Por Fernando Castilho*
Cid Moreira está para o jornalismo brasileiro assim como a vinheta do Jornal Nacional está para o jingle do jornalismo. Sua voz se tornou indivisível à chamada musical do Jornal Nacional no tempo em que ele entrava na sala de visita das famílias.
Para os jovens da Geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) o nome Cid Moreira talvez não seja referência de informação jornalística de TV aberta. Mas com certeza todos os nascidos da geração Y ou Millennials (entre 1981 e 1996), o nome Cid Moreira quer dizer ficar na frente da TV para saber das “noticias do mundo” depois do jantar.
Leia maisÉ importante colocar Cid Moreira como padrão de comportamento do telespectador antes da virada do século (ele estreou em 1969 e saiu em 1996).
As pessoas paravam na frente da TV e respondiam ao seu “Boa Noite” de entrada e o de despedida. E são conhecidas as histórias que chefes de famílias que repreendiam os filhos por eles estarem sem camisa para ver o Jornal Nacional apresentado por ele ao lado de Sérgio Chapelin.
Então, a importância do Cid Moreira para o jornalismo é icônica e, certamente, foi a sua voz que deu credibilidade ao texto que lia e que não era escrito por ele.
Cid Moreira, é importante se registrar, não editava o que lia às 19h45. Ele chegava antes, via o script porque era perfeccionista, e não se permitia errar. Mas isso é detalhe da produção da TV Globo que tem melhores informações para divulgar nesta quinta-feira de despedida.
O que é importante destacar aqui é o Cid Moreira visto a partir do botão do play que o conecta ao telespectador do Jornal Nacional. Foi a voz gutural e forte que nos fez ouvir os movimentos das primeiras manifestações da campanha pelas Diretas Já, e das notícias de crise e morte como a de Tancredo Neves em 21 de abril de 1985 quando choramos juntos antes do final do JN sem som.
Então, o Brasil dos Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964) e da Geração X ( nascidos entre 1965 e 1980) cresceram e se informaram pelo Jornal Nacional na voz de Cid Moreira.
É importante ter ele em perspectiva histórica de um Brasil que estava se descobrindo para a Democracia e foi pela voz de Cid Moreira que o país ouviu Ulisses Guimarães dizer que a constituição aprovada em 1988 foi a Constituição Cidadã.
De certa forma, Cid Moreira é o responsável pela estética do noticiário de TV no final do século XX que nos trouxe ao modelo atual de William Bonner e Renata Vasconcellos, cuja presença na bancada feminina foi aberta por Lilian Witte Fibe.
Essa estética é claro que teve influência do padrão americano que a TV Globo adotou e que contava-se em notícias curtas com matérias mais longas, resultado de grande apuração pelos repórteres e correspondentes da TV Globo ao redor do mundo.
E depois que, com a proximidade da virada do século, esse modelo foi aperfeiçoado e nos trouxe ao padrão atual bem mais solto e com texto trabalhado pelo editor que o assina e que agora responde por ele legalmente junto com a emissora.
A importância de Cid Moreira e Sérgio Chapelin é tão forte para o modelo do JN que ele continua sendo ancorado no formato de dois apresentadores na bancada robótica dentro de uma redação que todo telespectador tem vontade de conhecer e fazer uma selfie. Mas o padrão é o mesmo que Cid não entregou por mais de 8 mil apresentações.
As pessoas dizem que o Cid ficou conhecido seja pelas participações no Fantástico ou pelas leitura dos Salmos em CDs vendidos junto com as assinaturas de jornais.
É verdade, mas o que importa para a história do jornalismo de TV é aquela sua imagem de terno e gravata cuja lapela larga nos revela um padrão de moda masculina hoje marcada pelos terno mais ajustados, mais curto, e de lapela estreita visíveis quando, por exemplo, William Bonner sai da bancada para ouvir a previsão do tempo.
Então, pode-se escrever terabytes sobre Cid Moreira, mas o que é importante ficar claro para a História é o “Padrão Cid Moreira” de falar com a câmera contando uma história com credibilidade.
O que o torna ainda mais importante nos dias de hoje quando até para essa “ninguenzada” que produz fake news usa (desonestamente) o jornalismo de marca para dar um pseudo credibilidade as mentiras que produz e cuja origem está naquele Boa Noite que até hoje milhões de telespectadores respondem a William Bonner e Renata Vasconcellos.
*Colunista do Jornal do Commercio
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