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Após anunciar, ontem, que o sorteio público eletrônico seria adotado como forma de seleção para ingresso nas Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) em 2026, o Governo de Pernambuco declarou, no final da manhã de hoje, que o processo seletivo das ETEs voltará a adotar a prova de admissão como critério de ingresso.
A adoção de sorteio como forma de seleção para ingresso nas ETEs, previamente descrita pela Secretaria de Educação e Esportes (SEE) como uma forma de promover “equidade na distribuição das vagas”, gerou forte repercussão e revolta entre internautas, estudantes e pais. As informações são do Diário de Pernambuco.
Leia maisNas redes sociais, usuários apontaram desrespeito ao mérito e ao esforço dos jovens que se preparavam há meses para a seleção. “Educação não é jogo de azar, não é feita de sorte. Estudar e ser aprovado em um processo seletivo é ter o reconhecimento legítimo do mérito e do esforço”, escreveu um deles. “Selecionar estudantes por meio de sorteio é um tremendo desrespeito com aqueles que vêm se preparando para este momento ao longo de todo o Ensino Fundamental”.
A decisão de voltar a adotar a prova de admissão como critério de ingresso nas ETEs foi confirmada pela Secretaria de Educação, que informou que o novo edital será republicado na edição do Diário Oficial do Estado neste sábado (25).
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Por Rudolfo Lago – Correio da Manhã
Nas deliciosas crônicas que escrevia sobre futebol, o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues tinha uma frase para descrever times ou jogadores que, pela soberba, acabavam perdendo ou complicando jogos nos quais eram os franco favoritos. “Tropeçou nas fitinhas da própria máscara”, dizia Rodrigues.
O alento maior da oposição é que daqui até outubro do ano que vem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tropece “nas fitinhas da própria máscara”. Pessoas que estiveram com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), recentemente, apontam que ele parece começar a dar inclinações mais claras de que a Presidência da República tornou-se uma cogitação mais forte. Pelo curso da campanha de Lula.
Leia maisSegundo esses interlocutores, Tarcísio segue negando a hipótese da Presidência. Mas teria havido uma mudança nas suas avaliações sobre o quadro. Há algumas semanas, ele descartava por considerar que seria uma aventura perdida, dado o favoritismo de Lula.
Mais recentemente, no entanto, o governador de São Paulo começou a considerar que a eleição presidencial do ano que vem será apertada. Curioso é que essa mesma avaliação foi feita em entrevista esta semana pelo ministro da Secretaria-Geral, Guilherme Boulos.
Segundo esses interlocutores, a avaliação que Tarcísio começou a fazer é que em todas as eleições que disputou Lula teve, sem dúvida, muitos votos, mas também teve alta rejeição. Nas primeiras vezes que disputou, o discurso mais à esquerda acabou assustando um eleitor mais conservador. Em 2002, Lula moderou esse discurso e colocou um conservador de vice, José Alencar. A opção agora talvez por um posicionamento mais à esquerda, elegendo o Congresso como inimigo, poderia vir a afugentar eleitores. Antes dos eleitores, essa opção já estaria afugentando a possibilidade de alianças políticas ao centro e à direita.
Uma dessas hipóteses estaria no posicionamento do PSD. O partido comandado por Gilberto Kassab falava em uma candidatura própria com o governador do Paraná, Ratinho Jr. Mas poderia se aproximar de Tarcísio. Kassab é, inclusive, seu secretário de governo.
Dificilmente Tarcísio fecharia um apoio formal do MDB. Mas Lula também não teria esse apoio. Uma divisão do partido com estados fechados com Tarcísio ajudaria na composição ao centro. Isso provavelmente aconteceria no Sul, Centro-Oeste e parte do Sudeste.
Em entrevista ao programa Direto de Brasília, do jornalista pernambucano Magno Martins, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), avalia que o quadro de diversas candidaturas, ao contrário de atrapalhar, pode beneficiar a oposição a Lula.
Caiado prega que a oposição tenha “sabedoria”. Na sua avaliação, quando as pesquisas concentram a oposição em um só candidato, Lula vence no primeiro turno. Quando há várias candidaturas, perde no segundo. O caminho seria garantir essa união na segunda volta.
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A Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho antecipou o ponto facultativo do Dia do Servidor Público – comemorado em 28 de outubro – para segunda-feira (27). O feriadão não é a única boa notícia para os 6,7 mil funcionários municipais. O salário que normalmente é pago no último dia útil do mês caiu na conta nesta sexta-feira (24).
“Nosso compromisso é manter o salário em dia e, sempre que possível, antecipar o pagamento como forma de reconhecimento pelo trabalho de cada servidor. Eles são fundamentais para o bom funcionamento da máquina pública e merecem esse gesto de respeito”, destacou o prefeito Lula Cabral, ao fazer o anúncio da antecipação da folha de pagamento.
O secretário de Administração, José Luiz do Monte, reforçou que a antecipação é fruto do planejamento financeiro da Prefeitura. “Graças à gestão responsável das contas públicas, conseguimos garantir o pagamento antecipado, oferecendo mais tranquilidade aos servidores e movimentando o comércio local neste período de feriado”, afirmou.
Um leitor enviou ao blog, há pouco, um vídeo denunciando o total descaso na PE-545, que liga o município de Ouricuri a divisa com o estado do Ceará, passando pelas cidades de Bodocó e Exu. No trecho filmado pelo leitor, é possível ver a buraqueira que toma conta da estrada. Confira!
O Sextou de hoje abre a sua cortina para a música brega. O convidado é cantor e compositor pernambucano Conde Só Brega, um dos maiores fenômenos do estilo no País, que gravou sucessos como ‘Não devo nada a ninguém’, ‘A vida é assim’, ‘Azafama’ e ‘Espelho do poder’, esta com a participação de João Gomes, astro do piseiro.
Ivanildo Marques da Silva, o Conde, nasceu e cresceu no bairro da Mustardinha, subúrbio da Zona Oeste do Recife. Recebeu o apelido de “Conde” por parte dos avós ainda na infância, por ter nascido com cabelos e olhos claros. Sua carreira artística começou na adolescência, tocando guitarra na banda do pai Antônio, quando algum músico faltava aos shows.
Leia maisChegou a tocar em uma banda chamada ‘Os Vibrantes’ de Surubim. Ao lado de dois irmãos, fundou a banda ‘Farofa com Charque’, que pegou carona no sucesso das bandas de forró estilizado do cearense Emanuel Gurgel nos anos 1990. Vendo o sucesso da Banda Labaredas no Recife, ele decidiu fundar o projeto Banda Só Brega, que depois passa a se chamar O Conde e a Banda Só Brega.
O Sextou vai ao ar hoje, das 18h às 19h, pela Rede Nordeste de Rádio, que reúne 48 emissoras em Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife. Para ouvir pela internet, acesse o link do Frente a Frente no topo desta página ou baixe o aplicativo da Rede Nordeste de Rádio na Play Store.
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A estudante Maria Vitória Guilherme da Silva, da Escola Técnica Estadual Jurandir Bezerra Lins, em Igarassu (PE), conquistou o 1º lugar nacional no Desafio Quero Ser Economista, competição que estimula alunos do ensino médio de todo o país a conhecerem mais sobre a profissão e o papel da economia na sociedade.
A solenidade de entrega do certificado da premiação nacional ao 1º lugar no Desafio Quero Ser Economista 2025 será realizada no dia 7 de novembro, durante o 33º Encontro de Economia do Nordeste (ENE).
Leia maisO Desafio, realizado anualmente pelos Conselhos Regionais e pelo Conselho Federal de Economia, tem como objetivo despertar o interesse dos jovens pela área econômica, promovendo a educação financeira, o pensamento crítico e a compreensão das dinâmicas que influenciam o desenvolvimento do país.
Para a presidente do Corecon-PE, Ana Cláudia Arruda, o resultado é motivo de orgulho para Pernambuco. “Ver uma estudante pernambucana conquistar o primeiro lugar em uma competição nacional mostra o potencial dos nossos jovens e o quanto a educação pública pode transformar realidades quando há incentivo e dedicação”, disse.
Ana Cláudia também destacou a importância da iniciativa para aproximar a economia das novas gerações. “O Desafio Quero Ser Economista é uma porta de entrada para que os estudantes compreendam o impacto das decisões econômicas no dia a dia e percebam que a economia é uma ferramenta essencial para o bem-estar coletivo”, afirmou.
Com a vitória, Maria Vitória receberá um prêmio de R$ 2 mil e leva o nome de Pernambuco ao topo do pódio, que neste ano foi formado exclusivamente por estudantes do segundo ano do ensino médio e todas do sexo feminino, um sinal de que a nova geração de mulheres está cada vez mais interessada e preparada para ocupar espaços na economia e na sociedade.
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Servidores da Secretaria Estadual de Saúde enviaram uma denúncia, hoje, ao Blog, descrevendo o “total descaso” do governo Raquel Lyra (PSD) com as condições de trabalho e o pagamento dos profissionais. Segundo relatos, muitos estão sem contrato formal, sem direito a 13º salário, férias ou diárias, e seguem trabalhando sem vínculo reconhecido. Há ainda denúncias de que o Estado não tem autorizado novos contratos de terceirização, o que tem agravado a situação de quem continua prestando serviço à população.
Os trabalhadores relatam que há servidores, há mais de três meses, sem receber salários e, quando o pagamento é feito, ocorre apenas após longos períodos de espera. A insatisfação cresce às vésperas do Dia do Servidor Público, celebrado na próxima segunda-feira (27). “A falta de empatia do governo Raquel Lyra com os prestadores de serviço na Saúde é gritante”, desabafa um dos servidores em relato ao Blog.
Por Marlos Porto*
Há sutilezas no Direito que escapam àqueles que leem apressada e irrefletidamente. Tais sutilezas são, muitas vezes, próprias da linguagem e quem não busca interpretar o texto legal de forma cuidadosa pode escorregar facilmente nele.
Propalou-se aos quatro ventos que o deputado federal Eduardo Bolsonaro teria cometido atentado à soberania por defender tarifas contra produtos brasileiros e sanções da Lei Magnitsky.
Leia maisPouco depois, porém, que tais invectivas foram lançadas na mídia, esclareci em postagem aqui que não se tratava do tipo penal alegado e cheguei a “cantar o jogo” quanto à possibilidade de serem feitas tais acusações de forma açodada, posto que não havia, a princípio, negociação com governo estrangeiro com vistas à pratica de nenhum ato típico de guerra contra o Brasil. Afinal, tarifas são medidas que qualquer país pode adotar como bem lhe aprouver e quem não gostar, que imponha tarifas recíprocas ou busque negociar com outro país.
Eis que noticia a imprensa ter o senador Flávio Bolsonaro postado comentário em inglês para o Secretário de Guerra dos EUA, Pete Hegseth, sugerindo ataque a navios no Rio de Janeiro, mencionando inclusive a Baía de Guanabara.
Agora, a situação muda radicalmente. Não há como não considerar preenchidas as elementares do tipo penal.
Não importa se os navios supostamente seriam para transporte de drogas. Não há previsão no nosso ordenamento para tais ações violentas de uma armada estrangeira serem praticadas em nossas águas territoriais. Portanto, seria ato típico de guerra.
Além disso, por mais inofensivo que pareça para alguns, um simples comentário sugestivo de uma ação desse tipo endereçado especificamente a Hegseth em uma rede social pode ser considerado como o início de uma forma de negociação. Para completar, não seria necessário que tais ações bélicas fossem tomadas pelos EUA: a negociação para tal fim é que é punida, uma vez concretizada ou tentada, e não o ato de guerra em si.
Tais conclusões acima podem ser facilmente alcançadas por qualquer pessoa que tenha realmente aprendido a ler e não tenha deixado o fanatismo ideológico tornar disfuncional essa habilidade humana tão maravilhosa.
*Bacharel em Direito
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A deputada federal Maria Arraes (SD) apresentou, ontem, na Faculdade de Direito do Recife, o Projeto de Lei nº 2112/24, que tem como objetivo reduzir os casos de morbimortalidade materna no Brasil. A convite do Nexo Governamental XI de Agosto, a parlamentar participou de uma mesa-redonda ao lado da promotora de Justiça Maisa Silva Melo de Oliveira, da psicóloga Luciana Rodrigues, da assistente social do Centro Obstétrico do Hospital das Clínicas, Izabel Leite, e de estudantes do curso de Direito da UFPE.
Durante sua fala, Maria Arraes explicou que a proposta surgiu durante sua gestação, após ouvir diversos relatos de mortes de mulheres grávidas que poderiam ter sido evitadas. “São óbitos que, em sua maioria, são preveníveis. Segundo dados da Fiocruz, 92% poderiam ser evitados se essas mulheres tivessem acesso à prevenção, ao diagnóstico e ao manejo adequado de complicações comuns na gravidez. O Brasil ainda apresenta índices elevados de mortalidade materna: em 2024, os números preliminares indicam 50,57 óbitos para cada 100 mil nascidos vivos”, destacou a deputada.
Leia maisO projeto, atualmente em tramitação na Câmara dos Deputados, propõe ações voltadas à prevenção, à capacitação de profissionais para a realização de partos humanizados, ao apoio especializado contínuo às equipes de saúde e à garantia de informações e direitos às gestantes, incluindo planejamento familiar, acesso à contracepção, laqueadura periumbilical e cuidados com a saúde mental.
Maria também chamou atenção para a necessidade de combater as desigualdades regionais e raciais na assistência ao parto. “No Norte, a taxa chega a 823 mortes por 100 mil habitantes, enquanto no Sul são apenas 40. Outro ponto que merece destaque é o número de mulheres negras afetadas, a mortalidade entre elas é o dobro da média nacional. Por isso, este projeto é fundamental para que possamos reverter essas situações”, afirmou. A expectativa é que o projeto de lei seja votado na Câmara dos Deputados ainda neste ano.
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O deputado estadual Waldemar Borges (PSB) fez críticas à mudança no processo seletivo das Escolas Técnicas Estaduais (ETEs) de Pernambuco, anunciada pela Secretaria de Educação, que a partir deste ano deixa de aplicar provas de conhecimentos e passa a utilizar sorteio eletrônico público para definir os alunos que ingressarão nas unidades.
“É lamentável que o Governo do Estado tenha decidido trocar o mérito, o esforço e o conhecimento dos estudantes pelo Bozó”, afirmou o parlamentar, fazendo referência ao jogo de dados popular. “As ETEs sempre foram um espaço reconhecido pela qualidade do ensino e pelo estímulo ao aprendizado. Substituir a medição do conhecimento por sorteio é desvalorizar quem se prepara, quem estuda e quem sonha com uma oportunidade conquistada pelo próprio mérito”, disse.
Leia maisO novo edital, lançado ontem pela Secretaria de Educação de Pernambuco, oferece 9.891 vagas em 29 cursos técnicos integrados ao ensino médio, com jornada integral. As inscrições seguem abertas de 28 de outubro a 7 de novembro pelo site da Secretaria.
Segundo o governo, a mudança para o sorteio eletrônico busca ampliar a equidade e garantir a participação de alunos de diferentes redes de ensino. No entanto, para Waldemar Borges, a medida “nivela por baixo” e enfraquece um dos principais instrumentos de valorização do ensino público.
“As escolas técnicas sempre foram um exemplo de educação pública de qualidade, e parte disso se deve à seriedade do processo seletivo. O que o Governo está fazendo é jogar fora uma história de sucesso e de reconhecimento nacional”, criticou.
O parlamentar afirmou ainda que levará o tema ao plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco, para debater o impacto da medida na qualidade e na imagem das ETEs.
“Educação é porta de futuro, não é bingo. É preciso garantir oportunidades, mas sem abrir mão do conhecimento como base de transformação social. É preciso entender melhor essa proposta do governo. Fico imaginando a situação daquele aluno que se dedicou ao longo de muito tempo para dominar as matérias, mas que ficou de fora porque a sorte não lhe sorriu. É isso mesmo o que o governo quer fazer com nossas ETE’s?”, concluiu Borges.
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Por Flávio Chaves*
Garibaldi Ludwig não ofertava coisa alguma. Não vendia esperanças, tampouco prometia redenção. Era como uma prece dita ao vento, como a sombra de um corpo que já partiu. Apenas entregava ausência – e o fazia com a ternura solene de quem sabe que o vazio também precisa ser cuidado.
Não falava em consolo, porque compreendia que o consolo, às vezes, trai a dor legítima. Não acompanhava ninguém até o fim de um processo, pois cria que a alma precisa caminhar sozinha até o abismo que lhe pertence. Seu ofício era outro, imperceptível à pressa dos vivos, sutil como a poeira que dança nos feixes de luz nas manhãs silenciosas.
Leia maisGaribaldi tomava conta de livros que dormiam em bibliotecas esquecidas – aquelas onde as páginas perderam os dedos que as folheavam, e o tempo se assentava como véu sobre cada lombada. Lia devagar, com os olhos abertos como portas e a alma desarmada como quem aceita o que dói. Respirava o pó como quem inala lembranças, e assim, tornava-se parte do que repousa no esquecimento.
Sentava-se em estações onde os bancos rangem como articulações cansadas e os trilhos já não sabem para onde levam. Pegava vagões vazios, seguia em viagens sem destino, como um náufrago que encontrou no ferro sua jangada. Pela janela, via os espectros do cotidiano: rostos cansados, alegrias vencidas, paixões apagadas pelo tédio das cidades que passavam.
Vestia-se com a sobriedade dos que não precisam ser anunciados: calça de brim, camisa clara, chapéu de palha – como se ainda vivesse num tempo anterior ao ruído. Nos ombros, a poeira dos caminhos que ninguém mais pisa. Chegava como as estações do ano: sem anúncio, mas com inevitável precisão.
Não era contratado. Era pressentido.
Às vezes, aparecia num botequim esquecido no fim da cidade. Sentava-se diante de uma garrafa abandonada e tomava longos goles, densos e lentos, como quem bebe o passado com reverência. No canto da parede, uma radiola de fichas sussurrava músicas ancestrais. Garibaldi as ouvia como ladainhas de um mundo antigo, e quando uma lágrima escorria, não era tristeza: era memória. Um reconhecimento íntimo: “Sim, eu me lembro de quando tudo isso ainda doía.”
Numa prateleira empoeirada, instrumentos adormecidos – bandolins, violões, cavaquinhos, violinos. Ele nunca os tocava. Apenas os contemplava como quem vela um corpo amado, como quem escuta a música que persiste mesmo após o último acorde.
Em certo verão, ficou três dias no banco de trás de um cinema desativado. À noite, diziam, ouvia-se o estalar de pipocas imaginárias, um riso antigo preso no projetor. Noutra ocasião, passou madrugadas em vigília diante de um açude seco, fitando a superfície como se aguardasse o retorno de um barco que nunca existiu, mas que, de algum modo, ainda precisava chegar.
Entrava em casas à venda havia décadas. Sentava-se na cadeira de balanço e lia um livro que não fechava. Ao cair da noite, saía em silêncio, deixando um botão de rosa seca sobre o batente – como um selo sagrado, como quem diz: “aqui, um amor passou.”
Nos enterros de desconhecidos, Garibaldi era presença muda. Sentava-se à margem dos enlutados, como quem escuta os murmúrios do mundo invisível. Ninguém o convidava. Ninguém o impedia. Era como um farol encoberto pela névoa: orientava sem ser visto.
Com o tempo, tornou-se lenda. Chamavam-no de “o guardião das ausências”. As crianças o seguiam de longe, como quem vê um alquimista de silêncios. Os velhos o reverenciavam – reconheciam nele a linhagem secreta dos que sabem perder sem se despedaçar.
Nunca aceitou dinheiro. Quando alguém, num gesto de gratidão, insistia, ele sorria com ternura e dizia:
— Não cobro por lembrar o que foi amado.
Garibaldi ensinava sem palavras que a ausência não é o oposto da presença – é sua continuação invisível.
Certa vez, uma senhora lhe perguntou:
— Por que o senhor faz isso?
Ele tirou o chapéu, fitou o chão de terra batida e respondeu com a serenidade de quem já não pertence a este século.
— Porque alguém precisa ficar onde o tempo passou.
E foi só. Nunca mais voltou.
Dizem que hoje ele habita ruínas, igrejas esvaziadas, galpões tomados pelo mato. Não para restaurá-los, mas para impedir que o esquecimento seja total. Para que, por um breve instante, o mundo ainda se lembre de que ali, um dia, algo pulsou.
Em tempos de tanto ruído, Garibaldi Ludwig era a lembrança viva de que até o vazio merece companhia.
*Jornalista, poeta, escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras.
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A matéria de capa da Revista Veja desta semana traz um levantamento muito interessante. A briga dos opositores com o presidente Lula (PT) nas redes sociais, no momento em que o petista dá a volta por cima e melhora não apenas nas pesquisas, mas também em sua performance nas redes sociais.
Segundo a reportagem, em termos de competitividade nas Redes Sociais, Lula ainda tem um longo caminho a percorrer, mas já estruturou minimamente sua base para uma tentativa de reação – e avançou sobre um território que lhe era completamente hostil.
Leia maisEssa recuperação, cuja sustentabilidade será colocada à prova nos próximos meses, foi captada por um levantamento feito pela ‘Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados’. Realizado com base em análises da internet entre janeiro e julho, o estudo mostra que, nesse período, Lula liderou um ranking de relevância nas redes sociais composto por onze nomes cotados para concorrer ao Palácio do Planalto.
Para definir as posições de cada um deles na tabela, a Nexus colheu indicadores como número de publicações, quantidade de seguidores, engajamento e média de interações por post no Instagram, TikTok, X, YouTube e Facebook. A partir dos dados colhidos, atribuiu uma nota de zero a 100 a cada presidenciável.
Somando os resultados das cinco plataformas, Lula ficou em primeiro lugar, com 79,76 pontos, seguido pelo deputado Eduardo Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro, o governador Tarcísio de Freitas, o ministro Fernando Haddad e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Inelegível e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Jair Bolsonaro não foi considerado na elaboração da lista.
No placar geral, as posições de Eduardo e Michelle Bolsonaro poderiam ser melhores, já que o deputado não participa do TikTok e a ex-primeira-dama só tem contas no X e no Instagram. Autoexilado nos Estados Unidos, para onde se mudou a fim de convencer Donald Trump a pressionar o governo, o Congresso e o Judiciário a absolver Jair Bolsonaro, Eduardo supera Lula no X, no Facebook e no YouTube, usados para divulgar mensagens de apoio ao pai dele e de críticas à gestão petista e ao STF.
O avanço de Lula no terreno digital coincide com a recuperação de parte de sua popularidade, algo detectado por vários institutos de pesquisa em levantamentos recentes. No período monitorado pela Nexus, houve queda da inflação dos alimentos e o tarifaço imposto por Donald Trump a Brasil. Sem outras grandes bandeiras de sua gestão atual, Lula tratou de agarrar a oportunidade, batendo na tecla do discurso nacionalista.
Em outros termos, o período foi favorável ao petista, o que certamente facilitou o fortalecimento de sua imagem nas redes. Vale ressaltar ainda que o avanço do presidente está longe de significar vitória nesse campo, dada a grande dianteira pavimentada pela direita contra a esquerda nas redes nos últimos anos. Confira abaixo a reportagem completa.
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