Capítulo 26
Se na política Marco Maciel foi um liberal, como se apresentava e defendia teses, na vida pessoal extremamente moderado, no amor se comportou exageradamente conservador. Parece ter seguido os princípios bíblicos de casar virgem, ir em busca de uma parceira apenas para perpetuar a espécie e constituir família.
Sua esposa, a socióloga Anna Maria Maciel, nascida em Acajatuba, no Estado do Amazonas, em 1941, com quem se casou na Igreja do Espinheiro, no Recife, em 1967, aos 26 anos, nunca soube da existência de outra mulher na vida do amado. “A mim, ele nunca disse que havia namorado antes”, revelou Anna, que o conheceu aos 21 anos, nos movimentos estudantis quando também atuava no DCE – o Departamento Central de Estudantes.
Se Marco não namorava, o mesmo não se podia dizer de Anna Maria. Antes de conhecer Marco Antônio, ela morou em Caruaru na fase de adolescente, entre 15 e 18 anos. “Eu era namoradeira, namorei muito. A gente paquerava muito, naquelas festas todas namoravam muito, mas eram aqueles namoricos de pegar na mão, diferente do que ocorre hoje”, ressalta ela, adiantando que adorava dançar e depois que conheceu Maciel se frustrou.
“Lembro que minha mãe dizia que queria que eu namorasse alguém que não gostasse de festa, porque eu adorava festas, ia para todas. E eu retrucava, afirmando que não iria namorar nunca com um homem quem não dançasse. Para mim, homem que não dançava era aleijado. Queimei a língua. Marco Maciel nunca dançou. É o que a gente diz: língua não tem osso, mas quebra caroço. Paguei feio”.
Diferente de Anna, Marco Maciel era contido, introvertido e extremamente discreto. Nunca soprou ao ouvido dela que estava apaixonado, que gostaria de começar um namoro. Também nunca noivou nem a pediu em casamento formalmente, como manda o figurino do amor. “Eu fazia Ciências Sociais e Marco Antônio, Direito. Na condição de terceira secretária do Diretório Central, que funcionava na Rua do Cupim, nas Graças, passamos a nos encontrar com muita frequência, mas nenhum tipo de flerte da parte dele”, relembra.
No conceito formal, para Anna, ele nunca manifestou por palavras que queria namorar. “No diretório, ele já presidente da União dos Estudantes de Pernambuco, começou a me chamar para organizar algumas coisas, como o Natal dos universitários e programas de alfabetização de adultos, além de outras ações, uma atrás da outra. Ele já trabalhava muito. Os meus filhos fazem hoje a leitura que ele queria saber se eu aguentava o tranco”, diz ela, rindo, ao se referir ao ritmo alucinante da vida pública levada por Marco Antônio, como assim o tratava.
Como ele revelou que estava gostando da sua companhia e queria namorar?”, quis saber ao longo do depoimento que colhi de Anna Maria em Brasília. “Sinceramente, não teve nenhum romantismo. Ele me convidou para ir para um passeio da nossa turma e aí eu disse: Mas eu não vou sozinha”, lembra.
Acrescentando: “Aí, ele disse que não tinha problema porque chamaria uma amiga nossa, que viria me buscar. Na volta, ele disse: “Anna Maria, amanhã eu ligo para você. E o namoro começou assim. Já havia uma amizade de um ano, a gente começou a namorar sem eu ser paquerada de fato”, contou.
Se para conquistar o amor da sua vida Maciel não seguiu o rumo natural da sedução, ao longo dos cinco anos em que namorou, também não noivou nem tampouco pediu formalmente a mão de Anna em casamento, como era costume naqueles anos de romantismo do passado, de namorar apenas pegando na mão e beijar, deixando sexo somente para após o casamento na igreja.
“O casamento foi a coisa mais engraçada. Nós namoramos por cinco anos. Era uma gozação da turma de jovens. Quando a gente se encontrava, o pessoal perguntava: “Vai casar quando?”. Para você ter uma ideia, eu nunca noivei. Meus filhos dizem que eu era muito moderna. Um belo dia, ele chegou na minha casa, já como deputado estadual, sentou-se na sala, quando o pessoal saiu, ele falou que estava na hora de comprar um apartamento ou uma casa. Eu falei: “Oxente?” Aí, ele emendou: “É porque faz muito tempo que a gente namora, não é? E foi assim o pedido de casamento”, descreveu.
Na mesma ocasião, conhecedora do tradicionalismo dos pais do namorado, Anna Maria fez uma advertência: “Marco Antônio, seu pai e sua mãe nunca vieram à minha casa. Como é que eu vou casar?” Aí ele disse: “Fala com o pessoal e vê o que a gente faz” (risos). E então fizemos um jantar e marcamos o casamento, que aconteceu na igreja do Espinheiro”.
Nesse intervalo, segundo Anna Maria, Marco Maciel nunca se manifestou sobre o noivado nem a surpreendeu com as alianças.”Sem nada de alianças, ele adoeceu. Era líder do governo e apareceu com herpes. Parecia que tinham apagado um charuto no rosto nele. Era horrível! Ele foi ao médico, que passou uma vitamina e ele ficou bom. Mas quando eu ia visitá-lo, me dizia: “Anna Maria, quando você sair do trabalho, poderia ir na Rua Nova e comprar nossas alianças?” Eu comprei as alianças (risos). Até hoje são as mesmas. Com o nome dele dentro e o meu nome, também”, revelou.
O casamento foi marcado para 28 de dezembro de 1967, cerimônia celebrada pelo padre Melo e por um frade da Ordem dos Carmelitas, Dom Eliseu, tendo como padrinhos, dentre outros, o então governador Nilo Coelho e esposa. Anna Maria talvez tenha sido, na sua época, a única noiva a não atrasar um segundo a chegada na Igreja temendo contrariar a família do noivo.
“Não atrasei porque eu tinha medo do meu sogro. Ele era muito formal, a cópia de Marco Antônio. Passou a semana dizendo: Anna Maria, não atrase. O governador é padrinho. A preocupação do doutor Maciel não era com os parentes, mas sim com o doutor Nilo. Não atrasei por conta disso”, destacou.
Anna e Maciel seguiram em lua de mel para Salvador e Rio de Janeiro, mas com o trato de, nas núpcias, o marido não se envolver com política. “Passamos uma semana viajando. Felizmente, ele esqueceu a política por esses dias. No Rio, ele tinha parentes, os visitamos e saímos para passear e jantar”, recorda.
Na volta, Marco Maciel comprou uma casa financiada por 15 anos. Já formada em Ciências Sociais, Anna Maria passou no concurso da Sudene e, aprovada, foi trabalhar no setor de Recursos Humanos. Na Sudene, também integrou equipes que produziram várias pesquisas sociais. Do casamento, nasceram três filhos: Gisela, Cristiana e João Maurício.
Veja amanhã
Beato, Marco Maciel visitou o Papa quatro vezes em Roma, o recebeu em Pernambuco, promovia missas frequentes no Palácio Jaburu, onde também fazia intermináveis reuniões com a bancada da Igreja.
Leia menos