Por Marcelo Tognozzi*
Um certo Ahamed Mulay Ali, que se diz “diplomata”, escreveu no Poder360 que meus artigos sobre o Marrocos contém informações falsas e incompletas. Insinuou que viajei a serviço do Reino do Marrocos, o que não é verdade. Viajei a convite do governo marroquino, o que é muito diferente. Ajo com transparência e não tenho e nem nunca tive mandato para defender o Reino do Marrocos, que não precisa de mim para isso. Ele não gostou de eu ter mostrado a realidade.
Este tipo de acusação é no mínimo uma ofensa a mim e ao Poder360, que há 6 anos publica meus artigos todos os sábados. O “diplomata”, com suas acusações grosseiras e infundadas, pretende sair da sua irrelevância fazendo ataques pessoais, típicos de quem é movido pelo ódio, com o único intuito de criar cortina de fumaça, confundir e tentar censurar. Vamos aos fatos e, a partir deles, tirem suas conclusões sobre quem dissemina fake news.
Leia maisMilitante profissional, o “diplomata” fez da causa que defende um meio de vida. Uma causa nutrida por dinheiro cuja origem não é transparente. Não sei quem paga as contas do “diplomata”, nem como o dinheiro que o financia entra no Brasil. O que tenho certeza é que sua narrativa não para de pé. Quanto mais luz, pior fica.
Ele se apresenta como “diplomata” da Rasd (República Árabe Saarauí Democrática), que na realidade não existe e de democrática nada tem. A ONU não reconhece a Rasd como País e a incluiu na lista de territórios não autônomos. Esta república de mentirinha, na realidade, se resume aos acampamentos controlados pela Frente Polisario em Tindouf, na Argélia, movimento guerrilheiro cinquentenário do qual o tal “diplomata” é funcionário. São dezenas de milhares de pessoas vivendo na pobreza. Falta comida, água potável, saneamento e sobra sofrimento.
De acordo com informações do jornal digital Le360, a Rasd e a Polisário custariam anualmente US$ 1 bilhão ao governo argelino. Só com armas e soldados, a Rasd gastaria por ano quase US$ 500 milhões. Tanto dinheiro e tanta pobreza juntos. O “diplomata” não explica como um dinheirão desses serve para comprar armas e financiar gente como ele, mas não serve para erradicar a pobreza e mudar a vida do povo saarauí, que há meio século segue morando em barracas e, pelo visto, continuará assim por outros 50 anos. Mas há coisas mais graves.
A pior nódoa na história da Rasd e da Polisário é a escravidão. Não sou eu quem digo isso, mas os relatórios da Human Rights Watch, nos quais há registros de trabalho escravo. De acordo com relatório da Ausaco (Autonomy for The Sahara Coalition), entidade formada por jovens negros que lutam contra a escravidão, a prática tem sido comum.
Este documento mostra que a escravidão entre os saarauís foi registrada por diversas ONGs. Identificaram 7.130 escravos, “incluindo mulheres que são estupradas, casadas contra sua vontade e enviadas para o deserto para cuidar dos rebanhos dos seus mestres”. Tudo isso em pleno século 21.
O ativista dos direitos humanos da Mauritânia, Biram Dah Abeid, premiado pela ONU e símbolo da luta contra a escravidão no Saara Ocidental, conhece bem o problema. Ele tem denunciado como os negros são discriminados e explorados no Saara Ocidental. Quanto mais negro, mais risco de ser escravizado.
O relatório da Ausaco corrobora denúncias de Abeid ao mencionar que “a Human Rights Watch documentou em seus relatórios de 2008 e 2013 os testemunhos de pessoas negras sobre o sofrimento dos negros nos campos, especialmente aqueles que são ‘possuídos’ por notáveis que os forçam a fazer tarefas domésticas e criação de animais”.
A escravidão, “diplomata”, é uma vergonha, um câncer, que temos combatido faz tempo no Brasil. Nós, brasileiros, temos nojo e ódio à escravidão e aos seus cúmplices. Não toleramos. Seus amigos que a toleram o fazem, alguns por má fé, outros por senilidade e todos por omissão e conveniência.
“Diplomata”, o senhor não engana ninguém. O mundo sabe que o senhor pertence a um grupo que faz vista grossa para a escravidão e se esconde atrás de uma farsa para atacar jornalistas honestos e honrados como eu. Tenho quase 50 anos de profissão, sempre fui independente, jamais capacho de ditador, integrei o antigo CDDPH (Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) e tenho nojo de quem explora pessoas pobres e ignorantes em troca de poder.
Quando o Brasil era uma ditadura, lutei nas ruas por liberdade, anistia, constituinte e eleições diretas. Minha vida profissional está à disposição de qualquer um na internet. Não sei da sua, nem me interessa.
Ao ler seu esperneio por causa dos meus artigos, por acaso lembrei do “Atroz redentor Lázarus Morell”, personagem do livro a “História Universal da Infâmia”, de Jorge Luis Borges. Morell se aproveitava da escravidão para realizar fraudes e enganar escravos. Ele prometia liberdade, mas sempre os traía.
*Jornalista
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