Por Hylda Cavalcanti*
Quando cheguei em Brasília, para atuar na sucursal do Diário de Pernambuco (DP) convidada pelo jornalista Magno Martins, em 1994, um dos meus principais trabalhos era ir sempre na vice-presidência da República em busca de pautas. O DP tinha tido outras vezes sucursal na capital do país, mas a estava reabrindo, justamente, porque se tratava de uma ocasião especial. Início dos anos FHC, muita expectativa em torno do novo governo e, ainda por cima, com um pernambucano na vice-presidência.
Recém-chegada à cidade e cobrindo a vice-presidência, tive a oportunidade de entrevistar importantes representantes do mundo empresarial do país, como Davi Zilberstein, o falecido Roger Agnelli e a então diretora do Banco Rural, Júlia Rabello. Isso, fora personalidades internacionais como o jurista Boaventura de Sousa Santos. Todos eles, independentemente de se reunirem com ministros das áreas referentes aos assuntos que queriam tratar, faziam questão de agendar, também, uma conversa com o vice-presidente ou fazer-lhe uma visita.
Leia maisMaciel não era muito afeito a receber jornalistas com seu jeito discreto e, quando queria, sabia disfarçar e sair sem responder às perguntas que não queria. Era terrível! Mas fazia isso sempre com o maior respeito e simpatia e presenteava a todos, no final do encontro, com a Constituição Federal. Mas eu adorava frequentar aquela antessala do seu gabinete tão prestigiada, porque nunca era perda de tempo. Sempre conseguia sair com uma boa entrevista ou, ao menos, boa matéria, com as muitas personalidades que lá estavam.
Eu também tinha um truque para falar com Maciel, que confesso agora. O chamava de “dr. Marco Antonio”, porque sabia que os mais próximos e antigos amigos de faculdade assim o chamavam e ele adorava. Era petulância minha, eu sei, porque o “Marco Antonio” era só para os mais íntimos. Mas eu fingia que não sabia, colocava um doutor na frente para ficar mais respeitoso e, em vez de abordá-lo como a maioria dos repórteres, como “vice-presidente” ou “presidente”, me saía com “dr. Marco Antonio.”
Cobrir a vice-presidência me abriu portas para grandes reportagens, me fez conhecer um pouco mais os meandros da política e dos bastidores do governo, bem como algumas brigas e articulações que eram levadas a ele por parlamentares. Depois, se for oportuno, contarei a tarde em que presenciei um senador nordestino, furioso com FHC, chegar lá de repente dizendo que “fazia questão” de ser atendido por Maciel o quanto antes. E, vermelho, afirmava quase aos gritos “vou romper, vou romper”.
Depois da conversa, a relatoria de um projeto que queria e lhe foi tirada foi passada para um outro parlamentar por ele indicado e ficou tudo bem. Nunca esse senador “rompeu”, nem tocou mais no assunto.
Faço aqui alguns desses relatos porque além de terem me ajudado a progredir profissionalmente, me ajudaram, sobretudo, a respeitar ainda mais Marco Maciel e sua contribuição para a história do país. Foi um exemplo de político conciliador, homem criterioso, preparado e antenado com o mundo ao seu redor.
Por isso que convido a todos para lerem o livro “O Estilo Marco Maciel”, do Magno Martins, cujo lançamento acontece amanhã (26/09), às 18h, no Salão Nereu Ramos do Senado Federal. São detalhes de encontros do “dr. Marco Antonio” (para não perder o hábito) com personalidades diversas, assim como decisões que ele tomou como senador e vice-presidente que impactaram no país inteiro.
Compareçam. A trajetória de Maciel vale a pena ser lida! E a apuração feita pelo Magno também!
*Jornalista
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