Os 854 habitantes de Serra da Saudade (MG), município com a menor população do país de acordo com o IBGE, devem iniciar o próximo ano com um rosto bastante conhecido à frente da prefeitura.
Não é o de Alaôr Machado (PP), 70, prefeito que neste ano vai terminar o seu quinto mandato à frente do município, tendo sido reeleito em 2020. Mas deve ser o da servidora aposentada Neusa Ribeiro (PP), 67, ex-mulher de Alaôr e que foi chefe do Executivo municipal de 2009 a 2016.
Juntos, os dois somam sete mandatos à frente da cidade que fica na região centro-oeste de Minas Gerais, a cerca de 250 km de Belo Horizonte. Desde 2001, eles se revezam à frente do município.
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Neusa aposta que deve ter 1.100 votos dos 1.294 eleitores. Ela diz que Serra da Saudade possui mais eleitores que habitantes por causa de pessoas que nasceram no local, mas moram em cidades próximas e não transferiram o título, ou aquelas que têm fazendas no município e optam por votar lá.
Apesar de concordar que há uma continuidade entre as gestões dela e do ex-marido, a candidata disse que um não interfere na gestão do outro e nem sequer atuam juntos na campanha.
“É uma continuidade, mas tem cada um as suas particularidades. A gente trabalha com um Orçamento muito equilibrado, mas eu sou mais mão fechada”, disse a postulante, que reforçou não ter interesse em concorrer a mais um mandato caso seja eleita no atual pleito.
Ela se separou de Alaôr em 2004, mas diz que a relação entre eles, apesar de ser distante, é amistosa.
Os moradores com quem a reportagem conversou na localidade caracterizam a gestão de Neusa como mais austera. Ela também é conhecida pelas viagens a Belo Horizonte e Brasília em busca de emendas parlamentares com recursos a serem investidos na cidade.
A administração de seu ex-marido, por outro lado, é mais voltada a eventos no município, com promoções de festas, como a de Nossa Senhora do Rosário.
Alaôr não quis falar com a reportagem.
Quem ajuda a garantir a continuidade entre as duas gestões é Marcelo Machado, 43, filho de Alaôr e Neusa, funcionário concursado do município há 20 anos, e que hoje ocupa a função de controlador interno da prefeitura.
Considerado na cidade como sucessor natural dos pais à frente do município, ele negou o interesse de ser candidato. Muitos assuntos do dia a dia da prefeitura são lidados por ele, que é formado em direito.
Os habitantes de Serra, como os moradores se referem ao município, caracterizam os serviços de saúde prestados pela prefeitura como o grande acerto das últimas gestões. A cidade possui posto de saúde, mas em casos mais complexos a prefeitura leva o paciente até o hospital mais próximo. Medicamentos também são pagos pela gestão municipal.
Com um território de 335,6 km², Serra da Saudade tem uma área maior que a da capital mineira (331,3 km²) e possui uma das menores densidades demográficas do país, com 2,48 habitante por quilômetro quadrado.
A maior parte da população reside na área rural, região em que predomina a pecuária bovina de corte e leite. No ambiente urbano, a estimativa da prefeitura é a de que existam cerca de 400 pessoas, sendo que 150 delas trabalham na administração municipal.
Essa é uma das razões apontadas por Derli Donizete (Avante), 70, agricultor que concorre pela terceira vez consecutiva ao cargo de prefeito, para a reportagem não ter encontrado um eleitor que falasse abertamente que votará nele.
“Eles [adversários] dominam o município, deixam o povo com medo. Vou ser sincero, se você for perguntar para quem vai votar em mim, ninguém vai falar nada, mas acho que vou ter uma votação boa”, disse.
Apesar das críticas, o agricultor afirma manter uma boa relação com Neusa e Alaôr, de quem foi vice-prefeito de 2005 a 2008.
Neusa também falou que a relação entre ela e o concorrente Derli é saudável. O filho Marcelo negou que a prefeitura faça algum tipo de perseguição contra eleitores de adversários.
“A gente administra a cidade com pouco [recurso], não importa em quem fulano votou, a relação com Derli é boa, ele é uma boa pessoa”, disse o controlador da prefeitura.
Da Folha de São Paulo.
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