De leão para gatinho com Raquel
Com o ex-governador Eduardo Campos (PSB), que ontem teria festejado 60 anos, não fosse o trágico acidente aéreo na pré-campanha presidencial de 2014 que ceifou a sua vida, tive uma relação extremamente conflituosa, entre tapas e beijos. Tratava-me de “Maligno”, mas nunca deixei de reconhecer, em nenhum momento, que, enquanto esteve à frente dos destinos do Estado, rugiu alto como um leão, digno da nação Leão do Norte.
Seguiu o preceito de Agamenon Magalhães, que se imortalizou com a frase “Pernambuco só se curva para agradecer”. O recente golpe que o Ceará deu em Pernambuco, ao exigir – e o presidente Lula aceitar feito um cordeirinho – a cabeça de Danilo Cabral, passa à história como um dos mais vergonhosos episódios que assisti nos últimos 40 anos fazendo a cobertura diária dos fatos políticos entre o Palácio do Planalto e os arredores do Palácio das Princesas.
Leia maisAlém de vergonhoso e humilhante, o lamentável episódio ratificou ainda mais o que venho dizendo: a partir da morte de Eduardo, Pernambuco perdeu relevância no cenário nacional. Duvido que o Ceará viesse sequer a pensar em fazer tamanha intromissão em questões de natureza exclusiva do Estado, como a Sudene, estando Eduardo governador do Estado! Nem pensar!
Eduardo tinha autoridade, sabia dar murro na mesa na hora certa. Muitas vezes, agia até com um estilo coronelista, mas ninguém pisava nos seus calcanhares. A governadora Raquel Lyra (PSD) chegou ao poder com um grande trunfo nas mãos: a primeira mulher a gerir os destinos do Estado.
Com isso, criou uma expectativa enorme entre os segmentos que não a conheciam, com exceção entre aqueles já sabedores das suas fragilidades, como este colunista, que a conhece desde o seu ingresso na vida pública.
Em nenhum momento imaginei que Raquel daria certo. Sua gestão em Caruaru foi para inglês ver. Só se reelegeu por causa da pandemia: seus principais adversários, como Tony Gel e José Queiroz, temendo a morte na pandemia, correram da parada. Ela ficou sem adversários.
A chegada ao poder estadual se deu pela comoção – a morte do marido. Os estudos comprovam isso: só ao Google, 600 mil eleitores recorreram, porque sequer sabiam seu número. Próxima a completar três anos no comando do Estado, desconheço um episódio no qual a governadora urrou como uma leoa.
O Estado perdeu a força e a majestade de um leão. Virou um gatinho, manso e dorminhoco. Raquel vive a paparicar Lula e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, este seu maior protetor no Governo Federal. Mas sequer usou da sua influência com o ministro para impedir o tratoraço do Ceará em Pernambuco, porque partiu de Rui todas as manobras para demitir e humilhar Danilo Cabral.
Raquel não deu um pio em favor de Danilo, não por Danilo, mas por Pernambuco, a Sudene. Assistiu de camarote o Ceará pisotear alguém que, com altivez, trabalhava em favor do Estado, para retomar a obra que ela própria fez tanto proselitismo no início da sua fracassada gestão, a ferrovia Transnordestina. Mas não agiu apenas porque o fígado atrapalha muito a sua forma de governar.
Não agiu porque não tem liderança política. Falta nela a bravura de um Eduardo Campos, a coragem de um Agamenon Magalhães, o estilo aguerrido de um Jarbas Vasconcelos, o destemor de um Roberto Magalhães e a paciência de um Marco Maciel. No meu livro “Os Leões do Norte” há muita gente que cumpriu o seu dever e nos orgulha, como Barbosa Lima Sobrinho, Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos, Eduardo Campos, Cid Sampaio, Paulo Guerra, Joaquim Francisco e Roberto Magalhães.
Um Estado sem lideranças fortes, como é o caso de Pernambuco hoje, vive à deriva, como um barco sem leme, um corpo sem cabeça ou um campo de batalha sem comandante. Falta direção, tomar decisões e coordenar ações para o bem comum. Sem uma liderança capaz de inspirar e guiar, o Estado sofre com a fragmentação, a ineficiência e a perda de identidade.
A LIÇÃO DE SÓCRATES – É importante ressaltar que a liderança forte não se confunde com autoritarismo. Uma liderança forte se caracteriza pela capacidade de unir, inspirar e guiar o povo em direção a objetivos comuns, com base em valores éticos e na busca pelo bem-estar coletivo. Liderança forte e respeitada inspira e transforma. Age, se posiciona. Faz o certo quando ninguém está olhando, não precisa de redes sociais. Patrono da filosofia ocidental, Sócrates nos ensinou que sob a direção de um forte general, não haverá jamais soldados fracos.

Força e sabedoria – Principal liderança de centro no Estado, o deputado Eduardo da Fonte, presidente do PP, foi corajoso na entrevista que concedeu à Folha. Mesmo o partido ocupando cargos na gestão Raquel, não assumiu nenhum tipo de compromisso com a reeleição da governadora. É um sábio! Com a maior bancada na Alepe, o maior número de prefeitos no Estado e sua federação, a junção do PP com o União Brasil, detendo o maior tempo da televisão na propaganda eleitoral, Eduardo tem o poder para decidir as eleições no Estado em 2026, seja para que lado pender. Pré-candidato a senador, com certeza será paparicado também por João Campos (PSB).
Escola ameaçada – Em Brasília, ministros e até o presidente Lula têm reclamado da falta de comando e liderança da governadora Raquel Lyra na condução do projeto de instalação de uma Escola de Sargentos, em Aldeia, investimento de mais de R$ 2 bilhões, com geração imediata de 30 mil empregos. O que se ouve por lá é que o projeto não sai do papel porque ela não está movendo uma palha, sob o pretexto de não querer comprar uma briga com os defensores do meio-ambiente. Isso pode levar Pernambuco a perder o investimento para outro Estado.
CPI no colo – Trombada com a Assembleia Legislativa, a governadora está na iminência de enfrentar a sua primeira Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por um motivo muito simples, elementar: falta de articulação política. Ela imagina que pode governar o Estado como se relacionou com a Câmara de Vereadores quando prefeita de Caruaru. Os deputados já aprovaram a CPI, voltada para investigar gastos em publicidade e contratos mal-assombrados com agências em valores que passam de R$ 1 bilhão. Enfrentar uma confusão dessa natureza em ano pré-eleitoral é dar um tiro no pé.

Ferrovia em outubro – De passagem pelo Recife no último fim de semana, para um seminário que reuniu governadores e ministros, o ministro dos Portos, Silvio Costa Filho, informou que o presidente Lula, finalmente, assinará, em outubro, a ordem de execução de dois trechos da Transnordestina em Pernambuco. Segundo ele, as duas etapas abrangem o itinerário Suape-Salgueiro. “São investimentos de quase R$ 1 bilhão. A ideia é a de que o governo brasileiro inicie a obra, possa fazer investimentos e depois faça uma grande concessão”, explicou.
CURTAS
NO PAC – “Infelizmente, o Governo Bolsonaro retirou a Transnordestina do mapa de desenvolvimento do Nordeste. O presidente Lula, quando assumiu, incluiu a Transnordestina no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], com investimentos de quase R$ 5 bilhões e mais de mil quilômetros de ferrovias”, disse Silvio.
MENTIRA – O ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, disse no Recife, sábado passado, que é impossível discutir os aspectos das tarifas, porque elas se baseiam em uma mentira. “Nós não conseguimos ter, por parte do governo brasileiro, nenhuma base técnica daquilo que está sendo tratado. O governo americano bota três pontos. O primeiro deles, de que o governo brasileiro tem que intervir na Justiça do Brasil. Isso, no nosso modelo democrático, constitucional, não é possível”, afirmou.
OBRAS INACABADAS – No podcast Direto de Brasília de amanhã, uma parceria deste blog com a Folha de Pernambuco, o presidente do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, vai tratar, dentre outros assuntos, de um velho problema no País: o canteiro de obras inacabadas. O programa será exibido das 18 às 19 horas, com transmissão pelo Youtube do meu blog e da Folha, além de 165 emissoras de rádio no Nordeste.
Perguntar não ofende: O que será, afinal, das mangas e das uvas produzidas no Vale do São Francisco sem poder chegar mais ao mercado americano?
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