amadora ao já famoso vídeo no qual o deputado oposicionista Nikolas Ferreira (PL-MG) levanta suspeitas de que uma instrução normativa da Receita que previa o monitoramento de operações via Pix seria o primeiro passo para cobrar mais impostos. Incapaz de fazer vingar sua versão dos fatos, Lula mandou criminalizar o discurso da oposição, numa clara demonstração de que seu compromisso de defender a democracia – com o qual se elegeu presidente na disputa contra Jair Bolsonaro – nunca foi realmente sério.

Já era previsível a mobilização de partidos e entidades esquerdistas para acionar a Justiça contra os opositores que estão fazendo o governo de gato e sapato nas redes sociais, mas, na prática, o efeito disso é limitado e provavelmente ficará apenas no terreno do ridículo. Por outro lado, a contraofensiva oficial determinada por um presidente da República humilhado mostra que Lula está disposto a usar a força colossal do Estado contra cidadãos que ousam criticá-lo ou levantar dúvidas sobre suas reais intenções, algo que é intrínseco à política. É evidente que isso contraria os fundamentos da democracia e do Estado de Direito.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o grupo de advogados Prerrogativas anunciaram representações ao Conselho de Ética da Câmara e à Procuradoria-Geral da República contra o deputado Nikolas Ferreira, acusando-o, entre outras coisas, de “estelionato” e “crime contra a economia popular”. Qualquer um de boa-fé que tenha assistido ao vídeo do parlamentar sabe que ali não houve nada disso. E ainda que houvesse, mentir na política não é crime, assim como é lícito em uma democracia desqualificar medidas governamentais, ao contrário do que alguns querem fazer parecer. Mas aqui ao menos estamos apenas no terreno do pitoresco.

Tudo fica mais sério quando, por ordem direta do Palácio do Planalto, a Advocacia-Geral da União (AGU) aciona a Polícia Federal (PF) para que seja aberto um inquérito policial a fim de investigar a disseminação de “fake news” sobre o Pix, notadamente sobre a suposta taxação do serviço. A tática é manjada: o governo Lula estigmatiza como “fake news” tudo o que lhe desagrada como forma de cerceamento do livre exercício da crítica. Não custa reiterar: espalhar mentiras ou, vá lá, “desinformação” não é crime, salvo em raras exceções tipificadas no Código Penal – apologia ou incitação ao crime, manifestações racistas, crimes contra a honra, contra a saúde pública e fraudes processuais, entre outras. Nada disso se aplica a este caso.

Portanto, não há qualquer justificativa republicana, quiçá jurídica, para a intervenção de um órgão de Estado como a AGU em socorro de um governo zonzo em meio a uma batalha eminentemente política. Donde se pode concluir que a ordem de Lula para que a AGU envolva a PF no caso do Pix não se presta a outra coisa senão a intimidar opositores, que, a depender do desdobramento do caso, pensarão dez vezes antes de criticar publicamente uma medida do governo.

A ameaça de Lula não poderia ser mais clara: se até um parlamentar como Nikolas Ferreira, o deputado mais votado nas eleições de 2022, pode ser acionado na Justiça pelo que fala contra o governo, malgrado estar amparado pela imunidade parlamentar assegurada pela Constituição, o que pode acontecer com um cidadão que não tem as mesmas prerrogativas?

Na petição à PF, a AGU argumenta que “os resultados negativos da ampla disseminação de desinformações sobre o Pix já estão sendo sentidos com a maior queda de número de transações desde a implementação do sistema, após desinformação sobre sua taxação, conforme dados do Banco Central”. E daí? Se o número de movimentações financeiras via Pix caiu, isso se deve não à eventual prática de crimes, mas à inépcia de um governo em descrédito.

Se Lula é incapaz de defender no campo da comunicação uma medida correta de seu governo, não será acossando adversários na Justiça que vai resgatar a confiança dos brasileiros.

Por J. R. Guzzo

Colunista do Estadão

O governo Lula pede ao público pagante que acredite na seguinte história que está contando – ou que tentou contar. A Receita Federal soltou uma ordem exigindo informações sobre o uso do seu Pix, mas nunca, em tempo algum, teve nenhuma intenção de cobrar um real a mais no imposto de renda que você paga. Foi tudo uma fake news da extrema direita para sabotar a ordem econômica.

Alguém já viu a Receita soltar uma portaria, uma única que fosse, para cobrar mais imposto? Alguém já viu o presidente Lula contar uma mentira, também uma única que fosse, ou dizer uma coisa e fazer outra? Ou seja: por que o medo?

Diante da vida pregressa que o governo tem em matéria de mentira e de verdade, já seria um milagre que a população acreditasse nas negativas coléricas sobre a cobrança de mais imposto. “Toca a Polícia Federal em cima deles”, exigiam as autoridades. “Chama a PGR. Chama a AGU. Chama o Xandão”. Vai daí o próprio governo, em pânico diante da reação indignada do público, anulou a portaria que tinha acabado de soltar. Mas se a revolta que explodiu nas redes sociais era fruto de fake news, e a decisão não tinha nada de errado, por que raios a portaria foi revogada?

É, mais uma vez, o governo sendo pego em flagrante delito – e voltando atrás quando é descoberto. Ficaram todos revoltados com as redes, mas o problema não tem absolutamente nada a ver com redes, “discurso do ódio” e outras criações do seu estoque de mulas-sem-cabeça. Tem a ver unicamente com a morte e o enterro de qualquer credibilidade que o poder público possa ter no Brasil de hoje. Ninguém acredita mais em Lula, Janja, Haddad etc., nem leva a sério nada que venha do governo – é esse o drama.

Lula já disse que a picanha estava, sim, caindo de preço, que não haveria impostos nas “blusinhas” e que “ninguém” tem mais “responsabilidade fiscal” do que ele. Já prometeu arroz do governo a preço de liquidação. Já anunciou que “agora” chegou o momento da “colheita” – como assim, se não plantou nada? A questão, à essa altura, se reduz a uma pergunta só: qual a razão objetiva para uma pessoa normal acreditar em qualquer coisa que o presidente diga, ou que o governo anuncie?

A única fake news legítima nessa história do Pix, na verdade, foi produzida pelo próprio governo, com a gritaria histérica contra as redes. É como se fossem elas, e não a máquina estatal, que tivessem escrito a ordem idiota – tão idiota que eles mesmos tiveram de revogar. Pior que o soneto parece ser a emenda. O nível desesperadamente baixo da linguagem do novo Ministério da Comunicação em sua tentativa de reagir ao desastre só mostra que eles continuam sem entender nada.