Por Manoel Guimarães – Especial para o blog
A história política brasileira esconde mistérios que até hoje seguem sem explicação. Um deles é o motivo da morte do ex-presidente João Goulart, o Jango, em 6 de dezembro de 1976. Doze anos após ser deposto pelo regime militar, ele morreu em Corrientes, na Argentina, com a causa oficial de um infarto agudo do miocárdio. Mas sempre pairaram suspeitas de envenenamento e assassinato. Um laudo da exumação, realizado em 2014, foi inconclusivo sobre a primeira hipótese.
Quase 50 anos depois, o filho do ex-chefe da nação e atual presidente da Fundação João Goulart, o filósofo João Goulart Filho, ainda espera respostas. Em entrevista ao podcast Direto de Brasília, apresentado por Magno Martins, ele criticou a falta de memória do país e o desinteresse das autoridades pela história da República.
“O que se supõe, e não é só suposição, é que ele realmente foi vítima de troca de remédios por parte da Operação Condor. No Chile, foram mais de 45 casos de envenenamento de guerrilheiros que lutavam contra a ditadura de Pinochet. No caso de Jango, temos declarações de agentes uruguaios que participaram da troca de medicação. A única coisa que não temos, e nem teremos jamais, é uma declaração em cartório do presidente Geisel mandando matá‑lo”, ironizou João Goulart Filho.
Leia maisO herdeiro relembra que o ex‑presidente, deposto em 1964, queria voltar ao Brasil e sofreu com a pressão política, mesmo não estando mais cassado. “O Uruguai perseguia meu pai. O que ele dizia era que não estava mais cassado, que era só por 10 anos, até 1974. Ele não queria renunciar ao asilo político e pediu residência ao ministro do Interior. Foi negado. E ele ficou numa situação de viver entre Argentina e Uruguai, sem residência legal. Ele não dormia duas noites no mesmo lugar — por isso morreu na Argentina. Ficava nessa instabilidade, não tinha passaporte. Por isso dissemos que mataram ele de qualquer jeito, ou com veneno ou com perseguição”, afirmou.
“O Brasil foi um dos países que mais operacionalizou a Condor, mas sem divulgar os nomes de agentes e militares que lá estavam. Até hoje já tivemos a liberação e a desclassificação de vários documentos dos serviços secretos. A presidente Dilma Rousseff, quando chefe da Casa Civil, nos liberou mais de 700 documentos sobre a repressão no Brasil, mas não foram divulgados os nomes dos agentes que participaram, que sequestraram, mataram e eliminaram vários brasileiros que ainda estão desaparecidos e não sabemos onde foram parar. Temos essa posição de reivindicar. Fomos vítimas da ditadura, mas a maior vítima é o Estado brasileiro, a cidadania, a soberania, a defesa do cidadão brasileiro que passou por todas essas barbaridades e até hoje não tem essa resposta”, concluiu o filósofo.
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