Hoje, o tempo do verbo é saudade. Parece ter sido ontem quando fui acordado com a notícia da morte da minha mãe Margarida Martins, minha amada e inesquecível mãe Dó. Um infarto fulminante tirou a sua vida na madrugada de 27 de fevereiro de 2013, em Afogados da ingazeira.
Em direção à cozinha, em busca de um copo de água para tomar um comprimido de enjoo, caiu morta no sofá da sala. Mas parecia dormir o sono dos justos, tão serena foi a sua morte, conforme lembra meu irmão Marcelo, que, surpreso com a cena, olhando na direção dela, perguntou: mamãe, o que a senhora está fazendo aí? Vá para o seu quarto!”
Leia maisMarcelo deu o último abraço, pouco depois do último suspiro dela. Uma cena para levar na mente, no coração e na alma para o resto da vida. O tempo voa: 11 anos de saudade. O tempo é um furacão. Sai arrastando tudo: as alegrias, as dores, os sorrisos, as lágrimas. Até as lembranças. O tempo se encarrega também de eternizar a saudade.
A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo, segundo o poetizar de Mário Quintana. A saudade é como o vento diante do fogo: apaga o pequeno, inflama o grande. Sinto saudades de quem não me despedi direito, das coisas que deixei passar, de quem não tive, mas quis muito ter. Não me despedi direito de minha mãe Dó.
Mas, ao seu lado, vivi uma despedida sem saber: o passeio que me pediu em Garanhuns, cidade que viveu sua pré-adolescência. A levei no relógio das flores, no parque Euclides Dourado, no parque do Pau Pombo, andei de mãos dadas com ela pelas ruas do centro e fomos bater no colégio Diocesano, onde estudou.
Que passeio lindo, emocionante e inesquecível! Eu, ela, papai Gastão e minha irmã Ana. Cora Coralina, a poetisa das montanhas de Goiás, dizia que a humanidade se renova no ventre da mãe. “Tens o dom divino de ser mãe. Em ti está presente a humanidade”, recitou Cora.
Mário Quintana disse que mãe são apenas três letrinhas, que nelas cabem o infinito. Que mágico e lindo! Mãe Dó foi uma mãe que na vida cantou o amor. Uma luz que teve nos olhos um brilho incessante.
Se andou chorando num sorriso, teve o mundo sem ter nada. Foi a força de um coração que só bateu para amar, que nos acalmou num simples toque de mão. A força da proteção, do abraço bem quente, amor puro e profundo.
Tudo que sou, ou ainda pretendo ser, devo a um anjo, minha mãe.
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