Coluna da terça-feira

Humberto acima de acordos naturais

Presente, ontem, no anúncio de Victor Marques (PCdoB) como vice na chapa de João Campos (PSB), o senador Humberto Costa, principal liderança do PT no Estado, negou qualquer tipo de acordo entre PSB e PT com vistas às eleições de 2026. O que se diz, nos bastidores, é que a vaga assegurada ao PT na chapa da Frente Popular em 2026 será dele para disputar à reeleição.

É claro que acordos não se fecham desta forma açodada, engatando uma eleição municipal com uma estadual, mas o lógico e natural é que se João Campos vier a ser protagonista da sucessão estadual como candidato a governador, o PT estará com seu quinhão assegurado na chapa. Assim, Humberto, representante petista na chapa, desponta como uma unanimidade no partido e na Frente.

Faça-se justiça, Humberto defendeu ardorosamente a presença do PT na chapa de João, avalizando, inclusive, o nome de Mozart Sales, o que evitou disputa no processo de afunilamento no qual João Campos fez a sua opção depois de jogar as cartas na mesa num encontro com a direção nacional do PT, que contou com a presença, inclusive, do presidente Lula, avalista privilegiado.

“Tentamos convencer, mas a última palavra é do candidato. Vamos seguir em frente, fazer a campanha e a vida continua”, disse o senador, ao chegar, ontem, ao evento na companhia de Mozart e de outros aliados petistas. Além de Humberto na majoritária em 2026 fala-se, também, que o outro candidato a senador seria o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Principal liderança do Republicanos, partido que tende a eleger um bom número de prefeitos, Silvinho, como é mais conhecido, ganhou projeção nacional. E para completar a chapa, raciocinando com a hipótese de João vir a ser candidato a governador, o vice seria o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho.

Evidentemente que tudo isso são apenas elucubrações, porque o que está em jogo agora é a reeleição de João. O prefeito tem que sair fortalecido, emplacando a vitória logo no primeiro turno. Uma eventual guerra de segundo turno, caso venha a ocorrer nas eleições deste ano, além de impactar no capital político do prefeito, tende a dar combustível aos opositores do socialista, especialmente a governadora Raquel Lyra (PSDB).

Pela tangente – Na primeira entrevista que deu, ontem, após ser anunciado vice na chapa de João Campos, Victor Marques não quis falar sobre os desafios de vir a governar uma cidade do porte do Recife, caso o prefeito, reeleito, venha a renunciar para disputar o Governo do Estado nas eleições de 2026. “Neste momento, estamos focados nas eleições de 2024 e não de 2026”, despistou, adiantando que seu ingresso no PCdoB foi fruto de uma articulação de João e que se sente feliz e honrado por estar filiado a um partido centenário.

Gestora mais idosa do País – Aos 85 anos, a prefeita de Itambé, na Zona da Mata, Graça Carrazzoni (MDB), ganhou notabilidade nacional, ontem, depois de uma reportagem na Folha de São Paulo como a gestora mais idosa do País. Segundo a reportagem, a idade, para ela, é um bom ativo e não gostou da renúncia do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por causa da idade avançada. “Se ele tem a mentalidade sadia, e hoje com a Medicina com tudo, cada um sabe quem é, e o povo também sabe”, disse.

Unidade da Frente – Na sua fala, ontem, após confirmar Victor na sua vice, o prefeito João Campos (PSB) enalteceu o papel que o presidente Lula e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, tiveram na construção da unidade da Frente Popular, mantendo a legenda petista entre os partidos que estarão juntos na luta pela sua reeleição. “Estamos felizes neste dia especial, sobretudo em poder ter materializado a unidade da Frente Popular com seus 12 partidos”, afirmou.

Retorno natural – Peça importante na gestão João Campos, Marília Dantas, que ingressou no MDB por orientação do chefe para ser uma das alternativas como vice, reassume, hoje, a Secretaria de Infraestrutura, onde tem uma super agenda de trabalho. Entre as grandes obras que estão na sua alçada, o parque do antigo aeroporto do Pina, que vai se transformar na maior área de lazer da capital, com previsão de inauguração para o final do ano.

Banho de sangue – O presidente Lula (PT) ficou assustado com as declarações do ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, que afirmou que uma vitória da oposição nas eleições venezuelanas do próximo domingo resultaria em um banho de sangue. “Fiquei assustado com a declaração do Maduro dizendo que se ele perder as eleições vai ter um banho de sangue. Quem perde as eleições toma um banho de voto, não de sangue”, reagiu, ontem, ao conversar com jornalistas de agências de notícias internacionais.

CURTAS

GUERRA – Nas últimas semanas, Maduro e aliados afirmaram que a oposição não vai aceitar o resultado eleitoral e realizará manifestações violentas após a possível vitória do candidato da situação. “O destino da Venezuela depende da nossa vitória”, afirmou Maduro num comício este mês. “Se quisermos evitar um banho de sangue ou uma guerra civil desencadeada pelos fascistas, então devemos garantir a maior vitória eleitoral de sempre.”

FARSA – Maduro governa a Venezuela desde 2013, assumindo o poder após a morte do antecessor e mentor Hugo Chávez. O ditador de 61 anos venceu eleições que os seus adversários consideraram não livres e justas. A sua reeleição em 2018 foi amplamente considerada uma farsa, uma vez que os principais partidos e candidatos da oposição foram proibidos de participar.

VOLTA A PE – O ex-presidente Bolsonaro volta a Pernambuco e em agenda de campanha visitará vários municípios, segundo anunciou, ontem, o pré-candidato do PL a prefeito do Recife, Gilson Machado. Além da capital, passa em seis municípios entre Agreste, Sertão e Zona da Mata.

Perguntar não ofende: Lula abandonou o velho e histórico aliado Maduro, presidente da Venezuela?

Uma nova era

Ao anunciar hoje, oficialmente, Victor Marques (PCdoB), seu ex-chefe de gabinete como vice na sua chapa à reeleição, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), abre um paradigma e instala uma nova era na política estadual, pontuada pelo traço da juventude e da ousadia. Vira a página, consequentemente, de um Estado de lideranças históricas, mas que se firmaram no plano nacional já com cabelos brancos.

João e Victor são de uma mesma geração, têm a mesma idade. Se reeleito, João parte para disputar o Governo do Estado, em 2026, com apenas 32 anos, 13 anos mais jovem do que a governadora Raquel Lyra (PSDB), a primeira a romper um ciclo num Estado em que se assistiu, por muito tempo, velhas caras se revezarem no poder, entre os quais Miguel Arraes, Jarbas Vasconcelos, Roberto Magalhães, Eduardo Campos e Joaquim Francisco.

Todas essas figuras ilustraram Pernambuco no plano nacional, deram, ao seu modo e num estilo próprio, uma grande contribuição ao desenvolvimento do Estado. Mas os tempos mudam, o calendário da vida política também. Uma pesquisa mais recente do Datafolha aponta que o segmento eleitoral mais identificado com o estilo João Campos é o que está na faixa dos 16 a 24 anos, principalmente os que irão votar pela primeira vez.

Com a “nevada” em seu cabelo, para brincar o Carnaval, o prefeito trouxe para mais perto dele esse eleitorado, que representa um elevado estamento do futuro, do olhar para a frente, a janela, igualmente, da renovação na gestão. Isso não significa que políticos veteranos ainda em atuação estejam a caminho de vestir o pijama, mas é quase um fadário.

A Prefeitura do Recife, com João no comando, já serviu, aliás, como uma espécie de laboratório para os chamados gestores do futuro, a exemplo de Victor Marques, um dos principais responsáveis pelas políticas públicas e a estratégia de gestão, e Marília Dantas, a super secretária de Infraestrutura que esteve à frente da execução das principais obras do socialista.

Caras novas – A nova era não se circunscreve apenas a Raquel e João, mais para João do que Raquel, por ser ele bem mais jovem. Neste universo, estão inseridos também o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, que fez uma bela campanha para o Governo do Estado na eleição passada; Silvio Costa Filho, ministro dos Portos, já cotado para o Senado em 2026, e Lula da Fonte, o deputado federal mais jovem do País.

Braço direito de João – Victor Marques, que será anunciado hoje como vice de João Campos, tem uma convivência histórica com o prefeito. Juntos, estudaram Engenharia. Quando João assumiu a chefia de gabinete do ex-governador Paulo Câmara, Victor atuou como assessor e na Câmara dos Deputados foi chefe de gabinete dele, mesma função exercida na Prefeitura. “Victor foi o responsável por tudo o que eu pude andar, que eu pude fazer, que eu pude trabalhar, que eu possa ter a tranquilidade de estar na rua trabalhando e saber que contava com o tempo sendo coordenado e tocado por ele para tocar coisas estratégicas”, disse João, ao discursar na inauguração do Parque da Tamarineira.

PT e PL brigam em 9 capitais – O PT planeja lançar candidatos em 14 capitais, enquanto o PL deve lançar em 15. As duas siglas, no entanto, devem ter confrontos diretos em apenas nove das 26 capitais estaduais. Diferentemente de outras eleições, o PT decidiu priorizar alianças em vez de lançar candidaturas neste pleito. Para conter o avanço do bolsonarismo nas prefeituras e visando construir alianças para as eleições de 2026, o PT abriu mão de lançar candidatos em cidades importantes, incluindo São Paulo, onde apoia o pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos.

Prévia de 2026 – Já o PL entra na disputa com a meta ambiciosa de eleger 1,5 mil prefeitos. Na última eleição, em 2020, a sigla elegeu 348. O partido aposta no lançamento de candidaturas no maior número possível de cidades, com foco nas eleições de 2026. O cálculo político é que, mesmo se o candidato do PL não for eleito, ele ganhará visibilidade e poderá garantir uma vaga na Câmara ou no Senado no próximo ciclo eleitoral. A disputa deste ano é vista tanto por petistas quanto por bolsonaristas como um prelúdio para as eleições de 2026, quando os grupos buscarão fortalecer sua representação no Congresso e disputar a Presidência da República.

Vice, só Marta em SP – Nos grandes centros urbanos, o PT não disputa apenas no Recife, mas também em São Paulo e Rio de Janeiro. Nessas capitais, o partido optou por não lançar candidatos próprios, apoiando em vez disso postulantes de outros partidos com maiores chances de vencer representantes do bolsonarismo. Na capital fluminense, o PT apoia o prefeito Eduardo Paes (PSD) e no Recife João Campos (PSB), mesmo sem garantir a vice nas respectivas chapas. Na capital paulista, por outro lado, a legenda conseguiu emplacar Marta Suplicy (PT) na vice de Boulos.

CURTAS

META – Coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) do PT, o senador Humberto Costa diz que o partido busca obter um resultado melhor do que o de 2022, quando elegeu 183 prefeitos. Em 2016, o PT conquistou 254 prefeituras, e em 2012, 638. Reverter essa tendência é um dos objetivos deste ano. “Não estabelecemos uma meta numérica. Definir uma meta específica pode ser politicamente desfavorável”, explicou.

O FOCO – Segundo Humberto, o PT vai focar nas cidades com mais de 100 mil eleitores. “Há 215 cidades com esse perfil, representando 48% do eleitorado do País, e teremos 126 candidatos nessas cidades”, disse. Ele acrescentou que a sigla fará um “investimento diferenciado nos vereadores”, buscando aumentar a bancada da Câmara em 2026.

OLHO NO SENADO – A estratégia do PL é avançar com seu projeto de fortalecer sua presença no Senado. O partido visa obter a maioria para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e buscar emendas à Constituição, como possíveis mudanças na duração dos mandatos dos ministros do STF ou uma anistia para os presos do 8 de Janeiro. Para alcançar esses objetivos, o PL aposta em candidatos bolsonaristas que, mesmo se perderem na disputa municipal deste ano, poderão eventualmente vencer a eleição para o Senado daqui a dois anos.

Perguntar não ofende: Quem será o coordenador-geral da campanha de João?

João virou ventríloquo de Raquel

Prefeito do Recife e candidato à reeleição pelo PSB, o engenheiro João Campos revelou maturidade política ao conduzir o processo da escolha do seu candidato a vice sem provocar reações no seu campo partidário capazes de gerar sequelas. No PT nacional, foi elogiado pelo presidente Lula e Gleisi Hoffmann, a chefona da legenda no plano nacional.

Na província, a única voz destoante foi a de João Paulo. Na condição de parlamentar integrante da bancada petista na Assembleia Legislativa, mas ainda sem superar a dor de cotovelo por não mais ter conseguido voltar a gerir a Prefeitura do Recife, sendo hoje considerado um político em fim de carreira, João Paulo recorreu ao deboche pelas redes sociais, informando que só lhe restava uma boa risada com a escolha de Victor Marques, ex-chefe de gabinete de João, como vice.

Foi mais além. Numa entrevista à Rádio JC, disse que o PT ficou numa condição “humilhante” ao tentar e não conseguir indicar o vice de João. “Eu já colocava que foi uma posição humilhante para o PT, para a importância política que o PT tem, com a presidência da República e dois senadores pernambucanos”, disse João.

E acrescentou: “Acho que o PT errou na dosagem, porque vice não se dá fazendo prévias. Vice é fruto de uma correlação de forças políticas. E acho que isso está faltando, faltando a real compreensão da força que nós temos”.

Se tudo isso João Paulo tivesse dito com o respaldo e autoridade de quem fala em nome do PT, o tiro teria sido certeiro. Ele tem lá suas razões. Mas o deputado é, hoje, considerado um ventríloquo da governadora Raquel Lyra (PSDB). Na linguagem política, ventríloquo é um boneco, fantoche, que fala dando a impressão de que a sua voz vem de outra fonte.

Sendo assim, João Paulo perdeu credibilidade, não fala mais em nome do PT. Aliás, ele era um petista histórico, abandonou a legenda quando Lula foi preso, se refugiou por um certo tempo no PCdoB, mas depois voltou como uma Maria arrependida. Razão de sobra tinha o pensador Cícero Braz quando disse: “Políticos têm muitos, mas homens de moral e caráter são poucos”.

ANÚNCIO DEVE SER NUM HOTEL – João Campos não decidiu ainda o local do anúncio oficial de Victor Marques como seu candidato a vice, marcado para a próxima segunda-feira. A tendência é que seja num hotel da zona sul do Recife, com a presença da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que participaram da reunião, quinta-feira passada em Brasília com o presidente Lula, na qual foi batido o martelo com o representante do PCdoB na vice.

As razões de Yves – Numa conversa, ontem, com o jornalista Ricardo Dantas Barreto, o prefeito de Paulista, Yves Ribeiro (PT), abriu o coração e revelou os verdadeiros motivos por ter desistido da reeleição. “Estou no sétimo mandato de prefeito e Paulista é uma cidade grande com orçamento apertado. A população cresceu em 42 mil habitantes e a receita caiu. A queda do orçamento tem me feito sofrer e afetou a minha saúde. Em um ano, fui internado quatro vezes. E ficaria complicado passar mais quatro anos. Conversei com a família e chegamos à decisão de não ir para a reeleição. Mas, da política, não vou sair nunca. Tenho 47 anos na política. Fui vereador com 24 anos em Igarassu, prefeito de Itapissuma, Igarassu e Paulista. Vou estar sempre ajudando, fazendo palestras”.

EFEITOS DO APAGÃO – O apagão cibernético no mundo, ontem, teve impactos diferentes no Brasil. Interrupções em atividades do sistema financeiro, problemas no atendimento a clientes de hospitais, companhias de energia elétrica e transtornos em check-in em aeroportos estão entre as consequências locais do apagão global em sistemas de computadores. O Ministério de Portos e Aeroportos informou que houve problemas nos sistemas de check-in de algumas companhias aéreas, que provocaram “alguns atrasos pontuais em voos, mas sem impactos na operação de pousos e decolagens até o momento no Brasil”, mas o apagão não afetou o controle de tráfego aéreo do País.

ESCAPOU A Polícia Civil do Estado de São Paulo concluiu a investigação contra o filho caçula do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Luís Cláudio, acusado pela médica Natália Schincariol, ex-namorada dele, de violência doméstica. O inquérito finalizado na última segunda-feira aponta que não há indícios contundentes que corroborem a alegação da médica. Sem provas suficientes para embasar a suspeita, Luís Cláudio não foi indiciado pela Polícia Civil, ou seja, nenhum crime foi atribuído a ele.

Chico Siqueira federal? – Diante de tudo que está acontecendo em Araripina, onde o prefeito Raimundo Pimentel perdeu o controle do PDT e foi obrigado a abrigar uma aliada no Podemos para disputar sua sucessão dentro do grupo que está no poder, o que se ouve por lá é que o prefeito de Ipubi, Chico Siqueira (PSB), empresário bem-sucedido no setor gesseiro, tende a ganhar asas e, quem sabe, alçar a um voto mais alto nas próximas eleições como representante do Araripe na Alepe ou na Câmara dos Deputados.

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SUCESSOR – Já no seu segundo mandato em Ipubi, Chico Siqueira lançou seu sobrinho João Marcos Siqueira como candidato a prefeito do seu grupo. O que se diz por lá é que não terá dificuldades em emplacar o sucessor.

DE VOLTA – Ex-vice-prefeito de Arcoverde, cargo que renunciou depois de romper com o prefeito Wellington Maciel (MDB), o delegado Israel Rubis passou uma temporada em Afogados da Ingazeira como chefe, mas está de volta à terra do Cardeal: no próximo mês, assume a Delegacia de Homicídios do município.

A POLÍTICA É UMA GANGORRA – Em Arcoverde, grande parte dos aliados do prefeito Wellington Maciel, que desistiu da reeleição, está aderindo à candidatura de Zeca Cavalcante, do Podemos. O que se diz por lá é que o próximo a reforçar o palanque de Zeca será o próprio Wellington, antes inimigo figadal.

Perguntar não ofende: O que dirá na campanha Madalena Britto, vendo o prefeito Wellington Maciel no palanque de Zeca? 

Uma guerra civil no Brasil

Saiu, ontem, o segundo Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O Brasil teve, em 2023, queda pelo terceiro ano seguido no número de homicídios. O País chegou ao menor patamar desde que a série histórica começou, em 2011, além de ser a primeira vez nesse período em que foram contabilizados menos de 47 mil óbitos.

Foram 46.328 homicídios no ano passado no Brasil, taxa de 22,8 casos para cada 100 mil habitantes. Isso equivale a uma queda de 3,4% ante o indicador do mesmo período de 2022. Mesmo com a tímida queda, o Brasil continua a viver uma guerra civil. Por hora, a média é de cinco assassinatos no Brasil. O número ainda é considerado mais alto não só do que a média mundial, mas em relação a outros países da América Latina.

Em meio a esse cenário, especialistas reforçam a necessidade de medidas focadas em rotas do narcotráfico – que reúnem algumas das cidades mais violentas – e em excessos cometidos pela polícia. “O Brasil ainda continua respondendo por 10% de todos os homicídios do planeta e, em números absolutos, é o país que mais mata”, disse Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum, em entrevista ao Estadão.

Diante disso, segundo ele, há um caminho bem mais longo a ser percorrido que o de outros países. Os Estados que reúnem as maiores taxas são Amapá (69,9) e Bahia (46,5), onde, segundo especialistas, a atuação mais violenta da polícia se soma à forte presença do crime organizado para consolidar novas rotas do tráfico – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) são as principais facções do País.

SÃO PAULO, O MENOR – Os menores índices de homicídios em 2023 foram os de São Paulo (7,8) e Santa Catarina (8,9). O maior recuo em números percentuais foi em Rondônia (-14,2%), ainda que o Estado siga com taxa elevada (29,2%). Ocorreu piora em seis Estados: Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Amapá, com destaque para os dois últimos. Ainda assim, diferentemente do balanço do ano passado, agora houve queda nos indicadores em todas as regiões.

Quatro vezes maior que a taxa mundial – Os casos descritos como homicídios correspondem à contabilização de mortes violentas intencionais (MVI), criado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Considerado o principal indicador para aferir os níveis de violência do Brasil, ele agrega casos de homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais. A taxa de mortes violentas intencionais no País, mesmo com as quedas recentes, é quase quatro vezes maior do que a taxa mundial de homicídios – de 5,8 para cada 100 mil habitantes, segundo dados reunidos pelas Nações Unidas (ONU).

UM ALENTO – “A boa notícia é que na maior parte dos países as mortes vêm caindo, e entre as grandes causas, há um componente demográfico importante, já que a população está envelhecendo”, afirma Lima. Historicamente, camadas mais jovens concentram a maior parcela de mortes violentas, sobretudo na população negra. “O Brasil está conseguindo ter redução maior do que a média da região. Isso é notícia boa, mas insuficiente, porque nossa taxa de mortes violentas, de 22,8, é 18,8% maior do que a média regional”, afirma.

REAÇÃO DO GOVERNO – Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que “trabalha pela articulação da rede de DHPPs (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), para aumentar a capacidade de investigação de homicídios pelas unidades especializadas, com vistas ao aumento da taxa de esclarecimento dos crimes em âmbito nacional”. Ainda de acordo com a pasta, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) tem reforçado parcerias com os Estados e o Distrito Federal em ações de inteligência e atuado de forma integrada com as polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal e Científica, e em conjunto com os Ministérios Públicos estaduais e Federal no combate ao crime organizado.

Pernambuco, terceiro mais violento – No mesmo levantamento, Pernambuco aparece como o terceiro Estado mais violento do País, abaixo apenas da Bahia e do Amapá. Em 2023, primeiro ano da gestão Raquel Lyra (PSDB), foram 3.638 mortes violentas em 2023. Na contramão da tendência nacional, o Estado teve 211 assassinatos a mais do que em 2022, último ano de Paulo Câmara. A taxa é de 40,6 para cada 100 mil habitantes.

CURTAS

SEM ESTRESSE – O desfecho do acordo de João Campos com Lula na composição da chapa com Victor Marques (PCdoB) se deu sem traumas. Em nenhum momento, o petista criou qualquer constrangimento para João deixar de ter a sua liberdade na escolha do companheiro de chapa.

ENCONTRO – Tão logo Lula e João bateram o martelo do fechamento da chapa, os presidentes nacionais do PT e PSB, Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, respectivamente, tiveram uma longa conversa para discutir o pós-entendimento. E também detalhes do anúncio de Victor na segunda-feira.  

IRMÃO CANDIDATO – A família de Victor Marques tem ramificações políticas no Interior. Um irmão dele vai disputar a Prefeitura de São José do Belmonte, no Alto Sertão, com amplas chances de ser eleito.

Perguntar não ofende: Como se dará a reação do PT após o anúncio de Victor na segunda-feira?

Férias vapt-vupt dos congressistas  

A partir de hoje, deputados e senadores devem começar a esvaziar os corredores do Congresso Nacional, em Brasília, para aproveitar um “recesso informal” até o próximo dia 5. Largam o trabalho deixando paralisadas as votações de projetos importantes, como a regulamentação da reforma tributária.

Outras demandas políticas, no entanto, devem continuar trabalhando intensamente: é o caso das campanhas municipais e da “pré-campanha” pelas presidências da Câmara e do Senado. Pela Constituição, os parlamentares têm direito a dois recessos formais ao longo do ano, entre 23 de dezembro e 1º de fevereiro e entre 18 e 31 de julho, condicionado à aprovação conjunta do Congresso do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) — que orienta o Orçamento do ano seguinte.

Com frequência, nos últimos anos, o Congresso tem desrespeitado o pré-requisito para o recesso do meio do ano. Por isso, neste ano, será um recesso informal: nenhuma sessão é convocada, ninguém comparece, e tudo volta ao normal no começo de agosto. Desde 1989, o Congresso deixou de aprovar a LDO no prazo estabelecido pela Constituição em dez ocasiões.

Esta será a 11ª vez. Lideranças do Planalto já avaliam que, com otimismo, o texto somente deverá ser votado em setembro. Sem a aprovação das diretrizes do Orçamento do ano que vem, os parlamentares não poderão contar com uma das vantagens do recesso oficial: a suspensão dos prazos regimentais. Ou seja: o cronômetro das medidas provisórias e das urgências constitucionais enviadas pelo presidente Lula seguirá rodando.

REFORMA PREJUDICADA – Isso afetará, entre outros temas, a regulamentação da reforma tributária. O assunto ainda está sob urgência constitucional, que prevê um prazo para que as Casas votem um projeto sob pena de trancar a pauta. Segundo lideranças da Câmara, a Casa foi a primeira a se despedir dos trabalhos. Por acordo, já não houve sessões desde a última segunda-feira e haverá um calendário pré-definido de sessões entre agosto e setembro a fim de conciliar os trabalhos e os compromissos de deputados nas eleições municipais.

Regras para IA só em agosto Diversos outros assuntos pendentes e elencados pelos presidentes das duas Casas — deputado Arthur Lira (PP-AL) e senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) — como prioritários para este ano devem ficar somente para depois de agosto. Estão nessa lista, por exemplo, a segunda parte da regulamentação da reforma tributária e o projeto que cria regras para a inteligência artificial no Brasil.

Calendário especial – A retomada dos trabalhos no Congresso deve ocorrer somente a partir da segunda semana de agosto — em meio ao início da campanha eleitoral, marcado para o dia 16. Com pressão dos parlamentares para que os trabalhos legislativos não atrapalhem os compromissos de campanha, Câmara e Senado já definiram um calendário prévio de sessões. Do lado dos deputados, em reunião na última semana, os líderes definiram que, entre agosto e setembro, somente haverá votações entre 12 e 14 de agosto, entre 26 e 28 de agosto e entre 9 e 11 de setembro.

Alcolumbre de volta – Além dos compromissos nas eleições municipais, também a partir de agosto, as atenções dos congressistas passarão a estar voltadas à disputa pelas sucessões de Lira e Pacheco nos comandos da Câmara e do Senado. Arthur Lira e Rodrigo Pacheco vão se despedir dos cargos no início de 2025, com a eleição de novos presidentes para as duas Casas. Os senadores enfrentam um cenário mais pacificado. Ex-presidente da Casa, fiador da eleição de Pacheco à presidência e atual comandante da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o senador Davi Alcolumbre (União-AP) é quase uma unanimidade entre os colegas.

Indefinição na Câmara – Se de um lado há calmaria, do outro as articulações estão apenas começando. A Câmara reúne cinco principais pré-candidatos à cadeira de Lira e deverá assistir à consolidação de candidaturas ao longo de agosto. A principal expectativa está em torno do anúncio do atual presidente da Casa sobre a escolha do seu candidato à sucessão. Lideranças avaliam que o espólio de Arthur Lira pode auxiliar e impactar significativamente no resultado da disputa. Bem relacionado com todas as siglas e deputados de alto e baixo escalão, Lira se reelegeu com a maior votação da história da Casa (464 votos).

CURTAS

DOIS NOMES – Aliados de Lira sempre apontaram que há, por parte do deputado alagoano, uma predileção a Elmar Nascimento (União-BA). Nos últimos meses, porém, afirmam que o atual presidente deu sinalizações de que ainda não há decisão fechada — o que pode beneficiar um dos outros dois nomes que lideram as menções entre deputados: Marcos Pereira (Republicanos-SP) e Antonio Brito (PSD-BA).

DÍVIDAS – Em agosto, os líderes fecharam indicativo de que poderá ser analisada a proposta que cria um novo programa de financiamento da dívida dos estados com a União. Apresentado por Pacheco, o texto ficará para as sessões pré-definidas do próximo mês. A relatoria será de Davi Alcolumbre.

MUNICÍPIOS – Segundo o líder do PL, senador Carlos Portinho (RJ), em agosto também deverá ser votada a Proposta de Emenda à Constituição que pode aliviar as contas das prefeituras. O texto é relatado por Portinho, que ainda negocia mudanças junto ao Ministério da Fazenda.

Perguntar não ofende: Com o esquentar da campanha a partir de agosto, o Congresso vai ficar às moscas?

Pimentel, a nova vítima de Raquel  

Ao tentar se manter no poder em Araripina, a capital do Araripe, a 682 km do Recife, depois de oito anos como prefeito, na tentativa de dar as regras do jogo eleitoral nas eleições de outubro, Raimundo Pimentel, hoje sem partido, depois de abandonar o União Brasil e se filiar ao PDT, só sentiu o baque, ontem, ao perceber que entrou numa grande fria apostando na governadora Raquel Lyra (PSDB) como fiel depositária dos seus interesses.

Raquel deixou o aliado Pimentel sem lenço e sem documento, como diz a canção de Caetano Veloso. Numa entrevista recente em Araripina, o prefeito disse que as questões relacionadas ao PDT, rachado literalmente ao meio em seu município, não eram da alçada dele. “Isso é um problema da governadora, não é meu”, disse Pimentel. O desabafo se deu quando o vice-prefeito Evilásio Mateus, descartado por Pimentel, abriu uma dissidência no PDT e criou as condições para um bate-chapa na convenção com a então candidata oficial, a ex-secretária de Educação, Ana Paula Ramos.

Naquele momento, Pimentel tinha certeza de que ganharia a convenção porque a governadora havia dito a ele que tinha pleno controle do PDT. Tudo mentira! Tudo história de trancoso. Pimentel só caiu na real ontem, quando tomou conhecimento de que o seu algoz Evilásio Mateus havia dado a volta por cima e conseguido mudar as regras do jogo da convenção do PDT, via a executiva nacional.

Ao acusar o golpe, o prefeito riscou Ana Paulo Ramos do seu caderno e anunciou como candidata do seu grupo a vereadora Camila Modesto, filiada ao Podemos. Em português claro, Pimentel virou, na prática, a mais nova vítima da governadora Raquel Lyra. Achou que por ela ser a chefe do Estado, a superpoderosa, o PDT não escaparia das suas mãos. Deu-se mal e teve que pedir arrego ao ex-deputado Ricardo Teobaldo, presidente estadual licenciado do Podemos, mas que continua com o poder nas mãos, a palavra final com relação ao controle do partido em todos os municípios.

Embora seja um gestor bem aprovado e casado com uma deputada estadual, Pimentel sai deste episódio como um anão, perdendo a batalha para o seu vice, porque confiou numa governadora sem liderança. Existe uma deformação lastimável na consciência política dos líderes em geral: adoram ser enganados.

Pimentel foi mais um!

INDEPENDÊNCIA NA ALEPE – Depois do grande desapontamento com a governadora Raquel Lyra, o que se comenta em Araripina é que a deputada Socorro Pimentel (UB), esposa do prefeito, passará a ter uma postura de independência na Assembleia Legislativa. Seria uma forma de dar o troco à tucana por tudo que aconteceu em seu município, onde não teve força nem disposição para deixar o PDT nas mãos de Pimentel. A Pimentel, Raquel garantiu que tinha o aval do presidente nacional, Carlos Lupi, a quem entregou de mãos beijadas uma secretaria em sua gestão.

Evilásio x Roberta – Se Camila Modesto, a pré-candidata de Raimundo Pimentel em Araripina filiada ao Podemos, não decolar, a eleição para prefeito no município tende a ser polarizada entre o pré-candidato do PDT, Evilásio Mateus, preterido pelo prefeito, e a pré-candidata do PP, deputada Roberta Arraes, esposa do ex-prefeito Alexandre Arraes. Se isso ocorrer de fato, seria a primeira vez que um prefeito com o domínio absoluto da máquina estaria fora do jogo em Araripina.

Acusou o golpe – Ao acusar o golpe pela perda do controle do PDT em Araripina para o seu vice Evilásio Mateus, o prefeito Raimundo Pimentel, soltando labaredas pelas ventas, foi às redes sociais e acusou o golpe afirmando: “O golpe que foi ardilosamente e covardemente tramado foi consumado, mas a história e a vida não perdoam os traidores e os canalhas. O povo de Araripina jamais permitirá que nossa cidade caia de novo nas mãos sujas dos corruptos e vendilhões! A resposta virá nas urnas e, com certeza, os nossos oito anos de trabalho digno em benefício do nosso povo serão honrados”.

Fora da chapa – Vereador por três mandatos e principal nome do PSB em Camaragibe, Paulo Andre (PSB) não aceitou ser o vice na chapa do pré-candidato a prefeito do município pelo Republicanos, Diego Cabral. “Não há chance alguma para que eu seja vice em qualquer chapa. Meu compromisso segue sendo com a população. Vou continuar trabalhando arduamente para representar cada um dos cidadãos de Camaragibe. Meu compromisso com a cidade e com nosso povo é inabalável”, afirmou, ao se pronunciar sobre as especulações que apontavam como certo na chapa de Cabral.

Anderson, o vice de Rodrigo – Em Caruaru, o desfecho do fechamento da chapa do prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) está por um triz. Como no Recife, onde João Campos deve anunciar uma pessoa bem próxima e da sua confiança, na capital do Agreste, Pinheiro vai no mesmo rumo, porque estaria com projeto de disputar um mandato de deputado federal nas eleições de 2026. O nome mais cotado é o do assessor especial Anderson Luiz.

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EM GREVE – Os servidores do INSS entraram em greve, ontem, por tempo indeterminado. Entre as reivindicações da categoria, a recomposição de perdas salariais, valorização profissional e melhores condições de trabalho. A paralisação foi aprovada em plenária convocada pela Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps).

SEBÁ BANCOU– Conforme a prefeita e candidata à reeleição em Serra Talhada, Márcia Conrado, já tinha adiantado, o seu vice Faeca Melo, do Avante, foi uma indicação do presidente estadual da legenda, ex-deputado federal Sebastião Oliveira, mais conhecido por Sebá.

CANDIDATO – O ex-presidente da Câmara de Vereadores de Olinda, André Avelar, confirmou que teve, ontem, uma longa conversa com o pré-candidato do PRTB a prefeito de Olinda, Antônio Campos, mas em nenhum momento bateu o martelo de que seria o vice dele. “Sou candidato a prefeito pelo PMN”, garantiu.

Perguntar não ofende: Os deputados votam de imediato os projetos da convocação extraordinária ou só em agosto?

Aval da Alepe e cobrança dos gastos  

Sem estresse, a governadora Raquel Lyra (PSDB) assistiu, ontem, a Assembleia Legislativa aprovar, por 28 votos, quando eram necessários apenas 25, o período de convocação extraordinária para apreciação e votação de sete projetos em caráter emergencial. Tudo porque, por falta de diálogo, não entrou na pauta do primeiro semestre.

Os parlamentares atenderam ao chamado do presidente Álvaro Porto (PSDB) e dos líderes das bancadas. Apesar da convocação no período de recesso parlamentar, há uma expectativa de que todos os projetos sejam aprovados somente em agosto porque não haverá urgência.

Dentre os projetos, dois pedem autorização da Alepe para a contratação de operações de crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com o Banco Internacional para Reconstrução do Desenvolvimento (BID), de R$ 652 milhões e US$ 275 milhões, respectivamente.

Segundo o Governo, são destinados a obras de infraestrutura, execução do Sertão Vivo e reestruturação do serviço da dívida com taxas de juros mais benéficas aos cofres estaduais. O projeto Sertão Vivo, por exemplo, já foi aprovado pelo BNDES e aguarda a votação do projeto para sua implantação, que vai garantir a instalação de sistemas de produção resilientes ao clima.

A oposição avisou que pretende ter acesso a todas as informações, principalmente, a respeito das propostas referentes a empréstimos. Outra polêmica se dá em relação à adesão de Pernambuco ao Plano de Equilíbrio Fiscal (PEF). Servidores estaduais avaliam que há risco de perdas de direitos, mas o Governo assegura que isso não acontecerá.

Para o deputado Waldemar Borges, da bancada do PSB, para o Governo convencer a aprovar um novo empréstimo, tem que demonstrar que tem plena e eficaz autonomia de gasto, porque, dos empréstimos anteriores, já na gestão de Raquel, pouco mais de R$ 3 bilhões, apenas 1 bilhão foi investido, faltando, portanto, mais de R$ 2 bilhões. “Onde está esse dinheiro e como se dará o seu uso?”, questiona.

DE ÚLTIMA HORA – Lá atrás, dos sete projetos enviados pela governadora, cinco chegaram à Assembleia Legislativa nas vésperas do recesso e a tramitação foi suspensa na primeira reunião da Comissão de Constituição, Legislação e Justiça (CCLJ) porque a oposição estava em maioria. Com as alterações feitas na bancada do PL, a ala do Governo voltou a ter mais deputados no colegiado. Outros dois projetos foram enviados junto com a solicitação da convocação extraordinária.

União intervém em Araripina – A direção nacional do União Brasil interveio no diretório municipal de Araripina e deu poderes para o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, na condição de interventor. Com isso, cai por terra o poder que o prefeito Raimundo Pimentel tinha no controle da legenda em Araripina, a qual estava filiado e se afastou. O UB passa, também, a apoiar a pré-candidatura do vice-prefeito Evilásio Mateus. Filiado ao PDT, Evilásio vai bater chapa na convenção com a pré-candidata Ana Paula Ramos, nome apoiado por Pimentel.

De onde partiu – A direção nacional do União Brasil atendeu a um pedido do deputado federal Fernando Bezerra Filho, que usou como pretexto a desfiliação do prefeito Raimundo Pimentel e seu ingresso imediato no PDT. “O partido agora está livre para apoiar e se coligar com quem quiser em Araripina”, disse o parlamentar, confirmando em seguida que seu irmão, o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, aceitou de imediato cumprir o papel de interventor.

Secretários detalham projetos – Convocados pela oposição, três secretários do Governo Raquel Lyra participam, amanhã, de uma audiência pública na Assembleia Legislativa para explicar os pontos obscuros dos sete projetos enviados para discussão e votação no período de convocação extraordinária. Estarão por lá Fabrício Marques, do Planejamento, Wilson de Paula, da Fazenda, e Ana Maraíza, da Administração.

Aval para eleger sucessor – O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse, ontem, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lhe deu o “direito” de fazer ou tentar fazer o seu sucessor no comando da Casa. A troca de presidente será em fevereiro de 2025. “Minha conversa com o presidente Lula sempre foi muito clara. Em todas as conversas, ele disse que eu teria o direito de fazer ou tentar fazer o sucessor como ele quer fazer dele quando deixar a Presidência. Então, esse é um direito de quem está, de quem conduz”, disse Lira, em entrevista à CNN Brasil.

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EMENDAS 1 – O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse, ontem, que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pagou R$ 30 bilhões em emendas parlamentares antes do recesso legislativo. Segundo ele, foram R$ 34 bilhões empenhados e R$ 30 bilhões pagos.

EMENDAS 2“O governo conseguiu empenhar mais de R$ 34 bilhões. Pagou cerca de R$ 30 bilhões. É o recorde de empenho e pagamento de emendas parlamentares no prazo de até 5 de julho, superando em quase R$ 10 bilhões o calendário inicial que havia sido acordado com o Congresso Nacional”, disse Padilha.

ARACAJU – Das dez capitais brasileiras com melhor qualidade de vida, só uma do Nordeste aparece na lista: Aracaju. Ela se destacou num levantamento nacional divulgado pelo jornal O Estado de São Paulo. É a capital também do menor Estado nordestino em área territorial.

Perguntar não ofende: Com mais um pedido de empréstimo, a governadora vai estrangular o limite permitido por lei?

Um festival para chamar de seu

A governadora Raquel Lyra (PSDB) criou um festival para chamar de seu, como na canção “Mesmo que seja eu”, de Erasmo Carlos. Trata-se do duvidoso batismo de “Pernambuco Meu País”, cuja primeira etapa teve como cenário Taquaritinga do Norte, no último fim de semana.

Na verdade, é uma réplica mal copiada do Festival de Inverno criado pelo ex-governador Joaquim Francisco, em 1991, por sugestão de Marcílio Reinaux, de Garanhuns, por onde tudo começou tendo Jarbas Vasconcelos estendido a outras cidades com o batismo de Circuito do Frio. Envolveu mais outras cidades frias entre junho e julho, como Triunfo e a própria Taquaritinga.

Ambas concebidas dentro de uma visão de gestão pública para valorizar as cidades interioranas e movimentar a economia. Já a ideia de Raquel extrapola essa lógica, está além disso. É fruto do seu nariz enviesado e da sua forma de fazer política com o fígado. “Pernambuco meu País” foi criado para concorrer com o Festival de Inverno de Garanhuns, depois da briga dela com o prefeito Sivaldo Albino (PSB).

Até o mais ignorante e analfabeto político já entendeu assim. No ano passado, o Governo de Raquel tentou tirar os holofotes da Prefeitura de Garanhuns, parceira do Estado no Festival de Inverno desde a sua criação, em 91. Ignorou o prefeito, escolheu as atrações à sua revelia e, não se dando por satisfeita, ameaçou com um festival paralelo ao longo deste ano, o que realmente se concretizou.

Com um mês inteiro para fazer o festival que ela chamou de seu, deu a largada por Taquaritinga justamente na mesma data de Garanhuns. Transformou um evento, que seria para dar alegria ao povo, numa birra política. Tanto que políticos ligados à governadora, tradicionalmente e historicamente vistos no Festival de Inverno de Garanhuns, por lá não deram as caras, com receio de que suas presenças fossem interpretadas pela governadora como uma escolha de lado político.

Que horror! Nunca dantes na história de Pernambuco! Gestão não se faz com perseguições, picuinhas, pequenez, festas populares e canções. Também não se faz com sangue e ferro. Se faz com grandeza. Gestão é filha da política e a política, universalmente, é a ciência da liberdade.

Os excluídos – Ao invés de cuidar de festa, a governadora Raquel Lyra (PSDB) deveria olhar para o social, para quem mais precisa de governo e dar um puxão de orelha no secretário da Fazenda, Wilson de Paula, importado de fora, como a maioria do seu primeiro escalão, que excluiu 600 mil pessoas do auxílio do 13º salário pago pelo Estado no programa Bolsa Família, sob a alegação de ter feito um pente fino. O que dirão os que vão ficar sem esse extra?

Pequenez de alma – Se a governadora só deu uma nota insossa e sem emoção sobre a morte da viúva de Miguel Arraes, três vezes ex-primeira-dama do Estado, a vice-governadora Priscila Krause (Cidadania) fez pior: ignorou completamente a Dama da História, como assim ficou conhecida dona Mada, não registrando sequer um lamento de solidariedade pelas redes sociais. A grandeza ou pequenez do indivíduo, já li em algum lugar, deve ser medida pela grandeza ou pequenez da sua alma.

Estudantes abandonados – A Casa do Estudante de Pernambuco foi abandonada pelo Governo Raquel. Está há três meses sem receber os recursos que o Estado sempre repassou e que são usados pela instituição na alimentação dos estudantes, assistência odontológica e psicológica. “Muitos não têm condições de se manterem aqui. O ticket alimentação é o que mais impacta o dia a dia da gente. Quem estuda sabe que precisamos ganhar tempo, e sem o ticket fica complicado até para preparar as refeições. Nós compramos, temos que cozinhar em casa, mas não temos fogão a gás, tudo é feito na resistência elétrica e demora muito. E isso atrapalha muito o desempenho na rotina”, explicou um dos estudantes.

Defasagem orçamentária – O presidente da Casa do Estudante, João Novaes, revela que há uma defasagem muito grande no orçamento destinado à entidade. “A justificativa do governo estadual para o atraso nos repasses é que houve problemas burocráticos internos da própria Secretaria de Educação e Esportes. Uma das nossas principais reivindicações é o reajuste considerável do valor do contrato, que está defasado há anos. O valor ideal para custeio, considerando o valor de mercado, seria de quase R$ 5 milhões”, disse.

Atirador eleitor de Trump – Autoridades norte-americanas afirmaram que o homem que atirou no ex-presidente Donald Trump durante um comício na Pensilvânia, nos Estados Unidos (EUA), na tarde do último sábado, era um eleitor do Partido Republicano, da mesma sigla do candidato. Ele, porém, já doou dinheiro aos democratas, segundo informações da CNN Internacional. Identificado como Thomas Matthew Crooks, o atirador, de 20 anos, tinha registro de eleitor como republicano, de acordo com informações presentes no banco de dados de eleitores da Pensilvânia. Os dados batem com o nome, idade e endereço dele.

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DEUS EVITOU – O ex-presidente Donald Trump afirmou, em nota, que “Deus evitou que o impensável acontecesse”. A declaração ocorreu após um homem armado atirar contra o candidato republicano em um comício na Pensilvânia, nos Estados Unidos (EUA).

REPÚDIO – O presidente Lula, ao ser informado do atentado nos Estados Unidos, assim reagiu pelas redes sociais: “O atentado contra o ex-presidente Donald Trump deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política”.

COMPARAÇÃO – Já o deputado federal André Janones (Avante-MG) comparou o ataque a tiros sofrido pelo ex-presidente Trump com a facada em Bolsonaro. “Agora sabemos o que o miliciano foi fazer nos EUA assim que deixou a presidência. É a ‘fakeada’ fazendo escola”, escreveu.

Perguntar não ofende: Se for colocada em votação hoje, os deputados aprovam a convocação extraordinária em plena véspera de feriado?

Raquel escorregou na grandeza

Jorge Luis Borges foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino de muito sucesso, até morrer em 1986. Suas obras abrangem o caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura. Sua progressiva cegueira ajudou-o a criar novos símbolos literários por meio da imaginação, já que os poetas, como os cegos, podem ver no escuro.

É dele a frase “São poucos os políticos que sabem fazer política”. Com a chegada de Raquel Lyra ao poder estadual, o que se viu em Caruaru, seu laboratório em gestão pública como prefeita, se reproduz de forma mais drástica no Estado como governadora: a inabilidade para a arte da política. Com a morte de Magdalena Arraes, a Dama da História, conforme atesta o livro de Lailson de Holanda e Valda Colares, Raquel deu mais um atestado da sua burrice política.

De um episódio triste, a morte da viúva de Miguel Arraes, três vezes primeira-dama do Estado, casada com um político de projeção internacional, conquistada no seu exílio na África e forte inserção na França, Raquel deveria ter oferecido à família os salões do Palácio do Campo das Princesas para o velório. Com o gesto da mão estendida, teria dado uma lição de grandeza ao País, de inconteste desprendimento político, de alguém que não faz política com fígado, mas com postura de estadista.  

Mas não. Fez tudo errado, do começo ao fim. Só decretou luto oficial já no cair da tarde, mesmo sabendo da morte de Mada, como era conhecida a viúva de Arraes, ao raiar do dia. Postou uma nota insossa e sem emoção em suas redes sociais e, por fim, cometeu a indelicadeza de não passar no velório para confortar a família enlutada.

A política é magia e Raquel não sabe disso. É mágica a quem, diferente dela, sabe invocar os poderes a que eles se curvam e obedecem. Demóstenes dizia ser necessário e imprescindível que os princípios de um gesto político fossem baseados na justiça e na verdade. Se tivesse dado o tratamento que a história de Magdalena impunha, a governadora teria sido justa.

Se tivesse ligado para a família e oferecido o Palácio teria sido, igualmente, verdadeira. Em O Príncipe, Maquiavel aconselhou que o grande líder deve estar acima das leis que regem a corte ou o Estado, por um motivo simples: a posição que ele ocupa, no topo da pirâmide hierárquica, o obriga a tomar decisões que vão além da tradição moral ou ética predominante.

Já o príncipe virtuoso, ensinava ele, deve privar pela qualidade na governança, agir sem interesses próprios, construir a harmonia e a paz.

A CANÇÃO DO AMOR – A família Arraes viveu um momento de muita emoção, ontem, no enterro da Dama da História, no cemitério de Santo Amaro. Antes de o caixão descer à sepultura, filhos, netos e bisnetos cantaram a música preferida de Magdalena Arraes: La Vie em rose, da cantora e compositora Edith Piaf. A expressão, em tradução para o português, significa ‘A vida em cor-de-rosa’. É usada para representar a visão da pessoa apaixonada pela vida, como era Mada: tudo fica mais colorido – ou cor de rosa. Então, La Vie En Rose é definitivamente uma canção de amor.

A única coisa capaz de colorir a vida – Entre um de seus legados, em 1945, Piaf escreveu uma de suas primeiras canções: La Vie EN Rose, a canção mais célebre dela e seu grande clássico, que a consagrou mundialmente. Depois de tanto sofrimento em vida, Édith ainda conseguiu transmitir o que há de mais belo na vida: o amor! Na época em que a música foi escrita, a Segunda Guerra Mundial tinha acabado de passar. Inúmeras pessoas haviam perdido amigos e familiares e esperaram reencontrar os entes queridos. Por isso, a sensação enérgica de romantismo que a música transmite, representava o sentimento que os casais estavam sentindo naquele momento, de que o amor era a única coisa capaz de colorir a vida – deixá-la em cor-de-rosa.

Uma força interior incomparável – Entre os depoimentos mais emocionantes que se ouviu, ontem, no adeus a Magdalena Arraes foi o do seu enteado Lula Arraes: “Ela tinha o que se chama de uma força tranquila, ela tinha uma força interior que era muito forte, que nos protegia, nos amparava. Ela conheceu meu pai, um homem com oito filhos, teve mais dois filhos. Recriou essa família de 10 filhos com muita harmonia e muito carinho. Soube ser a grande companheira do meu pai nas horas difíceis, nas horas menos difíceis”, destacou Lula, sem conseguir segurar as lágrimas.

Ato contra Lula – A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) publicou um vídeo em suas redes sociais convocando para um ato contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em São Paulo. A manifestação está prevista para amanhã, às 14 horas, com concentração em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo). É organizada pelo Movimento Liberdade. “Um dia que vai ficar marcado na memória da busca pela democracia, pela redemocratização do nosso país. Essa democracia jovem, mas que já foi perdida algumas vezes e dessa vez parece que se não lutarmos com muita força, vai ser perdida de uma vez por todas”, declarou.

O gesto do pai da governadora – Pai da governadora Raquel Lyra, o ex-governador João Lyra Neto fez questão de ir ao velório, ontem, em Santo Amaro, de Magdalena Arraes. Emocionado, fez uma fala destacando os momentos que conviveu com ela, ao lado de Miguel Arraes, seja como prefeito de Caruaru, vice-governador de Eduardo Campos e depois governador em mandato tampão de nove meses. “Foi uma grande mulher, uma mulher de história e de grandes serviços prestados a Pernambuco”, afirmou em entrevistas aos jornalistas que cobriram os funerais.

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INVESTIGADO – A Polícia Civil solicitou mais 90 dias para investigar o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), por tentativa de homicídio privilegiado. O inquérito policial apura a responsabilidade de Marçal por liderar um grupo de 32 pessoas em uma escalada, sem equipamentos e durante um vendaval, do Pico dos Marins em janeiro de 2022.

O CASO – Na ocasião da escalada, diversas pessoas do grupo liderado por Marçal passaram mal. Os integrantes da excursão precisaram ser resgatados pelo Corpo de Bombeiros. O pré-candidato, que à época era coach e cobrava R$ 3 mil pelo treinamento na montanha, nega sua responsabilidade.

PL JOVEM – deputado federal mais votado do País nas eleições passadas, o mineiro Nikolas Ferreira (PL) será a principal estrela, hoje, no Recife, do encontro do PL Jovem, evento programado pela manhã no Clube Internacional. Também estarão presentes Gilson Machado, deputado federal Pastor Eurico e os deputados estaduais Abimael Santos e Alberto Feitosa, além do presidente estadual, Anderson Ferreira.

Perguntar não ofende: Raquel vai conseguir quórum na Alepe para aprovar a convocação extraordinária? 

Montanhas, pedras e flores

Ao saber, ontem, e postar em primeira mão neste blog, logo cedo, a morte de dona Magdalena Arraes, aos 95 anos, viúva do ex-governador Miguel Arraes, primeira-dama mais longeva do Estado, três mandatos conferidos pelo povo pernambucano ao seu marido, fiquei a matutar. O que escrever sobre a Dama da História, como a carimbou para a eternidade o jornalista e chargista Lailson de Holanda em seu livro em parceria com a historiadora Valda Colares?

Ela viu a França vencer o nazismo estrutural, escreveu, comovido, o publicitário baiano, meu amigo Edson Barbosa, que conviveu de perto com o neto dela, o ex-governador Eduardo Campos. Eu digo mais: dona Magdalena era como Cora Coralina, uma mulher a quem o tempo muito ensinou. Ensinou a amar a vida e não desistir da luta, nem mesmo quando Miguel Arraes foi golpeado pelos militares, exilando-se na Argélia.

Como Cora, ela recomeçou na derrota, renunciando às palavras e pensamentos negativos. Acreditou nos valores humanos de forma tão intensa, numa paixão tão avassaladora por Arraes, que foi mais do que madrasta dos oito filhos que já encontrou em seu novo lar, em razão da viuvez do amor da sua vida, que conheceu num outono da romântica e aconchegante Paris.

Não convivi com Magdalena, mas de tão guerreira, passou a impressão de ter sido um espelho aos homens, por possuir o poder mágico e delicioso de refletir uma imagem do homem duas vezes maior que o natural. Sua família – filhos, enteados, netos e bisnetos – poderia escrever na lápide dela: “Eu fui aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores”.

A frase, poética, também é de Cora Coralina, mas acho que a poetisa goiana escreveu por linhas tortas em homenagem à Dama da História pernambucana. As lutas e pedras removidas por Dona Magdalena Arraes nos servem de lições para o resto da vida, nos ajudam a aprender a viver.

Prêmio Nobel da Paz por seu serviço aos pobres, Madre Teresa de Calcutá, albanesa naturalizada indiana, fundadora da congregação das Missionárias da Caridade, tornou-se conhecida ainda em vida pelo codinome de “Santa das Sarjetas”. Ela ensinou que ser mulher é acreditar sempre. Dona Magdalena se inspirava em Madre Teresa.

Como ela, seguiu em frente quando todos pararam. Acariciou oito filhos adotados e deu colo a mais dois filhos legítimos com Arraes. Dividiu-se em muitas, sem deixar de ser uma. Foi uma mulher encantadora. Nasceu forte, floresceu guerreira, cuidou, criou, sentiu, beijou, escutou, brincou com a vida. Foi uma mulher que respeitou seus próprios limites sem se sufocar.

PAIXÃO AVASSALADORA – Num belo depoimento postado, ontem, neste blog, o jornalista Ítalo Rocha, contemporâneo de faculdade e assessor de Imprensa de Miguel Arraes, contou que dona Magdalena conheceu Arraes, o grande amor da sua vida, na casa de Violeta Arraes, irmã do ex-governador, em Paris, na França, ele na condição de prefeito do Recife. A paixão foi tão avassaladora que um ano depois se casaram e constituíram uma linda família, de dez filhos, sendo oito adotados pela Dama da História.

A mulher que dobrava Arraes – Magdalena Arraes exerceu uma forte influência sobre Arraes em todas as fases da sua vida pública, principalmente no momento mais difícil, a cassação do seu mandato de governador em 1964 pelo regime de exceção. Discreta, dava opiniões nas campanhas de Arraes nas horas certas e sabia como ninguém o interpretar até pelo olhar. “Poucas pessoas fizeram tão bem ao mundo quanto ela fez. À frente do seu tempo, corajosa, de uma generosidade e um senso de justiça imensos”, escreveu sua neta, Marília, nas redes sociais.

O lamento de Lula – Apesar da morte de Magdalena Arraes ter repercutido no País e até no exterior, a governadora Raquel Lyra (PSDB) só decretou luto oficial no final do dia. Apenas lamentou pelas redes sociais. Já o presidente Lula mandou uma mensagem à família, ressaltando que ela deixou um legado de compromisso social e um caminho trilhado por sua inspiradora generosidade. “Nesse momento de despedida, meus sentimentos aos familiares, em especial aos filhos, netos e bisnetos e aos muitos amigos e admiradores de Dona Magdalena”, escreveu o chefe da Nação.

Trajetória, filhos e netos – Quando Magdalena conheceu Miguel Arraes, no começo dos anos 1960, ele já era viúvo e tinha oito filhos da primeira esposa, Célia Arraes, todos menores de idade. No relacionamento com Miguel, teve ainda mais dois filhos: Mariana e Pedro. Magdalena era avó das deputadas Marília Arraes, Maria Arraes, do advogado Antônio Campos e bisavó do prefeito do Recife, João Campos, e do deputado Pedro Campos. Enquanto primeira-dama de Pernambuco, nos três mandatos de Arraes, presidiu a extinta Cruzada de Ação Social e se destacou no trabalho em projetos do Governo estadual voltado para a população mais necessitada.

O choro do bisneto – Emocionado, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), prestou a última homenagem a sua bisavó Magdalena Arraes com o seguinte depoimento: “Hoje, é um daqueles dias difíceis. Me despedir da minha bisavó Magdalena aperta o peito e nos faz lembrar de tanta coisa, de tanto exemplo, do tanto que nos ensinou. Ela sempre foi um pilar de força em nossa família, uma mulher altiva, sensível e firme, sobretudo nos momentos mais difíceis. Liderou processos e inspirou transformações que até hoje nos influenciam. Neste momento de luto, nos unimos em lembrança e gratidão por tudo que ela representou e nos ensinou. Que Deus possa realizar o seu reencontro com o meu bisavô Miguel Arraes no céu”.

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DESPEDIDA – Embora Magdalena Arraes tenha morrido, ontem, pela madrugada, a família resolveu só fazer os funerais hoje. O velório começa às 8 horas, na capela do cemitério de Santa Amaro, onde o corpo será sepultado às 11 horas, no mesmo jazigo de Miguel Arraes.

INSTITUTO – A viúva de Arraes sofria do Mal de Alzheimer há mais de dez anos, tendo seu estado de saúde se complicado nos últimos seis meses. Segundo familiares, nos últimos dias estava em estado vegetativo. Em vida, entretanto, foi ativa até quando passou dos 80 anos. Foi dela a iniciativa da criação do Instituto Miguel Arraes.

POLIGLOTA – Maria Magdalena Fiúza Arraes de Alencar nasceu em Fortaleza no dia 14 de dezembro de 1928. Aos oito anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e lá cursou letras na então Universidade Católica Brasileira. Ela era especializada em latim e foi professora do idioma na capital fluminense. Também se especializou em grego e português.

Perguntar não ofende: Por que a governadora demorou tanto a decretar luto oficial pela morte de Magdalena?