Por Daniela Kresch
Do jornal O Público
Não, não estou bem. Não preciso mais ver filmes de guerra dos anos 40 ou 60 para saber o que é. É ruim. Não é glamouroso. Não é romântico. É aterrorizante ouvir explosões perto da sua casa e depois saber que houve mortos e feridos. Perto da sua casa.
Ontem mesmo, um prédio a menos de 1 quilômetro da minha casa foi alvejado por um míssil balístico do Irã. Quatro pessoas morreram, entre elas um casal de idosos, Yaakov e Hadassah Belo, cujo filho mora em São Paulo. Serei a próxima neste jogo de Batalha Naval?
Leia maisÉ terrível não saber o que está passando na cabeça da filha de 17 anos, que encara mais um trauma em tempo real. Não sei quando o pesadelo acaba. Quando o último míssil vai cair.
Você pode ter a opinião política que tiver. Mas espero que não deseje a minha morte porque algum “analista” ou algum “ativista” por aí acha que o país onde eu moro é “mau”.
Israelenses, iranianos, libaneses, sírios, palestinos e iemenitas merecem mais do que as baboseiras de líderes escrotos. E o ódio de fundamentalistas bitolados, ativistas obcecados e analistas mal-informados.
Incluí na lista os israelenses. Sim. Israel merece e tem direito de existir. Os 10 milhões de israelenses têm direito de viver em paz, sem a ameaça constante de vizinhos que não aceitam sua existência por causa do fundamentalismo religioso. Porque a maioria do país (73%) é formada por judeus. Isto chama-se antissemitismo!
E, sim, incluí na lista os palestinos. Sim, os palestinos merecem e têm direito a autodeterminação, sem, no entanto, pregar que isso signifique destruir Israel. Sem Hamas, sem terrorismo. Dois Estados vivendo lado a lado, em paz. Não os gritos de “do rio ao mar”, que significam, na prática, a destruição de Israel.
E não me venham com a baboseira de “sionismo é colonialismo”. Tenho horror a desinformação e fake history. Sionismo é somente e apenas autodeterminação dos judeus após milênios de perseguição. Se você defende a autodeterminação dos palestinos, deve defender a de Israel. E vice-versa. Se não, é apenas um idiota útil dos fundamentalistas.
E sim, incluí na lista os iranianos, que enfrentam há 45 anos um regime ditatorial que os oprime e que reduziu o país — herdeiro de uma civilização milenar incrível — a pária mundial. Um regime jihadista, misógino, anti-LGBTQI+, antidiferença, torturador. Um regime que se define pela destruição do país onde eu moro e o chama de “satã”.
Um regime que se define pela minha morte.
Olho para a minha filha e minha esperança é que ela se torne mais resiliente. O que não mata engorda, certo? Que engorde muito.
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