Leitores deste blog e os que me acompanham pelas redes se derramaram em elogios, ontem, ao gesto da governadora Raquel Lyra (PSD), que me cumprimentou, sexta-feira passada, no camarote oficial junino de Surubim, depois de dois anos e meio no poder. Isso me estimulou ao tema da crônica de hoje: o poder e a mídia.
É sabido que a mídia exerce um poder significativo na sociedade. Molda opiniões, comportamentos e até mesmo a percepção da realidade. A frase “Dê-me o controle da mídia e farei de qualquer país um rebanho de porcos” ilustra a capacidade da mídia de influenciar e manipular massas.
Leia maisA mídia pode tanto informar quanto desinformar, e seu poder de construção de narrativas é inegável. Aprendi nos bancos da faculdade, e lendo muito também, que jornalistas são os guardiões da democracia, trazendo à luz aquilo que muitas vezes é escondido nas sombras.
Aprendi igualmente que Jornalismo é um rascunho bruto da história. O trabalho do jornalista é mais do que informar, é fazer perguntas que outros não têm coragem de fazer. Minha relação com políticos e o poder sempre se deu no campo da discórdia, mas também com o discernimento no qual ninguém é dono da verdade.
Com 40 anos no jornalismo político, entre Brasília e Pernambuco, só me afastei dois anos do bom combate: em 1990, para coordenar o núcleo de Imprensa da campanha do então candidato a governador de Pernambuco, Joaquim Francisco. Vitorioso, ele me nomeou secretário de Imprensa. Divergi, briguei muito, e só fiquei um ano na função.
Para nunca mais! Nasci com vocação de estilingue, não de vidraça. Exercitando meu estilingue, contrariei e continuo contrariando muitos políticos. Dos últimos governantes de Pernambuco, não lembro de um só que não tenha enfrentado conflitos por interesses contrariados dos poderosos.
Vivi momentos de altos e baixos com Miguel Arraes. Marco Maciel, personagem de uma biografia que escrevi, rompeu relações comigo no Governo Collor. Eduardo Campos passou dois anos sem falar comigo. Seu principal herdeiro político, o prefeito do Recife, João Campos, nunca abriu interlocução. Sequer me recebe para entrevistas.
Seu irmão Pedro Campos, deputado federal, nunca falou comigo. Já Jarbas Vasconcelos, num momento incontrolável de ira, quando governador, me endereçou uma carta de próprio punho. Só não me chamou de arroz doce. Quando atuava no Jornal de Brasília, contrariei um dos mais poderosos da corte, o então presidente dos Diários Associados, Paulo Cabral, que me processou, mas fui absolvido.
O ex-prefeito do Recife, Geraldo Júlio, abriu uma penca de processos criminais contra mim que ainda persistem. Estou relatando tudo isso para que o leitor entenda que a governadora Raquel Lyra não é a única nem será a última a torcer o nariz para o meu estilo de fazer jornalismo. A experiência me ensinou que político nenhum tolera uma nota crítica e verdadeira de apenas cinco linhas numa coluna vigilante.
É comum a percepção de que políticos reagem mal a críticas, buscando frequentemente desacreditar ou silenciar seus críticos, o que pode ser um sinal de intolerância. Essa atitude pode prejudicar o debate público e a transparência na política.
A intolerância política, que inclui a dificuldade de aceitar opiniões divergentes, é um fenômeno crescente. Uma recente pesquisa apontou que sete em cada dez políticos têm dificuldades em dialogar com opiniões contrárias. Essa intolerância se explica pela incompreensão deles em relação ao papel do jornalista.
Quando a liberdade de expressão é limitada, a intolerância às críticas pode se manifestar de forma mais intensa, abrindo caminho para abusos de poder. A falta de ética na política, muitas vezes ligada à corrupção, também contribui para a desconfiança e a intolerância.
Quando a população percebe que seus representantes não estão agindo com responsabilidade, a tendência é questionar e criticar, o que pode ser visto como ameaça por aqueles que estão no poder.
Por tudo isso, entendo que o jornalismo é a primeira linha de defesa da liberdade.
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