O discurso de vitimização adotado, mais uma vez, pela governadora Raquel Lyra (PSD) na inauguração da barragem de Panelas, em Cupira, ontem, não encontra respaldo nem mesmo na dinâmica recente da política local. Basta lembrar que o ex-governador Paulo Câmara enfrentou vaias em diversos eventos nos quais esteve ao lado do presidente Lula – episódios públicos e amplamente noticiados.
Ou seja, pressão, desgaste e cobrança não são fenômenos exclusivos, muito menos dirigidos a ela por alguma condição pessoal. Fazem parte do jogo político e tratá-los como prova de perseguição acaba soando mais como um recurso retórico do que como uma análise honesta do cenário.
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Nesse sentido, transformar essa narrativa em uma muleta para se apoiar no discurso da diversidade pode soar desproporcional. A pauta é séria, necessária e legítima, mas perde força quando usada como escudo para críticas que, na verdade, dizem respeito a gestão, decisões e rumos políticos – dimensões que qualquer governante, homem ou mulher, precisa enfrentar.
Além disso, causa certo estranhamento a forma como a própria governadora se coloca, no mesmo discurso, como uma “referência” para as mulheres. Autoelogios raramente produzem boa impressão; soam calculados, artificiais e até desconectados da percepção pública.
Referência é algo que se conquista pelo conjunto das ações, e não pela autodeclaração. Quando um líder precisa afirmar isso sobre si mesmo, cria-se quase sempre o efeito inverso: o público tende a receber a mensagem com desconfiança.
Por exemplo, ela não foi referência para as mulheres quando, nas duas oportunidades que teve de indicar uma desembargadora mulher para o Tribunal de Justiça de Pernambuco, seguiu o caminho oposto.
Em vez de buscar abrigo em narrativas vitimistas ou em autopromoções, seria mais eficaz enfrentar diretamente as críticas e apresentar resultados concretos. É isso, no fim, que consolida liderança – especialmente para quem deseja, de fato, ser visto como exemplo.
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