Raquel teve o pior desempenho da história dos governadores de PE

Por Diogo Moraes*

Quem acompanha a política pernambucana atentamente percebeu o péssimo desempenho obtido pela governadora do Estado, Raquel Lyra, nas eleições 2014. Nunca antes na história recente de Pernambuco, um chefe do Executivo estadual obteve um resultado tão ruim num pleito municipal. Apesar de não ser candidata, Raquel poderia ter resultados expressivos com a conquista de prefeitos e prefeitas, o que não aconteceu. 

Com o término do primeiro turno das eleições de 2024, a base aliada da governadora Raquel Lyra tem apenas 87 prefeitos, seguido de 81 da oposição,11 independentes, 3 sub judice e 2 que disputam o segundo turno. O mínimo de um Governo, desde o início deste século, era de ao menos 120 prefeitos ligados ao Governo do Estado.

Se analisarmos esse desempenho na Capital pernambucana, o resultado é ainda pior. O candidato da governadora perdeu até para os nulos, com amargos 29 mil votos. A verdade é que até seus aliados têm medo de mostrar que estão ao lado da governadora. Na campanha do Recife, Raquel não deu as caras. 

Seu partido elegeu apenas 30 prefeitos e um segue sub judice em Joaquim Nabuco. Enquanto o PSB, que se encontra na oposição, fez 31 prefeitos. Vale salientar o excelente resultado do Partido Socialista Brasileiro na capital pernambucana. Nosso prefeito João Campos mostrou sua grande liderança e aprovação da população, obtendo impressionantes 78,1% dos votos válidos. É a maior vitória da história do Recife, com mais de 725 mil votos e vitória em 100% das zonas eleitorais.

A verdade é que o PSB de Pernambuco e o prefeito João Campos mostraram a grande liderança nas eleições de 2024. Prova disso é que o partido vai governar cidades que somam 26% da população do estado. E, mesmo tirando a capital, o PSB continua somando a maioria dos pernambucanos. O PSDB vai governar somente 10,8% da população. 

Em números, o Partido Socialista Brasileiro teve 1,4 milhão de votos neste primeiro turno. Mesmo retirando o Recife, o PSB soma quase 700 mil votos, contra os 600 mil apurados pelo partido da governadora Raquel Lyra.

O PSB também conseguiu eleger a maior bancada de vereadores do Estado, somando 339 legisladores municipais. O PSDB, por sua vez, fez 226. Na Câmara Municipal do Recife obtivemos uma expressiva votação, elegendo 15 vereadores. Por sua vez, a legenda tucana não fez sequer um representante na capital. 

Nos 10 maiores colégios eleitorais do Estado, a Frente Popular obteve resultado positivo em 06 cidades. Um município é independente (Jaboatão), um é do partido da governadora (Caruaru) e outros dois disputam o segundo turno (Olinda e Paulista).

Contra fatos não há argumentos, além de ser uma gestora que não consegue destravar o Governo em nenhuma área, Raquel mostra que a política também não é o seu forte. 

*Deputado estadual e líder da oposição na Alepe

Por Mário Júnior

A Vereadora Érica Uchoa, minha esposa, reeleita com um aumento expressivo de votos, sempre acreditou na vitória da Professora Elcione. Ao longo de minha trajetória, sempre me  destaquei como um conciliador e defensor leal do projeto político liderado por Mário Ricardo. Mesmo quando grande parte dos aliados de Ricardo romperam com o grupo, mantive-me manteve-se fiel à Professora Elcione, enfrentando críticas e ataques.

Ao contrário da pecha de traidor que alguns tentaram atribuir, provei ser fiel ao projeto político que Mário Ricardo construiu ao longo dos anos. Enquanto Mário Ricardo optou por abdicar desse projeto, possivelmente movido por interesses pessoais, continuei defendendo a gestão de Elcione, demonstrando que lealdade era projeto coletivo, e não a interesses individuais. Recusei a ideia de seguir cegamente meu líder político, ponderando que as críticas à Professora Elcione eram desproporcionais e injustas.

Conciliador por natureza, sempre percorri todos os cantos de Igarassu, promovendo harmonia entre os postulantes à Câmara dos Vereadores. Meu compromisso com a unidade do grupo foi evidenciado ao incentivar minha esposa, então presidente da Câmara, a abdicar de sua reeleição para apoiar o mais fiel dos correligionários de Mário Ricardo, reforçando seu papel de liderança dentro do grupo político.

Nos debates de pré-campanha, o clima de pessimismo em relação à Professora Elcione era evidente. Muitos previam uma derrota humilhante, o que levou Mário Ricardo a abdicar da disputa e lançar seu filho, Miguel Ricardo, como candidato, em aliança com o Deputado Federal Júnior Uchoa e sua esposa, a empresária Janaína Uchoa, como vice. Mesmo diante desse cenário, fui uma das poucas vozes que, de forma implacável, continuei defendendo a vitória de Elcione. Além disso, ousei propor uma renovação na Câmara, preenchendo as vagas dos opositores, uma aposta ousada e acertada.

O resultado das urnas confirmou a minha visão, mesmo após  enfrentar inúmeras críticas e desafios. A vitória de Elcione reforçou a legitimidade das escolhas e mostrou que a fidelidade ao projeto político era sólida e coerente. O tempo provou que estava certo nas convicções e estratégias.

Saio desta eleição fortalecido, com uma compreensão profunda da política de Igarassu. Minha lealdade à Professora Elcione e capacidade de enfrentar adversidades me consolidaram como uma liderança respeitada, que soube conduzir suas apostas e acertos com visão e coragem. Posso, com orgulho, afirmar que entendo como poucos a política de Igarassu.

Por Antonio Magalhães*

O resultado desta eleição municipal revelou o crescimento do campo político da direita e do centro em detrimento da esquerda. Mostrou que os brasileiros estão participando mais da política em manifestações de rua e redes sociais. Tudo mudou. A hegemonia da esquerda começou a escafeder-se depois do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Ali, a política brasileira virou a chave. E o guru comunista famoso, Antonio Gramsci (1891-1937), tem responsabilidade sobre essa mudança, por incrível que pareça, para o arrepio da esquerda nacional.

Visto como um santo pela esquerda e olhado como o diabo pela direita, o pensador italiano Gramsci provocou sem querer uma mudança na atitude de direitistas ou conservadores brasileiros, jamais imaginada pelos adversários do outro campo político. 

Como é de praxe entre a esquerda, todas as loas foram cantadas para elogiar as orientações  de Gramsci como um estímulo ao avanço das forças supostamente progressivas por conta da sua determinação em agir politicamente. O texto é de 1917 e aborda a atitude dos indiferentes ou omissos em torno da política.

Gramsci começa assim: “Odeio os indiferentes. Creio que viver quer dizer tomar partido. Não podem existir os que são apenas homens, estranhos à idade. Quem vive verdadeiramente não pode não ser um cidadão, assumir um lado. Indiferença é apatia, parasitismo, velhacaria, não é vida. Por isso odeio os indiferentes”.

Por mais de 20 anos o grupo de esquerda manteve a hegemonia política no País. Tucanos, petistas e satélites estiveram governando, roubando, corrompendo e levando o país à recessão. A área cultural, o caminho de dominação traçado por Gramsci, também foi submetida, essa por mais tempo, por ser consentida pelos militares no período não democrático.

Artistas de renome acostumados às verbas públicas e a cobranças de ingressos caros voltaram com euforia a usar os benefícios da Lei Rouanet e suas gordas verbas. Qualquer artista mais independente tem hoje  que amargar as dificuldades possíveis e a rejeição da máquina pública dominada pela esquerda. A reação do público não engajado, contudo, veio com boicotes a shows e eventos dos queridinhos dos atuais governantes. Esses militantes artísticos estão chiando com esta atitude. 

A  esquerda manteve-se confiante à frente da máquina pública administrativa durante 20 anos e não percebeu a mudança que ocorria entre a maioria dos brasileiros. Os indiferentes e omissos, odiados por Gramsci, agora estão de volta acossando os esquerdistas ricos, refestelados e preguiçosos, que acreditaram nesse Reich Tropical de Mil Anos, como pensava Adolf Hitler ser possível acontecer na Alemanha no comando dos nazistas. E deu no que deu.

Na área da educação superior, outra vítima da tirania gramsciana, prevalece há décadas a mão de ferro da esquerda, perseguindo e suprimindo o debate democrático. Até hoje um professor de universidade pública com perfil mais conservador é visto como um pária dentro da instituição. Às vezes sequer consegue dar aulas. Isso não mudou nem no período bolsonarista (2019-2022). As universidades públicas continuam sendo escolas de formação de militantes esquerdistas, principalmente nos cursos de Ciências Humanas.

A lição de Gramsci de forma indireta chegou à Direita (quem sabe um dia ela presta uma homenagem ao italiano). Ela ouviu que “a indiferença opera com força na história”. Para o pensador comunista, hoje sintonizado com a Direita, “a indiferença opera passivamente mas opera. É a fatalidade; é aquilo com que não se pode contar; é o que interrompe os programas, subverte os melhores planos; é a matéria bruta que se rebela contra a inteligência e a sufoca”.

Gramsci entendia que “a fatalidade  que parece dominar a história não é senão aparência ilusória  da indiferença, do absenteísmo. Os fatos amadurecem na sombra, poucas mãos não submetidas a qualquer controle tecem a trama da vida coletiva e a massa ignora, pois não se preocupa”.

O guru comunista falava para seus “paisanos”, que viviam esmagados pelo sistema econômico italiano da época, início do século 20. Jamais conceberia que suas palavras poderiam ser também proféticas para a direita oprimida do século 21 no Brasil. Mas aconteceu.

Encastelados nas redes sociais e nos movimentos de ruas, conservadores, direitistas, anti-petistas, democratas, não mais indiferentes e omissos, que  puseram para fora da máquina pública a liderança esquerdista na era Bolsonaro, voltam agora, seguindo a orientação, pelo menos subliminar de Gramsci: “Vivo, tomo partido. Por isso odeio quem não o faz, odeio os indiferentes”, enfatizou o italiano.

Obrigado, camarada Gramsci, você descreveu antecipadamente a revolução que tirou uma vez o Brasil do campo da Esquerda e agora refaz sua trajetória. É isso.

*Jornalista

Enquanto João Campos (PSB) fez história, sendo reeleito com quase 80% dos votos válidos (a maior porcentagem da história do Recife), a governadora Raquel Lyra (PSDB) pode ser chamada de “Mick Jagger de Pernambuco”.

O pé frio da governadora começou na capital pernambucana, com o seu candidato, Daniel Coelho (PSD), ficando em quarto lugar. Em Garanhuns, o líder do governo Raquel na Alepe, Izaias Régis (PSDB), levou uma surra de Sivaldo Albino, que foi reeleito com mais de 71% dos votos. E o apoio da governadora também só ajudou a afundar seus candidatos em Araripina, Toritama, Gravatá, Brejo da Madre de Deus, Petrolina, São Bento do Una, Ipojuca entre outros municípios importantes do estado.

Por Marcelo Tognozzi*

Vamos recivilizar o Brasil. Temos aqui 500 anos de uma civilizaçãozinha, um mix de culturas das mais variadas origens: indígenas, europeus, negros, árabes, cristãos, muçulmanos, judeus e budistas. Isso não deu certo, porque as pessoas não entenderam o que é uma civilização de verdade. 

A civilização brasileira é como aquela piada do sujeito que escolheu ir para o inferno governado por um demônio brasileiro. “Por quê?”, indagou um anjo. “Porque um dia falta fogo, outro dia falta merda, noutro o diabo tá de atestado e assim eu vou levando”, respondeu o homem. 

O Brasil é um dos grandes exemplos de país que escolheu a marcha à ré em termos civilizatórios. Trocou coisas boas por coisas ruins, como fez o presidente Dutra depois da 2ª Guerra. O Brasil cheio de dinheiro e ele importando patins e caixas de fósforo da Inglaterra civilizada.

Recivilizar é colocar direitos e privilégios acima dos deveres. Toda vez que eu crio um privilégio ou um direito, sufoco um dever. Os que comandam, ou comandaram o país, tinham o dever de meter o dedo na ferida do patrimonialismo, o loteamento amplo, geral e irrestrito da coisa pública. 

Mas imagine alguém querendo fazer isso e enfrentando, por exemplo, o Judiciário. Difícil. No Congresso? Pior. Melhor que ser rico é ser privilegiado, ficar 33 dias como governador e sair com uma aposentadoria vitalícia.

Recivilizar o Judiciário brasileiro seria, por exemplo, proibir que juízes façam política ou se pronunciem fora dos autos? Isso pode ser bom para a democracia, porque não existe Estado de Direito que funcione plenamente se cada macaco não estiver no seu respectivo galho. Hoje, está tudo muito opaco, há macacos espalhados pelos mais variados galhos. Alguns galhos têm tantos macacos que podem quebrar a qualquer momento.

Lembro da frase do ex-presidente Ernesto Geisel depois do pacote de abril de 1977: “Todas as coisas do mundo, exceto Deus, são relativas. Então, a democracia que se pratica no Brasil não pode ser a mesma que se pratica nos Estados Unidos, na França ou na Grã-Bretanha”.  

A democracia venezuelana deixou de ser relativa para se tornar inativa, depois que o civilizado voto impresso expôs ao mundo a completa, absoluta e grosseira fraude na eleição presidencial. No Brasil, este tipo de checagem é considerado inapropriado, afinal somos mais civilizados que nossos vizinhos.

Nossa recivilização terá de passar obrigatoriamente pelo enquadramento de uma população com acesso a múltiplos benefícios sociais, mas incapaz de administrar sua vida e da sua família. O recivilizamento (se é que isso existe!) desses cidadãos passa por zelar por sua integridade psíquica, proibindo que ele gaste dinheiro do Bolsa Família e outros benefícios sociais. Afinal, ele vai deixar de comprar comida ou pagar o crédito consignado porque torrou tudo no jogo do tigrinho. 

É lamentável gastar dinheiro da Bolsa Família com cachaça em vez de leite ninho, cigarro em vez de iogurte. Como é terrível saber que boa parte destes benefícios também param nas mãos dos vendedores (não vou chamar de traficantes, porque são trabalhadores) de maconha e cocaína. Temos aí, uma combinação turbinada de álcool, fumo e pó, que suga tanto ou mais que as bets. 

O sujeito tem que ganhar o dinheirinho da bolsa, mas tem de gastar conforme a orientação de especialistas, pessoas que sabem o que é melhor para ele.

Por isso, recivilizar costumes é fundamental. No Brasil, há o péssimo costume de criar dificuldades para vender facilidades. E há coisas que nunca são resolvidas, transformadas em meio de vida. No caso do jogo, é evidente que não é só uma questão de religiosidade ou de integridade psíquica do cidadão.

O jogo foi proibido em 1946 por um decreto-lei, filhote de todas as ditaduras a partir de 1930. Era um decreto com força de lei, uma medida provisória turbinada. Pois bem: temos 78 anos de cassinos e jogos de azar proibidos, mas seguimos jogando no bicho, na loteria, apostando nas bets, nos cavalos e nas maquininhas instaladas nos botecos. 

Um decreto-lei poderia ter sido revogado por outro ou mesmo a Constituição poderia revogá-los todos. Mas ninguém o fez. Se existem forças ocultas no Brasil, certamente elas trabalham contra a legalização dos cassinos. Como diria o tal aluno do professor Raimundo Faoro: “É o estamento madame”.

Daqui a pouco, vão querer recivilizar o grude do brasileiro nas redes sociais. Uso abusivo de redes sociais cria graves problemas psíquicos. As pessoas ficam mais de 3 horas por dia nas redes e isso é tão bárbaro, tão devastador como um filme do Rambo. 

O ideal, se me permitem a sugestão, é desligar as redes a partir de uma certa hora, como era feito com os canais de TV nos anos 1960 e início dos 1970. É imprescindível, sob pena de os marçais da vida continuarem brotando da internet como formigas, contra as quais você luta, luta e nunca vence. Seria profilático.

Esse processo recivilizatório não deve e nem pode incluir investimento pesado em educação de base, qualificações tecnológicas e produção de conhecimento. A sociedade recivilizada não precisará de mestres e doutores. Ela terá tutores.

*Jornalista

A eleição municipal bateu à nossa porta. Finalmente, será amanhã. Para nós, jornalistas políticos, cobrados a dar palpites a toda hora ao longo da campanha, é como uma Copa do Mundo: joga emoção, cria ansiedade, faz o coração palpitar. Eleição municipal é a mais próxima do cidadão. É o entorno da gente que está em jogo.

O homem vive na galáxia da sua cidade. É do prefeito que ele depende da rua bem cuidada, de um posto com médicos, de uma escola de qualidade, de uma praça para o lazer das crianças, da água abundante na torneira. E é do vereador, igualmente, a dependência de boas leis, da fiscalização das contas do prefeito.

Por isso, é extremamente importante saber votar e praticar a democracia. A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens. Mas vote consciente! Seu voto não poder ser dado com o viés do seu olhar do umbigo para baixo.

Não é o seu interesse pessoal que está em jogo, mas o interesse coletivo da sua aldeia. O voto é a poderosa arma da democracia. A consciência do voto é sua. Voto consciente é o único voto que o candidato corrupto não consegue comprar, pois esse voto só se conquista com a verdade.

Também não anule seu voto, ele é a sua grande arma. O voto nulo abre precedente para os incapazes elegeram seus inúteis. O maior protesto não é anular o voto. Na hora de votar, não seja um idiota. Vote certo naquele que quer o bem da sua cidade.

Ouço muita gente falar que não gosta de política, que odeia os políticos, que não suporta nem ler o noticiário político. Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem.

Não sabe essa gente que a política influencia muitos aspectos da nossa vida em sociedade. Há política na escola, no trabalho, nas relações sociais, na gestão de um país. Um tema de tamanha importância pede mais engajamento e reflexão sobre seus impactos para a geração atual e futura.

Platão deixou um grande ensinamento: não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam. A estes, digo apenas que não é a política que transforma homens em corruptos. É votar em bandidos que torna a política suja. Apostar em gente desonesta para melhorar um governo, é a mesma coisa de pedir a um macaco para vigiar uma penca de bananas. Pense nisso!

Por Aldo Paes Barreto

O vulto imenso do poeta Ascenso Ferreira, coroado pelo chapelão de abas largas, enchia as ruas do provinciano Recife no iniciar do século passado. O tamanho do prestígio literário do autor de Catimbó e Vou Danado pra Catende, sobrepujava os quase dois metros de altura e os 150 quilos de peso. No auge da popularidade, Ascenso (1895-1965) era peso pesado recitando seus poemas, exaltando a terra e enaltecendo a região.

Quando da eleição de Juscelino Kubitschek, em 1955, Ascenso tomou gosto pela política e participou ativamente da campanha que iria colocar o mineiro na Presidência do Brasil. Ascenso Ferreira foi orador aplaudido em comício no Rio de Janeiro e incorporou-se ao grupo do vitorioso JK.

Lembrado, o novo presidente o nomeou para a presidência do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. Então veio o impasse. A criação do respeitado Instituto fora ideia de Gilberto Freyre, quando deputado federal, e era ali que o consagrado escritor criava, produzia, seduzia os visitantes. A intelectualidade pernambucana, prenha de preconceito, protestou. Ascenso? Não podia.

A nomeação foi cancelada dez dias depois, aliás, por iniciativa do próprio poeta. Sabedor do veto, Ascenso telegrafou ao presidente eleito:

— Dr. Juscelino, me desnomeie. Eu pedi um emprego e o senhor me arranjou uma encrenca.

Dias depois, JK demonstrou sua gratidão. Ascenso foi nomeado assessor do Ministério da Educação e Cultura, com direito a carro, motorista e nem precisava dar expediente: só comparecia para assinar o livro de ponto e receber o salário.

Enfim, a sorte chegara. Até pouco tempo, o jogo era um dos seus pecados e a falta de sorte vinha com ele. Dez anos antes, quando os cassinos funcionavam no Brasil, Ascenso era presença constante no finado Grande Hotel. Foi lá, numa noite chuvosa, que parecia ter finalmente encontrado a sorte grande. Era ficha colocada no pano verde e o retorno certo e multiplicado. Já madrugada, o compositor Capiba, amigo e avesso ao jogo, vendo a fortuna que Ascenso acumulava, ficou preocupado e pediu que o poeta parasse. Mas nada parecia demover o jogador. Até que Capiba lembrou o único argumento capaz de sensibilizar Ascenso naquela hora:

— Ascenso, já são onze horas. Daqui a pouco o restaurante fecha…

Diante do argumento irrecusável, o poeta açambarcou as fichas, encheu os bolsos e trocou tudo no caixa. Uma pequena fortuna. Na saída, Zé Neguinho, engraxate de mãos mágicas e riso aberto, ofereceu:

— Vai graxa, doutor Ascenso?

Serviço feito, sapatos lustrando, cliente satisfeito, Zé ganhou a maior gorjeta de sua vida: 500 mil réis, quando uma graxa custava cinco mil réis. Ascenso estava abonado e faminto. Pegou Capiba pelo braço e chegou triunfante ao restaurante, exigindo a melhor lagosta, vinho mais famoso, champanhe importada. Farto e satisfeito, charutão aceso, puxou novamente Capiba:

— Escute aqui, meu nego, estou no meu melhor dia. Vamos voltar lá que hoje estouro aquela banca!

— Você ficou maluco, Ascenso? Tome juízo e vamos embora!

— Que nada, meu nego, vamos lá.

Foram. E, antes que o dia amanhecesse, Ascenso tinha perdido tudo o que havia ganho, o capital inicial, alguns trocados de Capiba e um empréstimo feito às pressas com garçom amigo. Solidário, Capiba arrastou o cabisbaixo Ascenso porta afora. Já na saída, o poeta pareceu despertar diante dos primeiros raios de sol que haviam afastado a noite. À sua frente, o risonho Zé Preto voltava a oferecer: “Vai graxa, doutor Ascenso?”

— Vai graxa o quê, nego safado? Cadê meu troco?

Por João Humberto Martorelli

A advocacia, que pena, tornou-se um grande negócio. Com o acesso à justiça facilitado pelos recursos facultados ao jurisdicionado pela Constituição de 1988, o Código de Defesa do Consumidor abrindo uma porta enorme para a multiplicação de litígios, o novo aparato da Fazenda Pública e diversos outros fatores.

Aliando-se a isso tudo a multiplicação de faculdades de ensino jurídico no país, que despejam no mercado anualmente milhares de profissionais, o número de processos explodindo, as empresas, de modo geral, viram-se obrigadas não só a montar departamentos jurídicos eficientes, mas a terceirizar as defesas com grandes escritórios de advocacia.

No início da década de 90, eram poucos os escritórios no Brasil que tinham estrutura empresarial adequada para atender as demandas, mas, aos poucos, eles foram aparecendo e construindo um ambiente em que, mercê da enorme necessidade de capital para fazer os investimentos necessários, sobretudo em pessoal e tecnologia, criou-se uma mentalidade diferente no meio jurídico.

Multiplicaram-se as grandes estruturas empresariais de advogados, formando-se sociedades que são verdadeiras corporações, algumas delas já superando a casa do bilhão de faturamento.

Replica-se, sobretudo no Sudeste e particularmente em São Paulo, o modelo norte-americano: o advogado detém o core business, agregando-se à estrutura profissionais de diferentes áreas, nomeadamente de tecnologia da informação, auditores, contadores, experts em engenharia, psicólogos, administradores e muitos mais.

Em razão do crescimento dos escritórios, começam a surgir as mais estapafúrdias ideias que podem levar ao desvirtuamento da advocacia como profissão liberal, de prestação de serviço pessoal, na qual está embutida a ideia de sacerdócio, dedicação, estudo, ética, compromisso com a justiça e com os princípios sagrados de defesa da sociedade, do Estado de Direito, da liberdade, da igualdade e da fraternidade.

As novas corporações despertam a cobiça e a ganância como valores maiores do que aqueles ideais ínsitos à profissão. Não é raro encontrar hoje em dia sócios controladores de grandes escritórios que deixaram de lado o saber jurídico e se tornaram empresários da advocacia, limitando-se a captar clientes sem zelo e sem ética na maior parte dos casos, comandar a organização em seus aspectos físicos, organizacionais e operacionais, mas sem nisso se incluir o saber jurídico que o habilite a comandar uma sociedade de advogados no que ela tem de mais essencial, a melhor técnica jurídica.

Haveremos de encontrar por aí quem não saiba manusear o Código de Processo, ou quem pense que o anteprojeto de Código Civil é para modificar o Código de 1916. Mas essa é a escolha de cada um.

O que me preocupa é que esses novos empreendedores não apenas querem fazer da advocacia um negócio, como já fazem, mas introduzir no ordenamento jurídico regras que desnaturam por completo a essência da profissão.

Já houve quem propusesse a possibilidade de os escritórios abrirem capital. Certo que é um exagero, e é certo também que o modelo existe em alguns países de direito anglo-saxão, mas essa ideia absurda é apenas a ponta do iceberg.

Está em curso no Congresso o Projeto de Lei 3.985/23, que propõe a alteração do Estatuto da Advocacia para permitir que profissionais com curso superior passem a integrar a sociedade de advogados.

Assim, aqueles profissionais acima citados que, atualmente, até podem integrar, como apoio, a estrutura de uma sociedade de advogados, passariam a poder deter o controle dessa sociedade, comprometendo irreversivelmente alguns atributos que são do advogado, e apenas dele, porque só ele, inclusive, é elevado ao mister constitucional de administração da justiça: o sigilo profissional, por exemplo.

A advocacia está correndo o risco de ser desmantelada pela nova mentalidade de negócio, e contra isso devemos nos insurgir da forma mais veemente.

Devemos lutar para manter a essência da profissão como prestação de serviço pessoal, comprometida com os deveres inerentes à profissão, e, longe de não poder o advogado progredir em seu escritório, que o faça sem perder o compromisso com a advocacia soberana e independente, livre do jugo do dinheiro.

Não tenho dúvida de que o lado certo da advocacia soberana e independente estará, nas próximas eleições da Ordem, com Ingrid Zanella, cujo compromisso com a essência da advocacia e a intransigência com aqueles que praticam a advocacia como negócio serão fundamentais na luta em defesa dos princípios de nossa profissão.

Por Maurício Rands*

Em 25/9/2024, o STF decidiu que os adeptos da religião Testemunhas de Jeová têm o direito de recusar tratamento médico com transfusão de sangue. Decidiu também que o Estado deve oferecer procedimentos alternativos disponíveis no SUS e arcar com as despesas em outras localidades, caso indisponível o tratamento no domicílio do paciente.

Acrescentou que a recusa do paciente deve ser livre e informada e que não pode ser feita em nome dos filhos menores quando não houver tratamento alternativo eficaz e seguro. As teses de repercussão geral fixadas foram as seguintes:

  1. “Tema 952, no RE 979742: Testemunhas de Jeová, quando maiores e capazes, têm o direito de recusar procedimento médico que envolva transfusão de sangue, com base na autonomia individual e na liberdade religiosa; Como consequência, em respeito ao direito à vida e à saúde, fazem jus aos procedimentos alternativos disponíveis no SUS podendo, se necessário, recorrer a tratamento fora de seu domicílio”.
  2. “Tema 1069, no RE 1212272: É permitido ao paciente, no gozo pleno de sua capacidade civil, recusar-se a se submeter a tratamento de saúde por motivos religiosos. A recusa a tratamento de saúde por motivos religiosos é condicionada à decisão inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente, inclusive quando veiculada por meio de diretiva antecipada de vontade; É possível a realização de procedimento médico disponibilizado a todos pelo Sistema Único de Saúde, com a interdição da realização de transfusão sanguínea ou outra medida excepcional, caso haja viabilidade técnico-científica de sucesso, anuência da equipe médica com a sua realização e decisão inequívoca, livre, informada e esclarecida do paciente”.

Trata-se de tensão entre dois direitos fundamentais protegidos pelo texto constitucional. O direito à vida (art. 5º, caput) e o de não ser privado de direitos por motivo de crença religiosa (art. 5º, VIII). Essas antinomias entre princípios devem ser resolvidas pela ponderação, a ser feita através de princípios instrumentais de interpretação constitucional. No caso, são úteis os princípios da proporcionalidade, da unidade da constituição e da máxima efetividade. O STF, aplicando-os, buscou preservar simultaneamente o direito à vida e o de liberdade religiosa. Por isso, impôs ao Estado o dever de assegurar um tratamento alternativo a quem, por sua crença religiosa, não aceita a transfusão. 

Num dos casos, o que originou o Tema 952, a União, o Estado do Amazonas e o Município de Manaus haviam sido condenados a bancar uma cirurgia de artroplastia total (substituição de uma articulação, como o joelho, por uma prótese) a ser feita em São Paulo porque ela não é oferecida no Amazonas sem a transfusão.

Estou entre os que acham que cada ser humano deve ser livre para decidir sobre suas crenças e sobre o seu destino. Inclusive em questões delicadas como o suicídio, a eutanásia, a doação de órgãos e o aborto. Tudo isso tem fundamento na dignidade humana (art. 1º, III, CF) da qual decorre a autonomia de cada ser humano para decidir sobre sua vida, saúde e corpo. O STF teve o cuidado de não permitir que os pais possam impedir o tratamento dos filhos menores. Logo, foi na direção certa ao permitir a recusa dos Testemunhas de Jeová. 

Mas as duas decisões suscitam questionamentos. Ao assegurar a liberdade religiosa dos que recusam a transfusão, o STF obrigou o SUS a oferecer tratamento alternativo, inclusive em outra localidade. Impôs custos ao poder público. Se essas duas imposições forem excessivamente custosas, podem acarretar restrições ao oferecimento de outros serviços de saúde a outros pacientes. E aí surge a pergunta sobre como ficam os direitos à vida e à saúde dos pacientes atingidos pela restrição de recursos decorrente dos gastos adicionais com o tratamento dos que se recusaram à intervenção menos custosa com transfusão. 

Os Temas 952 e 1069, portanto, já nascem sob muitos questionamentos. Quem pode dar o consentimento informado num caso em que o paciente Testemunha de Jeová chegue desacordado numa unidade pronto-socorro, precise de cirurgia imediata e não exista tratamento alternativo? Como ficam os princípios da razoabilidade e da reserva do possível diante da imposição ao poder público de custos de tratamentos que podem ser elevadíssimos em outras localidades e com outras técnicas? Como ficam os direitos dos outros pacientes que podem deixar de receber outros tratamentos pelo esgotamento dos recursos disponíveis na rede pública de sua localidade? 

*Advogado, professor de Direito Constitucional da Unicap, PhD pela Universidade Oxford

Por José Adalberto Ribeiro*

MONTANHAS DA JAQUEIRA – O barão de Drummond, João Batista Viana, era um nobre de bom coração. Idos de 1892, na alvorada da República, mantinha com recursos próprios o jardim zoológico no Rio de Janeiro. O título de nobreza lhe fora outorgado no Império.

Saudades da Monarquia! Se não fosse o golpe de Deodoro da Fonseca, eu poderia hoje ser um nobre, tipo o Conde da Jaqueira ou o Marquês da Serra da Borborema. O blogueiro Magno Martins seria o Barão do Vale do Pajeú. A costela dele, Nayla, seria a Baronesa de Arcoverde. Mas, pobre de mim, eu sou apenas um algoritmo nas nuvens de silício da Internet.

Eu adoro meus pets, dizia o Barão enquanto cavalgava com seu cavalinho pocotó, pocotó, pocotó. Mas manter um zoológico custa caro. Ele não possuía uma empresa Bet para lavar dinheiro, nem era candidato para se locupletar das verbas do fundo partidário. O preço das rações estava cada dia mais caro no Carrefour e o capim gordura mais uma vez tinha subido de preço.

Ele tinha lido o livro Interpretação dos Sonhos de Sigmund Freud e de noite sonhou com o Baú da Felicidade de Silvio Santos. Entonces, criou Loteria dos Bichos, com 25 figurinhas de nossa fauna, de avestruz a vaca. Cada visitante do zoológico recebia um bilhete com a figurinha de um bicho e, se fosse sorteado, beleza!

O Barão de Drummond começou a ganhar muito dinheiro com o jogo do bicho. Comprou um jatinho 14-Bis de Santos Dumont e uma carruagem Ferrari, top de linha, movida a tração animal por seu cavalinho Pocotó, para dar um rolé nas ruas do Rio de Janeiro. O cavalinho relinchava de alegria.

VIVA ROBERTO! No percurso de mais de 60 anos de estrada, com talento, competência e muito trabalho, Roberto Carlos, um artista iluminado, se apresenta em shows seletivos e em seus próprios shows. Em tempo algum explorou recursos públicos em shows superfaturados de Prefeituras e Governos.

Neste tempo de Bets e riquezas mal-assombradas, sub-artistas cafuçus, zero talento e zero respeitabilidade, assinam contratos milionários para apresentação em Prefeituras pobres do interior e até em capitais, na base do ra-ra. O nome disto é corrupção explícita.

Essas arapucas de apostas eletrônicas praticam crimes de extorsão da economia popular. A sangria é grande e já afeta o endividamento da população. Rico não joga nas Bets. Essa invenção é um sumidouro de dinheiro dos pobres.

O MC Serginho escreveu um poema em homenagem à eguinha Pocotó, viúva do cavalinho Pocotó. Quanta delicadeza! “Vou mandando um beijinho/ pra filhinha e pra vovó./ Só não posso esquecer/ da minha eguinha Pocotó/ Pocotó Pocotó Pocotó. O jumento e o cavalinho/ eles nunca andam só/ quando saem pra passear/ levam a égua Pocotó/ Pocotó Pocotó Pocotó!”. Estou emocionado.

Viva o Barão de Drumond! Viva o cavalinho Pocotó! Viva a eguinha Pocotó! Viva eu! Viva tu! Viva o rabo do tatu!

*Periodista, escritor e quase poeta