Por Renato Fonseca*
É alarmante o estado em que o PT se encontra atualmente. O partido que outrora simbolizava a luta das classes trabalhadoras parece ter se perdido em alianças pragmáticas e oportunistas. Com o afastamento das bases populares, especialmente nas periferias, a extrema direita conseguiu enraizar-se rapidamente, ocupando o vácuo deixado pelo PT.
O resultado? Uma derrota esmagadora nas eleições de 2024, com o partido elegendo pouco mais de 200 prefeitos em todo o Brasil. O apoio a candidaturas de esquerda foi quase nulo, enquanto Lula, o atual presidente, fez aparições esporádicas, limitando-se a comparecer apenas duas vezes em São Paulo.
No Recife, o cenário é igualmente desolador. O PT tinha três vereadores e, neste ciclo, perdeu uma cadeira, conseguindo eleger apenas duas vereadoras: Liana Cirne e Kari Santos. Figuras históricas como Osmar Ricardo e Professor Jairo Brito, que já ocuparam mandatos importantes na câmara municipal, ficaram de fora.
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Essa perda de espaço reflete não apenas a fraqueza do partido, mas também a influência das alianças que prevalecem nas decisões internas, até mesmo na hora de dividir o fundo partidário. Os aliados recebem mais, criando um cenário em que “tudo para os meus e nada para os outros” se torna a norma.
Além disso, a retaliação dentro do partido é uma prática comum. Aqueles que não obedecem às diretrizes da cúpula enfrentam expulsões. Eu mesmo posso ser expulso por expressar essas opiniões, o que é uma ironia triste, pois o PT nasceu da rebeldia e da luta contra o autoritarismo. Quando o partido adota essa postura, perde sua essência e se distancia de suas raízes.
No Estado de Pernambuco, a situação é ainda mais preocupante. Sob a liderança de Doriel Barros e a influência de Humberto Costa, o partido perdeu o protagonismo e se tornou um espectador passivo. A tentativa vexatória de assegurar a vice na chapa de João Campos (PSB) culminou em uma derrota humilhante, mostrando que o PT não só se afastou das suas raízes, mas também se comprometeu a perder espaço no debate político.
Alianças com figuras, como Yves Ribeiro e Elias Gomes, que ingressaram no partido apenas para disputar eleições, revelam um oportunismo preocupante. André Campos, que havia abandonado o PT para se juntar ao PSB, agora retorna ao partido, levantando dúvidas sobre suas intenções.
Outro aspecto crucial a ser considerado é a idade de Lula. Embora seja o atual presidente, é inquietante perceber que poucos falam sobre a sucessão de Lula. Ele não é eterno. O que será do PT e da esquerda quando não puder mais ser candidato? Por que é tão difícil discutir a renovação no campo da esquerda? Essa falta de diálogo e promoção de novas lideranças é um sinal claro de que o partido está se afundando em suas próprias tradições sem olhar para o futuro.
Ademais, o PT tem se aliado a partidos que no passado votaram pelo impeachment de Dilma Rousseff, sem qualquer crítica. Essa estratégia levanta questões sérias: até onde o PT está disposto a ir em nome do poder? Quem será capaz de substituir Lula e conduzir o partido em direção a um futuro que já parece incerto?
É hora de refletir profundamente sobre esses pontos. O PT precisa urgentemente resgatar sua essência, revitalizar suas bases e abrir espaço para novas lideranças que possam dialogar com as demandas da sociedade contemporânea. Se não fizer isso, corre o risco de se tornar um mero apêndice de uma política de poder, esquecendo-se das lutas e dos valores que o tornaram um símbolo de esperança e resistência. O futuro do PT e da esquerda brasileira depende dessa transformação. Precisamos nos perguntar: o que faremos para garantir que o legado de luta e transformação social continue a ser uma prioridade?
*Militante petista
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