Brasil não cede à Argentina e mantém gênero e taxação de super-ricos em texto do G20

O Brasil manteve na declaração do G20 o apoio à igualdade de gênero e taxação de bilionários, apesar das pressões da Argentina. Segundo uma cópia do documento obtida pela Folha, o G20 deve apoiar, em sua declaração, “nosso comprometimento total com igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas”. A Folha teve acesso a duas versões do texto. Na primeira, do dia 17, constava a observação [ARG:reserve], indicando a oposição da Argentina. Num documento posterior, a menção à Argentina em colchetes já não existe.

Em linguagem diplomática, quando se usam colchetes, significa que algum país ainda está em consultas sobre o tema. Ou seja, ainda não aceitou esse item e se distancia dele.

Um dos trechos a que o governo de Javier Milei apresentou objeções condena todas as formas de discriminação contra mulheres e meninas e reafirmava o “compromisso de acabar com a violência de gênero, incluindo a violência sexual, e de combater a misoginia online e offline”. A Argentina também não quis apoiar, no texto do dia 17, o trecho que defendia “igualdade de gênero no trabalho”.

Na semana passada, a Argentina foi o único país a votar contra uma resolução da ONU não vinculante que condenava a violência contra mulheres. Irã, Coreia do Norte e Rússia se abstiveram.

No parágrafo sobre taxação dos chamados super-ricos, a declaração se compromete a se engajar de forma produtiva para garantir que indivíduos com patrimônio ultra elevado [ultra-high-net-worth] sejam tributados de forma efetiva. A menção à taxação está em colchetes no texto do dia 17, com referência à Argentina [ARG:ultra-high-net-worth].

Outro tema que vinha recebendo objeções de Buenos Aires, mas que entrou na versão final da declaração, foi o endosso da Agenda 2030 da ONU. O texto relata que as Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDG) da Agenda 2030 devem ser atingidas em apenas 6 anos e que há “progresso mínimo” por enquanto.

“O G20 está bem equipado para abordar esses desafios por meio da necessária cooperação internacional e decisão política”.

Em outubro, Milei enviou instrução afirmando que os diplomatas que apoiassem qualquer declaração, resolução ou projeto que endossasse a Agenda 2030 da ONU ou objetivos da entidade, seria instado a se retirar. Esse comunicado foi enviado aos diplomatas após a demissão da chanceler Diana Mondino por apoiar resolução da ONU contra o embargo de Cuba pelos Estados Unidos.

A delegação de Buenos Aires se opôs ainda a um trecho do documento que trata da desinformação e discurso de ódio no ambiente virtual. A redação diz que a digitalização da informação e a acelerada evolução de novas tecnologias, como inteligência artificial, impactou dramaticamente a velocidade e alcance da desinformação e do discurso de ódio. Nesse parágrafo, a objeção argentina também ao termo desinformação e discurso de ódio também aparecia em colchetes no texto de domingo.

O ultraliberal Milei é um aliado de Elon Musk, o bilionário dono da rede social X.

O texto ao qual a reportagem teve acesso não menciona questões geopolíticas, como as guerras da Ucrânia e de Israel contra o Hamas e o Hezbollah. É um sinal de que este ponto ainda está em negociação entre os membros do G20.

Como a Folha mostrou, o governo da Argentina, sob orientação de Milei, adotou uma postura nas negociações do G20 de se opor a trechos na declaração final sobre igualdade de gênero e empoderamento das mulheres.

A delegação de Buenos Aires também levantou objeções a menções, no texto em negociação, aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e à Agenda 2030 da ONU —17 metas adotadas em 2015 para promover a sustentabilidade, erradicar a pobreza e proteger o planeta até o final da década.

Bandeira do ministro Fernando Haddad (Fazenda), a taxação dos super-ricos também entrou na mira da delegação de Milei.

A estratégia argentina preocupou o Itamaraty durante todos os dias de negociação no Rio, que tentou negociar um documento que pudesse ser aceito por todos os membros do G20.

Da Folha de S. Paulo

O Brasil lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza nesta segunda-feira (18), no evento de abertura da cúpula de chefes de Estado do G20, no Rio de Janeiro.

A iniciativa conta com 147 membros fundadores, sendo 81 países, a União Africana, a União Europeia, 24 organizações internacionais, 9 instituições financeiras internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais.

A Argentina, que vem travando uma ofensiva contra as agendas da presidência brasileira no G20, não está na lista. O país presidido pelo ultraliberal Javier Milei é o único do bloco das maiores economias que não aderiu ao projeto contra a fome.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem como meta que o plano articule programas sociais com potencial de alcançar 500 milhões de pessoas em países de baixa e média baixa renda até 2030. Internamente, a iniciativa é considerada o principal legado do mandato brasileiro ao fórum.

O processo de adesão dos países foi aberto em julho, quando a iniciativa foi apresentada pelo governo Lula na força-tarefa dedicada ao tema. Brasil e Bangladesh puxaram a fila de adesões, seguidos por diversas outras nações. Até a véspera da cúpula, a Aliança contava com a aderência pública de 41 países, entre eles Canadá, Estados Unidos, Egito, Chile, Somália e Zâmbia.

Além de governos, também integram a lista de participantes organizações internacionais, bancos multilaterais e outras entidades. Também está aberta a possibilidade de um país endossar a iniciativa, sem necessariamente aderir a ela.

O objetivo do projeto idealizado pela presidência brasileira no G20 é dar uma dimensão internacional ao combate às desigualdades sociais –uma das três principais agendas de Lula no fórum que reúne as principais economias do mundo.

Um dos pilares da proposta se apoia em uma espécie de repositório de políticas de assistência social consideradas exitosas, ao qual países interessados poderão recorrer para desenvolver medidas semelhantes em seus territórios.

O país se coloca em uma posição de liderança nesse processo, aproveitando a imagem internacional do presidente Lula como líder comprometido com a redução das desigualdades e o histórico de políticas sociais em larga escala no país. O Bolsa Família, marca das administrações petistas, serve de vitrine para ações globais.

Além de ações de transferência de renda, a Aliança inclui planos como expansão de merendas escolares em países com fome e pobreza infantil endêmica, iniciativas em saúde materna e de primeira infância e programas de inclusão socioeconômica, com foco em mulheres.

Só no Brasil, 8,4 milhões de pessoas passaram fome entre 2021 e 2023, segundo estudo da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e de outras agências da ONU.

A Aliança Global Contra a Fome e Pobreza terá uma governança própria, vinculada ao G20. Durante as negociações, o governo Lula se comprometeu a repassar R$ 50 milhões para o secretariado da iniciativa. O Brasil contará com contribuições adicionais de países como Noruega, Portugal e Espanha.

Além disso, a Aliança realizará cúpulas regulares contra a fome e a pobreza e estabelecerá um conselho de campeões de alto nível para supervisionar seu trabalho. De acordo com a presidência brasileira do G20, a estrutura completa de governança deverá estar em operação até meados de 2025.

LISTA DE PAÍSES FUNDADORES DA ALIANÇA CONTRA FOME
Alemanha
Angola
Antígua e Barbuda
África do Sul
Arábia Saudita
Armênia
Austrália
Bangladesh
Benin
Bolívia
Brasil
Burkina Fasso
Burundi
Camboja
Chade
Canadá
Chile
China
Chipre
Colômbia
Dinamarca
Egito
Emirados Árabes Unidos
Eslováquia
Estados Unidos
Espanha
Etiópia
Filipinas
Finlândia
França
Guatemala
Guiné
Guiné-Bissau
Guiné Equatorial
Haiti
Honduras
Índia
Indonésia
Irlanda
Itália
Japão
Jordânia
Líbano
Libéria
Malta
Malásia
Mauritânia
México
Moçambique
Mianmar
Nigéria
Noruega
Países Baixos
Palestina
Paraguai
Peru
Polônia
Portugal
Quênia
Reino Unido
República da Coreia
República Dominicana
Ruanda
Rússia
São Tomé e Príncipe
São Vicente e Granadinas
Serra Leoa
Singapura
Somália
Sudão
Suíça
Tadjiquistão
Tanzânia
Timor-Leste
Togo
Tunísia
Turquia
Ucrânia
Uruguai
Vietnã
Zâmbia
União Africana
União Europeia

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa a receber, na manhã desta segunda-feira, os líderes mundiais para a cúpula do G20 com divergências ainda a serem resolvidas em quatro temas da declaração final.

Consultas feitas ao longo de todo o domingo às delegações não foram suficientes para se chegar ao consenso em geopolítica, taxação de super-ricos, clima e gênero, segundo duas fontes com acesso à tratativas.

Você pode acompanhar o evento ao vivo no YouTube do Canal Gov:

A imprensa internacional deu destaque ao xingamento feito pela primeira-dama Janja Lula da Silva ao bilionário Elon Musk durante um painel sobre desinformação no G20 Social, no Rio de Janeiro, no sábado (16.nov.2024). A mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, em inglês: “Fck you, Elon Musk” (“Fda-se, Elon Musk”).

O bilionário que é dono do X, da Starlink e da Space X, escolhido para liderar o Departamento de Eficiência Governamental no governo Donald Trump, respondeu dizendo que riu alto e que o grupo lulista vai ser derrotado na próxima eleição.

Veículos de comunicação da Europa e Estados Unidos, como BBC, Reuters, Bloomberg, Deutsche Welle, Le Figaro e Bild, deram destaque ao incidente, destacando desde o histórico de tensões entre Musk e o governo brasileiro até preocupações com possíveis impactos diplomáticos do episódio.

A BBC destacou que a fala ocorreu durante defesa da regulamentação das redes sociais. A publicação lembrou o histórico recente de conflitos entre Musk e o Brasil, incluindo o banimento temporário do X (antigo Twitter) e a multa de US$ 5,1 milhões paga pela plataforma.

A Reuters relatou que o incidente começou quando um barulho interrompeu a fala de Janja. A primeira-dama então brincou que seria Musk o responsável pelo som antes de proferir o xingamento.

A Bloomberg revelou tensões anteriores: Janja já havia ameaçado processar o X após suposto hack de sua conta. O veículo traçou o perfil da primeira-dama, destacando sua influência no governo e sua popularidade.

O veículo alemão Deutsche Welle ressaltou preocupações do advogado ligado ao presidente Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, sobre possíveis sanções americanas ao Brasil por insulto a um futuro membro do governo Trump. A DW também destacou que Lula não descarta candidatura em 2026.

O jornal francês Le Figaro detalhou conflitos entre Musk e o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O empresário chegou a chamar o magistrado de “ditador” e compará-lo ao Voldemort de Harry Potter. O tabloide alemão Bild enfatizou a fortuna de Musk, estimada em US$ 303 bilhões, e o clima tenso antes da cúpula do G20.

Do Poder 360.

A partir desta segunda-feira (18), os olhos do mundo estarão voltados para o Rio de Janeiro. Começa a Cúpula de Líderes do G20 (grupo das 19 maiores economias do planeta, mais União Europeia e União Africana), onde o Brasil passará a presidência do grupo para a África do Sul.

Ao todo, 19 chefes de Estado e de Governo estão na cidade para debaterem um documento que chegue a um consenso entre os três eixos que marcaram a presidência brasileira no G20 ao longo de um ano. A única ausência será a do presidente russo, Vladimir Putin, que será representado pelo ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov.

O primeiro eixo da presidência brasileira no G20 é o combate à fome, à pobreza e à desigualdade. O segundo é o desenvolvimento sustentável, o enfrentamento às mudanças climáticas e a transição energética. O terceiro eixo é a reforma da governança global para resolver conflitos.

Na área econômica, a principal bandeira brasileira é a taxação global dos super-ricos, que ajudaria a financiar o combate à desigualdade e o enfrentamento das mudanças climáticas. Baseada nas ideias do economista francês Gabriel Zucman, a proposta prevê um imposto mínimo de 2% sobre a renda dos bilionários do mundo, que arrecadaria entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões anualmente e divide os países.

Apesar de ter a adesão de diversas nações, a ideia enfrenta a resistência de alguns países desenvolvidos, entre os quais os Estados Unidos e a Alemanha, e também da Argentina. Entre os países que apoiam estão França, Espanha, Colômbia, Bélgica e África do Sul, que assumirá a presidência rotativa do bloco depois do Brasil. A União Africana manifestou apoio desde a apresentação da proposta em fevereiro.

De quinta-feira (14) a sábado (16), a presidência brasileira do G20 recolheu as contribuições da sociedade civil durante o G20 Social. Iniciativa criada pelo Brasil que reuniu organizações sociais, acadêmicos e entidades que redigiram um documento a ser anexado ao comunicado final da reunião de cúpula.

Programação
No primeiro dia da reunião de cúpula, estão previstas a recepção dos líderes pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama Janja Lula da Silva, e o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. À tarde, haverá uma sessão sobre a reforma da governança global. À noite, Lula e Janja darão um jantar oficial aos presidentes e primeiros-ministros.

Na terça-feira (19), a programação começa com uma sessão sobre desenvolvimento sustentável e transições energéticas, pela manhã. À tarde, haverá a sessão de encerramento e a transmissão da presidência do G20 para a África do Sul. Após a cerimônia, haverá um almoço oficial, seguido de uma série de reuniões bilaterais entre os chefes de Estado e de Governo.

Os dois dias de debates ocorrerão no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo. Sob um forte esquema de segurança, parte da cidade estará interditada à circulação de pedestres e de veículos.

Confira a programação prevista para a Cúpula do G20:

18 de novembro (segunda-feira)

08h40 – Cumprimentos aos líderes do G20
10h – Lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e 1ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Combate à Fome e à Pobreza
14H30 – 2ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Reforma das Instituições de Governança Global

19 de novembro (terça-feira)

10h – 3ª Sessão da Reunião de Líderes do G20: Desenvolvimento Sustentável e Transição Energética
12h30 – Sessão de encerramento da Cúpula de Líderes do G20 e cerimônia de transmissão da presidência do G20 do Brasil para a África do Sul

Da Agência Brasil.

Por José Luis Costa e Houldine Nascimento*

Os Estados Unidos perderam o protagonismo histórico na América Latina, no século 21. De lá para cá, a China conseguiu aumentar sua relevância na economia dos países da região.

Em 2000, o principal parceiro de fora da região no comércio com as nações latino-americanas eram os norte-americanos. Em 2023, o cenário mudou e os chineses dominaram a pauta exportadora do Brasil e em quase todos os Estados hispânicos. Equador, Colômbia e a Guiana são exceções da América do Sul.

O Poder360 preparou um infográfico que mostra um comparativo quanto aos principais parceiros comerciais extrarregionais de cada país latino-americano em 2000 e em 2023.

Confira:

A balança comercial reflete a importância dos chineses aos países da região, uma vez que a China consolidou a liderança como destino das exportações da América Latina. Os Estados Unidos têm um superavit de US$ 125 bilhões com as nações da América Latina.

Os chineses, um deficit de US$ 124 bilhões, o que é positivo para os países latino-americanos, que vendem mais ao país asiático do que compram. A China foi responsável em 2023 por importar US$ 104,3 bilhões do Brasil. O resultado também representou o maior saldo positivo da história para os brasileiros (US$ 51,1 bilhões). O valor representou 30,6% do total das exportações brasileiras para todo o mundo (US$ 339 bilhões).

Em 2000, as exportações do Brasil para a China totalizaram apenas US$ 1,1 bilhão. Para comparação, os Estados Unidos importaram US$ 37,1 bilhões do Brasil em 2023 e, em 2000, US$ 13,4 bilhões.

A Argentina tinha o Brasil como principal destino de suas exportações em 2000: totalizou US$ 7 bilhões em produtos. Os EUA ocuparam a 2ª posição, com US$ 3,1 bilhões.

Os norte-americanos eram, portanto, os principais parceiros no comércio com a Argentina de fora da América Latina. Para a China, os argentinos haviam exportado US$ 824,2 milhões, de acordo com dados do Banco Mundial.

Em 2023, o Brasil também foi o principal destino das mercadorias da Argentina, com US$ 11,9 bilhões em exportações. A corrente comercial totalizou US$ 29,2 bilhões no ano passado. O número diz respeito à soma das exportações e importações.

A China ocupou o posto de principal parceiro extrarregional argentino, com a corrente atingindo US$ 19,2 bilhões em 2023. Deste valor, US$ 5,3 bilhões foram de produtos exportados ao país asiático. As importações e exportações entre EUA e Argentina totalizaram US$ 14,2 bilhões em 2023.

Estratégia

O crescimento na relação comercial da China com os Estados da América Latina é uma forma de isolar Taiwan do resto do mundo. Dentre os 11 países com relações diplomáticas com a ilha, 7 são latino-americanos. Outras 5 nações da região cortaram laços políticos com os taiwaneses para firmarem acordos com os chineses no século 21. 

Os investimentos em infraestrutura no continente fazem crescer a importância do país asiático aos países latino-americanos, tornando-os mais dependentes de Pequim. Peru, México, Venezuela, Colômbia e Equador são algumas das nações beneficiadas pelos investimentos diretos da China. 

Essa estratégia política internacional da China é reconhecida mundialmente e aplicada em outros lugares, como na África, onde os chineses são acusados de promoverem uma nova colonização. Com esse método, Pequim busca aumentar a sua influência na geopolítica e ter acesso facilitado a matérias-primas para a sua indústria e o consumo interno. 

A política externa da China se diferencia drasticamente da norte-americana. A partir de 2000, os Estados Unidos focaram os seus esforços na “Guerra ao Terror”, resolução dos problemas causados pela crise econômica de 2008 e nas relações com os países europeus. Isso os diferencia dos chineses.

A atitude fez com que os EUA deixassem em 2º plano a relação com a América Latina, que se aproximou ideologicamente dos chineses ao atuar pelo fortalecimento do Sul Global. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o venezuelano, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unificado da Venezuela, esquerda), constantemente utilizam-se da ideia como meio para mudar a ordem global vigente e resolver problemas econômicos das nações subdesenvolvidas.

Por outro lado, os Estados Unidos atuaram no século 21 pela manutenção do status quo. Com a 1ª eleição do republicano Donald Trump à Casa Branca, em 2016, o país se voltou para as questões internas. O relacionamento do então presidente dos EUA com a América Latina foi focado na resolução da imigração ilegal e no combate ao narcotráfico.

Durante o governo Trump, os chineses firmaram acordos comerciais com os países latino-americanos e reforçaram a interação Sul-Sul. Sob a presidência do democrata Joe Biden, o movimento se manteve e os EUA não protagonizaram a política da região como no século 20, quando os norte-americanos eram os principais parceiros comerciais e políticos dos regimes instalados na América Latina no período.  

Para amenizar a situação, a administração Biden anunciou, em julho de 2024, o investimento de US$ 30 milhões para a extração de minérios. O valor, porém, é de baixo impacto aos países da região e não irá reduzir a influência da China na América Latina, que tende a continuar em crescimento. 

A eleição de Donald Trump para um 2º mandato presidencial coloca novamente os problemas internos dos Estados Unidos como o foco do republicano, com a influência na América Latina não sendo de tão alta importância como para os chineses. 

*Jornalistas do Poder360

Por Cláudio Soares*

A primeira-dama Janja, durante um evento internacional, gerou controvérsia ao direcionar uma expressão de descontentamento ao empresário Elon Musk.                                                                                                          

O incidente levanta questões sobre a postura e o papel da primeira-dama em assuntos políticos e sociais, especialmente em um cenário global onde a diplomacia e a imagem do Brasil estão em jogo.

Críticos afirmam que a atitude de Janja pode prejudicar a reputação do País, refletindo falta de profissionalismo e comprometendo a seriedade das interações diplomáticas.                                                                          

A primeira-dama, tradicionalmente vista como uma representante das causas sociais e culturais, deve agir com responsabilidade e respeito, considerando o impacto de suas palavras em um cenário internacional.

Esse episódio destaca a importância de uma comunicação cuidadosa por parte de figuras públicas e a necessidade de uma postura que promova o diálogo construtivo, essencial para a construção de relações sólidas no exterior.  

A expectativa é que futuras interações sejam pautadas por uma abordagem mais diplomática, a fim de preservar a imagem do Brasil no cenário global.

A repercussão de ações como essa pode ter efeitos duradouros na relação do Brasil com outros países e, principalmente, com os Estados Unidos em sua diplomacia. A construção de uma imagem nacional positiva depende do comportamento e da postura de seus representantes. 

A Janja era uma figura desconhecida no cenário político brasileiro até conhecer o Lula na prisão. Ela costuma aparecer em frente das câmeras em tom de deboche e sempre sem compostura. Ela faz questão de ostentar um poder paralelo no governo do marido e demonstra ser ligada ao segmento da cultura, mas sem cultural. 

Alguém precisa alertar o governo de que a Janja não tem mérito nenhum para representar o Brasil. Além disso, a primeira-dama pode servir como um modelo a não ser seguido, porque sua postura pode influenciar a maneira como as pessoas percebem o papel de mulheres em posições de poder e influência. 

*Advogado e jornalista

O empresário dono do X (antigo Twitter) Elon Musk respondeu neste sábado (16) ao ataque da primeira-dama brasileira, Janja, com uma provocação política. “Eles vão perder a próxima eleição”, escreveu no X, com emojis de risada. 

A declaração foi feita em resposta à publicação de um vídeo legendado em inglês da fala de Janja. Mais cedo, a primeira-dama disse não ter medo de Musk, e utilizou uma expressão em inglês para atacá-lo.

“Fuck you, Elon Musk”, disse Janja, com termos equivalentes a “vá se foder”, para se referir ao empresário que assumirá um cargo no governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

Musk é próximo ao bolsonarismo no Brasil e tem um histórico de enfrentamento com o STF (Supremo Tribunal Federal), com xingamentos ao ministro Alexandre de Moraes. A plataforma chegou a ser suspensa diante do descumprimento de decisões judiciais.

A declaração foi dada durante o Cria G20, painel do G20 Social, organizado pelo governo Lula (PT) para fazer uma ponte entre temas tratados pelo grupo e a sociedade civil.

O painel em que a primeira-dama deu a declaração tinha a presença do influenciador Felipe Neto. Em seu discurso, que foi de improviso (ela estava na plateia), Janja disse que o painel era um dos mais relevantes do encontro internacional.

“A gente falou da regulamentação das redes sociais, das plataformas. Sempre tenho falado que não é uma questão local, se a gente não fizer essa discussão de uma forma global, a gente não vai conseguir vencer. Não adianta ter leis no Brasil —e está difícil de acontecer, a gente sabe todos os empecilhos—, se a gente não discutir essa questão de forma global”, disse.

“Discute nas Nações Unidas, mas a gente sabe que a nova governança global também precisa olhar para isso. Porque não adianta nada fazer isso, e os Estados Unidos chegarem e [dizerem] ‘não vamos fazer’. (…) Não é mais possível a gente viver nesse mundo digital de desinformação”, afirmou.

Os Estados Unidos, agora sob o comando de Trump, terão Musk no cargo de chefe do novo Departamento de Eficiência Governamental, junto com Vivek Ramaswamy, ex-adversário de Trump nas primárias do Partido Republicano. O anúncio foi feito na última terça-feira (12).

O Departamento de Eficiência Governamental é um órgão que será criado por Trump e terá a sigla DOGE, em provável referência à criptomoeda Dogecoin, apoiada por Musk em diversas ocasiões.

Não está claro qual será o papel do novo departamento dentro do governo americano —se ele terá poder de fato, ou se existirá apenas para analisar e propor a outros departamentos os cortes anunciados por Trump. No comunicado, o presidente eleito sugeriu que o departamento funcionará “do lado de fora do governo”, mas não entrou em detalhes.

Da Folha de S. Paulo

O governo argentino anunciou nesta sexta-feira (15) o superávit primário de 746,921 bilhões de pesos argentinos (US$ 753,7 milhões) em outubro, alcançando, assim, o décimo resultado positivo mensal consecutivo. Segundo o jornal “Clarín”, um dos principais do país, o superávit fiscal do governo (setor público), dentro do valor total, foi de 523,398 bilhões de pesos, acumulando 2,965 trilhões de pesos nos primeiros dez meses de 2024, equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Isso representa uma melhoria que a publicação define como “significativa” em relação ao déficit financeiro de 454 milhões de pesos no mesmo mês do ano passado.

Segundo a publicação, o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, atribuiu esse resultado ao ajuste fiscal de 5 pontos do PIB e ao fim da emissão monetária do Banco Central para financiar o Tesouro Nacional. Além disso, o governo de Javier Milei reduziu os gastos em prestações sociais, como aposentadorias e pensões, que caíram 11,3% em setembro.

“Esses números demonstram o esforço do governo para equilibrar as contas públicas e controlar a inflação. No entanto, é importante notar que a redução dos gastos em prestações sociais pode ter um impacto nos mais vulneráveis”, descreveu o Clarín ao noticiar o superávit.

O governo de Javier Milei anunciou na quinta-feira (14) que irá cancelar a aposentadoria da ex-presidente e a pensão de viúva recebidas por Cristina Kirchner. O anúncio foi feito um dia após a Justiça argentina ratificar, em segunda instância, a sentença de 6 anos de prisão da líder peronista por corrupção.

Do O Tempo

A postura do presidente eleito dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de negar a crise climática e defender a expansão do uso dos combustíveis fósseis – responsáveis pelo aquecimento da terra – deve isolar o novo mandatário da Casa Branca do resto do mundo, avaliou o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta.

“O mundo hoje está muito multilateral. Nós temos o Sul Global, temos outros países com força, como a Índia, como a própria China, que não tinha essa força há algumas décadas. O Brics passa a ser outro vetor importante desta geopolítica internacional. Então, se os Estados Unidos acabar, em função do Trump, para essas pautas específicas, fugindo desse esforço internacional, se a Argentina eventualmente optar por também seguir esse caminho, eu tendo a achar que eles ficarão numa posição de isolamento”, explicou Pimenta, que avalia que a Argentina pode seguir a posição dos EUA.

O combate à crise climática é uma das prioridades do Brasil no plano internacional e foi selecionado pelo governo como um dos grandes temas do debate da cúpula do G20, que começa nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro (RJ). O ministro Pimenta comentou o tema em entrevista ao programa Giro Social, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com participação da Agência Brasil.

Pimenta citou alguns desastres climáticos recentes, como o do Rio Grande do Sul (RS), o de Valência, na Espanha, e da chuva atípica no deserto do Saara, na África, o que torna difícil até para Trump negar a crise climática.

“O aumento da temperatura global, o aumento da temperatura dos oceanos, não é mais um tema de natureza acadêmica. Não é mais uma hipótese futura. Ela é uma realidade presente que diz respeito à vida de todas as pessoas”, comentou, acrescentando que o mercado vem exigindo adaptações para enfrentar as mudanças climáticas.

“Independentemente do Trump, você acha que os grandes grupos econômicos americanos vão ignorar essas exigências do mercado para garantir que seus produtos possam ser vendidos na Europa ou em outras regiões do planeta? Evidente que não”, disse. 

Para o ministro, mesmo que Trump não participe presencialmente desses debates e fóruns internacionais sobre clima, “o mundo vai caminhar e não vai ficar refém dos Estados Unidos ou de condutas negacionistas de ninguém. E o Brasil cada vez mais tem um papel, um protagonismo, uma importância nesse cenário”.

Financiamento climático

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cobrado os países ricos para que financiem a adaptação e mitigação das mudanças climáticas nos países mais pobres, uma vez que os países desenvolvidos, ao liderarem Revolução Industrial, foram os que mais emitiram gases do efeito estufa.

No Acordo de Paris, em 2015, foi prometida a criação de um fundo com o aporte de US$ 100 bilhões por ano, que seria financiado pelas principais potências para financiar a transição energética e a adaptação à mudança climática. Porém, esse financiamento nunca ocorreu.  

Para o ministro Pimenta, um acordo para financiar a transição energética e a adaptação e mitigação das mudanças climáticas pode ser um dos legados do G20 no Brasil.  

“Ao longo dos últimos meses, foram inúmeras agendas realizadas com esse objetivo. E eu não vejo outra forma de financiar políticas públicas de combate à fome, à desigualdade no mundo e também com relação à questão das mudanças climáticas, sem que aqueles que mais ganharam com isso, sem que os países mais ricos possam, de alguma forma, pagar a maior parte dessa conta”, finalizou o ministro.

Da Agência Brasil