Raquel julgada pelas redes
Raquel Lyra (PSDB) completa amanhã 60 dias no poder. Depois de uma eleição em segundo turno, na qual bateu Marília Arraes (SD), subiu as escadas do Palácio das Princesas como a primeira governadora do Estado, num ambiente contaminado por oito anos desastrosos de Paulo Câmara. Sua vitória, aliás, fechou o ciclo de 16 anos do PSB no comando da capitania hereditária de Pernambuco.
Por isso mesmo, gerou uma grande expectativa, não apenas de mudanças de gestão, mas também de conceitos e até estilo. É cedo para cobrar resultados da tucana. Por tradição e cultura, a oposição espera os primeiros 100 dias para julgar. Pelas redes sociais, entretanto, o debate já começou. Há variadas manifestações com a chamada “60 dias do Governo Raquel Lyra”, destacando alguns assuntos nos quais ela se saiu muito mal.
Leia maisSão citados, pela ordem, aumento do seu próprio salário, de R$ 9,8 mil para R$ 22 mil (se bem que ela optou pela remuneração de procuradora, em torno de R$ 43 mil); aumento do salário da vice-governadora, de R$ 8,9 mil para R$ 18 mil; aumento do salário dos secretários, de R$ 12 mil para R$ 18 mil, nomeação de dois primos para o primeiro escalão; omissão do número de homicídios no Carnaval; decreto pela torcida única nos jogos de futebol com recuou; atraso de 60 dias no pagamento dos terceirizados e descumprimento da lei ao não pagar o 13º salário do Bolsa Família.
Neste caso, foram penalizados mais de 1 milhão de famílias em situação de extrema pobreza, quando o discurso de campanha da tucana focou no combate à fome e nas desigualdades sociais. Por fim, as redes sociais destacam ainda que Raquel inchou a máquina pública ao criar 258 cargos comissionados, enquanto que, numa só vassourada, pôs na rua da amargura 2,8 mil servidores comissionados.
O balanço negativo inclui também o calote que a governadora deu nos criadores de gado leiteiro do Estado e os fornecedores de merenda, ao não cumprir com a sua parte, fazendo o pagamento das cotas do Programa do Leite, em parceria com o Governo Federal. Vale a ressalva, neste caso, que houve forte repercussão na rede estadual de ensino, na medida em que os alunos ficaram sem leite.
Sassepe caloteiro – No quesito pagamento, a governadora segue a mesma cartilha do ex-governador Paulo Câmara. Uma diretora de hospital que presta serviço ao Estado, atendendo pacientes pelo plano Sassepe, reclamou, ontem, que toda a rede de saúde cadastrada no Sassepe está sem receber suas cotas de pagamento em dia. “Não aguentamos mais prestar serviços para os órgãos do Governo e depois ficar com a cuia na mão. Imploramos como se fosse uma esmola, uma obrigação que o Estado não cumpre”, disse ela.
Amupe compartilhada – Ao ser eleita, ontem, presidente da Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe) de forma consensual, a prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado (PT), instalou também uma espécie de rodízio de poder, uma gestão compartilhada. Fica pouco mais de um ano no cargo. Como terá que disputar a reeleição em Serra, será obrigado a se afastar em abril do próximo ano. Seu sucessor será o prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia. A invenção partiu do ex-presidente José Patriota, sob o argumento de que a instituição seria penalizada com um bate chapa.
Fim da apreensão da CNH – O deputado bolsonarista Coronel Chrisóstomo (PL-RO) quer derrubar a decisão do Supremo Tribunal Federal que permite a apreensão da carteira de habilitação e do passaporte para assegurar decisões sobre o pagamento de dívidas. Na sexta-feira passada, ele protocolou projeto de lei que, caso seja aprovado, impedirá que juízes determinem a apreensão dos documentos de devedores para assegurar o cumprimento de ordens judiciais. Segundo ele, o número de inadimplentes voltou a crescer no Brasil e com isso uma enorme quantidade de pessoas teriam seus direitos tolhidos.
Tempos difíceis – O que levou a governadora a decretar sigilo por cinco anos sobre as informações relacionadas ao efetivo da Polícia Militar? A partir de agora, em razão de decreto assinado em 10 de fevereiro passado, nenhuma alma viva terá mais acesso às notícias que digam respeito à quantidade de policiais militares distribuídos por batalhões ou por órgão público vinculado à Secretaria de Defesa Social. “O acesso ou divulgação indiscriminada de tais informações pode atentar contra a segurança da população”, diz a delegada Natália Barbosa de Medeiros, autoridade classificadora.
Defesa dos detidos – Parlamentar federal de primeiro mandato, o Coronel Meira (PL) tem atuado fortemente para livrar da cadeia as pessoas detidas injustamente em decorrência das manifestações do fatídico 8 de janeiro. “Inocentes não podem continuar pagando por crimes que não cometeram”, diz ele, adiantando ter esperanças de que saia a CPI Mista que vai investigar no Congresso os atentados à democracia, com atos de vandalismo que resultaram na depredação do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
CURTAS
SEM ATENDIMENTO – O laboratório São Francisco Diagnóstico, em Salgueiro, no Alto Sertão, tomou uma decisão radical: só volta a atender demandas de servidores estaduais em exames depois que a governadora Raquel Lyra pague o que deve.
FERROVIA – A governadora, aliás, está embarcando, hoje, para Brasília, mas não em busca de recursos para pagar a rede de saúde que presta serviços aos servidores pelo Sassepe. Na pauta, a ferrovia Transnordestina, que julga ser mais urgente e necessária.
Perguntar não ofende: E se os hospitais que não recebem dinheiro do Estado seguirem a decisão do laboratório de Salgueiro?
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