O prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (PL), indicou a mulher, Kellen Rejane Nunes Bocalom, para ser chefe de gabinete na prefeitura e afirmou em entrevista ao Estadão que, se perceber que não está dando conta, ela poderá deixar o trabalho. No novo cargo, Kellen poderá receber até 28,5 mil, caso seja beneficiada por um reajuste previsto no município para secretários municipais. Questionado sobre a nomeação, o Ministério Público do Acre informou que Tião também é questionado por batizar um elevado na cidade com o nome da ex-mulher Beth Bocalom, falecida em 2021.
Casada com Tião desde setembro do ano passado, Kellen foi anunciada como a nova chefe de gabinete do prefeito em uma publicação do Diário Oficial (DO) do município na última terça-feira. No documento, a decisão é fundamentada por uma determinação de que, no município, o cargo equivale à função de um secretário. As informações são do Jornal O Globo.
Leia maisEssa classificação abre brecha para a indicação de parentes para cargos públicos a partir de um entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) conhecido como “súmula viculante 13”, citada no documento. Por uma decisão do então ministro da Corte Ricardo Lewandowski, datada de 2008, cargos políticos são tratados como exceção entre indicações para funções públicas, não devendo ser tratados como nepotismo.
Reajuste salarial de 90% previsto no município
Além disso, em Rio Branco, os salários mensais de secretários poderão chegar a R$ 28,5 mil neste ano por articulação de vereadores, que aprovaram a mudança na Câmara Municipal em dezembro do ano passado. O aumento, que seria equivalente a um reajuste de 90%, foi barrado no mês passado pela Justiça estadual, que deu um prazo de 20 dias para que o legislativo e a prefeitura se manifestem.
Ao ser questionado sobre escolha, Tião Bocalom afirmou ao Estão que a escolha para o cargo de chefe de gabinete precisaria ser alguém de “total confiança” e que precisaria ficar com ele “o tempo todo”. O prefeito também argumentou que a mulher teria o currículo necessário ao cargo, por ter chefiado a área jurídica do Departamento Estadual de Água e Saneamento do Acre (Depasa) entre 2012 e 2021. “Se ver que não está dando conta, ela mesma entrega o trabalho”, completou ele.
Questionado se o caso não se enquadraria como nepotismo, o MP de AC afirmou que o prefeito também é questionado pela nomeação do elevado na estrada Dias Martins, no município, com o nome de sua ex-mulher, Beth Bocalom. O órgão público afirmou que recebeu uma representação solicitando a análise da constitucionalidade da lei municipal que oficializou a mudança do nome.
“A Promotoria apontou possíveis irregularidades no processo de nomeação e argumenta que a escolha do nome pode configurar promoção pessoal, uma vez que a alcunha destacada no nome da obra pública associa-se diretamente ao sobrenome do gestor municipal”, informou o MP.
Após o recebimento do caso, o MP solicitou que à Procuradoria-Geral de Justiça avalie a viabilidade de propor uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a lei municipal. “O objetivo é garantir o respeito aos princípios constitucionais e evitar que obras públicas sejam utilizadas para promoção pessoal de agentes políticos”, afirma o MP.
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