O senhor deixará a presidência do PSB após três mandatos, qual o balanço que faz desse período para o partido?
Exercer a presidência do partido é uma honra, mas dá muito trabalho, precisa aprender a ouvir muito, resolver conflitos. Felizmente, nos últimos anos, reinou um certo consenso no PSB. Fui eleito sem nunca ter sido candidato. Quando Eduardo Campos morreu, em 2014, o vice Roberto Amaral assumiu imediatamente e eu o apoiava. Nunca me passou pela cabeça ser presidente nacional do partido. Mas faltando três dias para as eleições, as pessoas estavam convencidas de que não deveria ser ele e me convidaram para ser candidato. Assumi achando que passaria no máximo três anos e fui reeleito três. Ainda com o desafio de substituir Eduardo, um governador extremamente aprovado, com a liderança que tinha, morreu vítima daquele acidente, não foi fácil, mas viram em mim um nome que poderia harmonizar o partido.
O senhor sucedeu a Eduardo e agora passará o comando para João Campos, filho dele. De certa forma, entrega um PSB menor que recebeu. Por que o partido diminuiu tanto?
Em 2018, faltando oito meses para as eleições, dispensamos 13 deputados federais, que estavam dessintonizados com os ideais do partido. Eduardo precisou alargar o PSB para a disputa de presidente da República. Mas eles votavam sistematicamente contra as orientações do partido. Eu respeitava eles, mas eles eram liberais, e essa não era nossa proposta, de um partido socialista. Fomos para eleição com 21 deputados, tirando esses 13, e elegemos 32.
Mas em 2022, o partido caiu para 14…
O que aconteceu é que mudou a legislação, ela foi brutalmente modificada, dificultando para os médios partidos. E houve uma insistência do PT em fazer uma federação. Fui pressionado e fiquei contra a proposta do PT. Resisti bravamente, e hoje todos me dão razão.
Era uma proposta indecente?
Não chamaria assim, mas de antidemocrática. Nos botaria como um partido subalterno. E um partido que aceita isso perde sentido. E nas eleições municipais de 2024, fomos o partido de centro-esquerda que mais elegeu prefeitos e vereadores, em condições menos favoráveis que o PT. O que também não foi um recado bom para a esquerda, porque eu gostaria que o PT tivesse elegido mais. Mas estamos na perspectiva de uma recuperação de uma bancada. Estamos conversando com vários nomes. Vamos para a eleição com 22 ou 23 federais.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães, tem defendido uma federação entre PT, PDT e PSB. Como avalia?
Não vamos abrir essa discussão. Tivemos problema por isso na formação de chapas em 2022. Já dissemos ao PT, não está nos nossos objetivos. Poderemos fazer federações, temos conversado com Cidadania e PDT, que são partidos afins, que aceitam uma federação com regras democráticas, onde um partido não manda no outro. Conhecendo como conhecemos os parceiros do PT, isto é impossível. Mas vamos apoiar a reeleição do presidente Lula se ele for candidato. Estaremos no campo em que sempre estivemos.
Como foi a costura para João Campos assumir o partido?
Depois de 10 anos ninguém estava pedindo para eu sair. Muitas pessoas pediram para eu ficar. Mas saio porque é hora de uma mudança geracional. É bom dizer que João nunca pediu para ser presidente. Tive conversa com ele, expliquei minhas razões. Ninguém é dono de partido. Me sinto honrado de ter servido ao PSB como presidente, primeiro secretário nas gestões de Miguel Arraes e Eduardo, mas não quero me perpetuar aqui. João está preparado, tem disposição, ele não pediu para ser, mas aceitou o desafio. Estou esperançoso de que ele leve o PSB para renovar a esquerda, um campo que hoje tem muita carência de lideranças jovens. Enquanto a direita tem nomes como Nikolas Ferreira e André Fernandes, então é preciso que a esquerda abra os olhos e invista nos jovens.
Isso se estende até para as futuras disputas presidenciais…
Quando se olha o panorama para 2026, você vê na direita os governadores Romeu Zema, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, entre outros. Na centro-esquerda, que não tratou de fazer uma renovação, só vê o presidente Lula. Acho que a dificuldade de renovar está no PT. Quando Eduardo saiu pré-candidato, era uma renovação. E a pré-candidatura dele saiu a fórceps, porque a presidente Dilma Rousseff (PT) interferiu tanto. Ele sofreu muitas ameaças, teve uma greve em Suape, Dilma botou um agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) lá. Vivi tudo isso intensamente, sei o quanto foi difícil, as dificuldades políticas que passamos foram muito grandes, insufladas pelo governo Dilma e por gente do PT. Infelizmente teve o acidente. Mas essa resistência (pela renovação) é só do PT.
Fala-se que o presidente Lula pode substituir o vice, Geraldo Alckmin, que é do PSB, para compor com um partido de maior musculatura eleitoral. Como vê essa questão?
Seria uma injustiça não apenas com o PSB tirar Geraldo da vice. Ele é o vice que todo presidente sonha ter, eficiente, leal, respeitado e que veio para a coligação trazido pelo PSB quando o PT não tinha partido de centro na aliança, só a esquerda. Ele alargou uma frente estreita, é um homem conciliador, de uma ética extraordinária. Penso que Lula sequer sabe se contará com esses partidos que ele acha que irá contar. Os partidos de centro estão no governo, mas nenhum deles quis se comprometer a apoiar nenhum candidato da nossa frente. O PSB foi e é leal, e nem condiciona aos cargos que tem, e acho que poderiam ser mais, já foram até mais, de maneira que não acho razoável essa mudança.
Nem se a costura envolver uma candidatura de Alckmin em São Paulo?
Acredito que quem foi governador por quatro mandatos não pretende voltar ao governo. E ele precisaria ser ouvido, se quer continuar ou ser candidato a governador. Mas seria uma desfeita com o PSB.
Mas o PSD de Kassab está de olho na vice, inclusive com o nome do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, sendo sugerido com força…
O governo Lula é infinitamente melhor que o anterior, está fazendo tudo melhor, a economia cresce, os programas sociais voltaram. O problema é político. Essa decisão é do presidente, ele é o comandante. Mudou a comunicação, mas a mudança tem que ser política, o governo precisa saber valorizar seus aliados. Quem disse que o PSD é grande e vai estar com Lula em 26? Respeito Kassab, mas ele é o secretário de Governo do Tarcísio de Freitas em São Paulo, que pode ser candidato a presidente. Não é razoável ficar jogando na imprensa que vai substituir o vice. Como administrador, o presidente está indo bem, mas como político está falhando muito.
Por que a relação entre PT e PSB é tão tensa?
O PT é um partido parceiro, do nosso campo, estamos aliados desde 1989, com exceção de 2002, quando lançamos Anthony Garotinho, e de 2014, com Eduardo. Mas somos diferentes do PT, somos um partido de centro-esquerda com diferentes características. Na Venezuela, condenamos imediatamente a fraude eleitoral. Não podemos fazer concessão a ditadura nenhuma. Defendemos socialismo com liberdade política, religiosa, pluralismo político e cultural. Condenamos o que aconteceu na Nicarágua. E o governo e o PT fizeram corpo mole. Também fomos críticos à questão do Peru, porque não é razoável dar refúgio a alguém envolvido em corrupção. Não é bom para a imagem do governo, da esquerda, de ninguém.
Muita gente diz que Lula não dialoga mais como fazia nos mandatos anteriores. Como presidente do PSB, o senhor tem conversado com ele?
Tivemos a oportunidade de conversar em alguns momentos. Os partidos de esquerda se ressentem porque nos governos anteriores havia um conselho político que se reunia em vários momentos. Acho que o presidente deveria ter se reunido com partidos aliados históricos. Entendemos que ele fez um alargamento da aliança com partidos que apoiaram Bolsonaro. Isso é uma aberração do sistema político brasileiro. Em outros países, na Europa, nos Estados Unidos, é impossível que partidos de oposição estejam no governo. Quem deve decidir se o político vai para a oposição ou governo é o povo. Mas quem tem quatro ministérios é quem apoiou o Bolsonaro, e não nós.
O PSB tem condições de ampliar as bancadas na Câmara e no Senado?
O partido precisa recuperar pelo menos a bancada que tinha, que foi de 32 deputados. Acho que estamos a caminho de alcançar esse objetivo. Estamos esperando a adesão de quatro deputados da Bahia, uma do Pará e temos conversas com vários parlamentares que ainda não posso anunciar. João vai dar continuidade a isso.
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