O PSD saiu muito fortalecido nas disputas municipais deste ano. Gilberto Kassab, presidente do partido, pode ser vice de Lula em 2026? É o que tenho ouvido em Brasília.
Isso está no campo da especulação, e é decorrente de um resultado que, inquestionavelmente, foi muito positivo, sobre todos os aspectos. Não apenas pelo maior número de prefeitos eleitos, mas o PSD ter avançado nos grandes colégios eleitorais. O partido, de fato, foi o primeiro no ranking dos prefeitos eleitos e segundo lugar, muito próximo do PL, no número de votos dado à legenda. Foram mais de 14,5 milhões de votos ao 55 na eleição de prefeitos.
Quantos prefeitos eleitos em Pernambuco?
Elegemos 20 prefeitos, tínhamos feito 14 na última eleição. Mas gosto sempre de destacar que Pernambuco é um Estado muito politizado e, nas últimas eleições, o que se viu foi uma disputa muito intensa, diferentemente das outras vezes, entre lideranças expressivas que presidem partidos no estado. Diferente também da polarização que existia entre o partido do governador e o partido da oposição.
Como assim?
Desta vez, tínhamos o Republicamos, liderado por Silvio Costa Filho, tinha o Partido Progressista, do deputado Eduardo da Fonte, o Podemos, com Marcelo Gouveia e Armando Monteiro, o PSDB, com a governadora, o PSB com João Campos e o PT, que faz história, além do PL. Portanto, tínhamos entre 10 e 12 grandes legendas disputando prefeituras. Com isso, o resultado passa a ter maior expressão em função dessa disputa.
Depois de eleger 32 prefeitos, o senhor acha que a governadora Raquel Lyra ainda sai do PSDB? Kassab sonha em tê-la no PSD.
Esta é uma decisão pessoal da governadora, que a gente vai respeitar qualquer que seja seu caminho, seja por permanecer no seu partido, ou encontrar outro rumo. Eu sempre falo que qualquer partido gostaria de ter um quadro como a governadora, uma liderança de expressão nacional, jovem, preparada e uma gestora que todos admiram. Qualquer partido gostaria de ter Raquel Lyra nos seus quadros, e o PSD não é diferente.
Kassab já a convidou para o PSD?
Nós celebraríamos muito no País inteiro o ingresso eventual de Raquel Lyra. Mas eu repito: tem coisas na vida que são muito pessoais. Eu digo que político tem duas decisões que ele pode ouvir todo mundo, mas só duas deve tomar sozinho: a mulher com quem vai casar e o partido ao qual vai se filiar.
O senhor acha que teremos uma disputa entre João Campos e Raquel Lyra em 2026, ou acredita que João não deve ser candidato após o fortalecimento da governadora nas eleições municipais?
Isso é uma decisão de João. Ele é quem vai decidir, no momento oportuno, e eu tenho certeza de que fará com maturidade, ouvindo o conjunto de forças políticas. Mas quero dizer que, qualquer que seja o adversário, a governadora Raquel Lyra mostrou nessas eleições que é muito forte. Não existe ninguém imbatível na eleição, mas ela é muito forte. Eu gosto sempre de dizer que quem me estimulou a entrar na vida pública foi Marco Maciel, e ele era reconhecidamente um presidencialista convicto. Ele dizia algo que nessas eleições ficou mais evidenciado: no presidencialismo americano, aquele que nos inspira, o mandato não é de quatro anos, mas de 8 anos.
Esta foi a eleição da reeleição?
Só não se reelege quem faz um governo muito bisonho, de poucas entregas. Veja o histórico em Pernambuco com Jarbas, com Eduardo – no Brasil com Lula, Dilma, Fernando Henrique. Bolsonaro quebrou a regra para comprovar que a regra existe. Estar sentado na cadeira, fazendo o trabalho competente que Raquel vem fazendo, dá a ela o favoritismo e a visão que todos temos de que ela é uma candidata fortíssima nas próximas eleições.
Vem uma reforma ministerial por aí?
Eu sempre entendi, com a minha experiência, que as urnas falam e ganham aqueles que compreendem melhor o recado. Qualquer que seja esse recado, ele sempre exige um reposicionamento do governo estadual e do governo federal, porque estamos agora no horizonte de dois anos para o processo eleitoral. Depois de um processo como as eleições municipais, se reavalia pesos de parceiros e as circunstâncias. Eu não tenho dúvida que a governadora Raquel e que todos os governadores vão fazer as suas reformas. Também não tenho dúvida de que o presidente Lula vai repensar a construção política do seu governo. Acho apenas que os governadores vão fazer isso antes do final do ano.
Mas Lula faz logo ou espera o resultado da eleição na Câmara e no Senado?
No caso do presidente, acho prudente e venho dizendo que vai acontecer, ele não fará essa reconstrução sem levar em conta o fortalecimento que naturalmente decorre das posições que vão ocupar o Congresso Nacional como o presidente da Câmara e o presidente do Senado. O que se diz em Brasília, e o que a experiência mostra, é que essa arrumação será feita imediatamente após termos clareza de quem presidirá a Câmara, o Senado e a nova correlação de forças.
O senhor acredita que o PSD pode ganhar mais um ministério?
Esta não é uma discussão que vai acontecer agora, porque não se pode fazer isso isoladamente, sob o prisma de tal partido ter se saído melhor ou pior. Não acho que seja assim, até porque é preciso levar em conta vários atores. Claro que a gente trabalhou muito para que esse fortalecimento acontecesse, porque o fortalecimento traz com ele espaços no governo federal, projetos que se viabilizam para frente. Eu disse, no final do primeiro turno, que o critério da reforma não se dará porque o PSD ou o MDB fizeram o maior número de prefeitos.
Quais os critérios então?
Outros, mas não o de ter elegido mais prefeitos. Está aí Fernando Collor que chegou à presidência da República sem nenhum prefeito, Bolsonaro, Fernando Henrique que tinha poucos prefeitos. Mas uma coisa é certa: no próximo Congresso Nacional, o PSD vai ter peso porque os prefeitos ajudam nas eleições de deputados e senadores. Um partido que tem a capilaridade que o PSD tem no País inteiro é evidente que é um ator que qualquer um quer ter ao seu lado numa campanha de reeleição.
Leia menos