Coluna da segunda-feira

A desculpa esfarrapada do PT

Nas eleições municipais de outubro passado, o PT só elegeu um prefeito entre todas as capitais, o de Fortaleza, mesmo assim, no sufoco, por menos de 1%. Foi rabo da gata na soma geral nos municípios,  emplacando apenas 252 gestores. Diante disso, seria cômico, se não fosse trágico, encontrar um culpado pelo desastre eleitoral petista: as emendas parlamentares.

Na resolução aprovada no encontro do partido na última sexta-feira, seus dirigentes escreveram: “O mau desempenho da legenda nas eleições municipais de 2024 foi causado pelo “crescimento desproporcional para R$ 50 bilhões” das emendas de congressistas”. E acrescentou: “A questão é uma distorção no orçamento público herdado do governo Bolsonaro”.

Engraçado, mas a dinheirama das emendas também não entrou nos cofres dos prefeitos petistas? Claro! E muito! Mas o PT teria que encontrar um bode expiatório para esconder a profunda decepção do povo brasileiro com os seus dirigentes municipais e com o próprio jeito petista de governar. Há de se registrar, também, que as emendas não são exclusividades do PSD, partido do Centrão campeão em número de prefeitos eleitos.

Foram modificadas, aprovadas e tramitaram no Congresso com o aval de todos os partidos, inclusive com o voto dos seus 69 deputados e nove senadores. O que o PT está vivendo, e não dá o braço a torcer, é uma corrida ao fundo do poço. Está na iminência de virar uma legenda, não diria nanica, mas no futuro sem expressão alguma.

Já nas eleições de 2020, o partido só elegeu 183 prefeitos, dos quais nenhum nas capitais. Virou, literalmente, uma agremiação dos grotões. Em Pernambuco, por exemplo, nas eleições deste ano, só emplacou seis prefeitos, todos de pequeno porte, com exceção de Serra Talhada, município de médio porte.

MAIS PRONUNCIAMENTOS – No documento, o PT também diz que Lula faz “um ótimo governo” e que precisa “apenas ajustar o modo de comunicar e formar o seu povo”.  O diretório defende que o presidente e ministros do governo façam mais pronunciamentos oficiais em rádio e televisão e não deixem o expediente para ser usado apenas em datas comemorativas como o 7 de Setembro. “Internamente, é nítida a percepção e o reconhecimento de que a gestão Lula tem garantido muitas conquistas populares e apresenta excelentes resultados em inúmeras áreas. Ainda mais se considerarmos o estado de destruição nacional deixado por [Jair] Bolsonaro”, destaca.

Partido quer Lula reeleito – Na resolução, o presidente Lula é tratado como candidato à reeleição pelo PT, que o classifica como a “maior expressão” do partido. “Como candidato à reeleição, Lula, nossa maior expressão, deve recalibrar toda sua sabedoria e liderança para o mundo digital, sintonizando-as novamente para absorver anseios, frustrações e mudanças pelos quais atravessa nossa juventude. O PT está empenhado nesta causa”, diz o documento. A resolução afirma ainda que porta-vozes petistas são tímidos no debate e na disputa política contra “forças conservadoras e reacionárias”.

O próprio Lula culpa a comunicação – No seminário petista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez duras críticas à comunicação do seu governo. Disse que há equívoco seu por não organizar entrevistas com jornalistas e cobrou a realização de uma licitação para mídia digital. O petista afirmou que a questão é uma de suas preocupações para resolver a partir de 2025, porque a população precisa saber das realizações de sua gestão. “Há um erro no governo na questão da comunicação e eu sou obrigado a fazer as correções necessárias para que a gente não reclame que não está se comunicando bem”, disse.

Edinho, o sucessor de Gleisi – O PT também definiu, no mesmo encontro, o calendário de atividades internas para a escolha de um novo presidente e novos diretores locais para a legenda. A eleição será realizada em 6 de julho e o voto registrado em urnas eletrônicas. O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva, é o nome mais cotado para substituir Gleisi Hoffmann. Ele conta com apoio de Lula e de integrantes da cúpula do partido. O favoritismo de Edinho chegou a ser arranhado logo depois do 1º turno das eleições municipais, quando fracassou em eleger sua sucessora, Eliana Honain, na cidade do interior paulista.

Hoje tem avaliação da gestão de Adelmo – Na sequência das pesquisas do Opinião, em parceria com este blog, trazendo a avaliação dos gestores municipais que encerram um ciclo de oito anos, ou de quatro para os que não se reelegeram, sai hoje o desempenho do prefeito de Itapetim, Adelmo Moura (PSB), que encerrou mais um duplo mandato, fechando uma era de 16 anos no poder, isso sem contar com um mandato de quatro de um aliado que elegeu, um somatório de 20 anos. A propósito, Adelmo é um dos nomes lembrados para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa em 2026, para ocupar o vácuo no Sertão do Pajeú deixado pela morte do ex-deputado José Patriota.

CURTAS

VERTENTES – Na sexta-feira passada, o Opinião, através deste blog, trouxe a avaliação de mais um ciclo de oito anos do prefeito de Vertentes, Romero Leal (PSDB). Fechou mais dois mandatos, completando 16 anos como gestor municipal, com 72,5% de aprovação. De alma lavada, pois elegeu o seu sucessor, o tucano Rael, que foi secretário na atual gestão.

MAIS PESQUISAS – Até o dia 31, este blog trará mais pesquisas de avaliação dos gestores pernambucanos que estão se despedindo. O Opinião apresenta um verdadeiro diagnóstico, com a visão da população em todos os segmentos da administração, da saúde ao serviço de coleta do lixo. Um documento e tanto!

VIROU ESTRELA – Uma das petistas mais festejadas no encontro do partido em Brasília, sexta-feira passada, foi Márcia Conrado, prefeita reeleita em Serra Talhada. Está sendo tratada tão bem por Lula e aliados que há quem desconfie que reservam para ela novos desafios eleitorais pela frente, quem sabe uma disputa majoritária.

Perguntar não ofende: Quando Miguel Coelho assume a comissão estadual provisória do União Brasil no Estado?

O Brasil real e o Brasil do mercado

Por Larissa Rodrigues
Repórter do blog

Na mesma semana em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que os números da pobreza e da extrema pobreza caíram no Brasil para os menores índices desde 2012, outro levantamento também trouxe dados expressivos: a reprovação do Governo Lula (PT) entre agentes financeiros é de 90%, segundo a pesquisa Genial/Quaest.

Para 96% dos profissionais do mercado ouvidos, a política econômica do país está indo na direção errada. Somente 4% dos entrevistados disseram que o governo está no caminho certo, segundo a Quaest. A pesquisa com os agentes foi divulgada no último dia 4, mesma data em que o IBGE apresentou os números, indicando que, em 2023, o Brasil alcançou os menores níveis de pobreza e de extrema pobreza na série histórica, iniciada em 2012.

Significa que 8,7 milhões de pessoas saíram da pobreza no país, entre 2022 e 2023. O Banco Mundial considera que estão nessa fatia da população todos e todas que recebem menos de R$ 665 por mês. Outros 3,1 milhões de brasileiros e brasileiras saíram da extrema pobreza. Nesse grupo, estão os que ganham até R$ 209 por mês.

A população pobre recuou de 67,7 milhões de pessoas para 59 milhões (31,6% para 27,4%). Já a população extremamente pobre era de 12,6 milhões de pessoas e foi reduzida para 9,5 milhões (5,9% para 4,4%). O IBGE atribui os resultados a dois fatores: os programas sociais do governo, como o Bolsa Família, e o recuo do desemprego.

No final de novembro, o Instituto de Geografia divulgou que a taxa de desemprego do Brasil atingiu 6,2% no trimestre encerrado em outubro deste ano (agosto, setembro e outubro). Trata-se do menor nível de desocupação também desde 2012. No mesmo trimestre de 2023, a taxa era de 7,6%. Segundo o IBGE, o Brasil registrou 103,6 milhões de pessoas empregadas até o final de outubro de 2024, número recorde.

Em um país como o Brasil, onde o principal problema (e que gera todos os outros) é a desigualdade social, pobreza e desemprego caindo deveriam ser fatores de influência na imagem do governo. Mas não são. Pelo menos não para os agentes financeiros ouvidos pela pesquisa Genial/Quaest, já que quase a totalidade dos entrevistados considera o governo ruim.

O MERCADO É UMA BOLHA – A Quaest entrevistou 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento, de 29 de novembro a 3 de dezembro deste ano, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os números revelam uma profunda desconexão desse grupo com o Brasil real. Na verdade, é quase um desprezo mesmo. Insatisfeitos com o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo, no qual consta a isenção de imposto de renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, o mercado reagiu avaliando negativamente a gestão.

Problema teu, te vira – Para o mercado, não importa se milhões de pessoas saíram da miséria, o que na maioria das vezes significa ter o mínimo de dignidade para um ser humano, uma refeição ao dia. Não importa se finalmente milhões de pessoas conseguiram uma carteira assinada e entrarão em 2025 com mais esperança. Assim como não vale de nada tirar um pouco a corda do pescoço do contribuinte que faz ginástica com o salário todo mês, liberando ele do IR.

Tarcísio de Freitas – Esse mesmo mercado financeiro, totalmente desconectado com a população verdadeira do Brasil, é o que defende o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para as eleições presidenciais em 2026. Segundo a pesquisa Quaest, num eventual cenário de segundo turno entre Lula e Tarcísio, 93% dos entrevistados dizem preferir o governador, contra 5% que declaram voto no petista.

Violência policial contra pobres – O governador mais querido pelo mercado financeiro, aquele mesmo mercado que desconhece a realidade da vida da imensa maioria da população brasileira, esteve nos holofotes a semana passada inteira com a sua polícia militar envolvida em casos de violência contra, vejam só, pessoas pobres. Entre os incidentes de maior repercussão, estão o episódio no qual os PMs de São Paulo jogaram um entregador de 25 anos de cima de uma ponte e o caso da idosa de 63 anos, moradora de uma periferia, que foi agredida na testa por policiais na frente de casa. As imagens da senhora sangrando pelo rosto e chorando ganharam a internet e são estarrecedoras.

Olhar além do próprio umbigo – O que falta para os agentes do mercado financeiro, que torcem o nariz para o Governo Lula, é descobrir que o Brasil não é a Faria Lima, a famosa avenida de São Paulo, entre os bairros de Pinheiros e Itaim Bibi, que concentra sedes de grandes empresas. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), 75% da população brasileira pertencem às classes C, D e E. Pelos dados do IBGE, o país ainda tem 68,5 milhões de pessoas pobres e extremamente pobres, embora os esforços do governo que a Faria Lima rejeita tenham diminuído um pouco essa realidade. É essa massa majoritária de menor renda que precisa ser prioridade do governo. É para essa fatia que a política econômica precisa trabalhar.

CURTAS

Fala do ministro – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou a redução da pobreza e da extrema pobreza, no dia em que o IBGE divulgou os números. “O IBGE acaba de dizer que estamos no menor índice de miséria da série histórica, e conseguir fazer isso em menos de dois anos é uma coisa muito importante. Um país sem miséria e sem fome é a primeira providência que qualquer Estado deveria almejar”, declarou Haddad.

Choque de realidade – Depois de enfrentar um início de gestão com relacionamento difícil com a Alepe, a governadora Raquel Lyra (PSDB) viu que não havia condições de governar um Estado de forma autoritária e unilateral, como se fosse dona de Pernambuco. Isolada e acuada com a força do Poder Legislativo, recuou. Viu que não tinha a menor chance de se meter na eleição da nova mesa diretora da Casa.

Governistas à deriva – Na narrativa governista, o gesto foi vendido como respeito pela Assembleia. Mas a verdade é que Raquel foi estratégica e não se envolveu para não ter um presidente de personalidade forte como Álvaro Porto (PSDB), popular entre os colegas, chateado e trabalhando contra o governo nos seus dois últimos anos de gestão. O problema é que com essa atitude, Raquel acabou deixando a bancada governista da Casa à deriva. O próprio Gustavo Gouveia (SD), aliado de Raquel, ficou sem ajuda do Palácio e acabou perdendo a primeira-secretaria.

Perguntar não ofende – O grupo dos Gouveia vai permanecer ao lado da governadora Raquel Lyra em 2026?

João assume presidência do PSB sem disputa

Em conversa com este colunista, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, confirmou, ontem, que está encerrando sua missão de dirigente partidário em maio, quando a legenda socialista escolherá o seu sucessor, que tem tudo para ser o prefeito do Recife, João Campos. “Não vejo ambiente de bate-chapa”, disse.

Para ele, há um sentimento geral entre as principais lideranças nacionais do PSB de que o partido precisa se renovar. “E João tem todas essas credenciais. É um jovem político, mas bastante amadurecido pela experiência de gestor bem-sucedido no Recife”, observou Siqueira.

Entre os nomes nacionais do PSB que tenderiam a entrar numa disputa com João pelo comando do partido se incluem o ex-governador de São Paulo, Márcio França, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e o senador cearense Cid Gomes, mas nenhum desses manifestou, pelo menos até o momento, interesse em brigar pela presidência do partido.

João assume a presidência nacional, portanto, pela vontade unânime dos líderes nacionais na legenda. Quanto a Siqueira, vai continuar colaborando com o partido, mas diz, sem nenhuma vaidade, que já cumpriu o seu papel. “Na verdade, eu só queria ficar dois mandatos. Veio o terceiro por uma razão que fugiu ao meu controle”, disse.

Segundo ele, o partido deve oficializar o prefeito recifense como novo presidente do diretório nacional no congresso do partido, marcado para maio, em Brasília. Dentre as missões de João, atrair mais gente de peso para o partido, aumentar a bancada na Câmara e no Senado, que se reduziram bastante, e coordenar o processo interno de discussão do posicionamento da legenda na sucessão de Lula, em 2026.

NA MÍDIA NACIONAL – A Veja também trouxe, ontem, a confirmação de João Campos na presidência nacional do PSB.Quem acompanhou as tratativas para a condução de João Campos à liderança da sigla diz que sua escolha é uma ‘aposta no futuro’. Reeleito com 78,12% dos votos válidos, no primeiro turno das eleições deste ano, o prefeito do Recife foi deputado federal de 2019 a 2020 e é cotado para concorrer em 2026 ao Governo de Pernambuco, conquistado duas vezes por seu pai e três vezes por Miguel Arraes, seu bisavô paterno”, informou a revista.

Vereadora com chances de virar prefeita – Em Goiana, na Zona da Mata, depois de o TSE anular a eleição do prefeito Eduardo Honório (UB), haverá uma nova eleição, em data a ser marcada pela justiça eleitoral. Como Honório não pode assumir, nem o seu vice, seu sucessor será o presidente da Câmara de Vereadores a ser eleito em 1º de janeiro. O que se diz é que o prefeito tem poder de fogo para eleger a vereadora Paula Brito (PP), da sua mais alta confiança, presidente da Casa.

Nova eleição em data incerta – Caso Paula seja eleita presidente da Câmara de Goiana, cenário muito provável, vira, de imediato, a candidata natural do grupo de Honório para disputar a eleição suplementar para prefeito do município. A data do pleito depende apenas da boa vontade do TSE. Há quem acredite que se dê 45 dias após o presidente da Câmara assumir a Prefeitura, interinamente. Mas há quem ache que vai demorar mais, por causa dos prazos eleitorais. Fala-se em quatro meses. A oposição, que se dividiu na eleição de outubro passado, pode se unir para tentar derrotar o grupo do prefeito.

TSE julgou que prefeito já havia sido reeleito – Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral entenderam que o prefeito de Goiana, Eduardo Honório (UB), já cumpriu oito anos consecutivos no mandato e não poderia exercer mais um. Ele foi reeleito com 78% dos votos, em outubro passado. Honório foi eleito vice-prefeito em 2016, na chapa de Oswaldo Rabelo. Em 2017, o titular afastou-se do cargo para tratamento de saúde e Honório passou a administrar o município. Nas eleições de 2020, foi candidato a prefeito e saiu vitorioso das urnas.

Miguel vai comandar União Brasil – Com a dissolução definitiva do diretório estadual do União Brasil, por decisão unânime da executiva nacional do partido, será criada, de imediato, uma comissão provisória. Pelo que ficou acertado, o presidente deste novo colegiado deverá ser o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho. Filiado ao partido, o deputado federal Mendonça Filho também votou pela dissolução do diretório, mas como é ligado à governadora Raquel Lyra (PSDB) provavelmente não vai avalizar Miguel na presidência da comissão, já que o grupo Coelho tem compromisso com a eleição de João Campos para governador nas eleições de 2026.

CURTAS

JANJÔMETRO – Guto Zacarias, deputado estadual de São Paulo pelo União Brasil, criou uma plataforma para monitorar os gastos da primeira-dama Janja Lula da Silva. Deu o nome de “Janjômetro”. Segundo a plataforma, criada em 28 de novembro, Janja já gastou R$ 63.036.916,95 dos cofres públicos, majoritariamente em viagens. Segundo o deputado, os dados constam no Diário Oficial.

MULHER– A Câmara dos Deputados aprovou, ontem, um pacote com 11 medidas relacionadas ao combate à violência contra a mulher. As propostas incluem a aplicação de recursos públicos em ações de prevenção e enfrentamento e atendimento e acolhimento às vítimas. Os projetos aprovados fazem parte de uma mobilização da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados para conscientizar a população sobre o tema.

CAIU FORA – A deputada federal mais votada do MDB em 2022, Dra. Alessandra Haber (PA), entrou com um pedido de desfiliação do partido por justa causa no TSE. Alega que foi excluída das atividades partidárias após seu marido, o prefeito reeleito de Ananindeua, no Pará, Dr. Daniel (PSB), romper com o MDB.

Perguntar não ofende: Mendonça Filho pode mudar de partido se o grupo Coelho passar a dar as cartas no União Brasil?

Reação da Marinha ao pacote

O discurso em rede nacional feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há poucos dias, irritou militares, especialmente da Marinha. Segundo o jornal O Globo, houve uma palavra que causou maior desconforto na categoria: “igualdade”. Como resposta, a Força divulgou um vídeo com uma mensagem contra o pacote fiscal.

No pronunciamento, Haddad afirmou que, “para as aposentadorias militares, nós vamos promover mais igualdade, com a instituição de uma idade mínima para a reserva e a limitação de transferência de pensões, além de outros ajustes. São mudanças justas e necessárias”. O pacote de corte de gastos do Ministério da Fazenda atinge a aposentadoria das Forças Armadas.

Estabelece idade mínima de 55 anos para que militares possam ir para a reserva. No plano negociado entre a Fazenda e a Defesa, a transição para que essa regra passe a valer será até 2032. O argumento dos membros da Marinha é que eles não têm direitos similares aos dos cidadãos civis, como o de greve e o de se manifestar politicamente.

Na visão de integrantes da Força, a aposentadoria diferenciada dos militares seria ainda um dos poucos atrativos que têm para trazer novos membros. O vídeo divulgado pela Marinha trouxe imagens de integrantes das Forças Armadas em treinamentos, enquanto civis aproveitaram momentos de lazer. No fim, a gravação é encerrada com uma militar questionando: “Privilégios? Vem pra Marinha”.

GRAVE ERRO – A gravação gerou reações negativas, como a da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Ela classificou o vídeo como “grave erro” e apontou que o ex-comandante da Força, Almir Garnier Santos, foi um dos indiciados pela Polícia Federal, por tentativa de golpe de Estado. “Ninguém duvida que o serviço militar exija esforço e sacrifícios pessoais, especialmente da tropa que se arrisca nos treinamentos e faz o serviço pesado. Isso não faz dos militares cidadãos mais merecedores de respeito do que a população civil, que trabalha duro, não vive na farra. Também é grave que o vídeo ofensivo seja divulgado no momento em que um ex-comandante da Marinha é indiciado por participar do plano de golpe de Jair Bolsonaro”, escreveu a deputada federal na rede X.

General contra o golpe reage – Chefe do Estado-Maior do Exército no governo de Jair Bolsonaro, o general Valério Stumpf, hoje na reserva, mostrou a aliados indignação com a tese de que seria um informante do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Atualmente, ele é presidente da Poupex, associação das Forças Armadas que oferece crédito habitacional a militares. A aliados, Stumpf deixou claro que considera as mensagens mais uma agressão dirigida a ele, por não ter aderido ao posicionamento dos radicais que queriam impedir a posse de Lula.

Dura realidade – Em Pernambuco, mais da metade das pessoas recebem até R$ 660,00 por mês, ou seja, meio salário-mínimo. O recorte foi divulgado, ontem, na Síntese de Indicadores Sociais 2024, levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com os dados do IBGE, referente às classes de rendimento domiciliar per capita, 28,3% das pessoas ganham até R$ R$ 218,00 por mês, 18,6% ganham até R$ 330,00 e 9,6% da população recebe até R$ 218,00. 

Pretos e pardos ganham menos – Ainda de acordo com o IBGE, entre os 10% com menores rendimentos no Estado, os pretos e pardos são maioria 72,2%. Entre os 10% com maiores rendimentos, os brancos são maioria – 51,4%. Já o indicador que mede a desigualdade de renda de uma população (índice de Gini), em Pernambuco é 0,495, o quinto maior do Nordeste, segundo o IBGE. O índice da distribuição do rendimento domiciliar per capita varia de 0 a 1, quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade de uma população.  

Lero sofre derrota acachapante do vice – O prefeito de Taquaritinga do Norte, Gena Lins (PP), que já está em Brasília à cata de recursos para tocar sua gestão a partir de janeiro, impôs uma derrota histórica ao atual prefeito Ivanildo Lero (PSB), de quem é o atual vice. Vendo que não teria o apoio do prefeito, rompeu, enfrentou mais três candidatos e tomou o poder das mãos do agora desafeto. Ao blog, Lins disse que a transição corre capenga e que está desconfiado de que herdará uma massa falida de Lero, um dos piores prefeitos da história do município, que tem bela vocação turística.

CURTAS

ANULAÇÃO – Guerra em Araripina: o prefeito eleito Evilásio Mateus (PDT) recorreu, ontem, à justiça, e conseguiu cancelar uma penca de licitações da atual gestão que, segundo ele, iriam comprometer fortemente as finanças do município, gerando um quadro de dificuldades para o início do seu mandato.

MUDANÇAS 1– A governadora Raquel Lyra ainda não sinalizou, mas o que corre nos bastidores é que inicia o novo ano com reformas no primeiro escalão. As mudanças devem atingir também o segundo escalão. Grande parte da sua equipe veio de Caruaru e de outros Estados, como é o caso do secretário de Educação, importado de São Paulo.

MUDANÇAS 2 – Já o prefeito do Recife, João Campos (PSB), já confirmou aos jornalistas, na entrevista que concedeu ao chegar para o encontro da governadora com os prefeitos eleitos, que fará um amplo ajuste na sua equipe para iniciar o segundo mandato, em janeiro.

Perguntar não ofende: Mendonça Filho foi convidado ou não para assumir a Secretaria estadual de Educação?

A lista de Schindler de Raquel

A Lista de Schindler é um filme de drama histórico norte-americano de 1993. Foi focado na salvação de mais de mil refugiados judeus holandeses do Holocausto, principalmente poloneses, empregando-os em suas fábricas durante a Segunda Guerra Mundial. Ao discriminar num documento secreto prefeitos aliados, não alinhados e neutros, na reunião com os gestores eleitos em outubro passado, a governadora Raquel Lyra (PSDB) criou a sua “lista de Schindler”.

Quando o prefeito do Recife, João Campos (PSB), chegou, por volta das 9 horas, na última segunda-feira, ao Expor Center, local da reunião, a lista já havia vazado pela Folha de São Paulo, com reprodução neste blog. Ela divide os prefeitos com a tarja de aliados, não alinhados e neutros, convocados pela própria governadora para estarem no evento, que culminou com os “parabéns” pelo seu aniversário, festejado no mesmo dia.

Nunca se viu tamanha maluquice. A governadora, de fato, não tem assessoria política. João fechou a cara e em entrevista aos jornalistas desabafou: “Tem que haver respeito entre as gestões, independente de quem faça parte da base do governo ou não. Nós estamos aqui para um ato institucional. Os prefeitos vieram aqui em busca de parcerias com o Estado”.

Pela lista, a que o blog teve acesso, dos 184 prefeitos eleitos em outubro passado, 127 são alinhados ao Palácio das Princesas (leia-se ao Governo Raquel), 52 são adversários (o termo usado no documento é este mesmo – adversários) e cinco são neutros. Se isso foi feito para dar tratamento diferenciado, a governadora deu um tiro no pé.

A partir do momento em que se elegeu, Raquel é obrigada a tratar todos os municípios de forma igualitária, sem discriminar nenhum por ter supostamente eleito alguém distante do seu campo político. Sua postura, desastrosa, diga-se de passagem, nesta lista de horrores, foi condenada por grande parte dos convidados para o evento, que coincidiu com a data do seu aniversário.

Indignado, o deputado Waldemar Borges, da bancada do PSB na Assembleia Legislativa, disse que a tucana governa com o fígado. “Quem discrimina prefeitos que não rezam pela mesma cartilha, discrimina o povo pernambucano. Ela é governadora do Estado, não foi eleita para adoçar a boca apenas de aliados”, disse Wal, como é mais conhecido.

Raquel, segundo ele, deveria se espelhar na postura do presidente Lula (PT), que está do outro lado do balcão. “Apesar da governadora ser do PSDB, partido que faz oposição ao Governo Federal, Lula nunca deixou de atender nenhuma das suas demandas. Estamos diante de um presidente que age como estadista e uma governadora que não tem noção da envergadura do seu cargo”, disse Borges.

ATÉ TOINHO – Numa conversa, ontem, com este colunista, o presidente estadual do PP, Eduardo da Fonte, minimizou a sua participação nos bastidores da eleição na Alepe na qual o seu novo aliado, o deputado Francismar Pontes, derrotou Gustavo Gouveia na disputa pela Primeira-Secretaria. “O mérito todo é da bancada, que votou fechada com Francismar”, disse. Perguntado se o governista de carteirinha Antônio Moraes também teria votado em Francismar e não em Gustavo, o candidato de Raquel, Dudu, como é mais conhecido, não titubeou: “Todos, principalmente Toinho”, afirmou, referindo-se a Moraes.

Gesto com Álvaro – Em entrevista ao blog, o deputado Francismar Pontes (PSB) disse que compreendeu o prefeito do Recife, João Campos (PSB), principal liderança do seu partido no Estado, ao concordar com a orientação do líder socialista na Casa, Sileno Guedes, em apoiar a recondução de Gustavo Gouveia (SD) à Primeira-Secretaria. “João fez um gesto com Álvaro Porto (presidente da Casa), que tem sido correto com ele”, afirmou. Segundo Francismar, Porto assumiu o compromisso de tentar reeleger Gustavo.

A trairagem que Sileno não se dobra – Em nenhum momento, após o resultado da eleição da Mesa Diretora da Alepe, o líder do PSB na Casa, Sileno Guedes, assumiu que houve traição na bancada que lidera. “O que nós enfrentamos foi um candidato muito querido pelos colegas e uma indisposição dos deputados em geral de eleger um primeiro-secretário identificado com Raquel”, afirmou. Mas se não houve traição, como escondeu Sileno, como Francismar derrotaria Gustavo no primeiro e no segundo turno se não tivesse a esmagadora maioria dos votos da maior bancada na Alepe, que é a do PSB, com 13 parlamentares?

Transição travada em Ipojuca – Não é só a prefeita eleita de Sertânia, Pollyana Abreu (PSDB), que reclama da falta de informações na transição administrativa. Em Ipojuca, o prefeito eleito Carlos Santana (Republicanos). “Tem secretários que informam, mas outros só criam dificuldades. Não fico olhando pelo retrovisor, o que passou pertence à gestão anterior, mas não há razão para negarem informações”, disse, ontem, em entrevista à Rádio Folha, do grupo Folha de Pernambuco.

Batendo na porta – De um experiente prefeito, quatro vezes gestor do seu município, ao comentar o resultado da reunião da governadora Raquel Lyra com os novos prefeitos, na qual anunciou um ônibus para cada município. “O que prefeito gosta, na verdade, é de dinheiro para calçar ruas, melhorar acessos, fazer pequenas obras de grande efeito social. Enquanto ela não abrir a cabeça e achar que dando ônibus, fazendo uma creche ou uma cozinha comunitária estará atendendo às necessidades dos municípios, os gestores vão continuar batendo na porta dela”.

CURTAS

DIPLOMAÇÃO – O Tribunal Regional Eleitoral marcou a diplomação dos prefeitos e vereadores eleitos no Recife, Olinda, Jaboatão e Paulista na mesma data. Será no próximo dia 16, a partir das 16 horas, no teatro Guararapes, do Centro de Convenções.

POÇO DE MÁGOA – Líder do Grupo Gouveia, o presidente da Amupe e atual prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia (SD), não engoliu ainda a derrota do irmão Gustavo para a primeira-secretaria. Nos bastidores, aliados dizem que ele reclamou da governadora. “Não houve empenho dela”, teria dito.

PALESTRA – Farei hoje uma rápida palestra na 15ª edição do Prêmio Persona Pernambuco, às 20 horas, no Esporte Clube de Arcoverde. O evento é uma promoção bem-sucedida do meu amigo Adriano Ferreira. Reúne muita gente de peso de várias regiões do Estado. Abordarei as perspectivas para 2025.

Perguntar não ofende: A eleição da Amupe vai se transformar na mesma guerra que se deu pela Primeira-Secretaria?

Eduardo da Fonte, o grande vitorioso!

O arquiteto da surpreendente reviravolta da eleição para primeiro-secretário da Assembleia Legislativa, com a vitória do socialista Francismar Pontes, tem nome e sobrenome: Eduardo da Fonte, presidente estadual do PP. De uma só cajadada, derrotou Gustavo Gouveia (SD), candidato à reeleição, que entrou na disputa com o apoio da governadora Raquel Lyra (PSDB), do prefeito do Recife, João Campos (PSB), e do presidente da Assembleia, Álvaro Porto (PSDB).

Embora não tenham assumido em público, todas essas forças poderosas trabalharam pela reeleição de Gustavo, que é do grupo da governadora. Sendo assim, lógico seria o PSB tentar derrotá-lo, mas o líder do partido na Casa, Sileno Guedes, quis cantar de galo e se ferrou. É óbvio que recebeu ordens, porque não tem autonomia para dar as cartas no PSB. Agiu em nome de alguém e o que se diz é que esse alguém é João, a liderança mais expressiva do partido.

João, por sua vez, jogou errado. Se o seu alvo é derrotar a governadora em 2026, como deixar o seu partido apoiar, oficialmente, um candidato com o DNA da governadora? O que iria ganhar com isso? Nada. Quem jogou certo e mostrou que é do ramo foi o deputado Eduardo da Fonte. Quando viu que um deputado da sua bancada, o PP, não aglutinava para derrotar os Gouveia, com quem mede forças, lançou um candidato do PSB, a maior bancada no parlamento estadual.

E apostou num nome filiado ao partido extremamente aglutinador: o sábio e manhoso Francismar Pontes, que dá nó em pingo d’água quando se trata do jogo maquiavélico da política. Na realidade, a candidatura dele somou a fome com a vontade de comer dos parlamentares, ou seja, abriu para os insatisfeitos com o tratamento de Gustavo e dos Gouveia a verdadeira janela por onde pularam os que fizeram juras de amor a Gustavo, Porto e Sileno.

Na coluna de ontem, cantei a bola: vi cheiro de traição no ar. E até brinquei quando disse que para trair, basta coçar. Também lembrei uma frase antológica do velho guerreiro Leonel Brizola: “A política ama a traição”.

O NOVO EMBATE – Na queda de braço com os Gouveia, a próxima investida do presidente estadual do PP, Eduardo da Fonte, é arrebatar das mãos do atual prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia (SD), irmão do deputado Gustavo Gouveia, o controle da Associação Municipalista de Pernambuco, Amupe. Marcelo é candidato à reeleição, marcada para abril, e deve ter o apoio da governadora. Da Fonte já escolheu o candidato para enfrentá-lo: é o prefeito eleito de Aliança e ex-superintendente do BNB, Pedro Freitas, do PP. Ele teve 83,32% dos votos para prefeito e já deu o start da campanha para presidir a Amupe.

Mesa de oposição – Se já tinha um presidente que não reza pela sua cartilha, Álvaro Porto (PSDB), reeleito ontem, a governadora Raquel Lyra (PSDB) vai governar seus dois anos pela frente com uma Casa com DNA de oposição. Na nova Mesa, o PSB emplacou duas vice-presidências – Rodrigo Farias (Primeira-vice) e Aglailson Victor (Segunda-vice) – e a poderosa Primeira-Secretaria, com a eleição de Francismar Pontes. De partidos que também vivem entre tapas e beijos com a governadora, foram eleitos Claudiano Martins (PP), segundo-secretário, e Romero Sales (UB), terceiro-secretário. E o quarto-secretário, Alberto Feitosa, do PL, é do bloco de oposição radical.

Quem não faz política, se complica – Em Pernambuco, nunca a Assembleia Legislativa teve tamanha representação de oposição numa Mesa. Mas isso tem uma culpada: a própria governadora, que não se rende ao exercício quotidiano e indispensável da política, que é uma arte, resumida ao diálogo e ao jogo de cintura, ingredientes que faltam à tucana e sobram no prefeito João Campos, que vai ganhando musculatura para enfrentá-la nas eleições de 2026. Presente ontem no encontro dos prefeitos com a governadora, João foi tietado por prefeitos até do campo governista.

Encontro desastroso – Ou a governadora quer insistir num estilo que não está dando certo ou sua assessoria política é desastrosa. O encontro de ontem com os prefeitos eleitos foi um vexame. Faltou coordenação, organização e objetividade. Os prefeitos que ali estavam queriam receber uma boa notícia, resumida a um ônibus escolar e uma promessa de cozinha comunitária. Não queriam ouvir discursos de deputados nem assistir, novamente, a ladainha da mesma prestação de contas que a governadora fez no encontro de Gravatá, organizado pela Amupe.  

O calote de Petrolândia – Um dos prefeitos que saiu do encontro extremamente desapontado com a governadora foi Fabiano Marques (Republicanos), de Petrolândia. Ao blog, ele contou que Raquel até o momento não repassou os R$ 12 milhões como segunda parte de um convênio celebrado na gestão de Paulo Câmara, cujas obras já foram concluídas. “A construtora vive no meu pé. Paulo liberou R$ 12 milhões, metade do convênio, mas ela engavetou o restante e nunca me deu uma satisfação”, disse Marques, que faz uma gestão bem aprovada, com índices de ótimo e bom beirando a 80%.

CURTAS

COM LULA – A prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), recebeu convite da direção nacional do partido para um encontro em Brasília na próxima sexta-feira. E já conseguiu uma brecha na agenda do presidente Lula para uma audiência.

SERTÂNIA– O prefeito de Sertânia, Ângelo Ferreira (PSB), rebateu, ontem, as declarações da prefeita eleita Pollyana Abreu (PSDB). Pelas suas redes, a tucana denunciou a inexistência de transição e anunciou que está recorrendo à justiça.

SEM TRAIÇÃO – O deputado Sileno Guedes não deu a mão à palmatória quando instigado a falar sobre as traições. “A gente sabia que seria uma eleição disputada por conta de uma bancada expressiva (a do PP) e com um deputado muito querido que circula aqui há muitos anos e que conseguiu criar uma narrativa que sensibilizou os colegas”, afirmou.

Perguntar não ofende: Quem bateu o martelo no apoio do PSB a Gustavo Gouveia?

Para trair, basta coçar!

Hoje, os 49 deputados que compõem a Assembleia Legislativa voltam às urnas para eleger a Mesa Diretora para o biênio 2025-26. A eleição se dá por determinação da justiça eleitoral. O Tribunal Superior Eleitoral julgou irregular a antecipação do pleito anterior. Na verdade, a nova eleição só tem disputa para o cargo de primeiro-secretário.

O presidente Álvaro Porto (PSDB) não terá adversário porque virou uma unanimidade na Casa, contrariando Nelson Rodrigues, que dizia que “Toda unanimidade é burra”. O atual primeiro-secretário Gustavo Gouveia (SD) não soube – ou não conseguiu contrariar Nelson Rodrigues – e terá que enfrentar Francismar Pontes, da bancada do PSB, que se fortaleceu na reta final.

Pontes fez uma dobradinha com o PP, partido que tem a segunda maior bancada no colegiado. Líder do PSB, o deputado Sileno Guedes não avalizou a candidatura do seu colega de partido e tem dito que a bancada vai votar fechada em Gustavo. Mas, pelo que se ouve nos bastidores, numa eleição na qual o voto é secreto, não é assim que a banda toca.

O saudoso Leonel Brizola dizia que a política ama a traição. O voto secreto é a janela da traição. E a traição é a espada que vem por trás e atinge o coração física e moralmente. Afinal, por que existe o voto secreto? O honroso Ulysses Guimarães citava “que o voto secreto dá vontade de trair”. Tancredo Neves também dizia que o voto secreto dá uma vontade danada de trair.

Não sei se Sileno assistiu ao filme “Trair e Coçar é só Começar”, uma comédia com Adriana Esteves, que também virou peça com o sensacional Marcos Caruso. Não fala de política, claro, mas das relações humanas, que não são diferentes quando se reportam ao mundo grotesco da política. Certa vez, num famoso restaurante em Brasília, ouvi um deputado afirmar, logo após uma votação secreta: “A traíra estava uma delícia”. As traições ocorrem diariamente, a cada minuto. Viraram parte, e parte desagradável da cena política, que jornalistas e outros observadores cansaram-se de denunciar.

Sileno que abra o olho!

DUELO DE GRUPOS – Conforme registrou a antenada repórter Larissa Rodrigues, na coluna do Sabadão passado, a eleição para primeiro-secretário na Alepe também virou uma queda de braço entre o deputado Eduardo da Fonte, presidente estadual do PP, e o grupo Gouveia, em ascensão no Estado, liderado pelo presidente da Amupe, Marcelo Gouveia, irmão de Gustavo, candidato à reeleição. Marcelo já se coloca como pré-candidato a deputado federal nas eleições de 2026.

Quem blefa? – A composição da Assembleia Legislativa é de 49 parlamentares, mas em eleição de Mesa passa disso, incrivelmente. Candidato à reeleição para a Primeira-Secretaria, Gustavo Gouveia diz que tem entre 32 e 35 votos entre os 49. Francismar Pontes, por sua vez, fala em mais de 30 votos. Somando-se, chega a mais de 60. Tem alguém blefando! Mas as urnas falam, têm voz. Com a apuração, mais tarde, saberemos quem é o Pinóquio.

Quem mata a charada? – Uma curiosidade que está intrigando os deputados: se Antônio Coelho reassumiu seu mandato na Alepe, afastando-se da Secretaria de Turismo de João Campos, afirmando ser um gesto para eleger Francismar Pontes, foi por orientação do prefeito recifense? Se foi, como fica Sileno, que tem dito que o partido está fechado com Gustavo. É bom lembrar, também, que Gustavo é aliado da governadora Raquel Lyra, a quem o PSB faz oposição na Casa. Muito estranho tudo isso!

Lula joga isca aos evangélicos – A reaproximação do governo Lula com a ala da bancada evangélica terá impactos na reforma ministerial prevista para ocorrer no ano que vem. Deputados desse grupo têm demonstrado interesse em ministérios e secretarias que lidam diretamente com políticas públicas voltadas à população de baixa renda. O flerte tem sido correspondido pelo presidente e por ministros palacianos, que intensificaram a agenda com esses congressistas nos últimos meses.

O capital político de Ana Célia – A prefeita de Surubim, Ana Célia (PSB), não emplacou a sucessora, mas encerra seus dois mandatos com um capital político extraordinário. Segundo pesquisa do instituto Opinião, mais de 70% dos surubinenses aprovam a sua passagem pelo governo municipal. Muito raro alguém fechar um ciclo de oito anos tão em sintonia com a população num instante tão difícil que o País passa, sobretudo os municípios. Nos próximos dias, o Opinião fará levantamentos em vários municípios cujos gestores estão se despedindo.

CURTAS

INFECÇÃO – Irmão do prefeito de Sertânia, Ângelo Ferreira (PSB), o médico Carlos Alberto Ferreira dos Santos, 68 anos, conhecido como China, perdeu a vida no último fim de semana em consequência de uma infecção hospitalar. Ele se internou no hospital da Unimed para uma cirurgia na coluna.

QUERIDO– China era muito querido em Sertânia. Sua morte consternou a cidade, na qual tem uma extensa folha de serviços prestados na saúde. Seu corpo foi cremado, ontem, no Recife, na presença apenas de familiares.

CANDIDATO – Prevista para abril, a eleição de renovação da diretoria da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) não será céu de brigadeiro para o presidente Marcelo Gouveia (SD), que disputa a reeleição. Um novo nome foi lançado, ontem: o prefeito de Jupi, Marcos Patriota, do União Brasil. Ele goza de bom trânsito com uma penca de prefeitos.

Perguntar não ofende: Gustavo ou Francismar, quem se elege hoje primeiro-secretário da Alepe?

Por Marcelo Tognozzi*

A França tem uma história manchada de sangue e violência contra outros povos, uma verdadeira vergonha. Fez todo tipo de atrocidades com a população negra do Haiti e quando ela se revoltou e expulsou os franceses, foi obrigada a indenizar o Estado francês como se fosse ele o prejudicado. 

A ocupação da Indochina no século 20 deixou cicatrizes. Os franceses foram expulsos da região por Ho Chi Min, o mesmo general que 20 anos depois botou os norte-americanos para fora do Vietnã.

Mas a cicatriz gorda dos franceses é a da escravidão. Eles dominaram com mãos de ferro até meados do século 20 Marrocos, Tunísia, Guiné, Camarões, Togo, Senegal, Madagascar, Benin, Níger, Burkina Faso, Costa do Marfim, Chade, República do Congo, Gabão, Mali, Mauritânia, Argélia, Comores, Djibouti e República Centro Africana. A França foi um grande exportador de escravos para o mundo e para suas colônias no Caribe, dentre elas o Haiti que até hoje sofre com a herança maldita do colonizador. 

Liberdade, igualdade e fraternidade, velho lema da Revolução Francesa, só vale dentro de casa e não é para todos. Basta caminhar pelos bairros da periferia de Paris, onde a maioria dos moradores é muçulmana, para ter certeza disso.

Até começar a guerra na Ucrânia, os franceses nadavam em fartura. Tinham um vizinho dono de uma das melhores terras do mundo, fornecedor preferencial de soja, milho, trigo e outros produtos essenciais para a produção de alimentos. 

Depois que os russos destruíram os campos ucranianos e tomaram as áreas mais produtivas, a Europa sentiu o baque. A inflação botou as manguinhas de fora.  Além disso, a França em particular, teve 1.000 problemas, como a queda na produção de suínos e a gripe aviária que matou 12 milhões de aves em 2022. Desastre num país no qual as principais fontes de proteína são aves e suínos. Carne bovina é coisa de rico.

Os franceses implicam com o acordo Mercosul-União Europeia porque seus produtores rurais são viciados em subsídios e sem capacidade para concorrer com quem produz mais e melhor, como é o caso do Brasil. Sobra malandragem e soberba. 

Na semana que se encerra, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, chegou falando grosso e anunciou que deixaria de comprar carne do Mercosul, alegando estar fora do padrão sanitário europeu. A resposta veio na lata: os frigoríficos brasileiros decretaram boicote às lojas do Carrefour no Brasil e Bompard, de uma hora para outra, passou a falar fino, pediu desculpas calculando o prejuízo representado pelos mais de 20% da operação brasileira no caixa da empresa.

O que andou faltando nos últimos anos foi gente com a coragem de João Martins, presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), que decidiu apoiar os frigoríficos e encarar os franceses olho no olho. 

Martins dá o exemplo de um líder que comanda um setor produtor de comida de qualidade para 1,5 bilhão de pessoas e exporta para os 4 cantos do planeta. Seu recado foi claro: conversar sim, baixar a cabeça jamais.

Os franceses, que por 2 vezes tentaram se estabelecer no Brasil nos séculos 16 e 17 e fracassaram, fazem de tudo para nos boicotar quando o assunto é produção agropecuária. Na virada do século, andou por aqui um maluquinho chamado José Bové, que se juntou com o MST para destruir uma plantação de soja transgênica da Monsanto no Rio Grande do Sul. Deu até entrevista no Roda Viva. 

Oficialmente, Bové veio para o tal Fórum Social Mundial, ajuntamento de desocupados, cujo esporte predileto era tramar contra o desenvolvimento do Brasil. Exatamente como fizeram, em agosto, 24 ONGs francesas defensoras do boicote aos produtos brasileiros, como soja e carne que, acusam, são produzidas pelos destruidores da floresta amazônica. ONGs que atuam aqui financiadas pela Europa. 

Quando se trata de atacar o Brasil no seu melhor, que é o agro, eles não medem esforços. Deveriam olhar para as cicatrizes deixadas por seus antepassados na África, na Ásia e no Caribe.

As empresas europeias aqui instaladas pagam impostos, criam empregos, mas financiam os programas sociais e os benefícios desfrutados pelos trabalhadores dos seus países. Cada vez que Carrefour, Casino, BIC ou L’Oréal remetem seus lucros para a França parte dele vira impostos e ajuda a manter o nível de vida, a escolaridade e o bem-estar.

O presidente Lula achou que era amigo-irmão do presidente Macron. Um sujeito como Emmanuel Macron, sócio da casa bancária Rothchild & Cie Banque, não acredita em Deus e não tem amigos; tem interesses. E grandes interesses. 

Na sua última visita à Amazônia brasileira ao lado de Lula, deve ter feito muitas contas sobre quanto lucraria com operações envolvendo créditos de carbono. Seu pequeno laboratório na Guiana Francesa deve estar a 1.000 com o petróleo da Margem Equatorial, até agora proibido por aqui pelos burocratas do Ibama.

Líderes como João Martins, a senadora Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, e o deputado Pedro Lupion, da Frente Parlamentar da Agropecuária, sabem muito bem que o Brasil e o Mercosul são a saída para matar a fome de uma Europa cada vez menos eficiente, menos capaz de produzir em larga escala e mais ocupada por imigrantes. Até os vinhos de Chile e Argentina superam os europeus. 

O protecionismo exagerado criará distorções, igual quando, por puro protecionismo,  no Brasil foi proibida a importação de produtos de informática e o contrabando floresceu. Lá, florescerá o contrabando de comida boa e barata produzida pelo Mercosul.

Fica difícil resolver qualquer impasse quando o atual governo abre mão da diplomacia profissional em troca da diplomacia ideológica, a qual cria mais problemas que soluções. Sabemos da dificuldade do Itamaraty em lidar com os franceses, pois Macron apoiou a eleição de Lula e era abertamente contra Bolsonaro, dentre outras coisas pelas grosserias desferidas contra sua mulher Brigitte.

Não será com bravatas do tipo “a França não apita nada” que Lula irá fazer valer o acordo com o Mercosul, o qual ele pretende assinar no Uruguai no mês que vem. Mesmo que seja dado um passo na assinatura, ainda haverá um longo caminho até virar realidade. 

Lula poderia lembrar das atrocidades e dos genocídios (assim mesmo no plural) cometidos pelos franceses na África e no Caribe, como fez com Israel. Mas Macron é gente boa, apesar do passado de colonialismo e dominação com muito sangue, tiro e porrada. Não podemos esquecer quem eles foram e são de verdade.

E há ainda um componente político forte: os recentes protestos de produtores rurais em toda Europa assanhou a direita, vencedora em Áustria, Suécia, Holanda e deu uma sinuca de bico no chanceler alemão Olaf Scholz obrigando-o a convocar eleições no início de 2025. E nunca é tarde para lembrar que Donald Trump vem aí.

*Jornalista

A influência de 2026 na eleição da nova mesa diretora da Alepe

Por Larissa Rodrigues

Repórter do blog

Embora ninguém admita, as articulações para as eleições de 2026 já estão a todo vapor no País. Em Pernambuco não seria diferente. A nova mesa diretora da Assembleia Legislativa do Estado (Alepe), para o biênio 2025/2026, será escolhida sob forte influência dessas negociações. Até o momento da votação, na tarde da próxima segunda-feira (2), o ambiente é de muita conversa no cenário político local, assim como foi durante toda a semana passada.

A reeleição do deputado Álvaro Porto (PSDB) para a presidência é dada como certa. Já a permanência no cargo do primeiro-secretário, Gustavo Gouveia (Solidariedade), que é o candidato defendido pelo presidente, enfrenta a concorrência do deputado Francismar Pontes (PSB), lançado pelo Partido Progressistas (PP).

Mesmo não sendo membro do PP, Pontes foi considerado pela bancada o nome ideal para a disputa, pelo perfil habilidoso e experiente, com quatro mandatos na Alepe, o que provocou uma dissidência no PSB, porque o partido apoia Gustavo Gouveia. Nos bastidores, há quem diga até que a jogada do PP acabou fazendo um gesto ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), com a escolha de um nome socialista.

Outros fazem a leitura de que o PP não conseguiu viabilizar um nome do próprio partido e escolheu Francismar na tentativa de conseguir os votos do PSB. Atualmente o PP, liderado no Estado pelo deputado federal Eduardo da Fonte, integra a base da governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB).

O discurso dos apoiadores de Francismar Pontes é de que há insatisfação de vários deputados com Gustavo, tanto na forma de trabalhar internamente na Casa, quanto na política feita pelo grupo dos Gouveia nas últimas eleições, quando teriam, nas palavras de oponentes, “invadido bases eleitorais de colegas”. Gouveia nega tudo.

Espaços de poder – O fato é que, assim como em toda eleição, quem chegar em 2026 ocupando mais espaços de poder, naturalmente entrará mais forte na disputa. Considerando a importância que tem a primeira-secretaria, que vem em segundo lugar na hierarquia da Casa e é responsável por administrar a Assembleia, o grupo que comandar esse espaço se fortalece para a disputa em 2026.

Competitividade em 2026 – Está em jogo a competitividade das chapas a serem montadas visando as vagas da Câmara Federal e da própria Alepe. De olho nas renovações de seus mandatos, os deputados querem integrar chapas robustas. Por isso, o grupo dos Gouveia tenta manter a primeira-secretaria, com dois objetivos em mente: renovar o mandato de Gustavo e eleger o irmão dele, o prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia, deputado federal pelo Podemos, além de fazer mais deputados estaduais e federais.

Bancada do PP – No lado oposto, o PP tenta chegar a esse espaço com a expressiva bancada na Alepe também pensando em renovar seus oito mandatos e fazer ainda mais parlamentares. Além disso, o partido visa a renovação dos mandatos dos deputados federais, incluindo o presidente estadual da sigla, Eduardo da Fonte, e seu filho, Lula da Fonte. O partido trabalha, ainda, para criar as condições de Eduardo da Fonte ser uma opção viável para o Senado.

Artilharia pesada – Sendo os dois grupos, os Gouveia e o PP, membros da base da governadora Raquel Lyra, que deve concorrer à reeleição, ambos têm os mesmos objetivos: eleger seus deputados estaduais e federais apoiados pelo lado da gestora. Até 2026, vai haver artilharia pesada de um contra o outro, passando pela primeira-secretaria da Alepe e, em fevereiro do ano que vem, pela eleição da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), que hoje está nas mãos dos Gouveia, com Marcelo à frente.

Projetos – Os Gouveia saíram fortalecidos das eleições de 2024 com cerca de 20 prefeitos. O plano deles é eleger três deputados federais e oito estaduais em 2026. Já o PP tem uma média de 30 prefeitos, sendo 24 da própria legenda e o restante de aliados. O objetivo do grupo é fazer 30 deputados estaduais e 15 federais, contando com a força de uma federação entre PP, Republicanos e União Brasil.

CURTAS

SEM TELEFONEMA – O deputado Edson Vieira (União Brasil) ficou sabendo pela imprensa que não iria participar da eleição da mesa diretora porque o secretário de Turismo do Recife, Antônio Coelho, deputado licenciado, irá reassumir o mandato para votar em Francismar Pontes. Edson Vieira é o primeiro suplente do União Brasil e está na vaga de Antônio Coelho. Ele não recebeu nenhuma ligação avisando. “Eu fiquei surpreso, assim como outras pessoas, e só soube pela imprensa”, comentou o parlamentar.

DESGASTE – João Campos não gostou da postura de Antônio Coelho. Em reserva, uma fonte bastante ligada ao prefeito fez uma leitura de que o grupo dos Coelho de Petrolina fechou uma porta com Edson Vieira, influente no Agreste, e outra com os Gouveia, na Mata Norte, dois apoios que seriam importantes para uma eventual candidatura de Miguel Coelho ao Senado, em 2026. “Não vai adiantar nada esse voto de Antônio Coelho. Gustavo vai ganhar do mesmo jeito e eles acabaram criando um desgaste desnecessário (com João, Edson e os Gouveia)”, afirmou a fonte.

OS COELHO – Miguel Coelho saiu em defesa do irmão e disse que a decisão de Antônio Coelho de voltar para a Alepe foi vista com naturalidade pelo grupo já que ele é um deputado licenciado e quer participar do processo eleitoral, que isso ocorre em todas as eleições do Congresso e nas assembleias espalhadas pelo Brasil.

Perguntar não ofende – Qual grupo sairá vitorioso na eleição da mesa diretora da Alepe?

Mercado fala em timidez nas medidas

A primeira reação de economistas e agentes de mercado ao pronunciamento do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em rede nacional na noite da última quarta-feira, foi marcada por críticas à timidez das medidas de corte de gastos sinalizadas e à apresentação “casada” de mudanças na tabela do imposto de renda.

As sinalizações de medidas para corte de gastos pelo ministro da Fazenda estão na limitação do avanço do salário-mínimo dentro do arcabouço (podendo crescer ao máximo 2,5% somados à inflação); na correção do limite de acesso ao abono salarial pela inflação até que o teto caia a um salário-mínimo e meio, e nas mudanças na aposentadoria militar, com idade mínima para ir à reserva e limitação na transferência de pensões.

Também na sujeição de agentes públicos ao teto constitucional, o que levaria ao fim dos chamados “supersalários”; no crescimento das emendas globais dentro do arcabouço e destinação de 50% das emendas de comissão para a saúde, e no aperfeiçoamento dos mecanismos de controle de fraudes e distorções, especialmente para o BPC (antiga aposentadoria por invalidez).

A tônica do mercado foi reconhecer as iniciativas como positivas, mas questionar seu potencial para gerar uma economia de R$ 70 bilhões em dois anos. Existe temor de que a maior parte da cifra seja atribuída ao controle e combate à fraude, não a medidas estruturais com efeito no médio e longo prazo.

A limitação do crescimento do salário-mínimo é considerada uma medida estrutural, cujo efeito deve ser de R$ 3 bilhões em 2025 e R$ 11 bilhões em 2026, mostra uma análise do XP Macro. Esta correção ajuda a conter o avanço de benefícios corrigidos pelo mínimo, como o BPC, o seguro-desemprego e o próprio abono salarial.

GRANDE DESAFIO – Também foi considerada estrutural a mudança no abono salarial. Mas esta só deve ter impacto a partir de 2027, em ritmo lento. As mudanças nas pensões militares e a regulamentação do teto salarial do setor público são avaliadas como ações de efeito limitado no curto prazo. “Em suma, parece cedo para tirar conclusões precipitadas. As medidas vão na direção certa. Ainda assim, somar R$ 70 bilhões em impacto conforme anunciado parece, até agora, desafiador”, diz análise do XP Macro.

Visão de economistas – Economistas criticaram também a escolha por “casar” este anúncio com o aumento do limite de isenção do imposto de renda para R$ 5 mil por mês. A compensação do impacto fiscal viria através de uma tributação mínima para pessoas físicas que recebem mais de R$ 50 mil por mês. “Sendo este o momento de cortar gastos para conferir credibilidade ao ajuste fiscal pretendido pelo Executivo, é arriscado e não recomendável colocar na mesa uma medida de custo elevado em termos de desoneração, cuja compensação exigiria desenho complexo”, disse Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos.

Medida impopular – Uma medida considerada “impopular” por integrantes do governo é uma maior restrição ao benefício do abono salarial (uma espécie de 13º salário pago a trabalhadores com carteira que recebem até dois salários-mínimos, ou R$ 2.824,00). De acordo com a proposta que o governo encaminhará ao Congresso, o abono estaria liberado para quem recebe até R$ 2.640,00. Em um prazo de alguns anos, pela proposta apresentada pela equipe econômica, o abono seria pago a quem receber até um salário mínimo e meio por mês.

Economia de R$ 327 bilhões – O pacote fiscal e de revisão de gastos do governo deve trazer uma economia de R$ 327 bilhões de 2025 a 2030, segundo os cálculos da equipe econômica. O anúncio oficial do pacote veio depois de longas discussões sobre as medidas voltadas para as despesas públicas. A equipe econômica tem dado destaque ao assunto especialmente nas últimas cinco semanas, apesar de ser uma promessa de longa data do governo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou reuniões em novembro com diversos ministros para debater o tema. Haddad havia dito que entregaria o pacote no começo do mês, o que não se concretizou.

Votação só na próxima legislatura – O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse, ontem, querer finalizar a votação do corte de gastos proposto pelo governo até o recesso dos congressistas. Caso se confirme, Câmara e Senado teriam três semanas para concluir a análise. O recesso começa oficialmente em 23 de dezembro. “Estimo que a Câmara faça essa apreciação nas próximas duas semanas. E talvez, na última semana útil antes do recesso, o Senado possa apreciar a PEC”, disse Pacheco a jornalistas.

CURTAS

SEM RESISTÊNCIAS – O presidente do Senado concordou que a tramitação comece pela Câmara e seja revisada pelo Senado. Para ele, os senadores tendem a apoiar as medidas de cortes. “Até agora, nenhuma resistência sobre o pacote de cortes. Todos os pontos estão postos”, afirmou.

MUDANÇA NO IR – Pacheco reafirmou as declarações da equipe econômica do governo de que mudanças no Imposto de Renda sejam analisadas pelo Congresso só em 2025. As regras passariam a valer em 2026. “Não serão submetidas à votação neste ano. Será objeto de uma ampla discussão ao longo de 2025, como a reforma tributária do consumo”, disse o presidente do Senado.

REAÇÃO – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, minimizou a reação do mercado ao anúncio do pacote fiscal do governo que revisa despesas públicas e muda regras na cobrança do Imposto de Renda. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não pode considerar só o ponto de vista dos agentes financeiros.

Perguntar não ofende: O pacotão será suficiente para controlar os gastos da União?