Victor leva aparente vantagem
Dos quatro auxiliares que o prefeito João Campos (PSB) acomodou em partidos da sua coligação no apagar das luzes do prazo de filiação, em abril passado, apenas dois se afastam hoje das suas funções, cumprindo o prazo de desincompatibilização: Marília Dantas, secretária de Infraestrutura, e Victor Marques, chefe de gabinete.
Permanecem nas suas pastas, Maíra Fischer (Finanças) e Felipe Matos (Planejamento). Diante disso, a escolha do vice para compor a chapa de João se afunila entre Marília e Victor, com mais chances para este, se a lógica do prefeito estiver construída dentro do universo partidário. Victor Marques é filiado ao PCdoB, partido que integra a federação partidária com o PT, que passou o tempo todo alimentando expectativas da indicação.
Leia maisEscolhendo Victor, a federação, automaticamente, será contemplada. Isso, por outro lado, quebra o discurso do PT, que não gostou do fato de a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, em perfeita harmonia com o deputado federal Renildo Calheiros, ter se curvado aos argumentos do prefeito para abrigar o seu chefe de gabinete na legenda.
Se João raciocinar apenas na linha de gestão e não partidária, Marília Dantas leva nítida vantagem sobre Victor: é o braço direito dele na execução do plano de obras. Tão poderosa que acumula até a Emlurb, estrutura administrativa fundamental da sua pasta para tirar os projetos do papel e tocar as obras de envergadura no Recife.
Marília está para João como Geraldo Julio esteve para Eduardo Campos em seu primeiro mandato como governador. Se na gestão de Eduardo ele vendeu a ideia de que foi Geraldo que fez todas as suas obras, o elegendo prefeito do Recife, o mesmo pode ser dito por João em relação à Marília Dantas. O prefeito não abre o jogo sequer para o seu núcleo duro, para engessar o PT e forçá-lo a integrar sua coligação sem abocanhar a vice.
RAZÃO DA COBIÇA –A cobiça pela vice de João Campos, especialmente pelo PT, que fez cobranças públicas pela mídia, a ponto de ameaçar até lançar candidato próprio, tem lá suas razões. Saindo reeleito no primeiro turno com uma votação expressiva, o prefeito torna-se, naturalmente, um pré-candidato a governador nas eleições de 2026. Assim, será obrigado a se afastar das funções em abril do mesmo ano. Com isso, o vice vira prefeito por quase dois anos, com chances de disputar a reeleição.

Gusmão, a grande surpresa? – Nos bastidores, corre outra informação: a de que o prefeito surpreenderia o cenário político municipal e do Estado com o anúncio de outro nome para vice que teria como trunfo: o engenheiro Roberto Gusmão, ex-presidente do Complexo Industrial de Suape. Na passagem pelo porto, ele assinou os principais protocolos de intenção de empreendimentos, como o terminal de contêineres e o da APM Terminais, em fase de implantação. Além de ser ligado à família Campos, Gusmão foi testado também na administração federal, exercendo o cargo de secretário-executivo do Ministério dos Portos na gestão de Márcio França. Na gestão de João, virou um grande conselheiro e estrategista.
PT Mandacaru – O PT não pode nem chiar quando João confirmar que o partido não terá a vice. Dos Estados nordestinos, o PT de Pernambuco é o mais desunido e dividido. Ao longo da fase embrionária da discussão em torno da composição da chapa com João, em nenhum momento se uniu e hoje, para complicar, a bancada na Assembleia Legislativa se abraçou com o Governo Raquel. Ex-prefeito e principal liderança no Recife, João Paulo virou o mais raquelzista de todos, uma verdadeira reprodução do Mandacaru. E os outros dois deputados – Doriel Barros e Rosa Amorim – na prática, votando com o Governo, parece que encontraram sombra e encosto em Raquel Mandacaru.
Mais dinheiro federal – O prefeito do Recife passou, ontem, por Brasília, e saiu de lá com mais R$ 200 milhões para obras em seu último ano de gestão. Trata-se de uma operação de crédito junto ao Banco do Brasil, fruto de uma negociação de uma dívida do município. “Conseguimos o aval da União para renegociar a dívida existente e abrir um novo espaço fiscal para mais obras. Esses recursos permitirão diversas intervenções, incluindo drenagem, construção de praças, unidades de saúde, hospitais e contenção de encostas. Além disso, assinamos a autorização para o início imediato de obras de mais de R$ 4 milhões em encostas, em parceria com o Governo Federal”, explicou.

Nem aí para o Legislativo – Um dos mais atuantes parlamentares da oposição, Alberto Feitosa (PL) fez um levantamento e concluiu que a governadora Raquel Lyra Mandacaru deve uma penca de respostas à Alepe no que se convencionou chamar de “pedidos de informações”. Passam de 100 e muitos deles já com prazos vencidos, o que pode configurar num crime de responsabilidade, primeiro passo para provocar o impeachment da tucana. “Isso é uma tremenda falta de respeito ao Legislativo, algo grave, nunca visto em nenhum governo em Pernambuco”, desabafou.
Curtas
PARENTES 1- O Supremo Tribunal Federal decidiu que parentes podem comandar os Poderes Executivo e Legislativo simultaneamente na mesma unidade federativa (federal, estadual, distrital ou municipal). Por 7 votos a 4, os ministros da Corte rejeitaram a ação que tentava impedir que familiares, com cargos eletivos, exercessem as chefias de Poderes diferentes ao mesmo tempo.
PARENTES 2 – A ação foi de autoria do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Propunha que, a partir do mandato das Mesas Diretoras do biênio 2025/2026, fosse estabelecida uma regra impedindo que parentes de prefeitos, governadores ou presidente da República disputassem a chefia do respectivo legislativo.
CONTRA – Em entrevista, ontem, ao Frente a Frente, programa que ancoro pela Rede Nordeste de Rádio, o senador Fernando Dueire (MDB) se posicionou contra a PEC das Praias. “Trata-se de um risco à soberania de territórios importantes do País, ao meio ambiente e aos arranjos produtivos que dependem dessas áreas”, afirmou.
Perguntar não ofende: Como será a reação do PT ao não emplacar a vice de João?
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