O presidente da Câmara Municipal de Goiana, vereador Ramon Aranha, decidiu dar posse ao prefeito eleito, Marcílio Régio (PP), e à vice, Lícia Maciel (PT), em 1º de julho, exatos 35 dias após a diplomação, que ocorreu na última segunda-feira, dia 26. A polêmica decisão contraria frontalmente o histórico das eleições suplementares em Pernambuco, que revela que os candidatos escolhidos pelo povo assumiram os cargos em ato contínuo à diplomação.
Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2017, nas eleições suplementares, em Ipojuca e em Belo Jardim. No primeiro caso, a candidata Célia Sales foi eleita prefeita no dia 2 de abril, diplomada 18 dias depois e tomou posse em 2 de maio. Em Belo Jardim, foi ainda mais rápido. Hélio dos Terrenos venceu as eleições no dia 2 de julho. A diplomação e a posse ocorreram na mesma data, apenas 23 dias após o resultado das urnas.
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Já Marcílio Régio está pronto para assumir o cargo, sem qualquer impeditivo legal, mas esbarra na decisão do vereador Ramon Aranha. É prerrogativa do presidente da Câmara a definição da data, mas a Justiça Eleitoral, por meio da juíza Clenya Medeiros, da 25ª Zona Eleitoral, orientou a posse imediata de Marcílio e Lícia, levando em conta que os eleitos estão aptos a assumir os respectivos cargos e, portanto, a posse poderia ocorrer em prazo razoável, em ato contínuo. Assim como no caso das eleições suplementares anteriores.
A pergunta que movimenta os bastidores da política, portanto, é: por que, afinal, em Goiana, o script da posse mudou e a população será obrigada a esperar mais de um mês para ver o prefeito, legitimamente eleito com 54,1% dos votos válidos, começar a sua gestão?
A questão fica ainda mais polêmica levando em conta que quem está ocupando a cadeira de prefeito é Eduardo Batista (Avante), que concorreu às eleições contra Marcílio e está interinamente no cargo. O resultado das urnas mostrou que ele foi reprovado pela maioria da população e não tem mandato algum a cumprir.
O caminho natural de Batista, neste momento, é voltar a assumir a presidência da Câmara e, consequentemente, o do vereador Ramon Aranha é retomar o cargo de vice-presidente.
A movimentação desse jogo político revela um arco de interesses e de poder. Especulações indicam que um dos motivos para o adiamento da posse tem a ver com o São João, uma festa tradicional, muito popular na cidade e cuja organização envolve cifras milionárias.
Não é possível desconsiderar, ainda, que Goiana é, hoje, um dos principais polos de desenvolvimento econômico de Pernambuco, cenário que se consolidou a partir da instalação da fábrica da Fiat, há dez anos no município.
Para se ter ideia da sua potência econômica, foi revelado, durante as eleições, que o município contava com meio bilhão de reais em caixa, mas é sabido, também, que o município ainda enfrenta problemas sociais graves e que, quanto antes o prefeito Marcílio Régio começar a trabalhar, melhor para a população.
A decisão do presidente da Câmara, portanto, em adiar a posse dos eleitos pode até ser legal, mas é injustificável diante da majoritária vontade popular. A decisão democrática dos goianienses deve ser respeitada.
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