As 3 leoas

Por Marcelo Tognozzi*

O mérito fez delas as 3 mulheres mais poderosas do século 20. Destinos tão diferentes e ao mesmo tempo tão complementares: Indira Gandhi (1917-1984), Golda Meir (1898-1978) e Margaret Thatcher (1925-2013), mulheres guerreiras que comandaram seus exércitos e venceram.

Golda nasceu em Kiev em 1898, num tempo em que a Ucrânia integrava o Império russo do czar Nicolau 2º, fuzilado com a família em 1917 em meio ao turbilhão da Revolução Vermelha comandada por Lênin.

Indira nasceu em 1917 numa Índia colonizada pelos ingleses. Ela tinha 20 anos, em 1947, quando seu pai Jawaharlal Nehru liderou o processo de independência e se tornou o 1º chefe de governo dessa nova Índia.

Margaret Thatcher nasceu em 1925, no interior da Inglaterra. Seu pai era dono de uma mercearia e a família vivia relativamente tranquila até que, quando Margaret tinha 14 anos, a 2ª Guerra começou. Nessa época, ela ajudou uma amiga judia a fugir da Alemanha. Depois, foi estudar química.

Nesse mesmo momento, Indira frequentava Oxford e começava seu caso de amor com Feroze Gandhy (1912-1960), que depois trocou seu nome para Gandhi em homenagem ao maior líder indiano de todos os tempos. Por isso, Indira, diferentemente do que muitos imaginam, nunca foi parente do célebre Mahatma Gandhi. Seu pai era um dos seus maiores aliados na luta pela independência, na qual Indira e Feroze se engajaram de corpo e alma. Presa em 1942, acusada de conspirar contra a Inglaterra, saiu 6 meses depois.

Em dezembro de 1917, quando Indira tinha 1 mês de vida, Golda se casou com Morris Meyerson e planejavam imigrar para a Palestina. Integrante do movimento sionista fundado por Teodor Herzl, Golda só chegou à terra prometida em 1921, a bordo do navio Pocahontas. Ela desembarcara ainda criança nos Estados Unidos, em 1903, numa daquelas levas de imigrantes que Giuseppe Tornatore imortalizou no seu “The Legend of 1900”. Quando a 2ª Guerra estourou, Golda já vivia na terra prometida.

Os destinos de Golda, Indira e Margaret se cruzaram nos anos 1970, quando se tornaram líderes políticas.

Indira, casada e mãe de 2 filhos, auxiliou o pai, Jawaharlal Nehru, durante o seu governo de 1947 a 1964. Ela mergulhou fundo na política e chegou a primeira-ministra em 1966. Enfrentou uma oposição machista e atrasada, mas se impôs pela competência.

Seu batismo de fogo foi a guerra contra a China, que tentou tomar uma parte do Himalaia. Indira liderou seu exército com tal energia que Henry Kissinger a apelidou de “Iron Lady” (dama de ferro). Ela manteve o território enquanto os militares chineses de Mao Tsé-Tung reclamavam que ela havia ido longe demais. Em 1971, derrotou o Paquistão numa guerra na qual estava em jogo a posse da Caxemira, uma das regiões mais ricas da Índia, nascente dos rios Ganges e Indo.

Golda Meir chegou ao poder em 1969. Tinha 71 anos, 2 filhos e convivia com uma leucemia que durou 12 anos. Fumava dezenas de cigarros, a ponto de acender um no outro. Enfrentou sua 1ª crise em 1972 durante as Olimpíadas, quando terroristas palestinos da Frente Popular de Libertação da Palestina, invadiram a vila olímpica de Munique e assassinaram 11 atletas de Israel. Golda não sossegou até matar cada um dos terroristas.

Em 1973, veio a guerra do Yom Kippur e Golda liderou as Forças de Defesa de Israel, repelindo o ataque liderado por Egito e Síria. Começou em 6 de outubro, e no dia 25 daquele mês, o Exército de Golda Meir derrotara o inimigo.

No meio da guerra, o general Moshe Dayan, seu ministro da Defesa, o herói de um olho só, teve uma crise nervosa diante das baixas provocadas pelo inimigo. Golda encarou Dayan: “Lave esse rosto, descanse um pouco e volte para seu posto”.

Nessa mesma época, Margaret Thatcher emerge como a principal líder dos conservadores britânicos. Em 1975, já era a principal líder da oposição ao governo trabalhista de James Callaghan e, depois, venceria as eleições de 1979.

Thatcher liderou duas guerras. Na 1ª, pela modernização do Estado inglês, derrotou os sindicatos dos mineiros, que tentaram boicotar sua gestão, e modernizou as relações de trabalho, o mercado financeiro e combateu o IRA (Exército Revolucionário Irlandês), que tentou assassiná-la em 1984 em um atentado a bomba.

A 2ª guerra foi externa, contra a Argentina, cujo ditador Leopoldo Galtieri, num acesso de maluquice, tentou tomar dos ingleses as ilhas Falklands (Malvinas). A resposta foi tão dura quanto a de Golda aos árabes ou de Indira aos chineses.

Ben-Gurion, o pai da pátria israelita, dizia que o único homem do seu gabinete era Golda Meir. Decidida, ela viajou para os Estados Unidos em 1948 e conseguiu arrecadar US$ 50 milhões para armar o país recém-fundado. Primeira e única mulher a comandar os israelenses, morreu em 8 de dezembro de 1978 em Jerusalém.

Em sua autobiografia, intitulada “Minha Vida“, a guerreira escreveu:

“Acredito que teremos paz com nossos vizinhos, mas estou certa de que ninguém fará paz com um Israel fraco. Se Israel não for forte, não haverá paz”.

Naquele mesmo ano, enquanto Golda agonizava, Indira Gandhi articulava sua volta ao poder. Ela governara por 11 anos (1966-1977) e foi eleita nas eleições seguintes. Mas Indira sofreu uma perseguição sem tréguas dos adversários. Foi presa e processada, numa clara manobra política para tirá-la do jogo. Seus seguidores viraram a Índia de cabeça para baixo e sequestraram um avião exigindo sua libertação em troca. Indira voltou.

O Parlamento foi dissolvido em 1979 e ela governou até 1984, enfrentando inúmeras crises internas. Indira deixou um legado de transformação da Índia, hoje, uma potência militar nuclear. Plantou as bases do programa espacial indiano, um sucesso. Também colocou os indianos numa posição de contraponto aos chineses, o que dá a eles uma vantagem geopolítica relevante nas relações com o Ocidente.

Às 9h30 de 31 de outubro de 1984, ela estava caminhando pelo jardim da sua casa em Nova Delhi, quando 2 de seus seguranças a mataram a tiros. Integrantes do siquismo, cujos seguidores faziam forte oposição a ela e protestavam contra o que consideravam perseguição, eles cumpriram a missão matando uma mulher indefesa de 66 anos.

Margaret Thatcher deixou a vida pública em 2002. Desenvolveu um quadro de demência, aquele tipo de doença, como alzheimer, em que a consciência da pessoa muda de planeta, mas seu corpo físico aqui permanece, a espera do desembarque como o comboio do poema de Fernando Pessoa. Foi um longo e sofrido adeus, cujo desfecho se deu em 2013.

A morte de Thatcher, assim como a de Golda e de Indira, foi celebrada pelos inimigos, muitos dos quais nunca tiveram nem uma migalha da coragem e da força dessas 3 leoas.

*Jornalista

Do blog do Ney Lopes

Portugal vota neste domingo (10). A eleição foi precipitada pela renúncia do primeiro-ministro, em 2023. Os portugueses vão eleger 230 deputados para a Assembleia da República.

Na cédula de votação, não se vota em um candidato, mas sim em partido. Mesmo assim, oito em cada 10 inquiridos em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos. Esta é, aliás, uma tendência em 19 dos 27 países da UE, em que mais de 70% das pessoas  não confiam nos partidos políticos (a média da UE é 77%).

No sistema eleitoral de semipresidencialismo, um partido tem que ganhar mais da metade dessas vagas para poder governar sozinho. 

Depois de governado por uma coalizão de centro-esquerda, Portugal pode dar uma guinada mais à direita. As pesquisas de intenção de votos mostram a liderança de uma coligação de centro-direita, na corrida eleitoral.

As sondagens também apontam que o partido Chega, da direita radical, de André Ventura, pode consolidar a sua força política no Parlamento português. Em meio à campanha para as eleições legislativas, Ventura repetiu Trump e Bolsonaro, denunciando o fantasma da fraude eleitoral

Trata-se de tática psicótico-político, sem prova, sem evidências, mas gerando dúvidas e intranquilidade em faixas do eleitorado. Este não é o único ponto em comum entre Ventura e Bolsonaro. O português importou do Brasil a “fake News”, e a introdução de uma linguagem política violenta.

Para ele, [os adversários] são todos vigaristas, trapaceiros, ladrões, tudo numa retórica antiestablishment para desestabilizar o país. Neste contexto, a tendência  é o partido de Ventura consolidar seu lugar como a terceira força política no Parlamento português — e aumentar o número de deputados de 12 para mais de 30.

Bolsonaro, em vídeo nas redes sociais, fez um apelo aos brasileiros que moram em Portugal para que votem no Chega. Os analistas entendem que apesar dos apelos feitos por Bolsonaro, o Chega está longe de poder ganhar as eleições, mas pode dificultar a formação de um governo de direita. Há 360 mil brasileiros vivendo em Portugal. É a segunda maior comunidade brasileira no exterior, atrás apenas dos Estados Unidos.

Os portugueses vão decidir que tipo de país desejam construir. De acordo com pesquisas, 31% dos portugueses afirmam posicionar-se ao centro, 28% mais à esquerda e 19% mais à direita.

Ontem, no último dia de campanha, a busca foi pelos votos dos indecisos. Nas últimas pesquisas, quase 20% dos 9 milhões de eleitores ainda não sabiam em quem votar.

Agora, só esperar!

Por Cláudio Soares*

A gestão de Raquel Lyra em Pernambuco está enfrentando uma crise profunda, com problemas que abrangem desde a segurança pública até a infraestrutura e saúde. A governadora parece estar sem rumo e sem prumo, e distante das necessidades do povo, refletido em altos índices de reprovação.

A violência se alastra pelo estado, enquanto a segurança pública falha em proteger os cidadãos, deixando as categorias policiais insatisfeitas com a administração de Lyra. Na área da saúde, a situação permanece crítica, com hospitais na UTI e falta de investimentos para melhorar o sistema.

A ausência de projetos para as estradas e a falta de manutenção têm levado a uma crise na infraestrutura do estado, afetando diretamente a mobilidade e o desenvolvimento econômico. Além disso, a governadora parece distante dos municípios e do povo, não costuma andar nos municípios. Vive apenas priorizando uma imagem superficial em redes sociais em vez de um diálogo efetivo e uma ação concreta para as regiões do Estado. 

Enquanto isso, seu oponente político principal, João Campos, se destaca como um líder articulado e eficiente, tendo somado forças políticas como os Coelhos em Petrolina e agora a família Queiroz, em Caruaru. João Campos tem sido, inegavelmente, eleito o melhor prefeito do Brasil entre as capitais. Sua popularidade e habilidade política o posicionam como um forte candidato para a reeleição na disputa pela prefeitura do Recife. Enquanto Raquel enfrenta uma batalha difícil para engrenar seu governo e evitar uma derrota avassaladora em 2026.

Se Raquel Lyra não conseguir reverter a atual situação e reconquistar a confiança do povo pernambucano, sua reeleição está fadada a ser um fracasso retumbante, abrindo caminho para uma mudança de liderança no estado, e esse nome respaldado na alternância de poder chama-se João Campos que traz o DNA do pai, Eduardo Campos. 

Ao contrastar a gestão de Lyra com a liderança articulada e eficiente de João Campos, um deputado da base de Raquel que sugeriu que seu nome não fosse revelado enfatiza a crescente popularidade do prefeito do Recife e seu potencial para a reeleição. “A aliança política de Campos com figuras influentes do Estado, como os Coelhos, em Petrolina, e a família Queiroz, em Caruaru, fortalece ainda mais sua posição no cenário político estadual e sua chegada ao Palácio das Princesas é inevitável”, disse-me a fonte.

Há um sentimento predominante entre as forças políticas do estado de que Raquel Lyra está buscando realmente o fim da reeleição para evitar um confronto nas urnas contra João Campos em 2026 e escapar de uma derrota avassaladora. Essa percepção reflete a preocupação com o potencial eleitoral de Campos e a dificuldade que Lyra enfrentaria em uma disputa direta.

*Advogado e jornalista

Por Rudolfo Lago*

Minha querida vovó Alzira. Em primeiro lugar, peço licença a você e às demais mulheres para, como homem, ocupar um espaço para escrever sobre vocês. Mas você, vovó, sabe o quanto o seu exemplo é importante para todos nós, homens da família. Você, de quem sou bisneto com muito orgulho, é nossa Mulher Maravilha!

Este ano escrevo para lhe contar que há boas novidades, embora ainda esteja bem longe do fim a batalha pela igualdade de gênero no nosso país. Meu pai, seu neto, sempre se inquietou com a falta de atenção à sua memória. Alzira Soriano, a primeira mulher a exercer um cargo no poder Executivo em toda a América Latina. Prefeita de Lajes, no Rio Grande do Norte. Eleita em 1928. Feito tão notável que à época mereceu reportagem do New York Times.

A grande alegria, vovó, é que sua memória tem sido resgatada nos últimos anos. Em um esforço que começou a crescer a partir do próprio município de Lajes, que promove, em abril, mês do seu nascimento, a Semana Alzira Soriano. Ali, é encenado todos os anos um espetáculo que conta a sua história. De como você ficou viúva aos 22 anos, quando meu bisavô, Thomaz Soriano, morreu vítima da gripe espanhola. Como, então, herdou a administração de uma fazenda, a Primavera, no meio do sertão do Rio Grande do Norte. Como começou a mandar com autoridade em todos aqueles rudes vaqueiros. Isso há quase cem anos! Tornando-se o perfil ideal quando Bertha Lutz foi buscar uma mulher que fosse capaz de vencer uma eleição depois que o governador Juvenal Lamartine tornou o Rio Grande do Norte o primeiro estado brasileiro onde mulheres “podiam votar e ser votadas”.

Você aceitou o desafio. Comandou Lajes até 1930, quando Getúlio Vargas deu um golpe e substituiu os prefeitos por interventores. Mas foi o suficiente para você modernizar Lajes e entrar para a história.

Sabia que no ano passado você virou personagem de novela? Pois é. Todos nós aqui ficamos com lágrimas nos olhos quando a atriz potiguar Titina Medeiros apareceu na novela “Amor Perfeito”, da TV Globo, interpretando Alzira Soriano.

Este ano, começará a ser erguida em Lajes a sua estátua. Que imortalizará para sempre a sua passagem. A cerimônia de início da obra será durante a Semana Alzira Soriano. Quem sabe daqui a 96 anos quem passe por ela tenha dificuldade de entender o que há de tão especial em uma mulher ser prefeita?

Ainda não é o caso, vovó. Nas últimas eleições, somente 658 mulheres se elegeram prefeitas. Temos mais de 5,5 mil municípios. O caminho ainda é longo para alterar o universo que tão bem é ilustrado pela foto de você e seu secretariado: uma mulher cercada por homens.

*Ex-diretor do Congresso em Foco Análise, é chefe da sucursal do Correio da Manhã em Brasília. Formado pela UnB, passou pelas principais redações do país. Responsável por furos como o dos anões do orçamento e o que levou à cassação de Luiz Estevão. Ganhador do Prêmio Esso.

Por Zé Nivaldo*

Nas imediações do Carnaval de 2020, fui com os netos para o bloco infantil ‘Amantinhos de Gloria’. Praça do Arsenal, bairro do Recife antigo. Aproveitei para um reencontro com o Bar do Maltado, na Rua da Guia. Observando a foto do dirigível Graf Zepelim, que decora a casa, Vinícius, então com uns oito ou nove anos, observou a suástica pintada no dirigível e fez a observação: “Zé, o Zepelim era nazista”. Detalhe que me passara despercebido até então.

Em 1928, antes de Hitler chegar ao poder, o LZ 127 Graf Zepelin, com 240 m de comprimento e 30 m de diâmetro, inaugurou o transporte de longa distância para passageiros. Viajou da Alemanha para Tóquio, Sibéria, Los Angeles, Brasil, Egito e, após uma volta ao mundo, ficou conhecido como o dirigível “bem-aventurado”. Após 590 viagens, foi desativado devido ao acidente com seu irmão gêmeo, o LZ 129 Hindenburg. Este pegou fogo durante uma aterrissagem nos Estados Unidos, por volta de 1937, deixando um trágico saldo de 35 mortos.

O Zepelim passou pelo Recife 252 vezes. O suficiente para se implantar no imaginário coletivo. Desde a chegada das caravelas, no século XVI, não se via por essas bandas nada tão impressionante. A super engenhoca aportava na Torre do Jiquiá, que ainda hoje enferruja ao abandono.

Neste ano da graça de 2024, está instalada a polêmica. Empreendedores propõe-se a construir um bar em forma de Zepelim no sagrado território do Recife Antigo. Sem entrar em detalhes, sou a favor. Como historiador de formação, defendo a preservação do patrimônio histórico. E como historiador, escritor, professor, comentarista, palestrante, comunicador, estrategista político desportista, cidadão do Recife apaixonado pela cidade, sou favorável ao empreendimento. Entendo as cidades como seres vivos e dinâmicos. Não podem ter a memória destruída. Mas não tem sentido ficarem paradas esperando o tempo passar.

Exemplos ao acaso. Certa época, a Times Square “agrediu” a paisagem do Nova York. A Torre Eiffel, foi um bofete na cara de Paris. E o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro? Mudou para sempre uma paisagem natural preservada. Minha gente, um dia nem cidades existiam. Lisboa foi reconstruída um dia desses depois de um incêndio devastador. Paris é outra depois de Napoleão. Londres outrora nem tinha Big Beng. E muito menos a tal Roda Gigante. Hoje, ambas compõem a paisagem, passado e presente. E a pirâmide do Louvre? Com uma visão preservacionista ortodoxa jamais teria sido feita. Aliás, nem a Praça de São Pedro, o Coliseu, a Capela Sixtina, o próprio museu do Louvre. Ou a muralha da China, as pirâmides, o Taj Mahal, e por aí vai. Tudo o que existe na face da terra um dia interveio sobre o que existia antes. Agora mesmo, nesta madrugada de sexta-feira, abro a cortina do meu quarto de hotel para contemplar as luzes fascinantes do plano piloto de Brasília. 65 meros anos atrás, nada disso existia. Hoje, é patrimônio da humanidade, cidade única, flor plantada no cerrado.

500 anos atrás não tinha nem uma casa sequer. No máximo, ocas. Foi a primeira metrópole das Américas, no tempo de Nassau. A guerra pela expulsão dos holandeses destruiu tudo, não ficou taipa sobre taipa. Ao longo dos séculos o bairro do Recife Antigo foi ganhando e perdendo edificações. As igrejas. A Torre Malakoff. O Chantecler. A Rua do Bom Jesus teve vários nomes e perfis. A configuração atual, e linda, do bairro é de 100 anos atrás. A praça do marco zero não tem sequer 30 anos. O mundo começa no Recife, mas muda a cada dia.

Sem ter aprofundado análises e avaliações, achei a ideia arretada. Olhando uma foto antiga do Zepelim original pairando sobre o bairro, nada me parece mais histórico que o projeto. Avançar não é manter paredes intocadas. É recriar o mundo. Unindo passado e futuro, melhor ainda. Uma cidade ” metade toubada do mar, metade da imaginação”, no verso imortal de Carlos Pena Filho, não pode, não deve ter medo da criatividade. Vamos continuar construindo nossa cidade, de sonhos e ousadias.

*Publicitário, escritor e diretor do jornal ‘O Poder’.

Editorial do jornal Estadão

O presidente Lula da Silva está mesmo empenhado em se credenciar como o guia genial do tal “Sul Global” contra os “imperialistas” americanos. Para antagonizar os Estados Unidos, fustigar o Ocidente e proclamar sua vocação de salvador dos pobres e oprimidos na geopolítica internacional, Lula manda às favas o histórico da diplomacia brasileira de prudência, neutralidade e respeito à democracia, e arrasta consigo o Brasil e sua política externa. Combina a habitual fala sem filtros em temas espinhosos dos quais nada entende com a defesa obscena de ditaduras e ditadores. A Lula pouco importa o que autocratas fazem contra a democracia e os direitos humanos – basta que se insurjam contra os Estados Unidos.

A recente declaração de Lula sobre a Venezuela é só mais um exemplo desse pensamento deletério. Lula se disse “feliz” com a definição da data para a eleição presidencial venezuelana – a eleição que Nicolás Maduro controla com mão de ferro, pelo domínio que tem sobre a Justiça e sobre as regras do sistema eleitoral do país, o que tem lhe garantido sufocar a oposição, atentar contra a imprensa independente e perpetuar a ditadura chavista.

Questionado se acreditava que a eleição seria justa, Lula alegou ter recebido informações do próprio companheiro Maduro, ora vejam, de que observadores internacionais serão convidados a monitorar o pleito. E, num misto de grosseria e misoginia, sugeriu à oposição da Venezuela “não ficar chorando”, referência clara ao fato de que a mais forte candidata oposicionista, María Corina Machado, foi impedida pela Suprema Corte chavista de disputar as eleições. Para Lula, bastaria à oposição escolher outro candidato – como se María Corina não tivesse sido vítima de flagrante perseguição e como se qualquer outro candidato pudesse concorrer livremente num ambiente totalmente controlado por Maduro.

Não foi uma gafe ou um escorregão retórico movido pelo improviso. Trata-se de um padrão e, como tal, um atestado de suas convicções. É longa a sua coleção de declarações em favor de ditaduras, a começar pela própria Venezuela, um país “democrático” até demais, segundo Lula, por realizar “mais eleições que o Brasil”. Relativizando as barbaridades promovidas por Maduro, o presidente brasileiro afirmou que o “conceito de democracia é relativo”. Para Lula, democracia não é a soberania popular, a garantia das liberdades de expressão e de imprensa, a intransigência com qualquer forma de arbítrio de tiranos. Em seu relativismo, os ditadores companheiros são “democratas” porque se julgam intérpretes das aspirações do “povo”.

Lula é cruel com aqueles que ousam enfrentar os ditadores companheiros. Em 2010, por exemplo, ele defendeu a “Justiça” cubana e criticou presos políticos que ali faziam greve de fome contra o regime dos irmãos Castro. Na sua diplomacia da imoralidade, equiparou os valentes dissidentes cubanos aos presos comuns no Brasil.

Há muitos outros casos em que a indecência lulopetista se manifestou dessa maneira. Recorde-se que Lula defendeu o ditador Daniel Ortega inúmeras vezes, a despeito das escancaradas violações de direitos humanos cometidas pelo nicaraguense – e, numa reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU em março do ano passado, o Brasil se recusou a acompanhar os mais de 50 países que denunciaram a prática de crimes contra a humanidade pela tirania de Ortega.

Lula saltou do abismo moral para se alinhar ao que há de mais retrógrado e autoritário. Ao fazê-lo, descredencia-se como líder global digno de respeito internacional e debilita a política externa brasileira, obliterando suas oportunidades de integração econômica e de cooperação para a paz, a democracia e as liberdades fundamentais. Sua política externa está ancorada num princípio absoluto e maniqueísta: a hostilidade ao Ocidente e o alinhamento automático a tudo o que é antagônico aos valores ocidentais. Quando esse sectarismo ideológico substitui a visão de Estado, o voluntarismo ignora a decência e a diplomacia é feita com cacoetes de esquerdismo infantil, não há jeito. Não há mais o que esperar de Lula senão essa imoralidade sem limites.

Espantou-me a mais recente estatística brasileira: de cada dez mulheres, quatro já sofreram algum tipo de violência doméstica. Cresci meu pai dizendo: em mulher não se bate nem com uma flor, refrão, aliás, de uma modinha de carnaval bem antiga, dos carnavais românticos de clubes. Às mulheres, todas honras e glória! 

Não por causa da convenção pelo seu dia hoje, mas pela certeza, a plena convicção, de quem sem elas, o mundo seria muito deprimente, sem graça. As mulheres movem o mundo, enchem de beleza e ternura o universo. Possuem uma força incansável. São clarão da lua, quentura do sol para esquentar nossos momentos frios e sem razão de viver. 

Minha Nayla Valença, o amor da minha vida, é assim: inspiração permanente, ondas do mar para embalar minha vida. Uma força que ressurge das cinzas, materialização do divino feminino. Estrela que brilha com sua própria luz, a luz que vem do nosso, seu e meu sertão, chão de vidas secas. 

Tem a essência de mulher como uma poesia, cheia de nuances e mistérios. Encanta e emociona em cada verso, em cada ação. Traz paz, busca força onde não existe, como sua avó Quitéria, mulher de fibra, sangue guerreiro como as mulheres de Tejucupapo, que buscam sorrisos em meio às lágrimas. 

Admiro todas as mulheres: as sinceras, lindas, loiras, morenas. Mas as que mais me fascinam são as que têm garra e coragem, como minha Nayla. Ela é sábia como uma abelha, que só ferroa sob ameaça, mas nunca antes de entregar a sua doçura. É espiritualizada, conselheira, confidente, uma pedra de diamante, ouro que reluz. 

Inspirado nela, o meu abraço a todas as mulheres pelo Dia Internacional daquelas que não se batem nem com uma flor!

Em João Alfredo, o feriado foi agitado no tabuleiro político. O presidente do Diretório Municipal do PT, Tato Mendes, declarou apoio à reeleição do prefeito Zé Martins.

O gestor agradeceu o apoio recebido e acredita que chegará bastante fortalecido para as eleições em outubro.”É gratificante demais ter o companheiro Tato Mendes em nosso meio, junto com todos aqueles que fazem o partido do presidente Lula em nosso município. Vamos seguir unindo forças aos homens e mulheres de bem para continuar transformando João Alfredo em um grande lugar de se viver”, afirmou.

Por Fernando Sardinha*

Há 30 anos, desembarcava em Brasília, de malas e cuias, para coordenar o Gabinete do senador Carlos Wilson, depois de ter sido o seu secretário-adjunto da Educação, Cultura e Esportes, e coordenado a sua campanha vitoriosa ao Senado.

Foi, sem dúvida, um grande desafio, para mim e minha família, sobretudo por abdicar da minha vinculação com a causa da educação e aceitar de pronto a esse honroso convite do meu amigo Calí.

Sem conhecer Brasília direito, as dificuldades foram inúmeras e não conto as vezes em que me perdi na cidade. Uma delas foi quando fui comprar um terno para trabalhar e, como se não bastasse, não sabia até mesmo como dar o nó na gravata.

Hoje, 30 anos depois, eu e a minha família só temos gratidão ao Criador por esse nosso desafio e ao meu fraterno amigo Calí pelo seu convite e por me ter ensinado tantas lições de vida, tais como a tolerância, a dedicação e a elegância no trajar e no respeito no tratar com as pessoas, principalmente com as mais simples e humildes, além do que foi ele também que me ensinou a dar o nó nas minhas gravatas.

Com a sua partida precoce para o plano superior, todas as manhãs quando me apronto para ir ao trabalho e dar o laço na minha gravata, oro a Deus e peço luz e paz para o meu Calí.

Hoje, 30 anos depois, continuo no Senado, agora no Gabinete do meu fraterno amigo Humberto Costa, onde continuo exercendo a grata missão de “desatar nós” de todos os pernambucanos que nos procuram pelas mais diversas circunstâncias, necessidades e orientações.

Valeu a pena acreditar!

*Professor e servidor público

Por Angelo Castelo Branco*

O presidente Lula está se tornando um personagem enigmático e contraditório. Chefia um governo que já contabiliza prisões em massa e isoladas de mais de duas mil pessoas acusadas de serem golpistas e anti-democráticas. 

E para espanto dos observadores da política brasileira, esse mesmo presidente prestigia explicitamente proeminentes golpistas da democracia na América Latina, como é o caso do ditador Nicolás Maduro, da Venezuela.

Enquanto isso, dedica menosprezo ao presidente da Argentina, Javier Milei, que foi legitimado democraticamente pela maioria dos eleitores na vizinha nação.  O comportamento dúbio do chefe do Executivo afronta o sentimento brasileiro consagrado na constituição de 1988 que redemocratizou o Brasil e que consagra claramente o repúdio institucional a quaisquer outros regimes que agridam a livre manifestação da opinião, a plenitude transparente da democracia e o respeito intransigente aos direitos humanos.

Aos olhos do espírito humanista democrático que prevalece nos corações e mentes do povo brasileiro como sendo um forte traço cultural da nossa civilização, urge que o presidente faça uma revisão em sua agenda política.

Vale relembrar que o grande trunfo para o êxito de um homem público diante de seu povo se resume a uma única palavra: respeito

*Jornalista