No debate público brasileiro, poucas expressões carregam tanto peso quanto “violência policial”. De imediato, a palavra desperta desconfiança, medo ou indignação. Mas será que toda violência praticada por agentes de segurança é sinônimo de abuso?
É preciso separar os conceitos. A violência, no exercício do poder de polícia, é a força legitimada pelo Estado para proteger a ordem pública. Trata-se de um instrumento indispensável em determinadas circunstâncias. Não há como conter uma agressão armada, imobilizar um criminoso em flagrante ou garantir a segurança coletiva sem algum grau de violência. É a ação firme, mas proporcional, que torna possível ao agente policial cumprir sua função constitucional.
Por outro lado, há a virulência policial – e aqui o adjetivo carrega outro significado. A virulência não é apenas o uso da força: é o excesso, a hostilidade impregnada de nocividade, a agressividade que extrapola o necessário. Quando a violência legítima se transforma em virulência, já não estamos diante do exercício regular do poder de polícia, mas sim de uma deformação dele.
É nesse ponto que reside a confusão muitas vezes alimentada por discursos políticos e sociais: criminalizar a violência legítima é fragilizar o próprio Estado de Direito, enquanto tolerar a virulência é legitimar o abuso. O equilíbrio está justamente em defender que a polícia use da violência quando indispensável, mas jamais de forma virulenta.
O Brasil precisa amadurecer esse debate. Não se trata de negar os abusos – eles existem e devem ser investigados e punidos com rigor. Mas também não se pode reduzir a atividade policial a uma caricatura de violência ilegítima. O desafio democrático está em reconhecer que a violência medida é ferramenta de proteção coletiva, enquanto a virulência é o veneno que corrói a legitimidade da força policial.
Em tempos de polarização, é urgente resgatar essa distinção. Afinal, sem polícia forte e legitimada não há paz social; mas sem limites claros para sua atuação, não há democracia.
O Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES), criado com a promessa de reforçar o efetivo policial em Pernambuco, tornou-se, na prática, um instrumento de exploração e adoecimento da categoria.
De acordo com a Constituição Federal, toda hora extra deve ser remunerada de forma digna e proporcional ao esforço realizado. No entanto, quando se trata de pagar aos policiais civis, o próprio Estado – que deveria ser o primeiro a garantir o cumprimento da lei – infringe a Constituição de maneira vergonhosa.
Hoje, um policial em Pernambuco recebe cerca de R$ 15 por hora trabalhada no PJES, para trabalhar nos finais de semanas, à noite e feriados. Isso mesmo: menos do que muitos trabalhadores informais recebem em serviços avulsos, sem a responsabilidade de portar arma, enfrentar criminosos e arriscar a própria vida. É uma remuneração que não respeita o risco, a responsabilidade e a dedicação exigida da atividade policial.
E tudo isso acontece em um dos Estados mais violentos do Brasil, onde o risco é maior e a responsabilidade dos policiais é enorme. Pernambuco amarga há anos índices alarmantes de homicídios e violência organizada, mas paga aos Policiais um dos piores salários do país, submetendo seus servidores a uma realidade de extrema exploração.
Como se não bastasse o valor irrisório, o pagamento do PJES atrasa todos os meses, impondo aos policiais civis uma verdadeira humilhação. O profissional cumpre sua escala extra, muitas vezes exausto após uma jornada regular, mas precisa esperar semanas ou meses para receber uma quantia que já é indecente em termos de proporcionalidade.
Essa política de improviso e exploração tem consequências graves:
Sobrecarga de trabalho: policiais são empurrados para jornadas extenuantes, sacrificando família, lazer e saúde.
Adoecimento da tropa: cresce o número de casos de estresse, ansiedade, depressão e problemas físicos ligados ao excesso de carga horária.
Desvalorização institucional: em vez de realizar concursos públicos e fortalecer as carreiras policiais, o governo aposta em “remendos” que deterioram ainda mais a segurança pública.
É inaceitável que um programa emergencial seja tratado como política permanente. O PJES não é solução: é o sintoma da falta de planejamento e de respeito com os profissionais da segurança. O Estado, ao invés de proteger seus policiais, os explora com uma remuneração indecente e pagamentos atrasados.
Recado à governadora Raquel Lyra
Governadora, a senhora já foi delegada de polícia e conhece a realidade dura do trabalho investigativo em Pernambuco. Sabe o que significa cumprir escalas intermináveis, atender ocorrências de madrugada, arriscar a vida sem estrutura adequada e, ainda assim, acreditar na missão de proteger a sociedade.
Por isso, não é admissível que em seu governo os policiais civis estejam sendo tratados como mão de obra barata, recebendo R$ 15 por hora de jornada extra, pagos com atraso. Essa é uma afronta não apenas aos policiais, mas também à própria Constituição.
O que se espera de quem já viveu na pele a rotina policial é respeito, valorização e compromisso com a legalidade. Governadora, quem cuida da segurança de Pernambuco não pode continuar sendo explorado dessa forma, ainda mais em um dos Estados mais violentos do país.
Denúncia pública
O SINPOL-PE vem a público denunciar essa exploração vergonhosa do Governo do Estado. Diante da falta de respeito e da reincidência dos atrasos, vamos novamente acionar a Justiça, na esperança de que o Judiciário atenda ao clamor da categoria.
Os policiais civis de Pernambuco estão pedindo socorro. Não se trata apenas de salário ou hora extra, mas da própria dignidade de quem, todos os dias, arrisca a vida para proteger a sociedade.
*Presidente do SINPOL-PE e defensor da segurança pública como direito fundamental
Na China, país sem tradição católica, (a prática religiosa na China é controlada pelo Estado), o seu Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Ciência e Tecnologia de Huazhong (HUST), na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, acaba de sediar um ato acadêmico solene para homenagear Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274), chamado de “Gigante da Filosofia”, na passagem dos 800 anos de seu nascimento.
Frade dominicano e filósofo da Idade Média, tornou-se conhecido pela harmonia entre fé e razão em sua vasta obra filosófica e teológica, como a “Suma Teológica”. O convite da HUST afirmava que ele ocupa uma posição importante na história da filosofia ocidental, “é o maior mestre de todas as filosofias”, destaca. Essa data, no entanto, não está sendo devidamente celebrada no Brasil, um país tradicionalmente católico.
Sua filosofia, influenciada por Aristóteles, de atualidade inquestionável, buscou conciliar o pensamento clássico com a doutrina cristã, defendendo a capacidade da razão de conhecer a Deus. Sistematizou os conhecimentos que influenciam toda a cultura ocidental, criou conceitos inéditos e abriu uma nova escola filosófica. Ficou na memória de sua vida a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo. As ideias aristotélicas foram vértice para o qual convergiu a sua prodigiosa especulação metafísica, que se debruça sobre questões da realidade, do ser, de Deus, da natureza e da compreensão da existência, “onde tudo o que existe é um ser particular”, buscando explicações sobre o que está para além do mundo físico e concreto, ou do próprio mundo em si.
Em suas “Summae”, monumento no campo do saber filosófico da cristandade, sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época. O que é Deus? Esta interrogação acompanhou Tomás de Aquino, motivando-o durante a vida inteira. A compreensão da unidade substancial entre o corpo e a alma em Aquino se ancorava na imagem de homem situado entre o céu e a terra.
Em 1964, o célebre medievalista francês Etienne Gilson (1884-1978) um dos mais eminentes estudiosos internacionais do século XX, tantas vezes citado nos meus escritos, publica a sexta edição daquela que é considerada a sua principal obra: “O Tomismo: Introdução à filosofia de Santo Tomás de Aquino”. Para mim, sendo o que esteve até hoje ao meu alcance sobre o tomismo, trata-se da obra mais importante sobre essa filosofia.
O pernambucano do Recife, Paulo Vicente Gomes Silva Filho, tornou-se referência sobre o Tomismo. Li com interesse a sua dissertação de mestrado “O Problema da verdade na filosofia de Santo Tomás de Aquino”. Não me recordo de ter lido, antes dele, no campo acadêmico, feito aqui, com tamanha profundeza de reflexão não só filosófica sobre o tomismo. Teve como objetivo uma análise abrangente da teoria da verdade em Tomás de Aquino.
Comemoramos o dia 20 de setembro, no extraordinário Amarelinho, entre tripinhas, caldinhos e muita alegria.
Sua esposa, Clarizete Oliveira, estava simplesmente deslumbrante em sua elegância de Paris e Londres. Paris, onde residem sua filha e seus bododinhas (netinhos).
Doravante serão chamadas de Zete e Sousa, Sousa com S, como lembrou Cleiton Rafael, o chefe do cerimonial dos eventos da turma.
Ora, está tudo bem, nós simplesmente fomos dar uma volta com a brisa, amiga brisa.
O aniversário foi tão bom que passeamos com a brisa, com o sol, com a lua, com as estrelas, com as águas do mar e dos açudes de nossa infância.
Aqueles momentos não foram provocados por ácido nenhum, foi a mão de Deus que nos conduziu por esses caminhos da felicidade. Ausentamo-nos, mas voltamos inteiros e felizes para o grande Amarelinho.
Ora, está tudo bem se você vive a vida que quer, foi assim que nos sentimos. O nome disso é graça divina.
Você pode ficar sentado esperando o telefone tocar: assinamos um documento de rebeldia e recusamos tal papel de conformistas preguiçosos. Mesmo que, quando o telefone toque, seja para ganharmos um diamante entregue pelo Mercado Livre.
Nossas almas pernambucanas, de irredentismo, de guerra, são muito mais do que arrancar uma botija com a alma penada assombrando a gente até o fim.
Nessa volta que demos com a brisa, descobrimos que, se as situações apertam, o antídoto para esse veneno é um grande amor, cada um com o seu, e nós os temos: nossas companhias e anjos aqui na terra.
O nome do meu é Mary, Meirinha, Meiroca, Maria Bonita. Sua beleza e solidariedade são tantas que me incendeiam e me encandeiam. Vocês sabem o significado de um homem enlouquecido pelo amor, todos vocês sabem! Quando eu casei, dei de presente a ela um rifle Winchester. Arrependimento não mata, só que hoje eu daria a ela uma viagem a Paris com os cartões liberados. O rifle, ainda hoje, me trava.
O nome do anjo de Sousa, o aniversariante, é Zete, esplendoroso anjo francês cheio de cuidados, porque cuidado de anjo é assim. O anjo Zete é de uma elegância formal e espiritual que acanha a gente, pobres mortais aqui na terra. Quando Dona Zete vai espiar o amigo Sousa na sua diálise, todos nós nos sentimos representados e sentimos Deus, um bom sal da terra em nossas vidas.
O anjo de Cleiton Rafael é uma linda morena chamada Aline, que acaba de dar a ele o maior presente que um homem pode receber: uma linda filhinha, anjo Carolzinha, que gosta muito de pé de galinha. As duas morenas são a vida aqui na terra do compadre, amigo de todos e solidário com todos. Você está intimado a trazer suas morenas da próxima vez. Devo dizer que a comadre Aline teve dúvida da participação do Cleiton Rafael no aniversário, mas o seu bondoso coração falou mais alto. Sem o compadre Cleiton os aniversários não valem.
Antônio Barreto, Barretinho querido, tem um anjo chamado Laurinete. Laurinete desceu do sétimo céu para olhar por ele, e leva esse queridíssimo amigo na alma, nos braços e no coração. Todos os seus passos são seguidos/perseguidos por esse ser diáfano e de luz. Dá-lhe Barretito. Laurinete é um grande anjo com patente militar, se não me engano coronel. A luz que Barretinho emanou deixou todos nós cegos e cientes da presença de Deus no ambiente.
Carlinhos, Canuto, Botelho, esse homem deve ter um exército de anjos que cuida dele. A alegria, a disposição, não são atitudes humanas exercidas como ele exerce. Esse homem vale por dez bons senadores da República dos nossos sonhos. Ele tem dez anjos da guarda e não mostra à gente, que tudo não pode ser mostrado. A NASA tem que vir para estudar Carlinhos, que de cadeirante passou a próspero empresário do agronegócio em Gravatá, para onde devemos ir um dia. No caso de Carlinhos, a NASA vai descobrir o óbvio: Jesus, Maria e José existem e diariamente realizam milagres, não vê quem não quer. Carlinhos, cuidado com as suas terras. Fale com Raul e o deputado Carlos Lapa.
Precisamos falar dos ausentes:
Raul Souza é general, um dos homens mais assertivos que conheci, talvez em razão de suas raízes pajeuzeiras. Ele é muito parecido com o big empreendedor Eduardo de Queiroz Monteiro — um amigo e irmão que a vida me deu de presente — nas soluções, ou insoluções, que a vida é assim. Gosto de todos, todos gostamos do general Raul, nosso comandante-chefe. Já disse à minha mulher: se eu tiver um piripaque mais sério onde faço o tratamento, quero Raul comigo. Raul é nossa reserva de qualidade.
Dona Zete matou a charada para a sua ausência: sua Carol é tão linda que ele não quer mostrá-la ao povo. “E eu lá sou doido de estar com minha linda mulher por aí, seus cabras safados”, diria ele.
O deputado Carlos Lapa é outro amigo querido e presente, conosco há mais de duzentos anos. Os mandatos políticos dão uma maturidade gigantesca e ele nos tem na palma da mão e no seu generosíssimo coração. Este homem é só coração e humanidade, que sangram nas suas honradas mãos.
Como tudo não é perfeito, Raul disse que ele, nas suas visitas à Carpina, mexe demais com o sexo feminino, as cercas e os varais o saúdam como o Robert Redford da Mata Norte de Pernambuco! Deputado, pise devagar! A senhora sua esposa, igual a Mary, comprou uma Winchester de estimação, vôte!
Cleiton também disse que a fortuna do amigo Lapa é igual à do povo do Oriente, que ele vigia seus terrenos de helicóptero, na praia de Cabo Branco. O homem é riquíssimo, vamos chegar nele. A riqueza merece reverência e chaleirismo, vamos pra cima do deputado Carlos Lapa, este sheik.
Registro a passagem na festa de Maurício Duarte, jovem sogro do meu filho Tiago. Interagiu com todos e todos gostaram dele.
A canção End of the Line, de Bob Dylan/George Harrison, serviu de mote, com frases e sentido para o que escrevi, graças a Deus.
Desde que botei o pé em Brasília, nos anos 80, como jornalista, uma larga avenida se abriu à minha frente. Viajar virou uma rotina. Atuando em diversos jornais, estive nos Estados Unidos, boa parte da Europa e em quase todos os países da América do Sul. No Brasil, conheço todas as capitais.
Não esqueço da experiência pelo jornal O Globo, no Norte, como repórter itinerante do Acre a Manaus. Já escapei da morte em pousos de emergência no Mato Grosso do Sul, quando fui fazer uma reportagem especial sobre o Pantanal. Antes da internet, do mundo globalizado, repórter vivia nas ruas.
Virei cidadão do mundo, graças a Deus. Mas nos últimos anos passei a viver uma outra experiência: regressar às origens. Tenho com minha Nayla uma choupana em Arcoverde, a 250 km do Recife. No regresso, a oportunidade de curtir a natureza, a lua que se abre sobre a janela. Os pássaros me acordam em sinfonia de Beethoven. A coruja rasga o seu grito infernal sobre o telhado como uma assombração.
Passo pelo menos três dias em Arcoverde, porque tenho compromissos em Brasília e no Recife. Mas um tempo suficiente para relaxar com minha Nayla, fazer novos amigos e curtir o tempo da vida passando lentamente. Não sou uma andorinha solitária nesse êxodo ao inverso, dos grandes centros urbanos para os grotões.
Cada vez mais pessoas estão a optar por morar no interior, fugindo do caos das grandes cidades em busca de uma melhor qualidade de vida, tranquilidade e segurança, impulsionadas também pela flexibilidade do trabalho remoto (home office) que permite viver longe dos centros urbanos. As principais razões incluem um custo de vida mais baixo, menos trânsito e poluição.
Antes, era comum que muitas pessoas sonhassem em morar nas capitais. Agora, cada vez mais famílias escolhem viver em cidades do interior e escolhem a localidade de acordo com a necessidade de uma melhor qualidade de vida. Só no Rio de Janeiro, pesquisa da ‘ONG Rio Como Vamos’, mostra que 56% dos cariocas gostariam de mudar de município.
Antes, muitas pessoas sonhavam com um bom emprego nas capitais, mas a tendência é de inversão desse fluxo. Cada vez mais empresários investem em cidades menores a fim de terem a família mais próxima e, com isso, novos postos de trabalho são criados. Outro incentivador para os moradores de municípios pequenos é o home office, em que se pode escolher onde viver e produzir remotamente.
Também tem a vantagem de manter maior contato com a natureza e um ambiente mais calmo e seguro. No interior, a vida é mais serena e menos estressante, longe do barulho e do ritmo acelerado das grandes metrópoles. O custo de vida é mais baixo, com imóveis mais acessíveis e menor custo com alimentação, o que permite que as pessoas poupem dinheiro.
As cidades do interior costumam ter um menor índice de criminalidade, o que contribui para uma sensação de maior segurança e paz para os moradores. A ausência de tráfego intenso e a menor poluição sonora e do ar são grandes vantagens para quem procura um ambiente mais saudável. Como gosto da natureza, há mais acesso a áreas verdes e a um ambiente mais próximo da natureza, algo que falta nas grandes cidades.
A ascensão do home office transformou a possibilidade de morar longe dos grandes centros, permitindo que as pessoas trabalhem para empresas localizadas em outras cidades sem precisar se mudar para a capital. A internet me proporciona a indiscutível vantagem e o conforto de trabalhar de qualquer lugar.
Há desvantagens que não se pode ignorar ou torcer o nariz. As estradas são mais precárias, muitas inadequadas ou com dificuldades de acesso. Mas, por outro lado, compensações: acordar com o canto dos pássaros, sentir o cheiro do mato e poder andar pelas ruas sem pressa é algo que me faz feliz os dias que estou em minha Arcoverde.
Compreendi neste regresso que ser da roça é ter a terra como cúmplice, o céu como testemunha e o orgulho de pertencer a um lugar onde a paz tem morada certa. Em minha Arcoverde, há roça, o sol é meu despertador e a lua minha TV.
Aqui, a vida tem outro ritmo. As pessoas se cumprimentam, a comida tem um sabor especial e as noites são tranquilas, iluminadas pelo céu estrelado. O relacionamento com outros moradores é mais tranquilo e respeitoso, algo típico de cidade do interior. É um orgulho viver cercado de simplicidade e amor.
Em Arcoverde, cheguei à conclusão, o silêncio não é ausência de som, mas a presença da alma. O desacelerar é reencontrar o ritmo da vida. Minha Arcoverde tem o poder de acalmar a alma e renovar o espírito. A verdadeira felicidade se encontra na simplicidade das pessoas. Arcoverde não é só um lugar, é um sentimento de paz que mora no meu coração.
Há poucos dias, escrevi um artigo mostrando que a desvalorização contra a mulher na capital pernambucana começava na própria Câmara Municipal. O caso veio à tona após conversa vazada em grupo de WhatsApp do Legislativo em que os vereadores Paulo Muniz, até então do PL, e Kari Santos, do PT, chamaram a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro de “quenga”, apenas por divergência política.
Volto ao tema da perseguição contra mulheres, agora no alto escalão de outra instituição que deveria proteger a sociedade: a Polícia Civil de Pernambuco. A delegada Natasha Dolci, há anos, denuncia situações de assédio e perseguição dentro da corporação. Em vez de apoio, passou a sofrer retaliações até ser demitida da Polícia Civil por supostas “transgressões disciplinares”, mas na verdade apenas por mostrar crimes dentro da própria polícia.
Nos vídeos que publica, Natasha sempre mostrou coragem, mas nos últimos meses é claro o abalo emocional que enfrenta. A delegada firme e combativa ainda resiste, mas agora entrecortada por lágrimas, dor e desespero de quem pede ajuda em público, enquanto o Governo de Pernambuco, comandado por Raquel Lyra (PSD) e sua vice Priscila Krause, seguem inertes diante da destruição da vida profissional e emocional de uma servidora que chegou lá por mérito em concurso.
Para completar, a Justiça de Pernambuco achou por bem de determinar a suspensão das redes sociais da delegada, numa decisão que só fará silenciar sua voz, sua denúncia e sua dor.
Se a governadora permanece indiferente e a Justiça toma decisões que mais penalizam quem é vítima, cabe perguntar: o que tem feito a Assembleia Legislativa de Pernambuco, além da atuação de Gleide Ângelo, para salvar a vida de uma mulher que está sendo pisoteada pelo próprio Estado?
Ser omisso diante de um caso tão gritante de violência institucionalizada contra a mulher é ser covarde. Estão esperando o quê?
Quando o presidente Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e aplicou a Lei Magnitsky contra juízes da Suprema Corte, a reação do Itamaraty foi cruzar os braços enquanto o presidente Lula adotava o discurso da defesa da soberania e anunciava medidas para ajudar empresas prejudicadas pelo tarifaço. A política de Trump, apoiada pelo bolsonarismo, foi um tiro pela culatra e fez de Lula o candidato favorito nas eleições do ano que vem. A situação se inverteu a tal ponto que vemos a oposição atordoada e o governo mandando no jogo.
Diante da pressão da Casa Branca, o presidente não deixou nossa diplomacia agir. Queria esticar a corda e ganhar votos. Enquanto Lula fazia política, o empresariado brasileiro se mexia em Washington. Joesley Batista, da JBS, Carlos Sanchez, da EMS, João Camargo, do Grupo Esfera, e o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, fizeram aquilo que o professor Witold Henisz da Wharton School define como diplomacia corporativa no seu clássico “Diplomacia Corporativa”.
Joesley Batista aprendeu a fazer diplomacia empresarial com a expansão da JBS, empresa onde trabalham 280 mil pessoas no mundo todo. Sua empresa foi a única das campeãs nacionais financiadas pelo BNDES a vingar. Ele e seu irmão Wesley apanharam muito no Brasil, na Austrália e até nos Estados Unidos. Passaram por situações de altíssimo risco, como processos por corrupção e até cadeia. Mas conseguiram sair mais fortes, diferentemente de outros empresários que sucumbiram ao furacão da Lava Jato.
Desde que botaram os pés nos Estados Unidos, os Batistas não deixaram de atuar politicamente. Foram doadores na 1ª eleição de Trump. Na 2ª, idem. Deram US$ 5 milhões para a festa de posse de Trump em janeiro deste ano.
No início de setembro, Joesley foi recebido pelo presidente norte-americano. A conversa girou sobre a importação de carne brasileira e os argumentos dele foram diretos e precisos: se a Casa Branca não baixar as tarifas da carne brasileira, o preço do hambúrguer aumentará, porque será feito com carnes mais caras.
João Camargo, do Esfera, fez um approach junto à chefe do staff da Casa Branca Susie Wiles, uma das pessoas mais poderosas de Washington com total acesso a Trump. Publicou seus encontros no Instagram.
A ação dos empresários precedeu a chegada do presidente Lula para a Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Cada um fez sua parte ajudando a distensionar a relação entre os 2 governos. Carlos Sanchez, da EMS, foi ao Capitólio dizer aos congressistas norte-americanos que o Brasil é um país democrático, com as instituições funcionando e eleições acontecendo.
Quando Trump e Lula se encontraram durante aqueles 39 segundos de “química muito boa”, assim descritos pelo presidente norte-americano, a diplomacia empresarial colhia seus resultados investindo tempo e dinheiro para salvar negócios e empregos.
A diplomacia empresarial tem crescido desde o início dos anos 2000, quando tanto as grandes corporações quanto as empresas menores passaram a conviver com os mais diversos atores políticos, como ONGs, associações comunitárias, mídia e opinião pública. Um fenômeno mundial.
Aqui no Brasil, por exemplo, os líderes do agronegócio tiveram de fazer sua parte diante do bombardeio pesado sofrido durante anos. As ações do empresariado nos EUA são um indicativo de que as coisas começam a mudar para melhor, porque não basta só o governo para tratar dos interesses do país.
O professor suíço Raymond Saner, estudioso da diplomacia empresarial, propõe que as empresas formem seus executivos para atuarem como verdadeiros diplomatas. Ele entende ser esta uma diplomacia mais ampla, na qual o viés estratégico deve compor com os impactos ambientais e sociais.
Um bom exemplo de diplomacia empresarial foi dado pela Coca-Cola. Em 2001, a empresa foi acusada de envolvimento com tortura e assassinato de líderes sindicais na Colômbia. Enfrentou um processo duro, incluindo ações nos EUA e danos à imagem e reputação. Só foi revertido com uma ação da companhia focada na criação de programas de diálogo social, envolvimento de ONGs, sindicatos e organismos multilaterais.
Com a Shell se deu o contrário no caso da poluição do delta do rio Níger, na Nigéria. A empresa se negou a conversar com os agricultores nigerianos e, em 2008, eles entraram na Justiça contra a companhia. Em 2021, um tribunal holandês condenou a Shell. A sentença foi confirmada 4 anos depois por uma Corte do Reino Unido. Um dano contundente para a imagem da companhia.
Voltando ao caso brasileiro, o New York Times publicou uma reportagem mostrando que a política de Trump está empurrando o Brasil para os braços da China e este caminho pode ser irreversível. O argumento foi reforçado pelos empresários e, tudo indica, fez efeito. O caso do café, por exemplo, é exemplar. Os EUA taxaram, a China aumentou as compras, porque os chineses sabem que quando o café faltar poderão vender a um preço maior.
Se por um lado a guerra tarifária desencadeada por Trump teve efeitos negativos sobre as exportações brasileiras, por outro obrigou os empresários a deixarem a zona de conforto e entrar no jogo diplomático. Enquanto Lula fazia sua política batendo de frente com Trump, eles foram tratar de garantir mercado externo, empregos e produção. Afinal, continua valendo a máxima de Henry Kissinger sobre o jogo do poder: “A América não tem amigos e inimigos permanentes; tem interesses”.
Era 1986, e Pernambuco se preparava para uma eleição histórica. Miguel Arraes, recém-retornado do exílio, voltava a disputar o governo pelo PMDB. Do outro lado, José Múcio Monteiro, jovem e ambicioso, representava o PFL e uma nova geração de líderes. A disputa parecia destinada ao conflito, mas, para surpresa de muitos, gerou mais respeito do que rancor.
O episódio mais lembrado aconteceu em um debate televisivo. Arraes, firme, e Múcio, conciliador, debatiam sobre os acampamentos de camponeses. Cada palavra carregava convicção e ética, deixando claro que, mesmo rivais, ambos partilhavam o desejo de servir Pernambuco. A semente do respeito mútuo estava lançada.
Após a vitória de Arraes, José Múcio poderia ter se afastado ou guardado ressentimentos. Mas optou pela cordialidade. Visitou Arraes no Palácio das Princesas, gesto simples, mas carregado de significado. Nascia ali uma amizade rara, feita de respeito, admiração e reconhecimento da história do outro.
Décadas depois, José Múcio lembraria dessa postura como marco de sua própria filosofia política: adversário nas urnas, amigo na vida. Essa amizade se tornaria um fio condutor de sua carreira e das relações com a família Arraes.
O neto de Arraes, Eduardo Campos, cresceu cercado por histórias de coragem, exílio e resistência. Herdou o protagonismo político do avô e, ao longo do tempo, consolidou sua própria imagem de governante moderno. Entre Eduardo e José Múcio havia respeito e diálogo, mesmo quando visões políticas divergiam.
Essa relação mostrou como é possível conciliar inovação e tradição. Múcio admirava a capacidade de Eduardo de projetar Pernambuco nacionalmente, enquanto Eduardo reconhecia em Múcio um amigo fiel e conselheiro sábio.
Hoje, João Campos, filho de Eduardo, comanda a Prefeitura do Recife, mantendo vivo o legado da família. José Múcio permanece ao lado do jovem prefeito, provando que a amizade construída com Arraes e Eduardo se estende à nova geração.
Essa ligação demonstra que política não precisa ser feita apenas de disputas e interesses: pode ser também construída sobre confiança, lealdade e compromisso com o bem coletivo. João Campos representa a continuidade de um legado pautado em ética, diálogo e serviço à população.
Engenheiro de formação e agrônomo por vocação, José Múcio iniciou sua carreira transformando a Zona da Mata, introduzindo a ceringueira e fortalecendo o desenvolvimento local. Foi vice-prefeito e prefeito de Rio Formoso, presidente da CELPE, secretário de Energia e Transporte no governo Roberto Magalhães, deputado federal por quatro mandatos, ministro do TCU e hoje, ministro da Defesa.
Ao longo da trajetória, construiu reputação de conciliador, integrador e amigo fiel. “Aprendi desde cedo a construir pontes”, ele costuma dizer, e essa habilidade marcou sua relação com líderes, amigos e famílias políticas, incluindo os Arraes.
Entre as amizades de José Múcio, destaca-se Eudson Catão, com quem mantém laços desde 1983. No Agreste Meridional, essa amizade atravessa décadas, marcada por respeito, confiança e experiências compartilhadas. Em Palmeirina, Múcio recebeu seu primeiro título de cidadão, selando uma relação que se tornaria simbólica para sua vida pessoal e política.
Eudson Catão testemunhou a construção de pontes que se estenderam por gerações, desde Arraes até João Campos. Sua presença reforça o lado humano de Múcio, lembrando que a política é feita de pessoas, de relações e de lealdade.
José Múcio é amigo de três gerações da família Arraes: do avô Miguel, do pai Eduardo e do filho João. Cada vínculo é uma demonstração de como respeito e amizade podem coexistir com a política, superando rivalidades e transformando a história.
O exemplo de Múcio, junto com Eudson Catão, mostra que a ética, a civilidade e a humanidade não são valores em extinção. Pelo contrário, são o alicerce de um legado que atravessa décadas e inspira novas gerações.
Com a morte de Arraes e Eduardo, José Múcio segue ativo no cenário nacional como ministro da Defesa, mantendo a reputação de integridade e visão estratégica. João Campos, ao liderar o Recife, leva adiante o legado da família e mantém vivas as relações que atravessam gerações.
A amizade com Eudson Catão permanece firme, símbolo de que é possível equilibrar poder, legado familiar e relações humanas. Pernambuco, através dessa história, ensina que a política também pode ser feita de respeito, amizade e continuidade de valores. É isso!
Mais uma vez, os irmãos Batistas, da JBS, aparecem no noticiário, desta feita em uma situação nebulosa: teriam, segundo o site Infomoney, com base no Estadão, “se mobilizado nos bastidores para destravar canais de comunicação com Washington”.
Se isso foi feito visando única e exclusivamente os interesses privados da(s) companhia(s) relacionadas aos Batistas, nenhum problema aparente. Mas se foi para favorecer o governo brasileiro e se houve alguma articulação informal a respeito com alguma autoridade, isso talvez mereça ser investigado, à luz da lei de improbidade administrativa.
Não se poderia dar esse poder a um particular sem nenhuma formalização. Essa atuação, sem possibilidade de fiscalização e acompanhamento públicos, em tese, poderia favorecer eventual tráfico de influência.
Apenas para citar um exemplo de como uma atuação de alguém de fora do corpo diplomático pode ocorrer, lembremos de um episódio relativamente recente.
Em agosto de 2020, após as explosões em Beirute, o presidente Jair Bolsonaro convidou o ex-presidente Michel Temer para chefiar uma missão humanitária ao Líbano. A nomeação foi oficializada por decreto presidencial publicado em edição extra do Diário Oficial da União em 10 de agosto de 2020, autorizando também a participação de outros 12 integrantes, entre senadores, diplomatas e membros da comunidade libanesa no Brasil.
Temer recebeu carta de credenciamento para representar oficialmente o Brasil junto às autoridades libanesas e liderou a entrega de seis toneladas de donativos – medicamentos, alimentos e equipamentos de saúde doados pelo Ministério da Saúde e pela comunidade libanesa – durante a missão realizada entre 12 e 15 de agosto de 2020.
Assim, espera-se tão somente que o respeito aos princípios da Administração Pública tenha imperado nas tratativas e articulações que levaram à hoje festejada “química” entre Lula e Trump. E que a Procuradoria-Geral da República para isso esteja minimamente atenta.
Enquanto estados nordestinos avançam com projetos de expansão da rede elétrica pelo programa Luz para Todos, Pernambuco até agora não tem registro de projetos para contemplar os municípios mais carentes. O programa, atualmente gerenciado pela ENBPar, holding do setor elétrico criada após a privatização da Eletrobras, tem investimentos robustos na região, a exemplo da Bahia, que sozinha concentra quase R$ 1 bilhão em projetos.
De acordo com fontes do setor, dois fatores explicam a ausência de Pernambuco no programa: a falta de articulação do governo estadual junto ao Governo Federal e a inexistência de estudos ou propostas apresentadas. A questão é que, com isso, o Estado não conseguiu garantir espaço no planejamento da iniciativa.
A exclusão chama atenção pelo contraste com a própria história pernambucana. Décadas atrás, o então governador Miguel Arraes implementou um programa semelhante que ampliou significativamente o acesso à energia no campo.
Especialistas avaliam que ficar de fora do Luz para Todos representa uma perda estratégica para Pernambuco, sobretudo por se tratar de um programa com forte impacto social e econômico em regiões rurais. O fato também gera repercussão política, já que o Estado é a terra natal do presidente da República, tem dois senadores petistas, e o presidente da holding foi indicado pelo PSD.