Conheci Gilberto Marques Paulo, ex-prefeito do Recife, que Deus chamou ontem aos 90 anos, depois de um longo tempo sob as garras do Alzheimer, mesma doença que tirou a vida de Marco Maciel, personagem recente de uma biografia de minha autoria. Giba, como assim era tratado pelos mais íntimos, tinha muitas virtudes, a maior delas a lealdade.
Foi ferido mortalmente nesse campo ético pelo ex-governador Joaquim Francisco, a quem sucedeu na Prefeitura do Recife em abril de 90, quando Joaquim renunciou ao cargo para disputar o Governo do Estado contra Jarbas Vasconcelos, um dos maiores clássicos eleitorais da história política de Pernambuco.
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Joaquim não gostou de uma entrevista de Gilberto aos jornais sugerindo ter encontrado as finanças da Prefeitura desarrumadas. Secretário de Imprensa de Joaquim, recebi dele uma missão que irritou profundamente Giba: refutar o que havia dito com uma resposta escrita de próprio punho pelo governador, movida fortemente pelo fígado.
Giba me ligou extremamente abalado depois de ler o petardo de Joaquin nos dois maiores jornais da época – o bicentenário Diário de Pernambuco e o Jornal do Commercio, já em fase de ascensão sob o controle do Grupo de João Carlos Paes Mendonça. Desconfiou que Joaquim havia sido contaminado por mim e por Roberto Viana, o então poderoso secretário de Governo.
Viana e eu éramos os principais assessores de Joaquim e a mídia difundia que fazíamos a cabeça do governador. Longe disso! Joaquim tinha uma personalidade muito forte e quando atingido no campo da ética e da moralidade virava um leão.
Flávio Régis, secretário de Governo da Prefeitura do Recife, na foto que ilustra a postagem com o ex-chefe e o ex-governador Carlos Wilson, entrou no circuito.
Esteve pessoalmente no meu gabinete e agiu rapidamente como bombeiro para apagar o fogo. Mas, a partir daquele episódio, a relação de Gilberto com Joaquim esfriou, nunca mais foi a mesma. Gilberto era uma figura! Tinha o hábito de cheirar álcool para controlar a ansiedade. Poderia faltar tudo no seu gabinete, menos uma garrafa de álcool.
Praticava judô e tinha o corpo malhado. Advogado e devorador de livros, era um intelectual refinado. Recitava versos de poetas famosos e admirava Graciliano Ramos, conterrâneo da sua Palmeira dos Índios. Quando eu saí da Secretaria de Imprensa no final de 1991, retornando ao Diário de Pernambuco, Giba teve uma longa conversa comigo em Brasília.
Compreendeu meu papel na crise colérica de Joaquim com ele. Me confessou que só não rompeu com o governador, a quem foi indicado para vice por Roberto Magalhães, para não contrariar o próprio Magalhães. Mas ficou a impressão de que nunca perdoou Joaquim Francisco.
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