Você está intimado a”interromper as dores, a esquecer as mágoas, a perdoar os outros”.
Tudo muito difícil, mas vontade emanada do seu sagrado pai, não há como descumprir.
Você, amigo, feito eu, somos ambos borregos desgarrados do nosso rebanho original.
Cadê a sombra do umbuzeiro, ou da baraúna centenária do Riacho do mel, onde sempre amarramos nossos burrinhos nas intempéries?
O grande escritor argentino Jorge Luiz Borges, no seu livro “A História Universal da Infâmia”, inclui Bill The Kid, o pistoleiro americano, entre os infames da história humana. O livro é majestoso e injusto na inclusão.
Sobre isso converso de vez em quando com o nosso comum amigo EQM, que você sabe quem é.
Bill não conheceu o pai. A mãe, uma irlandesa dos subúrbios pobres de Nova York, nada pôde fazer por ele, que foi seduzido pelo Oeste, seus perigos e pradarias livres e libertárias.
Bill foi tropeiro antes dos 20 anos, ali ele aprendeu ser mais fácil conduzir burros e cargas que conduzir homens. Era um líder gigantesco.
John Henry Thunstall, rico rancheiro do Novo México, acolheu Bill e entregou-lhe a maior moeda que um pai pode entregar a um filho: confiança e até amor, de uma maneira severa, mas amor, dentro das possibilidades que o tempo e aquelas terras selvagens permitiam.
Penso que hoje, em todas as terras do mundo, pouca coisa mudou.
E Bill foi filho trabalhador, honesto e honrado, até a concorrência assassinar “seu pai”.
A sua reação de filho amado e órfão foi selvagem e devastadora. Muitos morreram, em nome do sangue derramado do único homem que o tratou com decência e amor paternal.
Bill ensanguentou o Condado de Lincoln, Novo México – suas pistolas cuspiram fogo e raiva, honrando o seu pai, o senhor Tunstall.
Gastão Cerquinha, Armando Monteiro Filho, Walfrido Lopes de Siqueira e Mister Tunstall são pais gigantescos, estive perto, senti o cheiro dos quatro. Essa singela homenagem é para eles, que aqui representam todos os pais do mundo.
Afogados da Ingazeira, Mata Sul de Pernambuco, a Coruja e o Novo México decerto são ambientes parecidos na formação de homens e pais de caráter.
Para eles, meu mais afetuoso beijo e abraço, meu reconhecimento. Eles foram pais maiúsculos!
João Guimarães Rosa sempre escrevia ao pai pedindo histórias maravilhosas. Imaginem a gente viver sem um pai, sem os pais.
O consolo é que a vida segue, se há consolo.
Zé da Coruja
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