Por Marcelo Tognozzi
Colunista do Poder360
Gabriel Boric tinha 35 anos quando foi eleito presidente do Chile. Líder estudantil, veio do extremo Sul do país, Punta Arenas, região de Magallanes —também conhecida como fim do mundo, que de tão inóspita e gelada tem até um pinguim com seu nome.
Ele entrou para a política quando foi estudar Direito na Universidade do Chile, em Santiago. Mergulhou de cabeça e se tornou um líder importante, fez da universidade um trampolim e saiu dela para o Parlamento e, depois, à presidência, sem diploma.
Leia maisQuando tomou posse em 11 de março de 2022, Boric (Convergência Social, esquerda) tinha 50% de aprovação depois de derrotar José Antonio Kast (partido Republicano, direita) no segundo turno.
Com o passar do tempo, as coisas foram mudando para pior no Chile. Boric liderou a reforma da Constituição e acabou sendo derrotado com mais de 60% dos eleitores votando contra a proposta e mantendo a Constituição atual feita no tempo do ditador Augusto Pinochet. Em 2023, Boric insistiu em mudar a Constituição e foi novamente derrotado.
Sua coalisão, a Frente Ampla, une partidos que vão dos Comunistas aos Socialistas de Michelle Bachelet. O governo Boric tem sido um desastre. Logo no início, perdeu o controle da segurança pública, os narcos ganharam espaço, a inflação subiu e o desemprego aumentou, principalmente entre as mulheres. Com isso, sua rejeição foi a mais de 60%.
Boric chegou ao poder depois de um governo de direita comandado por Sebastián Piñera (1949-2024). Prometeu muito e entregou pouco. Acabou perdendo até a mulher, Irina Karamanos em novembro de 2023. Passados uns meses, ele anunciou um novo relacionamento com a jogadora de basquete Paula Carrasco.
O Chile é uma sociedade conservadora, nascida da marcha de Pedro Valdivia em 1540, narrada pela escritora Isabel Allende em seu livro “Ines del Alma Mia”. O país foi colonizado por espanhóis, ingleses e alemães e se tornou independente em 1810, quando Napoleão invadiu a Espanha e esvaziou o poder sobre as colônias da América.
A primeira experiência socialista, com Salvador Allende, acabou com um sangrento golpe de estado em setembro de 1973, liderado pelo general Augusto Pinochet. Allende morreu no Palácio de La Moneda, sede do governo, durante um bombardeio.
O trauma da ditadura deixou raízes profundas na sociedade chilena. A segunda experiência socialista veio com Michelle Bachelet, duas vezes presidente (2006-2010 e 2014-2018). Depois de Piñera, o pêndulo balançou para Boric.
Neste domingo (16) haverá eleição para presidente. Os candidatos favoritos são a ex-ministra do Trabalho de Boric, Jeanette Jara (Partido Comunista), e Jose Antonio Kast (Partido Republicano).
O voto é obrigatório para os 15,7 milhões de chilenos aptos a irem às urnas. No Chile, a divulgação de pesquisas é proibida 15 dias antes do pleito. É forte a tendência de vitória da direita.
Mesmo na frente com 32,7% Jara deve perder no segundo turno, quando os candidatos de direita vão se unir para derrotar a esquerda. Hoje, a soma dos candidatos de direita é 60,5%. Jara tem praticamente o mesmo percentual dos chilenos que disseram aprovar Boric em outubro: 28%.
A tendência de vitória da direita no Chile significa que a América do Sul caminha para uma mudança política. No Peru, por exemplo, teremos eleições em abril de 2026 e os favoritos, por enquanto, são os políticos de direita Keiko Fujimori e o prefeito de Lima Rafael Lopez Aliaga, membro do Opus Dei.
Na Colômbia, as eleições acontecerão em maio de 2026. Até agora o candidato favorito é o cantor Abelardo de la Espriella (Defensores de La Pátria, direita) com 34% das intenções de voto. Ivam Cepeda Castro (Polo Alternativo Democrático, esquerda) aparece em segundo com 23%, Sergio Fajardo (PDC, centro) tem 17% e Roy Barreras (PHC, direita) aparece com 15%, de acordo com a pesquisa Polymarket do dia 12 de novembro. Assim como no Chile, os colombianos desaprovam o atual presidente Gustavo Petro, que tem rejeição de 61%, conforme a pesquisa do Pulso Latino de 14 de novembro.
Se for mantida a tendência nas eleições do Chile, Peru e Colômbia, uma onda de direita irá varrer a América do Sul.
Em todos os países onde a esquerda governa, os problemas são praticamente os mesmos: aumento da violência com políticas ineficientes de segurança pública, aumento do desemprego entre jovens e mulheres, ineficiência dos serviços públicos, mais impostos e aumento de direitos com escassez de deveres. A conjugação destes fatores deu à direita boliviana a vitória neste ano depois de 20 anos de poder da esquerda.
Não custa lembrar que o presidente argentino Javier Milei (LLA, direita) venceu as eleições parlamentares há poucos dias, contrariando todas as pesquisas de opinião.
Há um sentimento de mudança que pode ser identificado nas pesquisas. Ele muitas vezes não é percebido ou detectado. Estas eleições na Bolivia, Chile e Argentina mostram que o eleitor médio está em busca do novo, de oportunidades. O mundo não é o mesmo de 20, 30 anos atrás, quando as oportunidades de emprego eram maiores.
Hoje os jovens não conseguem entrar no mercado de trabalho com a mesma facilidade de antes e os salários caíram. As pessoas não querem ser eternamente pobres financiados pelo Estado. Com as restrições cada vez maiores de migração, muitos começam a entender que é preciso fazer acontecer aqui o que se buscava na Europa e Estados Unidos.
Por enquanto, a direita tem entendido melhor esta demanda do que a esquerda.
Como diz a primeira-ministra Italiana, Giorgia Meloni, só haverá equilíbrio se os países ricos entenderam a importância de promover a qualidade de vida e a prosperidade nos países pobres ou emergentes. Um jogo de ganha-ganha.
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