Cobradores de imposto não fazem revolução

Por Marcelo Tognozzi*

Joaquim Silvério era um homem pequeno, cabelos precocemente brancos, vaidoso dentro do seu uniforme de coronel comandante do Regimento de Cavalaria Auxiliar da Borda do Campo. Um portuguesinho arrogante, dono de terras, minas de ouro e fiel aos seus princípios de colonizador. 

Naqueles idos de 1789, Joaquim Silvério, 33 anos, estava em plena ascensão social e era casado com Bernardina Quitéria de Oliveira Belo, que mais tarde se tornaria tia do Duque de Caxias e do Conde de Tocantins, ambos da família Alves de Lima e Silva.

Era um sábado em Vila Rica. Dia 11 de abril, consagrado a São Estanislau. Joaquim Silvério terminou o almoço. Serviu-se de uma generosa dose de vinho do porto, então uma novidade doce e relaxante. Molhou a pena no tinteiro e começou a escrever uma carta ao marquês de Barbacena, Felisberto Caldeira Brandt, contando em detalhes o planejamento da revolta de Minas Gerais contra a cobrança excessiva de impostos, a tal da derrama. Em troca da denúncia, pedia recompensas. 

Barbacena tomou providências. Afinal, não seria meia dúzia de poetas e vagabundos, uns traidores, uma ameaça ao reino da rainha Maria 1ª, a “louca” –que, reza a lenda, era totalmente banguela e mandara fazer uma espécie de dentadura com pérolas no lugar dos dentes. José de Seabra da Silva, secretário de Estado de Sua Majestade, deu todo o apoio necessário ao marquês.

Portugal naquele tempo era governado pela voracidade. Dono da mais rica colônia da América, o projeto da coroa não era outro: gastar, gastar e gastar. O açúcar, o ouro, pedras preciosas, madeiras e especiarias do Brasil financiavam a paquidérmica máquina pública de Pombal, além de bancar outras colônias na África e Ásia. A lei das ordenações joaninas era dura, vigorava desde 1727 e tratava negros e traidores como se animais fossem.

Assim, em 10 de maio, 1 mês depois de receber a carta de Joaquim Silvério, Barbacena comemorou a prisão de outro Joaquim, o José, alferes das tropas da capitania de Minas Gerais, dentista conhecido como Tiradentes. A revolta, marcada para o dia da derrama, foi sufocada. A Coroa Portuguesa vencera pela força. Dentre todos, somente Joaquim José foi condenado à morte por enforcamento. Para os demais, o exílio ou o cárcere. Recompensado, Joaquim Silvério subiu na vida.

A história de Joaquim dedo-duro e Joaquim revolucionário se repetiria muitas vezes Brasil afora. Outra revolta contra aumento de impostos não pode ser contida e estourou 46 anos depois no Rio Grande do Sul. A Guerra dos Farrapos durou uma década e seu estopim foram as taxações escorchantes para o charque e o couro. O duque de Caxias, sobrinho da mulher de Joaquim Silvério, sufocou a rebelião depois de muito, muito trabalho. 

Outras revoltas estouraram. A Confederação do Equador (1824), liderada por Frei Caneca, também batizado Joaquim e igualmente à morte condenado; a Cabanagem, no Pará, que duraria 5 anos (1835–1840); a Sabinada, na Bahia (1837); a Revolução Liberal, em São Paulo (1842). Todas essas revoltas hasteavam a narrativa da liberdade e da autonomia, o que para bom entendedor significa menos impostos e mais riqueza no bolso de quem produz.

Aquele Brasil, como o de hoje, guarda a memória de um território retalhado em capitanias hereditárias, depois reagrupado em vice-reino e, finalmente, império zeloso da sua unidade e das suas rendas oriundas dos tributos. Esse zelo passou do Império para a República por osmose.

A sociedade evoluiu, deixamos de resolver as divergências na base do tiro e da guerra, mas continuamos tendo de pagar muito imposto em troca de cada vez menos serviços, como saúde, segurança pública e educação, as 3 coisas básicas na vida das pessoas.

Nesta semana, deputados se reuniram para decidir quais os itens da cesta básica pagariam impostos. O presidente Lula logo saiu dando declarações sobre a taxação da carne. 

No entendimento do presidente, carne de segunda, a mais consumida pelos pobres, deveria ser isenta de impostos, enquanto a carne de primeira, consumida pelos ricos, seria taxada sem dó. Aquela picanhazinha da campanha eleitoral vai ter de virar coxão mole. Me lembrei de uma amiga me ensinando a fazer bife à milanesa: “Você pega o contrafilé, bate até ele confessar que é filé. Quando ele confessar, você empana e frita”. Não importa a carne, importa é o imposto.

Quanto mais o governo Lula cobrar imposto –como fez com as blusinhas chinesas, paixão das mulheres e sobretudo de suas eleitoras das classes B e C– pior será, porque as pessoas dos anos 2020 não são as mesmas do início dos anos 2000. Elas querem seu imposto de volta na forma de serviços públicos decentes. Não querem dinheiro jogado fora com arroz importado quando aqui não falta arroz. 

Todo governo com goela grande, como esse que aí está, é um governo perdulário. Desperdiça e não dá retorno. Se mostra incapaz, por exemplo, de cuidar da população em situação de rua –236 mil almas pela contagem do governo. Eles são 0,1% da população. Se o governo não dá conta de resolver a vida de 0,1% dos brasileiros, que dirá dos outros 99,99%.

A agenda do governo tem sido imposto e mais imposto. Assim, vimos a ressurreição malandra em prol do Imposto Sindical, uma impostura total, o voto de qualidade do governo para derrubar as reclamações daqueles que pagaram demais e, gostemos ou não, teremos de trabalhar 5 meses por ano apenas para pagar impostos.

Quando há impostos demais e governo de menos, acontece o que estamos vendo na Europa, com a direita emergindo como principal força política numa França que cobrou impostos demais dos seus cidadãos e, em troca, transformou Paris num grande acampamento dos sem-teto. 

O Joaquim dedo-duro entregou o Joaquim revolucionário ao marquês de Barbacena no dia de são Estanislau. O santo e o Joaquim revolucionário tinham algo em comum: foram assassinados e seus corpos esquartejados. Joaquim Silvério prosperou e Barbacena virou um dos homens mais abastados do Brasil, depois de receber gorda comissão por empréstimo ao governo de D. Pedro 1º por ele negociado junto ao Banco Rothschild da Inglaterra. 

A história de Barbacena, Joaquim Silvério e Joaquim José é a prova de que os cobradores de impostos não fazem revolução. Lutam para deixar tudo como está, sem nunca sair da zona de conforto. Revoltas e revoluções são para os pagadores de impostos.

*Jornalista

No último dia para inaugurações de obras permitido aos gestores que vão disputar a reeleição, o prefeito de Afogados da Ingazeira, Sandrinho Palmeira (PSB), entrega hoje a obra de infraestrutura mais importante do seu governo: a ponte Antônio Mariano de Brito, investimento de R$ 4,2 milhões, ligando os bairros do São Francisco a São Cristovão.

Tirada do papel em tempo recorde, através de recursos próprios e uma emenda federal transferida pelo deputado Pedro Campos (PSB), a ponte tem mais de 100 metros de comprimento por 10 de largura, com pista de passeio de pedestre em ambos os lados.

Seu batismo com o nome de Antônio Mariano não poderia ter sido mais feliz. Antônio teve uma vida pública que se confundiu com a sua terra e o Pajeú. Atuou por mais de 40 anos, começando bem jovem, eleito o vereador mais votado do município. Fui aluno dele, ensinava História e OSPB, mas o que gostava mesmo estava longe da sala de aula: o exercício da política.

Era, literalmente, um animal político. Jeitoso, articulado, coração generoso, Antônio alicerçou sua trajetória na vida pública ao ser eleito prefeito de minha terra, pondo abaixo uma oligarquia que há mais de 20 anos reinava absoluta no município, liderada pelo ex-prefeito Zezé Rodrigues.

Pelos seus métodos nada convencionais, parecidos com a figura lendária do Coronel Chico Heráclio, de Limoeiro, Zezé era tão poderoso que elegia quem quisesse. Meu pai, Gastão Cerquinha, vereador por quatro mandatos e vice-prefeito, confiou nas promessas de Zezé que seria ungido por ele, após encerrado o mandato de vice do ex-prefeito João Alves Filho, mas teve a maior decepção da sua vida pública.

Foi traído. Zezé escolheu e elegeu o seu filho Silvério Brito, ainda estudante no Recife, prova de que mandava e desmandava. Por isso, ninguém acreditava na aventura de Antônio Mariano, que saiu como candidato de terceira via e venceu a eleição para prefeito em 1978 por apenas 37 votos de diferença.

Por conta de um casuísmo eleitoral no Congresso, a prorrogação de mandatos para a coincidência das eleições seguintes, ficou seis anos no poder. Em seguida, foi eleito deputado estadual e reeleito em três eleições seguidas para Assembleia Legislativa. Na Casa, foi primeiro-secretário e líder do Governo Joaquim Francisco.

Antônio era um homem generoso. O que lhe movia era o coração bondoso. Nunca perdeu uma eleição em quatro décadas na vida pública. Era um líder nato, virou, com o passar dos tempos, o “Trovão dó Pajeú. Fez a chamada política assistencialista, de dar tudo que estava ao seu alcance aos mais necessitados. Salvou muitas vidas, transportando para o Recife centenas de pessoas diagnosticadas com algum problema de saúde, estando prefeito ou deputado.

Nunca vi um político tão hábil. Para não escapar-lhe o voto, lia até mãos de eleitores, como me contou certa vez um prefeito que o apoiou em Ibimirim. Poeta, fazia discursos em versos, declamava poemas antológicos e contava causos dos cantadores mais afamados de São José do Egito, o reino encantado da poesia do repente, como Lourival Batista, Pinto do Monteiro, Cancão, João Paraibano, Sebastião Dias e Valdir Teles, com os quais conviveu.

Política é vocação, um exercício motivado por ideais. Aristotéles dizia que não é sempre a mesma coisa ser um bom homem e ser um bom cidadão. São raros os que unem essas duas coisas. Antônio foi assim. Teve seus pecados, como todo político, mas, para ele, a política não era a arte de dominar, mas de servir ao próximo.

Parafraseando um trecho do nosso hino nacional, “GIGANTE PELA PRÓPRIA NATUREZA…”, começo esse artigo destacando a figura do Prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, que é chamado de GIGANTE pelo seu povo. Rodrigo Pinheiro, no dia 02 de julho, apresentou em coletiva de imprensa os resultados do São João de Caruaru 2024.

São números expressivos, históricos e que nos enchem de orgulho em dizer que realizamos o mais seguro, Melhor e Maior São João da história de Caruaru desde que o Pátio de Eventos foi criado em 1995. É importante ressaltar que, para isso acontecer, é preciso fazer um mergulho na história do seu mandato nesses dois anos afrente da Prefeitura de Caruaru.

Rodrigo tem uma pegada diferenciada, diálogo constante com todos os setores da sociedade, organização, com metas e acompanhamentos de resultados. Lembro-me que quando terminou o São João de 2023, em julho, ele chamou uma reunião com todas as forças operativas de segurança: Polícia Militar de Pernambuco, Polícia Civil, PRF, Bombeiros, todos os Secretários Municipais, representantes da Área da Justiça, Órgãos Fiscalizadores, entre outras entidades para planejar o São João 2024.

Depois de muito ouvir, dialogar e construir novas formas de pensar os festejos em um grande festival, lançamos o edital de convocação cultural no dia 13 de dezembro – data que marca o nascimento do Rei do Baião, Luiz Gonzaga no dia nacional do forró. O Prefeito Rodrigo criou um tema para o São João 2024: A Evolução do Barro, com isso conseguiu atrair um número maior de investidores governamentais e privados. E a grande sacada cultural na criação de dois novos polos: polo dos bacamarteiros e o polo do pífano, Sebastião Biano. um respeito já mais visto por um gestor da cidade com a cultura popular.

Com os resultados colhidos do edital a construção da programação de todos os 27 polos de animação foi anunciada no dia 19 de março de 2024, fato acontecido pela primeira vez na história da cidade.

Essa decisão política fortaleceu o engajamento das empresas de turismos, rede hoteleira, a imprensa que se organizou e se planejou e vendeu seus pacotes, como o comercio em realizar novas contratações sabendo que os resultados seriam colhidos de forma programada. O São João na roça foi um sucesso, 60% de aumento de pessoas circulando em relação ao ano passado. Foram 13 comunidades que receberam 64 atrações culturais com 100% forró. Falando em São João na Roça, todos os artistas já receberam seus cachês. O Prefeito Rodrigo Pinheiro, já começou a programação dos pagamentos de todos os Trios Pé de Serra que se apresentaram no polo do Juarez Santiago.

E o que falar da satisfação dos nossos artistas locais, que vêm em uma escala de aumento real dos seus caches desde 2022, chegando em 2024 em 50%? Esse respeito com os artistas de Caruaru é uma das grandes marcas da sensibilidade e respeito aos nossos Mestres da cultura popular. Outro fato superimportante foi a antecipação e divulgação da data, local e horário das apresentações dos artistas nos polos de animação do Maior São João do Mundo, coisa que, em gestões passadas, eles ficavam sabendo dias antes de começar os festejos juninos, era uma falta de respeito com seu povo, vocês se lembram disso? Tempo de ansiedade e sofrimento…

Voltando aos tempos atuais da gestão de Rodrigo, o que falar dos números apresentados na coletiva de imprensa? Vamos a eles: mais de 4.249 horas de apresentação, 82% de forró tradicional, 1.398 atrações culturais, nas linguagens de música, dança, cultura popular, literatura, artes visuais, artes integradas, oficinas e cinema, entre outras, chegando à marca de 25.455 artistas envolvidos, sendo 21.147 de Caruaru, 88% do edital. Foram injetados R$ 688 milhões de reais, movimentados durante os 72 dias de festividades. Mais de 20 mil empregos foram gerados direta e indiretamente. Nesse contexto, houve aumento de mais de 60% nas vendas do comercio local em relação ao ano passado. Foram 260 câmeras de monitoramento instaladas entre os polos, o que significa 30% a mais em relação a 2023. Foram 315 ocorrências registradas, 46% a menos. 100% das ocorrências foram solucionas.

Na área da sustentabilidade tivemos o total 60,64 toneladas de material reciclado. Na saúde, 1.149 profissionais envolvidos com 05 ambulâncias distribuídas nos polos de animação, 1.925 atendimentos, 24% a menos que o ano 2023. Na feira da mulher empreendedora, mais de 90 mil reais faturados durante o período junino, além de mais de 15 mil materiais educativos entregues, oficinas e exposições na casa da mulher artesã no ALTO DO MOURA. A nossa Bebeteca foi um sucesso, atendendo 488 crianças. Também teve orientação e campanhas educativas no transito. 3,7 milhões de pessoas circularam por Caruaru com aprovação do nosso São João de 98%, aponta pesquisa realizada com muito critério pela SEDETEC, envolvendo o renomado economista, Pedro Neves.

A nossa cobertura midiática foi fantástica com os veículos de comunicação, milhares de matérias vinculadas nos canais abertos de TV do país como também no exterior, além de cobertura de rádios e blogs mostrando a beleza e o encanto da nossa festa. Uma das grandes marcas foi a cobertura da nossa PREF TV, algo surreal.

Parabéns a todos os profissionais envolvidos nessa cobertura. O apoio incondicional que o Prefeito ofertou a 60 comidas gigantes da cidade, aquecendo a economia dos bairros e da zona rural, o que também é motivo de aplausos.

Foi o São João mais seguro da história, sem registro de sinistro no período junino. Foram promovidas ações educativas e políticas de prevenção e atendimentos nas Secretarias FCC, SPM, SEDUC, SMS, AMTTC, SDSDH, URB, SEPLAG, SESP, SEFAZ, PROCOM, SECOP, SEGOV, entre outras pastas envolvidas.

O São João de Caruaru é multicultural. O respeito e a diversidade cultural são frutos desse resultado, estamos concorrendo a três premiações do programa São João 2024 e recebemos o convite para compartilhar nossas práticas junto ao Governo de Goiás, feito pelo governador Ronaldo Caiado.

Sou grato a Deus, sou o primeiro Presidente da FCC artista a assumir essa pasta, e essa alegria eu divido com todos os parceiros, apoiadores, patrocinadores e todos os servidores envolvidos.

Os resultados apresentados são frutos de muito diálogo, organização e planejamento sob o olhar atento do nosso gigante Perfeito Rodrigo Pinheiro, um verdadeiro gestor, um Maestro dessa orquestra de sucesso.
Prefeito Rodrigo Pinheiro, você entrou para a história da cidade, proporcionando sonhos para as pessoas no Maior São João da História.

Por Hérlon Cavalcanti, presidente da FCC e do Comitê Gestor do São João 2024

Após denúncia do pré-candidato a vereador, Carlos Pajeú, em um vídeo divulgado pelas redes sociais, a oposição de Trindade reacendeu o debate sobre o lixão. Na área, é possível ver montanhas de lixo acumulado, pondo abaixo o discurso da gestão municipal de que o problema já estaria resolvido.

O terreno havia sido apresentado como uma área limpa em um vídeo promocional da atual gestora, que garantiu a resolução definitiva do problema do lixão. Ainda no texto da publicação, feita em 6 de fevereiro de 2023, segundo o bloco de oposição, o terreno seria revitalizado com reflorestamento. Mas as imagens do local revelam uma realidade diferente, com resíduos expostos a céu aberto e com focos de queimadas, prática que contraria diversas normas ambientais.

Lixões são uma violação direta da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que estabelece diretrizes para a gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos, além de proibir a existência de lixões e determinar o encerramento dessas áreas. De acordo com a legislação, os municípios devem adotar medidas para a disposição final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, priorizando a reciclagem e o aterramento.

Já a queima dos resíduos, além de ser prejudicial ao meio ambiente, pode gerar graves problemas de saúde pública. A prática libera substâncias tóxicas no ar, contribuindo para a poluição atmosférica e causando doenças respiratórias na população local.

Tributação encerra inevitavelmente conflitos de interesses, reais ou potenciais, entre o estado, os entes federativos e os contribuintes. Os sistemas tributários são, por isso mesmo, muito sensíveis a mudanças disruptivas, que podem tensionar sua índole conflitiva. Reformá-los requer competência, parcimônia e transparência, em homenagem ao bom senso e aos requisitos republicanos de confiança e reciprocidade.
A índole demasiadamente analítica da Constituição de 1988 é uma boa explicação para nosso desproporcional contencioso (80 milhões de ações) e consequente insegurança jurídica.

A reforma tributária do consumo elevou o número de palavras do capítulo tributário da Constituição para 12.596 (a Constituição de 1967 e, na versão original, a de 1988 tinham respectivamente 2.414 e 5.071 palavras). Os dois primeiros projetos de sua regulamentação têm 696 artigos e mais 5 mil dispositivos, envolvendo conceitos com elevado potencial de controvérsias.

Não há surpresa, pois, nas intensas movimentações que ocorrem na apreciação dos projetos de regulamentação da reforma. Afinal, era uma temerária proposta de caráter disruptivo, que, entretanto, seria submetida ao escrutínio parlamentar, em um primeiro momento, e, em outro, à Justiça. Não era um édito imperial ou um ato institucional.

É legítima a ação de contribuintes que buscam escapar da alíquota maldita e do excêntrico imposto seletivo. Não se pode esquecer que a proposta de reforma recebeu um relevante financiamento de interessados, envolvendo peças publicitárias, estudos e simulações, sem falar de um promissor mercado futuro de consultorias e aplicativos.

Os conflitos, todavia, não se esgotam nos debates sobre os já encaminhados projetos de regulamentação. Ainda não se conhece, por exemplo, o projeto relativo ao financiamento e à partilha de fundos concebidos para cooptar Estados e Municípios. Provavelmente, ele irá pretextar uma batalha entre os entes federativos para abocanhar os nacos dos fundos, assim como uma reação dos contribuintes contrária ao aumento de tributos para prover seu financiamento. Tudo isso em um contexto de duvidoso equilíbrio fiscal.

Considerando que a reforma é um fato consumado, construído sem a observância do devido processo legislativo e às expensas de uma convincente liberação de emendas parlamentares e de pressões exercidas por poderosos lobbies, penso, sem reivindicar a titularidade da verdade, que resta tão somente fazer um controle de danos e, quem sabe, acreditar que dias melhores virão.

Por Everaldo Maciel, ex-secretário da Receita Federal

Ainda em Afogados da Ingazeira, em temporada sertaneja para meus filhos Magno Filho e João Pedro botarem o pé no chão seco, soltarem pipas e andarem descalços pelas ruas que andei, quando criança, me veio uma ideia, de falar na crônica de hoje sobre a fase dos mal-assombros, dos medos e dos fantasmas de garoto em minha terra natal.

Vivi meus anos dourados numa época em que televisão não se via no Sertão por falta de sinal, o que só se deu muito tempo depois com a chegada do Detelpe. Tempos também de escuridão: a energia, movida por um velho e barulhento motor, uma geringonça que não sei de onde veio, era desligada pontualmente às 21 horas.

Todos os dias, fizesse chuva ou sol. Só nos restavam a luz da lua e dos românticos lampiões. No meu grupo de amigos havia o intrépido Fernando Moraes, filho de seu Expedito da Miudeza, como era mais conhecido. Ele tinha uma terrível obsessão em nos pregar medo.

Contava que, após o apagão das 21 horas, um lobisomem surgiria, de repente, mais que de repente, para nos arrancar o fígado. Eu tremia de medo feito vara verde. Perdia noites de sono, achando que, na minha mais notável ingenuidade, seria atacado pelo bicho-papão na escuridão do meu quarto.

Certo dia, meu pai deu uma bronca tão violenta em Fernando que nunca mais ele falou de malassombros para nós, eu e Marcelo meu irmão, um ano a mais avançado no tempo em relação a mim. Mas nunca fugiu da minha memória a figura do lobisomem nas minhas divagações noturnas. Por tudo que Fernando descrevia, era gigante, se vestia de branco e surgia com um machado nas mãos para nos arrancar o fígado.

Ainda na minha fase de medos, tinha pavor a Perna de Pau, um engraxate bem debochado que havia perdido uma perna num acidente de trem, da mesma forma que Roberto Carlos. Para fazer medo às crianças, ele exibia o cotoco da perna. Eu tinha horror, nunca passei no beco que ele trabalhava.

Havia outros personagens da fase do medo: Zé Doido era um deles. Quem o atiçasse, levava uma pedrada. Ele andava com um saco de pedras e corria atrás de quem o provocasse. Falava inaudível, era baixinho e mal-cheiroso. Havia também Coqueirão, uma magricela fedorenta de quase dois metros, que fazia medo pela sua feiúra. Tinha também Desmantelo, magro, grande feito Coqueirão e banguelo.

Outro personagem popular: Dom João. Era um ceguinho que morava na esquina da nossa casa, onde hoje funciona o Banco do Brasil. De forma impressionante, ia buscar água no rio Pajeú, a mil metros da sua casa, levando um pote na cabeça. Usava uma chapa maior do que a própria boca. Tinha medo dele também porque Dija, hoje casado com minha irmã Fatinha, dizia que ele aprisionava crianças no cubículo em que morava sozinho.

Por fim, tinha Zé Pretinho, pai do jogador Deinha, que virou craque do Santa Cruz e chegou até a seleção brasileira. Sua mania: era andar o dia inteiro pela cidade. E também correr atrás de quem o xingava para bater sem piedade. Mas era muito espirituoso. Certo dia, passou em frente a uma farmácia e viu uma jovem vomitando. Perguntou o que estava acontecendo. Um funcionário da farmácia respondeu que havia sido comida (efeito da má alimentação). De supetão, ele quis saber: “E o cabra já foi preso “?

Quando somos crianças, alimentamos o medo de fantasmas. Com a maturidade, o medo de sermos magoados, de sermos feridos. Que falta sentimos dos fantasmas de nossa infância!

Mas não há dor que não cesse. Não há medo que não se transforme em coragem. Não há fantasma que não evapore no tempo. Não há lágrima que não se transforme em riso. Tudo, a seu tempo, se transforma e nos faz crescer em força, fé e certeza de que por maior que seja a ferida, um dia ela fechará.

E se tornará, apenas e tão somente, uma cicatriz a nos lembrar que, mesmo tendo jorrado sangue, latejado e nos causado sofrimento imensurável, ela nos deixou, unicamente, uma recordação de que fomos fortes o suficiente para dar a volta por cima.

Também recolocar um sorriso no rosto, reabrir as janelas da alma e pegar nossas vidas de volta, muito maiores em força, esperança e certeza de que nada é para sempre, nem mesmo a dor.

Amigo Magno,

Aí você excedeu. A criança e o adolescente interiorano falaram mais alto, bem mais alto. A Matriz, o prédio dos Correios, o ponto comercial do seu Gastão, da família. Lembro bem da Matriz e do prédio dos Correios, onde meu irmão mais velho, Marcos Magela, morou.

Na casa de Seu Machado e Dona Hilda, o próprio Correio, fui apresentado a uma linda radiola e a um LP todo preto, que achei muito bonito e mágico, pois rodou e tocou Moxotó, antológica canção que diz:

Tem fazendeiro que morre e não sabe
Quantas reses tem
E tem morena de fala doce e amena
Que outra terra não tem (isso também tem)
”.

Salve, Jacksson do Pandeiro! Diante de tanta modernidade, me senti um habitante de Macondo, maravilhado com tanta modernidade. Não sabia que o mundo tinha tanta beleza. Gabriel Garcia Marquez e o seu “Cem Anos de Solidão” é quem melhor nos traduz, aprisionados que somos em nossas crenças, mitos e lendas.

Na Matriz, muito dormi encostado no ombro de minha mãe. Lá em casa não teve colo. Afetivamente, somos uns bichos duros ou brutos, meu amigo.

Para mim, e para você, sem dúvida, outro símbolo poderoso é o Cine São José. Lá, assisti ao primeiro filme de minha vida: “Tarzan e a Expedição Perdida”, com Gordon Scott e a linda atriz Betta St. John, que, na ausência de Jane, fez uma mulher casada explosiva e tentadora para o nosso herói Tarzan.

Jane, possivelmente, estava em Londres ajudando nos esforços da guerra. A coitada quase leva um chifre do puríssimo e imaculado Tarzan.
Suas reminiscências são muito minhas. E universais, pois tocam no coração de todos os homens, meu amigo.

Termino com João Guimarães Rosa, que, sobre a vida, diz: “Viver é um ragar-se e remendar-se”. Este é ou não é o nosso exercício diário?

Por Zé da Coruja

Tenho quatro filhos, dois já desgarrados, com voos de águia nos Estados Unidos, e dois ainda debaixo das minhas asas. Deus não me deu o privilégio de filhas, mas ganhei, ao arrebatar o coração da minha Nayla, duas enteadas lindas, minhas duas Marias – Beatriz e Heloísa.

A caçula Maria Heloísa, a nossa Helô, está apagando hoje as nove velinhas do seu aniversário. Ela é um amor de menina! Precoce, raciocínio relâmpago, barulhenta feito trovões de invernada. Carinhosa, doce, um anjo que Deus mandou para fazer a vida da minha Nayla mais colorida e cheia de graça.

Não conhecia amor de filha, mas descobri o amor de padrasto, tão sublime quanto o de pai. Amor de padrasto, sendo menina, é descobrir uma ternura sem limites., um tesouro de ouro, felicidade plena para o resto da vida.

Minha Nayla amanheceu hoje com um sorriso mais largo e belo ainda do que já tem. Também pudera, Helô enche a vida dela, expande seu peito de mãe, transborda seu coração de felicidade. Helô chegou em sua vida para convertê-la numa pessoa melhor a cada dia. Trouxe luz, sabedoria, amadurecimento.

Se o amor de minha Nayla por Helô estivesse estampado em uma paleta de cores, ele refletiria todo o espectro do arco-íris!

A cidade de Sertânia, no Sertão do Moxotó, passará a ter abastecimento de água diário, sem rodízios na distribuição. O Governo de Pernambuco autorizou a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa) a ampliar o sistema de abastecimento, beneficiando 21 mil pessoas. As obras, que devem ser concluídas até o final do ano, incluem a instalação de 17,4 km de novas redes de distribuição. Já foram assentados 8 km das tubulações, cerca de 50% da rede.

A Compesa também está construindo uma nova estação elevatória e um reservatório de 100 m³, além de implantar válvulas reguladoras de pressão. Será feita, ainda, a realocação da estação elevatória que bombeia água dos Poços do Moxotó para a Estação de Tratamento. O investimento na obra é de R$ 4,2 milhões.

“Os nossos técnicos não medem esforços para dar celeridade às obras em execução, assim como no planejamento de ações de vários portes com vistas à melhoria do abastecimento em todo o estado”, declarou o o presidente da Compesa, Alex Campos. Para Campos, a produção de água para atender o município de Sertânia está equalizada com os mananciais existentes e o reforço, quando necessário, da barragem Campos da Transposição do São Francisco. A Compesa agora investe na modernização da rede de distribuição, sistema de bombeamento, ampliação da capacidade de armazenamento de água e em equipamentos para que a operação do sistema tenha confiabilidade.

Ainda em Afogados da Ingazeira, meu chão seco e amado de vidas secas, faço alusão hoje a três símbolos que marcaram minha infância e adolescência. O primeiro é a majestosa e imponente Catedral, uma das mais belas obras góticas do Sertão. Lembra muito as igrejas europeias.

Mamãe era católica ardorosa. Garoto, no mês de maio, o chamado mês Mariano, ela me arrastava todos os dias para assistir à missa com ela. Mas os sermões do padre eram longos e modorrentos. Caia no colo dela e dormia feito um anjo. Tempos bons, inesquecíveis.

O segundo retrato dolorido na parede, igual ao de Drumond em sua Itabira mineira, é o prédio dos Correios e Telégrafos, conservado até hoje com sua arquitetura colonial. Esta lembrança é também muito forte. Quando passo por lá, vejo meu pai Gastão Cerquinha, que Deus chamou aos 100 anos e sete meses, carimbando cartas e escrevendo missivas para a matutada dos sítios e lugarejos que não sabia ler e vinham em busca de notícias dos seus filhos que haviam trocado o aconchego da casa do mato e dos pais pela aventura desesperada de um emprego em São Paulo.

Papai era a Dora de calças, personagem vivida por Fernanda Montenegro em Central do Brasil. Foi vendo ele assim, o comunicador da gente simples do Sertão, que comecei a despertar para o jornalismo. Afinal, telegramas e cartas eram noticias, embora exclusivas para seus destinatários. Meu estalo para as comunicações foi dado dentro do prédio da ECT, em Afogados da Ingazeira, não tenho a menor dúvida.

Meu terceiro e último símbolo da minha jornada saudosa em Afogados da Ingazeira tem sofrimento em seu verniz. Está ainda intacto no prédio do antigo ponto comercial do meu pai, na Avenida Manoel Borba: a Casa Gastão, de armarinho e miudezas. A razão social era em nome de minha mãe Margarida Martins da Fonseca, porque papai era servidor público federal e por cima político – foi vereador e vice-prefeito. Nada podia estar em seu nome.

Tudo tinha que ter a assinatura dela. Mas, quando chateada com papai por um motivo ou outro, mamãe resistia. Não conto as vezes que papai me mandava como pombo correio em busca de uma assinatura dela. “Diga a ele que hoje não assino nada”, berrava mamãe. Mas depois, ao fim do estado colérico, assinava.

Mamãe era arriada os quatro pneus por papai, como se diz por aqui. Mas o sofrimento diz respeito a um trauma de outra natureza: abrir os caixotes de mercadorias que chegavam do Recife por trem, direto para a loja. Marcelo, meu irmão, me fazia companhia na empreitada. Não era fácil. Eram mais de 40 unidades. Minhas mãos sangravam, cortadas por uma prenda de metal lacrada nos caixotes.

A vida é a infância da mortalidade, já li isso em algum lugar. Lembro também de um provérbio chinês que diz que o grande homem é aquele que não perdeu a candura de sua infância. A vida humana não tem só um nascimento, só uma infância, é feita de vários renascimentos, de várias infâncias, me ensinou o passar dos tempos, a chegada dos cabelos brancos.