Humberto resiste ao bate-chapa
Escolhido por aclamação para presidir o PT até julho deste ano, o senador pernambucano Humberto Costa diz que tem uma missão pela frente: tentar fazer com que o processo da sucessão da ex-presidente Gleisi Hoffmann se dê de forma democrática, um processo natural e maduro de mobilização nacional dos filiados. Já há uma tendência no partido defendendo que ele bata chapa com Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), o preferido do presidente Lula.
Mas Humberto não caiu nas provocações. Disse a aliados que não tem interesse nesse duelo. Humberto passou a ser cogitado porque o nome de Edinho enfrenta resistências em seu próprio grupo político, justamente por ele propor mais diálogo e menos enfrentamento. “O meu compromisso é de um mandato-tampão”, reitera o senador. “Queremos fortalecer já o partido para a disputa de 2026”, acrescentou.
Leia maisApós ser aclamado, Humberto disse que o principal desafio do partido é reverter a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e construir a unidade interna. “Vamos contribuir para ultrapassar esse momento de dificuldade que estamos vivendo em termos de popularidade do governo e unir o PT para o processo de eleição direta, com voto dos filiados, em julho”, afirmou.
“Será um grande processo de renovação para chegarmos às eleições de 2026 com nosso presidente candidato a novo mandato”, acrescentou. A indicação de Humberto para assumir o PT como interino foi decidida na noite da última quinta-feira, em reunião da CNB, que é majoritária no partido. Não houve votação sobre a escolha na reunião da Executiva. A CNB é a tendência de Lula, Gleisi, Humberto, Edinho e da maior parte dos ministros do PT que integram a Esplanada, como Fernando Haddad (Fazenda).
CRISE BRABA – A exemplo de Lula, que enfrenta o pior período de todos os seus mandatos, o PT vive uma crise, dividido em várias alas que não se entendem sobre os rumos do partido e do governo. Há os que pregam uma guinada à esquerda e outros que defendem a necessidade de diálogo com todos os setores para pôr fim à polarização no País. Humberto convocará o Diretório Nacional em até 60 dias. É uma exigência do estatuto, em caso de renúncia ou licença do presidente, para oficializar o nome do substituto. No dia 6 de julho, o PT promoverá eleições diretas para renovar sua direção em todo o País.

Divisão também em Pernambuco – Os petistas experimentam uma divisão mais acentuada em pelo menos sete estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Ceará, Pernambuco, Alagoas e Piauí. Em Pernambuco, aliados dos senadores Teresa Leitão e Humberto Costa devem se enfrentar, representando visões distintas. Enquanto Costa é próximo à governadora Raquel Lyra (PSDB), Teresa é aliada do prefeito de Recife, João Campos (PSB). O grupo de Costa apoia o secretário-geral do diretório, Sergio Goiana. Já os aliados de Teresa estão na fase de discussões internas, mas devem lançar um opositor.
A espera de um sinal – No fim de fevereiro, expirou o primeiro prazo do Processo de Eleição Direta (PED), referente aos filiados que poderão votar ou concorrer. Mas as discussões se acirraram já nesta etapa inicial do processo. No Rio, o embate ocorre entre o atual vice-presidente nacional, o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, e o grupo ligado aos deputados federais Lindbergh Farias e Benedita da Silva. Inicialmente, Quaquá sinalizava apoio ao ex-deputado Fabiano Horta, nome visto com potencial para unificar o partido. Recentemente, no entanto, ele tem indicado a intenção de lançar seu filho, Diego Zeidan, como candidato. Diego, que pretende concorrer a deputado federal no próximo ano, poderia fortalecer suas aspirações políticas com essa movimentação.
Impasses no Sul e Sudeste – Em São Paulo e no Paraná, os impasses envolvem a permanência dos atuais presidentes. O deputado federal paulista Kiko Celeguim deve enfrentar novamente uma disputa interna na Construindo um Novo Brasil (CNB), corrente majoritária do partido e integrada pela deputada estadual Professora Bebel, sua concorrente. Ambos foram vice-presidentes na gestão do ministro do Trabalho, Luiz Marinho. No Paraná, o deputado estadual Arilson Chiorato, aliado da presidente nacional Gleisi Hoffmann, enfrenta a candidatura do deputado federal Zeca Dirceu. O cargo, que já foi ocupado por seu pai, o ex-ministro José Dirceu, poderia facilitar uma futura candidatura ao Senado. O presidente da Itaipu Binacional, Enio Verri, também teria interesse em concorrer ao posto.

A casa nova de Raquel – Na sua primeira fala como integrante do PSD, ontem (10), a governadora Raquel Lyra agradeceu pelos nove anos que passou no PSDB, mas disse que chegou a hora de mudar. “Quero dizer que a filiação ao PSD acontece de maneira natural, com maturação e construção coletiva daqueles que trabalharam para que eu estivesse aqui”, disse Raquel Lyra na entrevista coletiva antes da filiação, no Recife Expo Center, no Cais de Santa Rita. “Foram nove anos, mas chegou a hora de mudar. Não é uma aliança de ocasião, mas com propósito, com valores em defesa da democracia e no combate à desigualdade. Chegou a hora de encerrar um ciclo”, reforçou a governadora, que ainda agradeceu ao presidente atual do PSDB em Pernambuco, Fred Loyo.
CURTAS
Prestígio – O evento de filiação da governadora Raquel Lyra ao PSD, ontem (10), no Recife Expo Center, no Cais de Santa Rita, lotou o espaço e complicou o trânsito na área. No estacionamento do local, que é imenso, chegou a não haver mais vagas. Para dar o tom regional que acompanha Raquel, ex-prefeita da Capital do Forró, Caruaru (Agreste), havia uma banda de pífano na entrada, recebendo os convidados.
Kassab sonhando – O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, está sonhando com o futuro. Disse que, se a governadora Raquel Lyra for reeleita em 2026, poderá ser uma opção para a Presidência da República. “Raquel, se reelegendo governadora, vai trazer muito orgulho para Pernambuco, porque, no dia seguinte, o Brasil vai começar a sonhar com a hipótese de Raquel ser Presidente da República”, defendeu.
Mendonça no PSD? – O deputado federal Mendonça Filho (União Brasil) esteve no ato de filiação de Raquel ao PSD. Questionado se sua presença pode significar uma futura mudança partidária, ele desconversou e disse que estava no evento por consideração à governadora. Mas vale lembrar que a situação dele no União Brasil é de disputa de espaço com os Coelhos, de Petrolina, e não seria estranho se ele deixasse o União Brasil.
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