Por Letícia Lins*
Depois de perder duas lojas de uma rede que fez história no Recife pelo pioneirismo e pelo “orgulho de ser nordestino”, a Zona Norte do Recife está ganhando duas lojas nesta semana, exatamente nos mesmos locais onde funcionaram hipermercados do Bompreço. O Atacadão, que pertence à Rede Carrefour, começou a funcionar na terça-feira (22), exatamente na esquina da Rua Paula Batista com Dona Ana Xavier, no populoso bairro de Casa Amarela. Ali mesmo, onde o Bompreço instalou a sua primeira unidade no Recife, em 1966. E na quinta (24), será inaugurado o Mateus Hiper Casa Forte, onde ficava o Hiperbompreço Casa Forte (defronte ao Shopping Plaza).
Fui dar uma conferida no Atacadão de Casa Amarela, mas ao chegar no local, embora testemunhasse preços competitivos na área de frutas e verduras, descobri logo que havia entrado na sucursal do inferno. Muitos empurrões, disputa por carrinhos (sim, eles eram insuficientes), corredores estreitos entre as gôndolas (que ocasionaram “colisões” ), dificuldade de andar e, pior, bagunça nas filas dos caixas, sem que aparecesse nenhum gerente para tentar impor a disciplina.
Leia maisNo caixa destinado a compras de até 20 volumes, havia gente com carrinhos cheios. Na fila da ordem de prioridades – caixa exclusivo para idosos, gestantes, cadeirantes, pessoas com bebês – o caos era total, pois estava tudo junto e misturado. Quando vi a bagaceira, decidi fazer um teste e terminei me arrependendo. Mas… como já estava lá, fiquei. Entrei na fila do caixa às 9h45m, mas só saí às 14h exatamente. Isso depois de ter deixado o carrinho, algumas vezes, “marcando” lugar para pegar mercadorias, onde pudesse passar, já que o vuco-vuco só me permitia ir até as gôndolas com bagagem zero. Um inferno estressante.
A demora era tão grande na fila, que Sinaide de Souza Santos foi em casa, preparou o almoço, e o carrinho cheio de mercadorias não havia sequer chegado ao meio da fila do caixa. Mas os preços de hortigranjeiros compensavam. Assim como os de alguns produtos, como o Leite Ninho, por exemplo, que chega a ser encontrado por até R$ 40 em vários supermercados. No Atacadão, a unidade de 750 gramas estava a R$ 28. Mas voou. “Na terça-feira, custava mais barato, R$25,98”, reclamou o aposentado José Marcos da Silva. “E hoje já acabou e não tem reposição, segundo fui informado”, complementou. O abacaxi, que pode ser encontrado por preços que variam de R$ 3 a R$ 6 em feiras ou outras lojas, estava a R$ 1,49 no Atacadão. E, claro, voou também. E até o momento que saí, não vi reposição.
Havia produtos com preços que me fizeram lembrar os bons tempos do início do Plano Real, quando R$ 1 valia alguma coisa. É que um quilo de tomate estava a 49 centavos, o de cebola saía por 89 centavos e o quilo de banana pacovan, também inferior a R$ 1. Então, tinha gente comprando banana de penca. E melão? Estava a R$ 1,99 o quilo, dependendo do tipo. Batata inglesa, cenoura, maçãs, peras, laranjas também estavam com preços competitivos, enquanto folhas – como alface e couve – custam R$ 1.
Já o Mateus inaugura sua nova loja amanhã, e pelo que parece, com uma proposta bem diferente do Atacadão. Será mais diversificada e sofisticada, lembrando os bons tempos do Hiperbompreço Casa Forte. Além de área de vendas com 6 mil metros quadrados (com 17 mil itens), o lojão é o primeiro de varejo a ser inaugurado em Pernambuco pela Rede Mateus, que já possui onze lojas no Estado, das quais nove no Grande Recife. O Mateus terá cafeteria, padaria, praça de alimentação e 700 vagas no estacionamento.
Resta-nos saber até que ponto o consumidor vai se beneficiar da concorrência entre as duas bandeiras, e quem vai ofertar preços mais baixos. Será que o Mateus vai vender cebola, tomate e banana por menos de R$ 1 o quilo? E a bandeja com 30 ovos a R$ 9,89? Bom, no começo são todos iguais. Cobram baixo para atrair clientes, mas passada essa fase, os preços voltam ao patamar praticado em todos os lugares.
“Amanhã (quinta), vou chegar bem cedo ao Mateus, para aproveitar as ofertas da inauguração”, afirmou a cliente Maria França. Preparada para mais uma guerra. “A gente sofre mas, no fim, termina aproveitando os preços e economizando alguma coisa”, afirmou. Nas ruas, os dois supermercados estão usando ferramenta bem tradicional para atrair público: carros com alto falantes vêm circulando em bairros do Recife, divulgando as duas lojas e anunciado grandes ofertas. Vamos ver até quando.
*Jornalista do Oxe Recife
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