Para Costa Filho, o presidente da República precisa escapar da armadilha da polarização, garantir bons resultados na economia e se fortalecer para uma eventual reeleição. Sobre os temas relacionados diretamente à sua pasta, afirma que o setor portuário vive um momento histórico, promete melhorias na estrutura dos aeroportos e aponta para o barateamento das passagens aéreas, cujos preços estão nas alturas. Confira os principais trechos da entrevista.
Por que determinados setores da economia afirmam que o governo tem preconceito com o setor produtivo?
Posso garantir que isso não é verdade. Estamos procurando cada vez mais a iniciativa privada para poder investir, criar o melhor ambiente de negócios, garantir segurança jurídica e acelerar procedimentos. Somente o PAC tem a previsão de investimentos da ordem de 1,7 trilhão de reais, dos quais mais de 800 bilhões serão feitos em parceria com a iniciativa privada. Há uma orientação do governo de cada vez mais dialogar com o setor produtivo. O caso dos portos é um exemplo. Na última década foram realizados em torno de quarenta leilões de terminais. Nesses quatro anos de governo Lula, a gente espera fazer 55. E o maior volume de leilões da história do setor portuário e hidroviário brasileiro. Serão investidos entre 30 e 35 bilhões de reais.
Por que viajar de avião no Brasil voltou a ser um luxo?
Desde a pandemia o mundo sofreu um problema grave em relação à aviação civil. É importante registrar que, em 2023, crescemos 14%: saímos de 98 milhões para 112 milhões de passageiros transportados. Neste ano, esperamos crescer mais 5%, com a expectativa de chegar a 118 milhões. Por outro lado, houve uma redução no número de aeronaves. Isso gerou um aumento da demanda e a consequente majoração dos preços. Tivemos um incremento de mais de 20 milhões de brasileiros utilizando o transporte aéreo neste ano, e não foi só a elite ou a classe média alta que viajou. O governo também está criando uma linha de crédito de 4 bilhões de reais para as companhias aéreas. Com isso, elas podem equalizar suas operações e aumentar a frota. Nossa expectativa é que, num ambiente econômico melhor, as tarifas sejam reduzidas.
Há alguma garantia de que isso vai mesmo acontecer?
Não podemos determinar que uma empresa aérea cobre “x” ou “y” pelas passagens. O que a gente tem feito é um trabalho de sensibilização, tanto é que já houve efetiva- mente uma redução no custo das tarifas nos últimos meses, sobretudo para destinos que não são tão procurados. E muito importante a gente incutir na cultura do brasileiro tentar comprar as passagens com antecedência, como fazem os americanos e os europeus. O brasileiro deixa para comprar seus bilhetes muito em cima da hora, o que os torna mais caros.
O Voa Brasil foi alvo de críticas desde que a ideia foi apresentada. A impressão que se tem é que ele não decolou.
Digo sempre que o Voa Brasil é um programa exitoso, que visa à inclusão social no país. Mais de 18000 passagens já foram compradas por aposentados, alguns que não viajavam há mais de cinco anos e que agora estão tendo a oportunidade de voltar a viajar pelo país por 200 reais.
Mas a oferta esperada não era de 3 milhões de bilhetes por ano?
O problema é outro. Estamos trabalhando para ampliar mais a divulgação. Um aposentado que está no sertão de Pernambuco ou no interior de São Paulo, por exemplo, ainda não sabe da existência do programa. Queremos fazer mais campanhas publicitárias para poder divulgar os detalhes da proposta. Não vai faltar passagem para o aposentado que quiser viajar pelo Brasil.
O senhor fala em aumento de oferta e demanda. Os aeroportos estão preparados para receber mais passageiros?
Estamos entregando trinta aeroportos, entre novos e reformados, e nos três primeiros meses de 2025 a gente espera entregar mais vinte. É prioridade do governo fazer e incentivar grandes investimentos nos aeroportos. O de Congonhas, por exemplo. Nós conversamos com a empresa que o administra para acelerar o plano de aportes. Ela se comprometeu a antecipar investimentos na ordem de 2 bilhões de reais. Vão melhorar a acessibilidade, os terminais, os banheiros, a segurança da pista, o atendimento, as salas vips. Será o maior investimento aeroportuário dos últimos cinco anos no Brasil.
Enquanto deputado, o senhor foi o relator da proposta que concedeu autonomia ao Banco Central. O governo erra ao atacar o presidente Roberto Campos Neto?
Defendo a autonomia do Banco Central, entendo que ela é benéfica e não tenho dúvida que essa transição está sendo feita pelo atual governo. É importante fazer uma reflexão que quanto mais o Banco Central for independente, melhor será a governança da taxa de juros. O ministro da Fazenda tem a compreensão do que significa o Banco Central independente. Quem ganha é a sociedade, que vai ter a inflação controlada e um equilíbrio nas contas públicas. O ministro Fernando Haddad é um dos melhores quadros do Brasil, está acertando a economia e vai permitir ao governo do presidente Lula chegar fortaleci- do em 2026. Digo sempre que a responsabilidade fiscal é cláusula pétrea. Isso não deve ser bandeira de direita, de centro, de esquerda. É uma bandeira do Brasil.
O senhor considera a hipótese de o Republicanos, seu partido, lançar um candidato à Presidência em 2026?
É muito prematuro discutir isso agora. Oque posso dizer é que sou grato ao presidente Lula, alguém que ajudou o Nordeste e o Brasil nesses últimos anos. O que posso garantir também é que Silvio Costa Filho estará ao lado do presidente Lula em qualquer cenário. Mas nós vamos fazer o debate sobre 2026 só em 2026. Hoje, dentro do partido, tem gente que defende candidatura própria e tem gente que pensa o contrário.
O governador de São Paulo já é apresentado em algumas rodas como o candidato do Republicanos à sucessão de Lula em 2026.
Tarcísio de Freitas é um grande quadro, por quem tenho muito respeito. Temos uma relação pessoal e parcerias em obras. Agora, todas as vezes em que estive com o governador, ele sinalizou que é candidato à reeleição. Mas repito: vamos ter esse debate, mas só em 2026, até em respeito à sociedade brasileira. O meu partido vai fazer essa reflexão na hora certa.
Se nada mudar, o próximo presidente da Câmara será o deputado Hugo Motta, que também é filiado ao seu partido. As tensões entre o Legislativo e o Executivo tendem a diminuir?
Os embates entre o governo e o Congresso Nacional foram propositivos. Não considero que houve tensionamentos. Ao contrário, vejo um ambiente onde os poderes Judiciário, Legislativo e Executivo trabalharam de maneira harmônica. As principais pautas econômicas do governo foram votadas, os programas sociais foram aprovados. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira cumpriram o seu papel institucional, ajudaram o Brasil e priorizaram a agenda de projetos de interesse da sociedade e do país. O Brasil vai se surpreender com o Hugo, um jovem sério, preparado, trabalhador, que tem espírito público, conhece o Parlamento como poucos e dialoga com a esquerda, com a direita e com o centro.
Alguns parlamentares do seu partido defendem a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. O que o senhor pensa a respeito disso?
Penso que muitos que participaram desse movimento foram instrumentalizados. A cada dia surgem fatos novos, descobertas impressionantes que são feitas pela Polícia Federal. É bom aguardar a conclusão das investigações e a tipificação dos crimes de cada um. O dia 8 de janeiro vai ficar registrado numa página negativa da história. Espero que o Poder Judiciário cumpra o seu papel e culpe os que tenham responsabilidade pelos acontecimentos.
O seu partido tem uma forte vinculação com a Igreja evangélica. Por que o presidente da República encontra tanta rejeição neste grupo?
Vivemos numa sociedade que lê cada vez menos. É uma sociedade bem-informada, mas, ao mesmo tempo, desinformada. Por que eu estou colocando isso? Acho que não estamos conseguindo nos comunicar direito. O governo precisa mostrar mais o que está fazendo. Estamos, por exemplo, há mais de um ano e dez meses no poder e nenhuma pauta de costumes foi apresentada. Não tenho dúvida de que temos mais realizações a apresentar aos evangélicos do que o governo anterior.
O resultado da eleição municipal deu algum tipo de recado ao governo Lula?
O de que claramente está havendo uma movimentação da sociedade em direção ao centro. O povo está cansado de briga, de arenga, de confusão. As pessoas querem ter felicidade, emprego, trabalho, ver seu filho na universidade, poder fazer uma viagem, poder ter qualidade de vida. Acho que os eleitores estão em busca de quadros equilibrados e que pensem efetivamente na gestão pública. Já a eleição presidencial é diferente. Ela é plebiscitária, de aprovação e de rejeição. Se o governo Lula chegar em 2026 bem, economicamente – e penso que chegará, – ele estará muito fortalecido eleitoralmente.
O senhor tem certeza de que o presidente vai disputar a reeleição?
Defendo que o presidente Lula seja candidato à reeleição. Ele está bem de saúde, estimulado, trabalha de manhã, de tarde, de noite, no final de semana, cobra os ministros, tem espírito público, é um apaixona- do pelo Brasil. É alguém que se emociona quando faz o bem, que conhece a realidade, as dores e os sorrisos do povo brasileiro. Mas nós temos que esperar 2026, porque na hora certa caberá uma avaliação pessoal do presidente, porque no fundo, por mais que a decisão seja solidária, será uma decisão também muito solitária.
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