Marcelo Freixo será presidente da Embratur no novo governo Lula após derrota no Rio

O deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ) será presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O convite foi feito pela futura ministra do Turismo, Daniela Carneiro, conhecida como Daniela do Waguinho. O político foi derrotado neste ano na disputa pelo governo do Rio e ficará sem mandato.

Freixo chegou a ser cotado para o Ministério do Turismo, mas o presidente diplomado, que tomará posse neste domingo, 1.º, decidiu dar o comando da pasta ao União Brasil, partido de Daniela. O petista negociou espaço no governo a legendas de centro com o objetivo de aumentar sua base parlamentar no Congresso, mas enfrentou dificuldades nas negociações.

Como mostrou o Estadão/Broadcast em 21 de dezembro, depois de ser descartado para o Turismo, o destino de Freixo no governo estava entre a presidência da Embratur e a Secretaria de Segurança Pública do Ministério da Justiça, cargo que acabou ficando com o deputado federal Tadeu Alencar (PSB-PE).

“Quero agradecer a @DanielaWaguinho e ao presidente @LulaOficial pela confiança. Vamos trabalhar juntos para reconstruir a Embratur e transformar o turismo num instrumento de desenvolvimento sustentável e geração de emprego. O Brasil voltará a ter protagonismo no setor”, escreveu Freixo no Twitter. Ele atuou no grupo temático de turismo durante a transição.

Também nas redes sociais, Daniela confirmou o convite e disse que o deputado vai auxiliá-la a “reconstruir” o turismo brasileiro, reforçar a imagem do Brasil junto aos mercados internacionais e, dessa forma, atrair mais turistas para o País.

Freixo concorreu neste ano ao governo do Rio, mas perdeu a disputa para o governador Cláudio Castro (PL), que se reelegeu em primeiro turno, com apoio do presidente Jair Bolsonaro. Com histórico de atuação na esquerda, Freixo fez acenos ao centro durante a campanha ao escolher como candidato a vice em sua chapa, por exemplo, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, do PSDB.

A decisão de prorrogar a isenção de impostos sobre os combustíveis por parte do futuro governo, depois de o ministro da Fazenda se posicionar em sentido inverso, deu um sinal ao mercado de que Fernando Haddad tem o cargo, mas o PT tem a força. Especialmente depois que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), disse em entrevista à Globo News que o melhor seria prorrogar por um período.

A decisão, porém, vem no sentido de evitar o mau-humor do eleitorado logo na largada do futuro governo. Internamente, prevaleceu o receio de disparada dos índices inflacionários. Agora, caberá à nova gestão, depois da posse, mostrar que Haddad terá, sim, força para comandar a área econômica. Este ano, avisam alguns, ainda não houve esta demonstração. As informações são do Blog da Denise, no Correio Braziliense.

O futuro ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, declarou em entrevista ao Estadão que tem como “desafio” reduzir a fila de mais de 1 milhão de requerimentos de pedidos de benefício ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Ele disse também que avalia propor mudanças na reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) e aprovada pelo Congresso em 2019.

O futuro ministro, que sempre foi contrário às mudanças nas regras para se aposentar, citou dois pontos: criticou a idade mínima de 62 anos para aposentadoria de mulheres e sinalizou que vai tentar adotar um “critério regional” para conceder o benefício.

Na época da discussão da reforma da Previdência, especialistas mostraram que a fixação de uma idade mínima para todas as aposentadorias no Brasil contribuía para reduzir a desigualdade regional na concessão de benefícios, já que as regras anteriores permitiam que trabalhadores das Regiões Sul e Sudeste se aposentassem antes por tempo de contribuição e usufruíssem do benefício por mais tempo. As informações são do Estadão.

Ele também falou sobre medidas para facilitar a contribuição ao INSS de trabalhadores que não têm carteira assinada, como entregadores de aplicativos.

Sobre as negociações políticas para assumir a pasta, Lupi disse que passou por um processo de quase dois meses em que teve que convencer o PDT, partido do qual ele é presidente nacional, a aceitar comandar a pasta durante o futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com o dirigente partidário, Lula ofereceu o cargo poucos dias depois de ganhar a eleição presidencial.

O dirigente afirmou que vai se afastar do comando do partido. A pedido do ex-presidenciável do PDT Ciro Gomes, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) entra no lugar de Lupi. Figueiredo é o líder da sigla na Câmara e vai acumular as duas funções. Sobre Ciro, apesar das duras críticas que o ex-governador do Ceará fez a Lula, Lupi disse que ele não será oposição ao novo governo.

Leia a entrevista:

Quais serão suas prioridades como ministro?

Estou pedindo para o jurídico estudar para ver se a gente consegue fazer convênios com os Estados e municípios, para ajudarem em mutirão, para evitar fila (do INSS). Porque Estado e município já tem pessoal, mas às vezes falta um chefe, porque tem poucos quadros do INSS, uma pessoa do INSS para chefiar, uma parte burocrática na prefeitura, Estado, onde a gente conseguir. Isso é uma ideia que eu tive e que já fiz em outros momentos como ministro do Trabalho. Essa questão é a principal, é a mais quente. (Outra tarefa é) Separar o que é aposentadoria, o que é pensão, o que é BPC, Benefício da Prestação Continuada (pago a idosos e pessoas com deficiência de baixa renda). São três realidades diferentes. Tem que entrar no Benefício da Prestação Continuada para ver que tipo de acidente de trabalho precisa receber aquele auxílio-doença, tem que ver a possibilidade com Estado e município de fazer os hospitais públicos, tem sempre alguém do ministério acompanhando. São coisas que ainda estão em estudo, estou pensando por que minha tarefa é acabar com a fila.

já decidiu quem vai compor a equipe? Dataprev, INSS?

Ainda não porque ainda não tenho estrutura nomeada, só no dia 1º que o presidente vai assinar. O vice-presidente Alckmin vai me mandar o que foi feito dos estudos e aí depois a gente começa a ver. Eu sei que tanto o INSS, quanto o Dapaprev são exclusivos de funcionários. Com raras exceções tem um chefe aqui, um presidente acolá. Tem concurso parado, tem que chamar gente de concurso, faz muitos anos que não foram chamados. O que não falta é trabalho. É o maior desafio da minha vida que vou enfrentar.

O senhor avalia mudar algo da reforma da Previdência aprovada em 2019?

Eu vou criar uma comissão tripartite dentro do gabinete do ministro para estudar isso. Eu não posso ter nenhuma decisão precipitada. Minha ideia é criar uma comissão tripartite para analisar isso, com representantes da sociedade civil, representantes de gente de classe patronal, de empregado. Criar uma comissão para dar um prazo e estudar isso.

Quais mudanças podem ser feitas?

Não sei porque ainda não estudei. Não posso me antecipar. Tem algumas coisas que eu acho absurdas, mas tenho que estudar para ver como viabiliza.

O que acha absurdo?

Essa questão da mulher. Por que 60 para mulher (a idade mínima aprovada como regra geral foi de 62 anos para mulheres)? A realidade da mulher do Nordeste é uma coisa, da mulher do Sul é outra. São coisas importantes. Outra coisa importante, temos que fazer com que as pessoas contribuam. Em serviço informal você tem que criar um sistema mais fácil para contribuir com a Previdência. Hoje Uber trabalha em casa e ninguém contribui para a Previdência. É dinheiro que se deixa de arrecadar. Em vez de pensar que Previdência é prejuízo, tem que pensar que é investimento e como melhorar a arrecadação. Isso eu já estou com minha cabeça aqui em erupção pensando.

O PDT inicialmente queria o ministério do Trabalho. O senhor teve que convencer o partido a aceitar a Previdência? Como foi esse processo?

Desde o começo o Lula tinha feito esse indicativo, tinha falado com a Gleisi (presidente do PT). É que nós mesmos ficamos ali com a questão da bancada e acabou afunilando. Logo depois da posse, ele me falou. Tem mais de 20 dias que ele tinha falado que gostaria da gente na Previdência. A gente que ficou um pouco na dúvida. Eu não fiquei em dúvida, mas a bancada do PDT ficou. Eles queriam muito um ministério de prestação de conta, que pudesse mexer com a sociedade. Eu falei o seguinte: “Meu irmão, a Previdência tem benefício para 35 milhões de brasileiros. Se vocês acham que tratar de 35 milhões de brasileiros é pouco, então vou desistir da vida pública”. Agora, tem que ser eficiente, tem que ser competente, tem que mostrar diferença, isso eu não sei serei. Mas que vou me esforçar, eu vou. Tem 35 milhões de beneficiados, bota uma média de quatro pessoas por família, você está atendendo quase dois terços da população brasileira direta ou indiretamente. É trabalhoso, é desafio, é complexo, mas eu adoro essas coisas.

Chegou a falar com Ciro Gomes sobre o ministério? Ele fez alguma crítica?

Falei com ele desde a primeira vez (que Lula falou sobre o ministério). Ele acha que a gente não tinha como se negar a estar ajudando o governo porque é um governo do nosso campo. E ele sempre achou que devia ser eu porque tenho relação, Lula gosta de mim, porque sou presidente do partido.

O PDT vai ser base?

Vamos ser base. Desde a vitória do Lula quando a gente apoiou no segundo turno a gente anunciou isso. Temos que salvar o Brasil. As diferenças nós separamos, mas temos que salvar o Brasil.

Acredita que há possibilidade de Ciro voltar a ser aliado de Lula ou é um caminho sem volta a escolha dele de se afastar do petista?

Se lembrar o que foi a campanha de 1989 com Brizola, ia achar que (Ciro e Lula em 2022) foi moderado. Era xingamento, o pau comia e depois os dois estavam juntos. Isso é da vida. Ciro tem o tempo dele, deixa decantar o tempo dele. Vai apontar só a diferença, mas oposição não vai ser.

O PT tem 11 ministros. Acha que é um espaço excessivo?

Eles ganharam o governo. Quem ganha o governo e não quer governar? Ganharam, então tem que pedir maioria deles mesmo. É óbvio, isso aí se fosse eu, faria o mesmo. Quando Brizola foi governador (do Rio) ele fez o mesmo. Quem ganha, quer governar.

Vai sair da presidência do PDT? Se sim, quem vai ser o novo presidente?

É obrigatório agora, já é uma regra obrigatória (sair do comando do partido quando assume ministério). É o André Figueiredo (próximo presidente do PDT), primeiro-vice é ele. São três (vices), ele, a Miguelina (Vecchio) e o Ciro. O Ciro já pediu para ser ele (Figueiredo) e vai ser ele. Vai acumular (com a liderança do partido na Câmara), não tem incompatibilidade, até facilita.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, segunda maior central sindical do país, não vai comparecer à posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no domingo. O sindicalista foi convidado formalmente pelo cerimonial, mas decidiu não ir à Brasília por estar descontente com o fato de a central e o Solidariedade, partido ao qual a Força é ligada, não terem sido contemplados com postos no primeiro escalão do novo governo.

Sindicalistas da Força atuaram desde o fim do ano passado nas costuras da aliança que resultou na indicação de Geraldo Alckmin para vice da chapa de Lula. Além disso, o Solidariedade apoiou a candidatura do petista desde o primeiro turno. As informações são do O Globo.

— Estou descontente porque trabalhamos pela frente ampla e no fechamento das cortinas ficamos de fora.

A central ajudou a aproximar o ex-tucano Alckmin do mundo sindical, habitat natural de Lula, que começou a carreira política nos anos 1970 como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

O descontentamento do Solidariedade foi agravado pelo fato de o PDT ter recebido o Ministério da Previdência, que será comandado por Carlos Lupi, presidente da sigla. O partido teve no primeiro turno da eleição presidencial a candidatura de Ciro Gomes, que fez ataques duros a Lula durante a campanha. Além disso, Ciro não se empenhou em pedir votos para o petista no segundo turno.

O deputado estadual Claudiano Martins Filho entregou, no município de Itaíba, Agreste do estado, 270 ordenhadeiras para os produtores de leite do estado. As ordenhas vão auxiliar os produtores a acelerar o processo de extração do leite dos animais, dando mais qualidade de produção e aumentando a demanda.

Ex-ministro da Justiça de Dilma Rousseff, o procurador de Justiça baiano Wellington César Lima e Silva cresceu na bolsa de apostas para assumir a Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) de Lula.

O cargo funciona como a principal assessoria jurídica do presidente no Palácio do Planalto. Nos governos anteriores de Lula, o posto já foi ocupado por figuras como Dias Toffoli, que acabou virando ministro do STF.

Ministro de Dilma por poucos meses, Wellington foi nomeado para o cargo em março de 2016 e ficou no posto até maio daquele ano, quando a petista acabou afastada da Presidência, após o impeachment.

Além do procurador, ao menos outros dois nomes são cotados para a SAJ: o analista do STF Jean Keiji Uema e o advogado Marcos Rogério de Souza.

*As informações são do colunista Igor Gadelha, do Metrópoles.

Dez dias depois da posse em seu primeiro mandato, em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levou seus ministros para conhecerem de perto o que era viver na miséria. Para isso, escolheu a favela de Brasília Teimosa, onde 580 palafitas abrigavam 2.000 famílias.

Ainda em seu primeiro mandato, em um projeto com a Prefeitura do Recife, o local virou um bairro urbanizado da orla, passou a receber a visita de turistas e virou alvo de especulação imobiliária pelo verde do mar.

Porém, o local também esconde novas palafitas erguidas às margens do rio Capibaribe. Com a crise econômica de 2016, as palafitas se espalharam de novo pela cidade – inclusive no bairro de Brasília Teimosa. As informações são do colunista Carlos Madeiro, do UOL.

Ana Lúcia, 54, mora há sete meses em uma palafita do bairro. Ela vivia nas palafitas do Bode, no bairro do Pina, mas que sofreu um incêndio de grandes proporções em maio.

A família dela foi contemplada na leva de moradores nas obras iniciadas em 2003 e que foram deslocados para o bairro do Cordeiro, no Recife. Ela admite que desistiu de morar na casa devido à distância do rio. Como vive da pesca, ela gostaria de ter uma casa à beira-mar, como é hoje em Brasília Teimosa.

“Moro há pelo menos de 15 anos de palafitas. Eu vivo da pesca, o que queria mesmo era uma casa aqui no bairro. Dizem que não tem condição de fazer casa para pescador aqui, mas é mentira: basta ver as estacas no rio demarcando área para fazer coisa para quem é rico”, diz.

“Lula vai fazer essas casas. Quem bota fé nele sou eu! Ele foi o melhor presidente.”, Ana Lúcia, marisqueira.

A também marisqueira Girlene Maria, 45, mora vizinha às novas palafitas e diz que entende o retorno dos barracos à localidade conhecida como Vila Joaquim Gomes, que fica dentro de Brasília Teimosa.

“Faz uns três, quatro anos que eles estão aqui. Ninguém tem casa, não tem nada na vida, então onde tiver espaço, fazem palafitas. Vai ficar com os meninos na rua?”, questiona.

Clique aqui para ler a matéria na íntegra.

Partidos da oposição da Venezuela deixaram de reconhecer Juan Guaidó (foto) como presidente interino do país.

Por 72 votos a 29, além de oito abstenções, os opositores votaram nesta sexta-feira (30) pelo fim da figura de presidente interino. O mandato de Guaidó deve terminar em 5 de janeiro.

O ex-parlamentar se declarou presidente do país em 2019, após o ditador Nicolás Maduro ser alçado a um terceiro mandato consecutivo em eleições contestadas.

Guaidó teve apoio diplomático de aproximadamente 50 países, incluindo os Estados Unidos, o Canadá e o Brasil durante a gestão de Jair Bolsonaro. As informações são do O Antagonista.

Um dos principais nomes da área econômica do primeiro governo Lula, Marcos Lisboa avalia que o Brasil está no caminho de uma nova crise severa se o governo não adotar um “freio de arrumação”. Na leitura dele, o País lida com um cenário preocupante de descontrole de gastos públicos e enfraquecimento das regras fiscais.

“Eu temo que, talvez, a gente tenha que enfrentar uma nova grave crise para poder começar a superar os problemas que estão sendo construídos”, afirma Lisboa, hoje presidente do Insper.

Entre 2003 e 2005, Lisboa ocupou o cargo de secretário de Política Econômica no ministério então liderado por Antonio Palocci. Ele descreve a sua participação no governo petista da época mais como um “acidente do que uma intenção”.

“Agora está se fazendo uma aposta em uma certa visão de mundo de que o papel da política pública é apoiar e estimular investimento – público e privado -, que isso vai gerar crescimento econômico e que, com o crescimento, a conta será paga. É uma aposta feita sem muita evidência”, critica.

A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao Estadão.

O que mudou no cenário econômico desde que Lula deixou a presidência e que ele precisa prestar atenção?

A partir de 2008, o Brasil apostou naquela agenda de estimular o investimento com subsídios e direcionamentos. O País ficou mais protegido, com maior concessão de benefícios para alguns setores. O resultado foi um baixo crescimento e uma crise fiscal que hoje é mais grave do que há 20 anos. Mas aí teve um ponto de melhora e vários agravantes. O de melhora é que, com a grave crise que começou em 2014, o País resolveu adotar algumas reformas importantes: reforma trabalhista, redução de subsídios ao setor privado, marco legal do saneamento, reforma da Previdência.

Qual foi o aspecto de piora?

O aspecto trágico do Brasil é, que quando as coisas começam a melhorar, a gente anda para trás. O País teve dois anos de pandemia, e a economia reagiu melhor do que o esperado, mas, na sequência disso, veio uma quantidade impressionante de retrocessos. Eu e o (economista) Marcos Mendes sistematizamos 42 medidas que foram aprovadas nos últimos dois anos, sendo 12 delas emendas constitucionais, como colocar semicondutor com proteção na Constituição, auxílio-taxista, auxílio-caminhoneiro, proteção para etanol, distribuição de benefícios. Isso é jogar dinheiro da sociedade no mar para beneficiar alguns.

Vê o novo governo preocupado com essa questão?

A bancada da esquerda, e do PT em particular, votou a favor de várias dessas medidas. A esquerda e a direita no Brasil votaram a favor da retomada dessa agenda patrimonialista. Votaram pelo orçamento secreto, votaram para garantir benefícios para grupos de interesse. Esquerda e direita no Brasil são muito mais parecidas do que as pessoas imaginam.

O sr. participou do primeiro governo Lula. O que o fez participar naquele momento e o que tem de diferente agora?

Aquele momento foi mais um acidente do que uma intenção. O Brasil vivia um momento difícil, uma crise de confiança grave, taxa de juros alta, prêmio de risco alto, dívida razoavelmente elevada. Fiquei muito surpreso com o convite para trabalhar naquele governo, mas havia uma agenda. Houve um acordo sobre uma agenda – diferente da esperada -, liderada pelo ministro (Antonio Palocci). A gente começou com um ajuste fiscal forte. O Banco Central teve autonomia para conduzir a política monetária. Isso gerou dificuldades no curto prazo, mas a economia voltou para o eixo e, em seis meses, as coisas estavam indo bem. Tinha uma série de propostas que tecnicamente não paravam em pé, como o Fome Zero. Elas fracassaram, mas o pragmatismo do presidente entrou em ação. Ele falou: ‘Se o que o pessoal que me acompanha há tanto tempo propôs deu errado, vamos pensar diferente’. E aí a ideia de focalizar a política social e criar o Bolsa Família – que foi tão criticado pela esquerda – parou em pé. Acho que foi mais fruto das circunstâncias e de algumas pessoas que foram muito importantes naquele período, que convidavam ao diálogo, como o Luiz Gushiken (ministro da Secretaria de Comunicação do governo Lula, morto em 2013). Com a Casa Civil (à época comandada por José Dirceu), havia uma conversa construtiva.

Falta esse pragmatismo agora e pessoas como Gushiken?

Agora está se fazendo uma aposta em uma certa visão de que o papel da política pública é apoiar e estimular investimento – público e privado -, que isso vai gerar crescimento econômico e que, com o crescimento, a conta será paga. É uma aposta feita sem muita evidência. Pelo contrário: que projetos grandes iniciados em 2008, 2009 e 2010 deram certo? Ferrovias, a grande Petrobras que iria virar uma das maiores empresas do mundo, a indústria naval… O que deu certo daquilo? É uma visão complicada de política pública, porque ela vem com uma narrativa que não se preocupa muito em ter evidências. Acho que é preocupante e que não estão atentando para as repercussões disso. O Brasil é um país que tem uma volatilidade imensa há algumas décadas. Isso custa crescimento. Essa irresponsabilidade com a política pública tem um custo social imenso.

A gente pode viver um baixo crescimento com esse cenário?

A gente está vivendo um baixo crescimento há mais de 40 anos exatamente por essas oscilações, por mudanças bruscas de regra. Como é que não conseguimos ter uma governança das estatais? Como se aprova mudança nas estatais em algumas horas, sem debate público? Qualquer discussão de política pública deveria ter um protocolo.

Acha que isso terá continuidade?

Isso está tendo continuidade, porque a esquerda apoiou essa agenda. Essa agenda não gerou divergência entre a esquerda e a direita no Brasil. Você promete desenvolvimentismo e o que entrega é o velho patrimonialismo brasileiro de grupos de interesse abocanhando nacos do Estado.

Em relação ao incentivo do Estado para investimento, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a política monetária é a que vai impulsionar a economia. Como vê essa sinalização?

Sinalizar no discurso que não acha que é o gasto (público) que vai impulsionar a economia é um bom sinal. Seria melhor se fosse acompanhado na prática. (É preciso) dizer: ‘A gente tem de cuidar do social. Vamos apoiar um Bolsa Família melhor e, por isso, vamos reduzir subsídios daqui e dali, cortar despesas e falar para o Judiciário que não dá para ter mais aumento agora.’ Se o discurso casasse com a prática, seria um avanço.

O sr. chamou o Haddad para ser professor no Insper. O que o chamou atenção nele?

No Insper, as decisões são colegiadas. Fernando Haddad tem um histórico acadêmico, foi prefeito, foi candidato a presidente, tem um conhecimento e uma vivência de política pública que qualquer boa universidade do mundo acolhe. Isso ajuda até na formação de novos gestores: quais foram os problemas que vocês enfrentaram? Qualquer boa universidade faz isso com pessoas que foram relevantes na política pública e no setor privado.

Mas como o sr. o vê como profissional?

Não falo de pessoas.

E sobre a estratégia de Ministério? Parece querer repetir o que foi feito antes: um político no comando e nomes técnicos embaixo. Isso é capaz de ser refeito?

Eu vou discutir agenda. O dia em que tiver uma agenda estruturada, um diagnóstico com evidência empírica e propostas concretas, aí a gente discute. Fora isso, é cair na conversa fácil. O que é relevante é saber qual reforma tributária vai apoiar. Vai ser a PEC 45? Ótimo.

Se fala na possibilidade de misturar a PEC 45 e a 110. Como você vê essa possibilidade?

Qualquer mistura com a PEC 110 só piora a reforma. A PEC 110 começa com uma série de exceções, de casos particulares, regimes especiais, tributação diferenciada. Temo que o que a gente assistiu nos dois últimos anos é, de fato, um Congresso muito sensível a grupos de pressão. O setor de serviços vai aceitar pagar imposto como todo mundo?

O que falta para o País? Parlamentar preocupado com a política pública ou o governo apontar qual é a agenda?

Foi um descaminho institucional imenso na última década. Eu acho que o fracasso da política no Brasil 10 anos atrás – um pouco mais -, com um governo muito incompetente tecnicamente e na política…

O sr. se refere ao governo Dilma?

Sim. Era uma agenda incrivelmente atrapalhada, ineficaz, de pouco diálogo e tecnicamente superficial. Naquela época, o Congresso foi se apropriando dos poderes do Executivo. Começou com a emenda individual impositiva, veio a emenda de bancada e culminou nessa coisa inacreditável que o Brasil inventou, que é a emenda de relator. O Executivo ficou mais fraco. Na última eleição, foi impressionante como o Congresso se apropriou de verbas. Com o fundo eleitoral, por exemplo, tem de explicar para o estrangeiro que o Brasil dá US$ 1 bilhão para os partidos disputarem a eleição, fora o fundo partidário, fora o horário eleitoral gratuito. Você acabou elegendo quem era aliado dos caciques eleitorais, quem tinha dinheiro para fazer campanha. É a nossa superficialidade usual: quer uma solução fácil para um problema difícil, não estuda muito e tem uma ideia de quinta rapidamente.

Como resolver isso?

Não sei

Acha que tem alguém tentando resolver isso?

Olha, a gente tem falado sobre a questão das emendas de relator, dessas distorções institucionais, da retomada do estado patrimonialista, sobretudo nos últimos dois anos, há bastante tempo. Nem a esquerda nem a direita quis enfrentar o problema. No passado, quando a crise ficava severa, a sociedade pressionava, com as divergências e as dificuldades, por reformas duras. Na hora que a coisa fica boa, a gente volta ao descontrole. Acho que o Brasil vive esse ciclo, independentemente se é esquerda ou direita. São as circunstâncias que fazem a agenda. Temo que, talvez, a gente tenha de enfrentar uma nova grave crise para poder começar a superar os problemas que estão sendo construídos.

Durante o governo Dilma, o sr. alertou para a questão fiscal. Como vê a situação agora?

No fim de 2012, era claro que iria dar uma crise. Na época, minha dúvida era se isso iria gerar uma década perdida de novo. Já há alguns anos eu falo que a minha dúvida é se será apenas uma década perdida ou mais do que isso. Houve um freio de arrumação no governo Temer, naquela imensa crise. Algumas reformas boas foram feitas e o País interrompeu aquela crise severa, mas bastou interromper aquela crise para os grupos organizados, com apoio da esquerda e da direita, se realinhassem para voltar a captura do Estado. A consequência vai vir nos próximos anos.

Estamos caminhando para outra crise severa?

Esse risco existe e ele se agravou nas últimas semanas. A continuar essa expansão do desequilíbrio das contas públicas, a dívida pode sair de controle no curto prazo, e o risco é de um aumento da inflação e das taxas de juros no médio prazo, com impactos recessivos sobre a economia.

O governo eleito tem proposto fazer o ajuste com por meio da revisão das desonerações. Qual é a avaliação do sr.?

Um ajuste fiscal do tamanho que precisa ser feito passa por uma mobilização do governo e aprovações do Congresso. A capacidade discricionária do Ministério da Fazenda foi muito reduzida, com a grande quantidade de desonerações e concessões de benefícios e aumentos de gastos que foram aprovados nas últimas semanas. No Brasil, desoneração significa rever o Simples, as deduções de saúde, rever as desonerações do setor privado. Agora, teve a PEC dos enfermeiros, com maiores gastos. O Brasil está caminhando na direção contrária, de criação de novas desonerações, de ampliação do desequilíbrio por meio de leis e ampliação dos benefícios. A capacidade do governo, em particular da Fazenda, de fazer um ajuste por meio de desonerações e corte de gastos, é bem menor agora do que há algumas semanas.

E um ajuste via aumento de impostos?

Também é mais difícil do que em outros países. Metade da arrecadação tem que ser destinada para governos locais que, por força de lei, são obrigados a aumentar os gastos. Em geral, para cada um ponto de ajuste fiscal, a carga tributária de impostos deve aumentar dois pontos.

O sr. vê alguma sinalização positiva no novo governo?

A maior esperança é o pragmatismo de uma parte da liderança da esquerda se as coisas começarem a desandar. Se ficar nesse discurso de nós contra eles, o mercado contra a gente, essa falácia de que o mercado é um sindicato, alguém que a gente negocia… Não existe isso. O mercado é composto por pessoas, fundos de investimentos, de previdência, que têm a obrigação de cuidar dos recursos de quem vai se aposentar, seus investidores, fundos de pensão.

Por enquanto, então, não tem nada que o sr. acredite estar indo na direção correta?

Tem um histórico que mostra que, quando dá muito errado, o pragmatismo aparece. Mas a dúvida é: vão reconhecer erros rapidamente ou vão demorar a reconhecê-los?