Menino do rio, onde pescava piaba, dava flecheiros e também jogava bola com os seus amigos, Inocêncio cresceu ouvindo histórias sobre o cangaço e as crueldades do bando de Lampião, crendices e religiosidades dos devotos da Santa padroeira e o lendário político sobre a região e a distante capital Recife, distante muitas léguas em estradas de barro.
Havia um estigma em torno do bonito nome da cidade: Vila Bela, terra de Lampião. O nome só veio a mudar por decreto-lei do então poderoso interventor Agamenon Magalhães em 09/12/1938, justo o ano em que Inocêncio nasceu.
Depois da imersão nas águas do Pajeú e desasnar as primeiras letras e números, Inocêncio fez o Exame de Admissão e foi cursar o Ginásio no tradicional Colégio Cristo Rei, em Pesqueira.
Segue na mesma linha de educandários religiosos ao se transferir para Recife e estudar no Colégio Salesiano, da ordem de Dom Bosco, onde concluiu o Curso Científico rumo à Universidade.
Foram boas amizades, bons ensinamentos de vida e bons saberes de matérias escolares em suas vivências no Colégio Cristo Rei de Pesqueira e Colégio Salesiano de Recife. Final de uma etapa, adeus colégios, ficarão para sempre na boa memória do aluno.
Medicina
Formar o filho em Medicina sempre foi um desejo do pai, Seu Micena. Seja feita a vossa vontade, decidiu Inocêncio. Morando numa república de estudantes, começou a queimar as pestanas para ser aprovado no vestibular no ano de 1957. Foram noites e noites fazendo serão nos estudos. Ao final da jornada, foi aprovado nas duas faculdades, da Universidade Federal e de Ciências Médicas. Optou pela Federal, então chamada de Universidade do Recife.
A política nas veias
O DNA da política sempre esteve nas veias e na flor da pele de Inocêncio. O tio paterno Enock foi chefe político da UDN, oposicionista na década de 1940. Por influência dele, Seu Micena ingressou na política e foi eleito vice-prefeito de Serra Talhada em 1951.
Canudo de Medicina na mão, sonho profissional realizado aos 25 anos, o que fazer da vida? Até então não havia pensado em política, um ramo da genealogia familiar.
Decidiu voltar para fazer a vida em Serra Talhada. Vestiu o jaleco e mãos à obra. Instalou seu consultório numa vistosa casa da bem movimentada Rua 15.
O filho de Seu Micena e Dona Socorro começou a ganhar fama como bom médico nas redondezas. A clientela era variada: menino desnutrido, gestantes com enjoos, gente com perna quebrada, pressão alta, desmaios. Quando o paciente não tinha dinheiro, o doutor Inocêncio recebia de presente uma galinha gorda, cachos de banana, macaxeira – era um povo pobre e generoso.
Espírito empreendedor, o doutor Inocêncio começou a poupar dinheiro com os ganhos recebidos da clientela. Vendeu cinco casas que havia comprado de um familiar e começou a construir o Hospital e Maternidade São Vicente. Também adquiriu equipamentos de raio X e uma mamografia. Instalou uma UTI dotada de gerador próprio para ser acionada no caso de interrupção do fornecimento de energia da rede pública. Esta foi a sementeira do futuro polo médico do município e em torno do qual foram atraídos outros empreendimentos.
Em outro terreno adquirido da sua tia Benona, construiu uma clínica psiquiátrica que veio a se tornar pioneira e referência na região.
Primeiro mandato
Corria o ano de 1974. A semente do primeiro mandato de Inocêncio Oliveira como deputado federal foi lançada durante visita do governador Eraldo Gueiros a Serra Talhada para inaugurar uma estação do Terminal Rodoviário. “Termos aqui a liderança promissora de um jovem médico que poderá ser lançado candidato a deputado federal”. Inocêncio pegou na palavra. Havia um vazio de federais na região. Eraldo recomendou o nome de Inocêncio para ser votado no município.
Para encurtar a história, o doutor Inocêncio foi eleito com 31,879 votos, sem pertencer a grupo econômico e estreante na política. Aos 36 anos, trocou o jaleco de médico e vestiu terno e gravata para assumir o mandato em Brasília.
A partir daí foi uma sucessão de vitórias, sempre com votação ascendente. O governador Marco Maciel, que governou o Estado de 1979-1982, disse a Inocêncio que gostaria de tê-lo como sucessor no Palácio das Princesas. Mas, o governo do Estado não estava no radar de Inocêncio. Seu plano de voo era galgar os degraus na Mesa da Câmara dos Deputados. E assim aconteceu. Foram 10 mandatos consecutivos concluídos na sua despedida em 2014.
Cargos na Mesa: presidente, 1993-1994; 1º vice-presidente, 1989-1990, 2003-2005; 1º secretário 1991-1992, 2005-2007; 2º vice-presidente 2007-2009; 2º secretário 2007-2009; 2º secretário 2009-2010; 3º secretário 2011-2013. Este é um fato inédito na Câmara dos Deputados. Daí ter sido chamado de “deputado guardanapo”, por estar sempre presente na Mesa.
Mercê do seu desempenho, foi eleito 16 vezes consecutivas pelo DIAP como um dos mais influentes parlamentares e entre as principais cabeças pensantes do Congresso Nacional. Não é pouca coisa.
Presidente da Câmara em 1993-1994 e havendo o Impeachment do presidente da República, Fernando Collor, Inocêncio tornou-se o segundo na linha sucessória presidencial. Como tal, exerceu o cargo interino de presidente da República por 11 vezes e durante 63 dias.
Legado
Nesta data em que se celebra o transcurso de 85 voltas em torno do astro-sol, o vitorioso Inocêncio Oliveira apresenta um legado de realizações administrativas, políticas e institucionais em todas as regiões e em todos os municípios do Estado. Cumpriu a proverbial sentença: plantou árvores, escreveu um livro e teve filhos. Casado com Ana Elisa Nogueira, o casal gerou três filhos: Shely, Sheldon e Sheila.
Correligionários e a população em geral reconhecem que Serra Talhada tem dois marcos divisórios: antes e depois de Inocêncio Oliveira, em termos de polo de saúde, educação e serviços. Interiorização do desenvolvimento, segurança hídrica e obras estruturadoras foram suas prioridades em ação administrativa.
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