Por Osvaldo Matos Júnior*
A Polícia Militar (PM) tem sido alvo de críticas crescentes, especialmente diante da ampla divulgação de vídeos mostrando condutas inadequadas por parte de alguns agentes. Contudo, ao analisar o contexto mais amplo, é fundamental não perder de vista o papel indispensável dessa instituição em um país assolado por uma verdadeira guerra interna. O Brasil registra, há anos, índices alarmantes de violência: mais de 40 mil assassinatos anuais, milhões de roubos, furtos, sequestros e estupros, além do avanço do crime organizado e do tráfico de drogas.
Nesse cenário, a PM é uma das poucas barreiras entre a sociedade e a barbárie. Apesar de sua importância, a realidade enfrentada pelos policiais é marcada por adversidades que muitas vezes passam despercebidas pela opinião pública. Esses profissionais são o produto de uma sociedade que os forma e os entrega à missão de enfrentar um ambiente hostil e, em muitos casos, desumano.
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Os policiais militares são selecionados por concurso público, ou seja, não são recrutas vindos de outra realidade, mas sim fruto do próprio tecido social brasileiro, com suas virtudes e problemas. A formação desses profissionais, especialmente dos soldados, muitas vezes é rápida e em turmas volumosas, dificultando uma preparação individualizada e aprofundada. Embora existam esforços para treinar os policiais com técnicas modernas e preceitos de direitos humanos, o curto prazo e a falta de recursos limitam o alcance desses treinamentos.
Além disso, muitos agentes enfrentam condições de trabalho e vida que os colocam em situações de vulnerabilidade psicológica e emocional. Baixos salários, escalas exaustivas, problemas de moradia, exposição constante ao perigo e até perseguições do crime organizado, que coloca suas cabeças a prêmio, tornam a rotina desses profissionais uma batalha constante. Não é incomum que desenvolvam depressão, síndrome do pânico e outros transtornos psicológicos.
Algumas polícias, no entanto, têm buscado soluções mais estruturadas para enfrentar esses desafios, contratando psicólogos militares especializados. Como oficiais das corporações, esses profissionais estão inseridos diretamente no ambiente de trabalho dos policiais e possuem maior capacidade de ganhar sua confiança. Por conhecerem a cultura militar e os gatilhos que podem levar ao surgimento de transtornos, esses psicólogos estão mais bem preparados para identificar sinais de sofrimento psicológico e trabalhar preventivamente, fortalecendo a saúde mental e emocional da tropa.
A liderança dentro da PM também enfrenta desafios significativos. Oficiais responsáveis por comandar e monitorar as tropas passam por uma formação intensa, mas ainda curta, considerando a complexidade das responsabilidades que assumem. Espera-se que eles liderem, identifiquem falhas e promovam a disciplina em corporações expostas a pressões internas e externas massivas.
Comportamentos vergonhosos e fora das regras devem ser combatidos em qualquer profissão e punidos com rigor. Isso se aplica tanto à Polícia Militar quanto a médicos, professores, advogados e outras categorias. Contudo, é inaceitável generalizar os erros de alguns indivíduos como se fossem características inerentes à instituição. Mais grave ainda é o uso dessas falhas como justificativa para teorias ideológicas que tentam ser empurradas goela abaixo da população, desmoralizando a polícia sem qualquer fundamento prático ou coerente.
A análise crítica não deve se transformar em uma condenação ampla e injusta. Quando a polícia erra, é essencial corrigir e responsabilizar. Mas quando acerta, seu trabalho deve ser reconhecido e valorizado. Afinal, a atuação da PM é fundamental para proteger a população em meio a um contexto de violência extrema.
O Brasil vive a maior guerra humana interna do mundo, um cenário de violência que afeta a todos. Nesse contexto, o trabalho da Polícia Militar deveria ser enaltecido, considerando que seus integrantes arriscam suas vidas diariamente para proteger a sociedade. No entanto, muitos políticos e especialistas da imprensa utilizam falhas isoladas para atacar e desmoralizar a instituição como um todo.
Essas críticas generalizadas não apenas ignoram os desafios enfrentados pelos policiais, mas também alimentam um discurso que fragiliza a autoridade e a moral daqueles que estão na linha de frente. É essencial distinguir as condutas individuais dos agentes, que devem ser investigadas e corrigidas, da imagem institucional da Polícia Militar.
É inegável que a PM precisa de reformas estruturais, tanto na formação de seus agentes quanto na valorização de suas condições de trabalho. É necessário investir em:
- Formação de Qualidade: Cursos mais longos e aprofundados, com foco em direitos humanos, inteligência emocional e práticas modernas de policiamento.
- Apoio Psicológico Estruturado: Ampliar a presença de psicólogos militares especializados para atender as tropas de forma mais eficiente e integrada à realidade policial.
- Melhores Condições de Trabalho: Salários dignos, carga horária justa e equipamentos adequados.
- Reconhecimento Social: Combate ao discurso que desmoraliza a polícia e promoção de uma visão equilibrada sobre seu papel na sociedade.
A Polícia Militar é uma instituição essencial para a preservação da ordem e da segurança no Brasil. Embora falhas individuais precisem ser punidas e corrigidas, não se pode perder de vista o contexto de guerra interna em que esses profissionais atuam. Mais do que criticar, é urgente valorizar, apoiar e fortalecer a PM, pois sem ela, o caos e a violência já instaurados no país assumiriam proporções inimagináveis. Não podemos permitir que erros pontuais se tornem uma desculpa para desmoralizar a polícia ou impor teorias ideológicas que ignoram a realidade. O verdadeiro desafio não é destruir a imagem da polícia, mas transformá-la e fortalecê-la para que continue cumprindo sua nobre e difícil missão de proteger a sociedade.
*Cientista político e social, publicitário, especialista em COMEX, Marketing, gestão pública e privada, planejamento estratégico e inteligência competitiva, gestão do turismo e comunicação.
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