Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – Desde a década de 1940 o fantasma do peronismo acalenta e assusta os argentinos. Peron e Evita desfilam emoções na Calle Flórida, a Rua das Flores em Buenos Ayres. Elvis vive! Peron is alive! Dizem os milongueiros. A Argentina travou a catraca do tempo há 80 anos. Costeleta de cantor de tango, o libertário Javier Milei anuncia uma batalha para aposentar o fantasma do mito Juan Domingo Peron e bailar na cadência do liberalismo econômico.
O tango é o ritmo do pecado e das sofrências. Peron, Evita, Carlos Gardel, Astor Piazola, Maradona e Milei todos nasceram com um bandoneon na testa, assim como os sertanejos são dados à luz com uma sanfona branca de Luís Gonzaga no coração. E os paraibanos de fé nascem com as poesias de Augusto dos Anjos na ponta da língua. Ou com um pandeiro de Jackson na palma da mão.
Leia maisA Argentina viveu tempos gloriosos nas três primeiras décadas do século passado. Situava-se entre as Nações mais prósperas e com elevada qualidade de vida no comparativo com países do Primeiro Mundo. Na década de 1940 aconteceu o advento do peronismo, em torno da liderança carismática do coronel Juan Domingo Peron. O peronismo mudou desde sempre a história da Argentina.
Luzes na ribalta: o comandante Peron entrega seu coração nas mãos da ex-dançarina Eva Duarte, Evita. “Peron-Peron, Evita-Evita”, ovacionam as multidões. O casal protagoniza uma história de amor, poder e tragédia. Romeu e Julieta redivivos dançam um tango na Argentina. A partir da década de 1940 o peronismo acende paixões e incendeia corações no Reino do Rio da Prata e cercanias.
Peron e Evita estão para Carlos Gardel assim como o liberal excêntrico Javier Milei sugere a dissonância musical de Astor Piazola. Toca o bandoneon das paixões do azul-celeste!
O filme “Evita”, estrelado pela diva Madonna e o ator Antônio Banderas, fala de paixões e da criação do mito Peron. “Multidão solitária” é uma expressão em inglês – lonely crowd — serve para ilustrar as raízes do peronismo no meio das multidões solitárias. Evita era chamada de “Santa Evita”.
A música-tema do filme – “Don’t cry for me Argentina” — na voz da diva Madonna, é um canto de amor à musa Evita. Também é um canto de lamento diante das desventuras do peronismo. Os vendedores de ilusões insuflam a ideia de que a riqueza das nações está ao alcance da mão na linha do horizonte, como dádiva de um milagreiro, ao atender às súplicas das multidões solitárias.
Tantas multidões foram às ruas, houve tantos protestos, para que? Para nada. Se a prosperidade das nações dependesse de multidões nas ruas, a Argentina seria hoje uma superpotência mundial. De populismo em populismo, muda Argentina! Muda para pior. Os indigentes e pobres de hoje estão na fila do pão e da sopa.
A bordo de suas costeletas excêntricas, Javier Milei abraça o bandoneon para compor um novo tango argentino em ritmo liberal.
Hasta la vista, magníficos e magnânimos leitores, gregos e troianos!
*Periodista, escritor e quase poeta
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