Gleisi, um tiro no pé
Ao escolher Gleisi Hoffmann para o Ministério das Relações Institucionais, pasta responsável pela articulação política e a ponte entre o Governo e o Congresso, fiquei com a impressão de que o presidente Lula (PT), antes craque na matéria, virou um verdadeiro perna de pau no jogo inteligente e maquiavélico do poder.
Atual presidente do PT, que com ela cresceu feito rabo de cavalo, para baixo, Gleisi é uma figura cuja trajetória política é marcada por conflitos, radicalização ideológica e dificuldades na construção de consensos. Conheço bem o Congresso e lá ela é odiada, inclusive por petistas. No Governo, quem deve ter ficado contrariado foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Gleisi é frontalmente contrária à política econômica de Haddad, a quem criticou em público em várias oportunidades. No momento em baixa, com níveis de aprovação da sua gestão caindo drasticamente, Lula precisava de uma figura com fácil trânsito no Congresso, que tivesse respeito às instituições, com transparência e com capacidade de buscar soluções e não conflitos.
Leia maisSe com Alexandre Padilha, que não falava com o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o governo já enfrentava dificuldades para aprovar pautas e manter aliados, imagine com uma radical petista como Gleisi. Lula deu um tiro no pé, só fez aumentar a tensão com o Congresso. Dilma seguiu esse caminho e caiu. Lula vai no mesmo sentido.
Tão logo Gleisi foi confirmada, decisão que surpreendeu o mercado financeiro, o dólar comercial encerrou da sexta-feira passada vendido a R$ 5,916, com alta de R$ 0,088 (1,5%). A cotação chegou a operar próxima da estabilidade durante a manhã, mas aproximou-se de R$ 5,90 após a nomeação da deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) para a Secretaria de Relações Institucionais.
SEM MAIS O VAREJO POLÍTICO – A articulação política é um cargo que requer diálogo, paciência, pouco ruído e muita política de boa vizinhança. E esse, definitivamente, não é o perfil da nova ministra. Segundo deputados da base governista, especificamente do PT, Lula abandonou o ‘varejo político’. Entende que isso não funciona mais. E agora está priorizando a eleição do ano que vem. E como Gleisi pode ajudar nisso? Segundo esses mesmos aliados, Gleisi fala bem com presidentes de partidos, atua bem no atacado, nos estados, nas bases que têm potencial eleitoral. E é para isso que ela foi escolhida.

SILVINHO, O MELHOR NOME – Com Gleisi Hoffmann cuidando da articulação política, o Centrão certamente ficará bem mais distante do Governo. Movimento conservador do Congresso, com maioria no Senado e na Câmara, o Centrão indicou para Lula o ministro dos Portos e Aeroportos, o pernambucano Silvio Costa Filho. Espécie de Marco Maciel da modernidade, Silvinho, como é mais conhecido, diferente de Gleisi, tem paciência de Jó no jogo da política, transita bem entre todos os partidos, seja de esquerda, centro e direita, e tem uma virtude herdada de Marco Maciel: um estômago gigante para engolir sapos.
Palco esvaziado – O mega investimento do Governo do Estado na montagem de um palco no Marco Zero para concorrer com o oficial, historicamente sob a responsabilidade da Prefeitura do Recife, não deu resultados. Em termos de público, um grande fiasco, conforme imagens postadas em grupos e pelas redes sociais. Mesmo assim, a governadora acha que fez um negócio da China e que sua “sacada” reduziu o público nas atrações do palco em que o prefeito João Campos (PSB) era presença animada nas principais atrações dos artistas nacionais.
Ajudinha merreca – Dois polos tradicionais e importantes do carnaval pernambucano, Triunfo, no Sertão, e Pesqueira, no Agreste, receberam, respectivamente, R$ 300 mil e R$ 600 mil do Governo do Estado em cotas para pagamentos de cachês artísticos. O custo do reinado do momo em ambos os polos passou de R$ 2 milhões e os referidos prefeitos bancaram com recursos próprios ou com emendas parlamentares. Mas nem o prefeito Luciano Bonfim (Avante), de Triunfo, tampouco o Cacique Marquinhos (Republicanos) passou recebido ao Estado.

São Caetano discriminado – Um dos carnavais mais tradicionais do Estado, com o concurso das La Ursas, patrimônio do Estado decretado na gestão de Paulo Câmara, São Caetano não recebeu um tostão de patrocínio do Governo Raquel Lyra este ano. O prefeito Josafá Almeida (UB) teve que bancar sozinho. Há uma desconfiança de retaliação política. Afinal, municípios próximos e sem muita tradição de folia, como Tacaimbó, viram a cor do dinheiro do Estado. “Não sei o que ocorreu, mas fico desconfiado de perseguição política. Isso se dá pouco tempo depois de a governadora tentar atrapalhar minha reeleição no Coniape, um dos consórcios de prefeitos mais expressivos do Estado”, disse Josafá.
CURTAS
INTERINO – O senador pernambucano Humberto Costa, segundo-vice-presidente do Senado, deve assumir, interinamente, a presidência nacional do PT por seis meses, prazo que o novo presidente Edinho Silva tem para substituir oficialmente a atual presidente Gleisi Hoffmann.
TABATA – O que se diz em Brasília é que o novo anúncio da reforma ministerial de Lula, que sai a conta gotas, será a confirmação da deputada Tabata Amaral (PSD-SP) no Ministério de Ciência e Tecnologia, substituindo a pernambucana Luciana Santos (PCdoB), que seria remanejada para a pasta da Mulher.
BOMBOU – A Rede Globo registrou a maior audiência em São Paulo para a transmissão do Oscar, domingo passado. O filme “Ainda Estou Aqui” concorreu e levou a estatueta na categoria de melhor filme internacional — o primeiro do Brasil. A emissora atingiu 14 pontos em São Paulo. O filme dirigido por Walter Salles disputou três categorias na premiação de cinema: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz, pela atuação de Fernanda Torres.
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