Já falei no meu blog sobre a trilha dos túneis, em Gravatá, que cumpri na última quinta-feira com minha Nayla Valença, sua filha Maria Heloisa e meus filhos Magno Martins Filho e João Pedro. Para a garotada, foi um passeio muito divertido, mesmo sendo um pouco cansativo.
Para mim, uma viagem a um passado de saudade. Mergulhar literalmente nos túneis de Gravatá foi uma viagem ao túnel do tempo, um tempo de muitas recordações, marcado por grandes histórias envolvendo as longas viagens de trem para o Recife, saindo do Sertão.
Leia maisO transporte ferroviário cumpriu bem o seu papel e hoje seu patrimônio está completamente abandonado. Fazer o passeio em busca dos túneis e das pontes por onde os trens passavam apitando em Gravatá, além de agradável e relaxante, é um mergulho na história.
Os trens, embora poeirentos e desagradáveis, representavam uma alternativa barata e econômica numa época que não havia ônibus disponíveis para às comunidades sertanejas. Meu pai Gastão Cerquinha só viajava de trem até Recife, partindo de Afogados da Ingazeira.
Era o meio de transporte que usava também para transportar a mercadoria que comprava na capital para vender em suas lojas de miudezas em Afogados. Só viajei de trem uma única vez para o Recife, mas a viagem não me sai da memória: 12 horas levando poeira na cara.
Papai sempre foi cuidadoso com a alimentação dos filhos e até nas viagens de trem levava comida em marmitas bem quentinhas. Os vagões tinham restaurantes, uma comida, entretanto, não muito recomendável ao paladar ou confiável.
Perdi as contas que, às quintas-feiras, a cada 15 dias, ficava aguardando meu pai na velha e romântica estação ferroviária de Afogados da Ingazeira, seus funcionários bem vestidos, farda e quepe.
Havia um sino que tocava anunciando a partida da última estação, em Iguaracy, quando se aproximava de Afogados da Ingazeira. Eu e meus irmãos, impacientes com a longa espera, ouvíamos o tilintar.
A batida do sino nos enchia de felicidade, estampava alegria em nossos rostos. Estava bem próximo do abraço caloroso de papai, que vestia branco e usava um leve bigodinho.
Havia um outro trem, o de carga, e também o Maria Fumaça. No de passageiro, papai descia com pacotes de maçãs, fruta não cultivada no Sertão, que, para nós, era sabor do Recife, cheiro de mar, que a gente não conhecia, só ouvia falar.
No Sertão, o cheiro que a gente sentia era do marmeleiro, de goiabas, de umbus, que de tão verdes e azedos deixavam nossos dentes com uma leve sensação dolorosa.
Em Gravatá, o roteiro tem uma distância de 14 km, percurso considerado de nível médio, onde é possível apreciar a passagem por 14 túneis e quatro pontes.
Ao longo do caminho, uma paisagem incrível pelas serras e sua vegetação se abrem à frente como deleite aos turistas.
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