Em entrevista, Chico José fala de suas aventuras diante de tubarões e da salvação de uma indígena

Por Carol Bradley
Da Revista Viva Vida 60+

Mergulhar com tubarões, cobrir seis Copas do Mundo e duas Olimpíadas, indicado como finalista ao prêmio Emmy de Jornalismo. Primeiro nordestino a fazer reportagens para o Jornal Nacional, deu visibilidade ao problema da seca no Sertão e denunciou compras de votos no interior. Aos 80 anos, em plena forma, Chico José, como é mais conhecido, tem muito o que comemorar.

Casado com a jornalista Beatriz Castro, é pai de quatro filhos, um homem e três mulheres; dois deles seguiram seus passos no jornalismo, além de seis netos. Cearense do Crato, aos onze anos se mudou com a família para Pernambuco, após três anos da morte do pai e o novo casamento da mãe.

Iniciou sua carreira no Jornal do Commercio e saiu da Globo aos 77 anos, após 46 anos na emissora.  Recebeu diversos convites para morar fora: em São Paulo, Londres, mas recusou todos, nunca quis deixar o Recife. Decidiu comemorar os 80 anos do jeito que mais gosta, com a família, os amigos e um mergulho radical em Fernando de Noronha.

Como foi o início da sua carreira de jornalista?

Eu ganhei um concurso literário no colégio Americano Batista e quando o diretor foi me entregar o prêmio, falou que eu tinha muito jeito para ser jornalista. Foi a primeira pessoa que me despertou o interesse pelo jornalismo, mas a minha paixão era pelo esporte, principalmente pelo futebol e foi isso que me levou para o jornalismo. No Jornal do Commercio tinha um vespertino chamado Diário da Noite, que era dedicado aos esportes. Eu corrigi uma estatística errada do Campeonato Pernambucano de Futebol, que tinha mais de vinte erros e mandei uma carta desaforada para o jornal. O editor de esporte, chamado Aramis Trindade, tinha uma crônica diária na resenha esportiva, da Rádio Jornal do Commercio e durante o programa, ele chamou: “O leitor que corrigiu a estatística do campeonato, por favor venha à redação,” mas, eu não fui. Pensei, ele deve estar querendo me devolver os desaforos que eu disse (risos), porém, no dia seguinte, chamou de novo no programa e eu fui. Ele me pediu para ficar fazendo a estatística do Campeonato Pernambucano, até que um dia, o repórter que cobria o Náutico adoeceu e Aramis me pediu para ficar no lugar dele. Na época, não tinha o curso de jornalismo, eu sofri muito pra aprender na prática, a redação foi minha universidade.  

Você já cobriu seis Copas do Mundo e duas Olimpíadas, o que mais te marcou na cobertura esportiva?

O que mais me marcou foi acompanhar o Náutico na época do hexacampeonato. Era um time maravilhoso, jogadores extraordinários e um sistema de jogo diferente, eu já vi ganhar do Santos, com Pelé, na Vila Belmiro era um super time.

Ganhei um sorteio para cobrir a minha primeira Copa do Mundo em 1966, no ano que entrei para o Jornal do Commercio. Na Copa do Mundo de 1970, no México, ganhei um concurso de reportagem, também pelo Jornal do Commercio. Foram catorze dias de treino de manhã e de tarde em Guanajuato, nesse período, Zagalo formou talvez a melhor seleção brasileira de todos os tempos. Tive oportunidade de acompanhar tudo, naquela época não tinha treino secreto, eu tinha acesso à concentração e jogávamos futebol com a comissão técnica. Havia um entrosamento muito grande e isso para um jovem como eu, convivendo com Pelé, Rivelino, Zagallo era uma gratificação e me fez apaixonar ainda mais pelo esporte. Nas Olimpíadas, acompanhei Joaquim Cruz (no atletismo), quando ganhou a medalha de ouro para o Brasil.    

Como foi sua experiência na área da publicidade?  

Quando o Jornal do Commercio faliu, antes do João Carlos Paes Mendonça comprar, minha filha mais velha tinha apenas três meses de idade e estavam pagando em vale. Então, fui trabalhar numa agência de publicidade que chamava Abaeté Propaganda, com o Seu Queiroz, que atualmente é a Ampla. Fiquei lá por um tempo, como eu cobria o Banorte, o banco acertou com a agência de publicidade para eu ir trabalhar como gerente de marketing no Banorte. Eles investiram em mim, fiz curso de especialização em marketing e fiquei ainda dois anos como gerente de marketing do sistema financeiro Banorte, foi quando veio o convite da Globo e deixei o banco. Estava num cargo muito bom, mas a minha vocação era o jornalismo, tanto que fui ganhar em salário na Globo, a metade do que ganhava como gerente no banco, mas eu achava que tendo oportunidade na Globo, conseguiria vencer nessa profissão. 

Suas imagens mergulhando junto aos tubarões são impressionantes, como é a sua relação com o mar?

Comecei a mergulhar com Dr. Nelson Caldas, otorrino, que mergulhava em naufrágios. Ele localizou o Trafalgar, um naufrágio com uns canhões de bronze, ligou para o Jornal do Commercio e falou comigo para fazer a reportagem. Comecei a mergulhar assim, por acaso, fazendo reportagens. Eu fazia caça submarina, mas depois achei que era uma covardia ficar atirando nos peixes lá embaixo e passei a ser um defensor da natureza. Jacques Cousteau (cineasta e oceanógrafo francês) fez uma relação dos dez principais pontos de mergulho do mundo, já fui aos dez, onde tinha um lugar bom de mergulho, eu dava um jeito de ir. Mergulhei muito com tubarões, já fui procurar os tubarões que atacam aqui (no litoral de Pernambuco). Eu fui pras Bahamas, na época estava proibido levar mergulhadores pra área que fica ao lado do abismo das Bahamas, porque os tubarões dali tinham matado um turista alemão e o governo proibiu o mergulho naquele local, mas a Globo conseguiu uma autorização pra fazer a reportagem. Então eu e o cinegrafista que foi comigo assinamos um termo de responsabilidade pela própria vida. Você tem que ficar preparado, não deixar o tubarão vir por trás, eles vieram cinco vezes pra cima de mim, na quinta vez quando ele abriu a boca eu filmei dentro da boca do bicho e tem vídeo pra comprovar.  

Qual trabalho você considera o mais marcante de toda sua carreira?

O que mais me marcou foi a seca, quando comecei na Globo eu era repórter esportivo. Fui o primeiro apresentador do Globo Esporte em Pernambuco e com o tempo, passei a fazer reportagens gerais. Nessa época só entrava no Jornal Nacional repórter do Rio, São Paulo e Brasília, fui o primeiro a entrar fora dessas três praças. Eu entrei em 1976 e em 1978 começou a grande seca que durou até 1982. Morriam as pessoas, os animais e morriam principalmente as crianças desnutridas. O Nordeste era recordista mundial de mortalidade infantil, não havia assistência médica no Sertão, só Ouricuri, Salgueiro, Serra Talhada e Petrolina tinham hospitais, era muito difícil pra população, aquilo me emocionava demais. A BR 232 nem era asfaltada, o governo não ia lá, depois inventaram carro pipa pra ganhar voto e eu denunciei tudo isso:  o voto do carro pipa, o voto de cabresto, compra de voto, entrei na fila pra comprar votos em Salgueiro, então eu fazia todas essas reportagens do interior. 

Como se sentiu sendo finalista do prêmio Emmy Internacional em 2013?

Eu estava na primeira fila do teatro Lincoln Center, em Nova Iorque e me senti como se estivesse no Oscar, foi muito marcante pra mim. A matéria foi sobre a cultura dos índios Enawenês Nawês, que passam sete meses do ano fazendo rituais e oferendas para o espírito do mal não castigarem eles. Eu morei trinta e dois dias dentro da selva, convivendo com eles e fomos muito bem recebidos, o filho do cacique era meu intérprete e falava português. Teve um acidente com a filha do cacique, um galho de uma árvore caiu na cabeça da menina e ela ficou em coma por dois dias. Eles fazendo dança e pajelança ao lado dela, tinha um funcionário da Funai com um barco para levar a menina pro hospital, mas eles não deixavam, então eu tomei a iniciativa de falar com o cacique e o filho traduzindo, que a filha dele ia morrer, se não fosse para um hospital e ele deixou. No dia seguinte, o filho dele me acordou de madrugada e me levou para falar com o cacique que estava bravo porque o hospital não tratava da menina, ele disse que branco não gostava de índio. A realidade é que só tinha uma ginecologista e um clínico geral e ela precisava de um neurologista. Eu liguei para o Secretário de Saúde de Mato Grosso e disse que ele precisava mandar um avião com neurologista a bordo para tratar da menina já no avião. Ele ficou botando dificuldade, então eu disse: Tenho dois finais para o Globo Repórter; tem a abertura mostrando o drama dessa menina e dois finais para o senhor escolher um. No primeiro, ela foi salva porque o senhor mandou o avião com o neurologista a bordo, foi operada e voltou, o outro é que ela morreu porque o senhor não deu atenção. Ele disse: Vou mandar buscar agora mesmo. O final do Globo Repórter foi a menina tomando banho de rio, ela ficou boa. 

Você conhece bem a Amazônia, já dava para antecipar que teríamos os atuais problemas climáticos?

Cobri a Amazônia durante quase vinte anos, eu era o repórter da Amazônia, tinha sala na TV Amazonas, em Manaus. Fiz os grandes rios da Amazônia, percorri todas as estradas, que são os rios, porque não tem estrada pela selva, então eu fiz o Rio Negro, Solimões, Tapajós, fiz o rio Amazonas desde a nascente na Cordilheira dos Andes e tive muito contato com indígenas. Nessa época, não havia ainda o avanço da agricultura e a coisa mais maléfica que existe é o garimpo. Denunciei várias vezes o garimpo ilegal na terra dos Ianomâmis, que se repetiu no governo passado e a Sônia Bridi fez um trabalho extraordinário, para o Fantástico. Naquela época não havia tanto desmatamento, se você andar hoje pelo município de Santarém, no Pará, vai ver que é tudo plantio de soja, sementes. Eu voltei ao Jalapão dezenove anos depois e quase não reconheci, porque onde havia cerrado tinha se transformado em plantio de eucalipto, soja, avançaram demais com fazendas de gado, tem muitos casos também de grilagem de terra e a gente está vendo as consequências agora.

Como estão os projetos profissionais atualmente

Sai da Globo depois de 46 anos, aliás todos saíram, eu fui um dos últimos a sair, depois que estava demitido, ainda me deram oportunidade para fazer um Globo Repórter e escolhi fazer o Atol das Rocas e Fernando de Noronha e fui curtir a vida, mas começaram a surgir as propostas. No Jornal do Commercio, na CBN, TV Tribuna, surgiram boas oportunidades, mas não era isso que eu queria. Eu trabalho para uma agência chamada Caséfala, de Regina Casé e ela me manda para o Brasil inteiro fazendo palestras, então eu conto as minhas histórias e é isso que quero fazer. Mais recentemente fiz uma série de seis documentários para a Petrobrás “Um Brasil de Energia”, sobre transições energéticas. 

Você decidiu comemorar seus 80 anos, com um mergulho na Corveta Ipiranga, naufragada em Noronha, como foi essa comemoração?

Eu decidi que ia comemorar os 80 anos do meu jeito, fazendo um dos mergulhos mais radicais do país, em Fernando de Noronha. Fui pra ilha no dia 29 de abril, dois dias antes do meu aniversário, com um grupo grande de amigos e família, mas só quem foi comigo pro barco de mergulho foi a minha filha, Mariane Brito, que é jornalista e mora na Espanha, porque o mergulho é um pouco afastado da ilha e se não tiver experiência de barco termina enjoando. Ela me filmou pulando na água, lá embaixo fui até o fundo e botei o computador na areia pra mostrar que estava a 62 metros de profundidade, tudo registrado pela minha amiga fotógrafa, Zaira Matheus e pelo cinegrafista que sempre viaja comigo, Fábio Borges. Fiz o mergulho pra mandar uma mensagem para os velhinhos, que como eu, chegaram aos 80 anos de idade: Isso não significa o fim da vida, reaja, lute, procure continuar vivendo, a vida é bela, você tem que aproveitar o seu tempo com a família e com os amigos. (O vídeo do mergulho está no insta @chicojosedebrito). 

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Um avião da Força Aérea Brasileira caiu no fim da manhã desta sexta-feira (1), na cidade de Pirassununga, interior de São Paulo. O acidente aconteceu após a colisão entre dois aviões da FAB.

O piloto de uma das aeronaves conseguiu ejetar. A outra aeronave pousou em segurança. Segundo a Academia da Força Aérea, que fica no município, todos que estavam no avião estão bem e passam por atendimento médico.

O avião caiu em uma área de mata. Imagens publicadas nas redes sociais indicam que houve uma explosão da aeronave. O Corpo de Bombeiros de São Paulo confirmou a informação e disse que o piloto foi socorrido pela própria FAB.

Nota – FAB

A Força Aérea Brasileira (FAB) informa que, nesta sexta-feira (1º), duas aeronaves T-27 Tucano, utilizadas em treinamento de cadetes da Academia da Força Aérea (AFA), colidiram durante voo de instrução, em Pirassununga (SP). Uma aeronave pousou em segurança, enquanto a outra foi direcionada para região desabitada. O piloto realizou os procedimentos de ejeção da aeronave com sucesso, sendo, em seguida, resgatado por equipe de salvamento da FAB.

O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) investigará o acidente a fim de identificar os possíveis fatores contribuintes para evitar que novas ocorrências semelhantes ocorram.

Da CNN

Petrolina - Testemunhal

Uma operação de combate a furtos realizada no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, identificou quatro fábricas de reciclagem de plástico e pré-moldados com ligações clandestinas de água. Segundo a Coordenação de Segurança Patrimonial da Compesa, o volume furtado pelos estabelecimentos foi estimado em 4,8 milhões de litros em cinco anos, levando-se em consideração que esse foi o período em que uma das fábricas teve a sua ligação de água cortada, mas manteve as atividades. A água desviada nesse intervalo teria sido suficiente para abastecer 480 imóveis em um mês. 

A iniciativa foi realizada em conjunto com a Neoenergia Pernambuco, com apoio do Instituto de Criminalística (IC), e resultou na autuação dos cinco responsáveis pelas fábricas por furto de água e energia, que foram encaminhados à delegacia. Além das redes de abastecimento irregulares, foram encontrados cabos de alumínio e cobre nos locais. As fábricas tiveram o fornecimento de água cortado, com a remoção da encanação, e os materiais pertencentes à distribuidora de energia recolhidos. 

A Coordenação de Segurança Patrimonial criada recentemente pela Compesa está à frente do planejamento das novas operações contra furto de água que estão sendo realizadas em todo estado. O objetivo é combater o aumento do índice de furtos, ações que penalizam a população, que fica sem água ou com o abastecimento precário. A Compesa lembra que é possível denunciar, de forma anônima, furtos de água pelos canais de atendimento da empresa, como o 0800 081 0195, site ou aplicativo.

Conheça Petrolina

Se o leitor não conseguiu acompanhar a entrevista da cantora Joanna ao quadro “Sextou”, do programa Frente a Frente, ancorado por este blogueiro e exibido pela Rede Nordeste de Rádio, não se preocupe. Clique aqui e confira. Está incrível!

A prefeita de Serra Talhada, Márcia Conrado, participou, nesta sexta-feira (1º), da inauguração do Banco Vermelho, símbolo da luta contra o feminicídio, ao lado da secretária da Mulher de Pernambuco, Juliana Gouveia. A ação faz parte de um esforço conjunto para conscientizar a população sobre a violência contra a mulher e fortalecer a rede de apoio disponível no município e no estado.

“Aqui em Serra Talhada, nossas mulheres têm à disposição uma ampla rede de apoio que envolve a prefeitura, a guarda municipal, o governo do estado e as Polícias Militar e Civil. É fundamental que elas saibam que não estão sozinhas e que podem contar com esse suporte em qualquer situação de vulnerabilidade,” afirmou Márcia Conrado, destacando os avanços obtidos pela Secretaria Municipal da Mulher e os investimentos significativos realizados pela governadora Raquel Lyra na área, com um aporte 300 vezes maior.

O Banco Vermelho, que está localizado no Parque dos Ipês, no bairro do Ipsep, é uma iniciativa simbólica tocada em parceria com a associação italiana Stati Generali Delle Done, que visa lembrar a sociedade da importância do combate ao feminicídio. A cor vermelha e o design do banco chamam a atenção para a causa, convidando todos a refletirem sobre o problema. Segundo a campanha, o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídios, e o banco busca dar visibilidade ao tema e incentivar denúncias.

Por Letícia Lins*

O Centro do Recife tem uma grande noite, nessa sexta-feira (1º), quando o icônico Cinema São Luiz volta a receber o público,  após passar nada menos que dois anos fechado. Esperamos que esse seja um passo para dinamizar aquela área tão esquecida e degradada da cidade, justamente o trecho da Rua da Aurora que fica entre as cabeceiras das pontes Duarte Coelho e da Boa Vista, onde a gente passa temendo que as marquises desabem em nossas cabeças. E também precisa ter cuidado por conta da péssima condição das calçadas.

Isso enquanto o outro lado da Aurora (entre a Avenida Conde da Boa Vista e a Avenida Norte) recebe sempre intervenções, equipamentos urbanos, arborização, eventos. Vamos ver se com o retorno do São Luiz a Prefeitura do Recife e o Recentro cuidam mais um pouco do lado abandonado daquela que é uma das ruas mais importantes do Recife. Problemas urbanos à parte, falemos do Cinema São Luiz, que recuperou o esplendor do passado e que está abrindo para sediar o 15º Festival Janela Internacional de Cinema do Recife.

Agora, o centro do Recife conta com dois dos únicos cinemas de rua que sobraram nos bairros centrais da capital, ambos tombados e ligados ao poder público. O São Luiz pertence ao Estado, enquanto o Parque – que passou mais de uma década em reforma – é gerido pela Prefeitura. Ganha o Centro e ganha o recifense. A festa de inauguração , às 20h,  será conduzida pela governadora em exercício, Priscila Krause (Raquel Lyra está em viagem ao exterior).

Após as cerimônias de abertura, haverá a exibição do filme “Manas”, de Marianna Brennand, longa escolhido para a primeira sessão do Janela, que contará com a presença da diretora e parte do elenco. O filme traz um tema bem atual: a violência e a falta de direitos em uma comunidade da Ilha de Marajó (no Pará). Tudo tendo como protagonista Marcielle, vivida pela paraense Jamilli Correa, atriz de treze anos.  O filme, exibido no Festival de Veneza, vem colhendo premiações. O tititi para ver o cinema recém restaurado é grande. Além disso, o público pernambucano gosta tanto de cinema que todo festival é garantia de casa cheia. No caso do Janela, os ingressos colocados no Sympla para a festa de inauguração vo-a-ram. Em poucos minutos, esgotaram por completo.

Mas um  fator contribuiu para que os ingressos se esgotassem de forma tão rápida: a plateia está pronta, mas o balcão ainda não. “Lembramos que a  área do balcão do São Luiz estará inativa durante todo o festival, reduzindo de forma significativa sua capacidade máxima de espectadores”, diz a nota publicada nas redes pela organização do Festival. Ou seja, a oferta de assentos ainda é bem menor do que o esperado. Antes da reforma, o cinema tinha capacidade para 992 espectadores sentados (sala com balcão).  Natural, portanto, que em menos de três horas, 6.300 ingressos para os filmes do festival já tivessem sido vendidos.

”O que reforça o poder do cinema, o interesse dos espectadores em consumir filmes e ocupar o Centro do Recife”, segundo a organização do Festival. Mas há um lembrete para os cinéfilos que pensam estar fora do evento, devido à demanda pelos ingressos. A produção reservou 10 por cento dos ingressos para venda exclusiva no dia de exibição dos filmes. Ou seja, quem “sobrou” hoje pode não “sobrar” amanhã. Mas tem que ter paciência e se pendurar no computador, porque 100 por cento dos ingressos são vendidos online. E, não adianta espernear na bilheteria. Qualquer bilhete, portanto, só pode ser adquirido no Sympla. A bilheteria virtual para o São Luiz acontece diariamente, a partir das 10h. Já para o Cinema do Museu (da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte), os ingressos serão vendidos só na bilheteria.

Além do Janela, a reabertura do equipamento também contará com a exposição “Cinema São Luiz: Projetando Re-Existências”, que estreia hoje, na reabertura do equipamento para o público. Com recurso de acessibilidade comunicacional de audiodescrição (AD) nos painéis expositivos, a mostra ocupa as dependências do próprio cinema. Entre os temas abordados nos eixos, estão as reformas e algumas das transformações ocorridas nos 72 anos de existência do cinema. E, ao mesmo tempo em que celebra o seu passado, reforça a sua importância no momento de reabertura para o público, vislumbrando as possibilidades futuras.

O Festival Janela Internacional de Cinema do Recife é realizado pela Cinemascópio, e este ano tem o patrocínio da Lei Paulo Gustavo Recife (LPG – Recife), da Lei Paulo Gustavo Pernambuco (LPG-PE), da Copergás e do Complexo Industrial Portuário de Suape e o apoio cultural da Centro Cultural Brasil Alemanha (CCBA), Embaixada da França no Brasil, Cinemateca da Embaixada da França e Cinémathèque Afrique do Institut Français.

*Jornalista do Oxe Recife

Daqui a pouco a grande atração musical do Sextou será a grande cantora Joanna, uma das vozes mais marcantes da música popular brasileira. Com 45 anos de carreira, a cantora conquistou o público com hits como “Tô Fazendo Falta”, “Amanhã Talvez” e “Um Sonho a Dois”.

O Sextou vai ao ar das 18 às 19 horas, pela Rede Nordeste de Rádio, formada por 48 emissoras em Pernambuco, Alagoas e Bahia, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife. Se você deseja ouvir pela Internet, clique no link do Frente a Frente acima ou baixe o aplicativo da Rede Nordeste de Rádio na play store.

O Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE) abriu, nesta sexta-feira (1º), o período de inscrições para o I Prêmio CRO-PE de Jornalismo e Odontologia, visando incentivar matérias e reportagens que abordem a relevância da odontologia para a saúde da população.

O prêmio será dividido em três categorias: texto (impresso e on-line), vídeo e áudio, com inscrições gratuitas pelo link premiodejornalismo.cro-pe.org.br até o dia  20 de novembro. Os vencedores receberão prêmios em dinheiro, com valores que podem chegar a R$ 5 mil.

“A iniciativa tem como objetivo promover a conscientização sobre saúde bucal, fortalecendo o diálogo entre a odontologia pernambucana e a sociedade por meio do jornalismo”, ressalta o presidente do CRO, Eduardo Vasconcelos. A premiação acontecerá no dia 13 de dezembro

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, encerrou nesta quinta-feira (31) visita institucional à Índia em que participou de uma série de encontros bilaterais e acadêmicos para discutir temas relevantes ao Poder Judiciário brasileiro.

O ministro se reuniu com o presidente da Suprema Corte Indiana, Dhananjaya Chandrachud, de quem partiu o convite para a viagem, e também manteve conversas com alunos e professores de universidades do país.

Em palestra para alunos da Faculdade Nacional de Direito da National Law School of India University, na cidade de Bengaluru, o presidente do STF fez uma ampla defesa do regime democrático, com participação popular e, ao mesmo tempo, limites impostos pela Constituição Federal.

No encontro com os estudantes, Barroso ressaltou a importância da proteção dos direitos fundamentais, com a necessidade dos limites constitucionais para garantir o equilíbrio democrático.

“Democracia não é a regra ilimitada da maioria; é a regra da maioria dentro dos limites constitucionais que protegem todos. (…) O papel dos tribunais é manter esses limites, dizendo: ‘sim, vocês são a maioria, mas a constituição impede que violem direitos fundamentais’. Isso é essencial para prevenir abusos e garantir que os direitos de todos sejam protegidos”, afirmou o ministro.

Os jornais indianos “The Indian Express”, “The Hindu”, “The Times of India” e “The Print” registraram a visita do presidente do STF e destacaram sua fala em defesa da democracia e dos limites constitucionais na palestra aos alunos da NSL, além dos encontros bilaterais.

Atividades

Na palestra, que teve como tema “Democracia Constitucional e Recessão Democrática, Missão e Papel dos Supremos Tribunais”, o ministro também afirmou que o Poder Judiciário não deve interferir nas escolhas políticas legítimas feitas pelos governos eleitos pelo povo, assim como tem como missão preservar o Estado de Direito e proteger a democracia contra abusos de poder por parte das maiorias.

Na visita à universidade, o presidente do STF também se reuniu com o reitor e falou a cerca de quarenta membros do corpo docente da instituição com professores da National Law School of India University (NLS).

Suprema Corte

No último domingo (27), Barroso se encontrou com o presidente da Suprema Corte indiana, Dhananjaya Chandrachud, e também com o ministro da Justiça indiano, Arjun Ram Meghwal. O uso de Inteligência Artificial no sistema judiciário foi o tema central da reunião.

Ao concluir a visita oficial que realizou à Índia, o ministro Barroso manteve encontros com especialistas em mudança do clima e combate à discriminação e exclusão social. Com ambos, para além de aprofundar-se em aspectos da atualidade indiana, o presidente do STF conversou sobre o papel do Judiciário no tratamento de cada um dos dois temas.

Na conversa com o ministro da Justiça, o presidente do STF e a secretária-geral da Corte, Aline Osorio, discutiram as estruturas jurídicas do Brasil e da Índia, assim como o fortalecimento da cooperação bilateral entre os países no campo da administração legal.

A visita oficial reforça os laços entre as supremas cortes dos dois países e aprofunda o diálogo sobre inovação e governança judicial.

Do Blog do Mário Flávio

A partir da próxima segunda-feira (4), a Cidade FM 99.7 trará uma novidade que promete enriquecer a programação: o programa “Frente a Frente com Magno Martins”. Focado nos bastidores da política nacional, regional e estadual, o programa se destaca por suas análises profundas e entrevistas com renomados jornalistas, sempre às 18h.

Produzido e veiculado pela Rede Nordeste de Rádio, “Frente a Frente” alcança 48 emissoras em Pernambuco, Alagoas e Bahia. Com uma proposta clara de levar informações relevantes e atualizadas, o programa aborda os temas mais quentes da política, tanto local quanto nacional. Quando transmitido de Brasília, o foco é ainda mais apurado, trazendo a você a essência das discussões que moldam o cenário político do país.

Um dos grandes atrativos do programa é a participação de jornalistas de peso, como José Maria Trindade, da Jovem Pan; Weiller Diniz, ex-Istoé e TV Manchete; Gabriel Garcia, ex-Folha de SP; e Carlos Nascimento, da antiga Radiobras. Com suas experiências e visões críticas, eles oferecem análises que ajudam o ouvinte a entender as complexidades da política contemporânea.

Com uma duração de 1 hora, “Frente a Frente” vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 18h às 19h, tendo como cabeça de rede a Rádio Folha 96,7 FM, no Recife.

O Supremo Tribunal Federal (STF) irá decidir se o salário-base de profissionais da educação pública de estados e municípios deve ser revisto com base nos parâmetros definidos pelo Ministério da Educação (MEC) para reajuste do piso nacional da educação pública. A decisão a ser tomada, em data ainda não definida, deverá ser aplicada a todos os demais processos que tratem do mesmo tema.

O recurso foi apresentado pelo município de Riolândia (SP) contra decisão da Justiça estadual que reconheceu o direito de revisão de salário-base de uma professora municipal com base no índice de atualização definido pelo MEC. Segundo esse entendimento, o Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) – Lei 11.738/2008 – foi validado pelo STF no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4167.

Porém, o município alega que o reajuste por portaria é inconstitucional, uma vez que a alteração de remuneração de servidores públicos pressupõe lei específica. Além disso, cita a Súmula Vinculante 42 do STF, que veda a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.

Existência de repercussão

Para o presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, relator do recurso, os direitos envolvidos ultrapassam os interesses das partes do processo. Ele observou que há interpretações diversas sobre violações à SV 42 e à Constituição Federal, o que demonstra a necessidade de o STF uniformizar a orientação sobre o tema. Somente no STF, o ministro identificou 112 recursos extraordinários sobre o mesmo tema.

Para Barroso, a questão é importante, pois os reajustes automáticos representam, de um lado, a perspectiva de concretização da proteção aos profissionais da educação e a necessidade de valorização do magistério público em todos os níveis federativos e, por outro, um desafio à autonomia de estados e municípios, entre outros pontos.

O governo de Pernambuco nomeou nesta quinta-feira (31) 1.956 novos professores. Ainda segundo o governo estadual haverá outras duas chamadas de mais professores. O Estado de Pernambuco tem mais de 16 mil professores contratados, dos quais 14 mil são cargos públicos vagos devido a aposentadorias, mortes de servidores e exonerações. Esse contexto  viola a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que determina que apenas 10% dos professores de um Estado sejam de contratados temporários. 

A falta de professores concursados em Pernambuco é gigantesca. Para se ter uma ideia, a título de exemplo, a GRE de Afogados da Ingazeira, responsável por gerenciar 42 escolas estaduais, só possui em seus quadros um único professor de Sociologia concursado e formado na área, de acordo com os dados enviados pela Ouvidoria de Pernambuco e informações disponibilizadas pela Secretaria de Educação no site SIEPE. Vale ressaltar que o último concurso para professor de sociologia foi no ano de 2008. Se ampliarmos a problemática em questão para as disciplinas de Filosofia, Espanhol e Artes, a situação também é assustadora. 

Há casos de professores de Química, Matemática, História, Biologia, Pedagogos e até advogados ministrando aulas de Sociologia, o que é um completo descalabro com a educação pública. 

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) está atento a esses desvios de funções, mas ainda faltam medidas mais punitivas à administração pública para que se evitem injustiças com quem estudou, viajou e passou no concurso mais difícil já realizado pela Educação em Pernambuco.  Importante destacar que, a partir de 2025, a sociologia será obrigatória em todos os anos do Ensino Médio aumentando a carga horária e exigindo mais professores sociólogos nas escolas. 

Na chamada de ontem (30) nenhum professor de Sociologia foi convocado para a GRE de Afogados da Ingazeira, gerando preocupações para os professores aprovados. Se esse caos continuar, a Secretaria de  Educação estadual deixará as escolas do Pajeú sem professores suficientes da disciplina de Sociologia no ano que vem, prejudicando milhares de alunos.

As entidades de classe, assim como as Universidades Federais (UFPE, UFRPE e UNIVASF) estão acompanhando de perto a situação das disciplinas que estão sendo ministradas por pessoas sem formação acadêmica correta para lecioná-las. 

Resta saber se os desvios de funções irão continuar prejudicando os milhares de alunos do Pajeú, e os professores concursados terão que esperar por mais dois anos para entrar em sala de aula. Esse descaso fomenta o sucateamento da educação pública e a boa formação que os jovens merecem e precisam para uma vida digna. 

Nós, professores de sociologia do cadastro de reserva, aprovados para a GRE de Afogados da Ingazeira, clamamos por justiça e pedimos à governadora Raquel Lyra que enxergue a caótica realidade da Pajeú frente a esse problema tão sério, e busque sanar com urgência a falta de professores na referida GRE.

Por Eduardo Marini
Da Revista Istoé

O cientista político, jornalista e pesquisador Antonio Lavareda é o nome a ser procurado quando a tarefa é entender variações no ambiente político brasileiro, reações da sociedade a esses movimentos e o que as pesquisas dizem sobre tudo isso. Doutor em Ciência Política, é presidente do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE).

Nesta entrevista à ISTOÉ, ele radiografa o comportamento do eleitor nas últimas eleições, identifica tendências e dá dicas sobre os caminhos a serem seguidos pelos principais figurões políticos do País em 2026. “A divisão da base certamente não foi positiva para Bolsonaro, mas, ao contrário do que muitos pensam, é um bom problema para a direita, que cresce se fragmentando e se fragmenta crescendo. Hoje, ela é bem maior do que o ex-presidente”, resume.

As eleições municipais do domingo, 27, marcaram o fim da ‘era dos extremos?

Elas tiveram uma marca interessante, não prevista por muitos. Em vez de um processo centrífugo, de se afastar rumo aos extremos, houve o contrário: uma força centrípeta, de aproximação com o centro. Muitos analistas afirmaram, até em livros, que a polarização calcificada no segundo turno de 2022 sobreviveria em 2024.

Ao contrário, a moderação e o discurso mais equilibrado, sobretudo entre a centro-direita e a centro-esquerda, foram vitoriosas em larga escala. O primeiro turno da última eleição presidencial foi o mais polarizado da história. O ex-presidente Jair Bolsonaro e o atual, Luiz Inácio Lula da Silva, receberam juntos mais de 90% dos votos.

As lideranças presentes na campanha de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura paulistana têm serviços inequívocos prestados ao País,mas são todas veteranas: Marina Silva, Marta Suplicy, Luiza Erundina… Por outro lado, renovações foram vistas do centro à extrema-direita, e também na centro-esquerda, sobretudo no PSB de João Campos e Tabata Amaral.

Por que isso não ocorre no PT?

O aggiornamento (atualização, renovação, em italiano) está no mínimo dois anos atrasado. Isso para ser generoso. Fácil perceber isso analisando aspectos da eleição de 2022. No segundo turno, Lula só conseguiu vencer na base da pirâmide, de zero a dois salários. Já se revelava, ali, a falta de conexão com novos empreendedores, prestadores de serviços e profissionais ligados à internet, o segmento de dois a cinco mínimos das relações de trabalho.

Um problema equivocadamente destacado como de origem recente. Lula perdeu eleitores também na nova faixa que teve acesso à formação superior, por ironia uma das políticas sociais mais incentivadas pelo presidente. Ganhou entre as mulheres, mas perdeu com larga margem entre os homens. Venceu apenas na Região Nordeste e entre os que tinham, no máximo, o fundamental completo. Então todos os problemas enumerados nesta eleição desgastam o PT desde, ao menos, 2022. A reflexão está no mínimo dois anos atrasada.

Os métodos de ação do partido estão defasados?

Em certa medida sim. Há problemas estruturais e conjunturais. O PT surgiu em 1980, num tecido social muito diferente do atual. Nasceu no chão das fábricas, sindicatos do ABC paulista, movimentos sociais e pastorais da Igreja.

Tudo isso gerou extrema capilaridade e atraiu intelectuais de esquerda e ex-integrantes de organizações clandestinas e da resistência ao regime militar. Pois bem: esse cenário, se não desapareceu totalmente, erodiu em grande medida na nova realidade da desindustrialização, reformas trabalhistas e novos processos de comunicação. O partido não tem presença efetiva e competente nas redes sociais.

O senhor destaca ainda a dificuldade do partido em dialogar com a sociedade sobre o envolvimento em casos de corrupção…

Outro ponto importante. A derrubada da Operação Lava Jato pela Justiça não significou o apagamento ou esquecimento dos problemas do PT relativos à operação na mente das pessoas .

No inconsciente coletivo das classes baixa e média, a questão da corrupção ainda não desapareceu. Se você observar o histórico de São Paulo, por exemplo, verá que todas as mudanças políticas nas últimas seis ou sete décadas estiveram ligadas às reações da sociedade à corrupção.

O PT se recusa a tratar de seu histórico nessa questão. Se comporta como se a situação tivesse sido totalmente resolvida para o partido com a decisão da Justiça em relação à operação. Os brasileiros percebem isso. Não veem esses esclarecimentos como preocupação do governo petista. Mais um dever de casa que o PT se recusa a fazer.

Gilberto Kassab, líder do Partido Social Democrático, Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e o deputado federal Baleia Rossi, presidente do MDB, saíram dessas eleições como grandes vencedores. Lula e Bolsonaro tiveram reveses. Quem perdeu mais?

Bolsonaro. Ele perdeu uma coisa importante para o líder político: o controle absoluto sobre a base. Até a eleição desse ano, sua voz de comando sobre a base era indiscutível. Vieram os conflitos e rebeliões no campo da direita em Curitiba, Goiânia e São Paulo, com Pablo Marçal, num movimento da extrema-direita em desafio à sua liderança.

Bolsonaro desgastou-se tentando conter novos líderes em seu campo. Foi desafiado por Marçal e, mesmo contribuindo decisivamente para a passagem apertada de Ricardo Nunes ao segundo turno, com uma live de apoio de última hora, terminou por fortalecer Tarcísio como único patrono da reeleição do emedebista. Foi pessoalmente para Goiânia e perdeu para Ronaldo Caiado. Apostou forte em Curitiba e foi derrotado.

A fragmentação é ruim para a direita?

Não, ao contrário do que muitos pensam. Ao olhar ligeiro, fragmentação é vista como fragilidade, mas, no caso da direita, é, ao contrário, um bom problema. A direita cresce se fragmentando e se fragmenta crescendo. Hoje, mostra-se bem maior do que Bolsonaro, algo que não se pensava até bem pouco tempo.

Uma trajetória parecida com a do movimento evangélico, que conquistou espaço e ampliou poder justamente após se fragmentar e crescer em número com a multiplicação das denominações. Para forças da centro à extrema-direita, sempre haverá um segundo turno para per dialogar com a sociedade sobre envolvimento em casos de corrupção para permitir a união das partes separadas no primeiro. A fragmentação não é bom problema para Bolsonaro, mas certamente é positiva para a direita.

Lula não esconde que gostaria de ter Gilberto Kassab e seu Partido Social Democrático (PSD) para chamar de parceiros numa aliança forte de centro-esquerda em 2026. Qual será a atitude de Kassab?

Ainda é cedo para dizer com precisão. Antes, Kassab vai sentir a temperatura de seus aliados na Câmara, Senado e candidatos a governos estaduais. As decisões, para ele e todos, começarão a ser tomadas a partir do Carnaval de 2026 — e, como dizia Marco Maciel, quem tem tempo não tem pressa. Em situação confortável, terá três alternativas.

A primeira é lançar uma candidatura que considere competitiva. Ratinho Júnior? Talvez. A segunda é lançar um candidato não competitivo e ir cacifado para a foto da coligação do segundo turno, em condição de negociar. O caso da ministra do Planejamento Simone Tebet, candidata à presidência pelo MDB em 2022, é clássico. A terceira é aderir a Lula ou a outro candidato logo no primeiro turno. Isso geraria uma oportuna economia de fundo eleitoral para ser investida nos candidatos do partido.

Há boatos de que Tarcísio de Freitas estaria decidido a trocar o Republicanos pelo PL. Tentará a reeleição ou disputará a presidência em 2026?

A exemplo de Kassab, ele terá tempo — e vale a mesma máxima de Maciel. Vai ponderar se valerá a pena trocar uma reeleição aparentemente assegurada no estado mais rico do País, por um voo presidencial com todos os riscos envolvidos em um desafio a Lula, com perspectiva de desgaste com Bolsonaro.

É fundamental destacar que as candidaturas presidenciais não são determinadas apenas pela vontade do pretendente, mas, sobretudo, impulsionadas pelas circunstâncias. Imagine que, no início de 2026, as forças políticas dos principais partidos de centro e direita, segmentos importantes do empresariado e parcela expressiva da opinião pública, revelada em pesquisas, mostrem desejo de que Tarcísio tente a presidência.

Seria muito difícil para ele resistir a todas essas pressões poderosas e apelos de seus liderados, ainda que a preferência pessoal seja tentar a reeleição ao governo de São Paulo. Diria que, se 2026, numa situação hipotética, fosse agora, com o exato cenário atual de força de Tarcísio e apelos dos mesmos grupos, ele seria candidato à presidência.

Pablo Marçal será candidato à presidência em 2026?

Há possibilidade considerável de o Superior Tribunal Eleitoral retirar seus direitos políticos. Se isso não ocorrer, certamente que sim. Ele não esconde o desejo de realizar esse projeto. Dias atrás, apareceu ao lado de Tarcísio numa pesquisa, o que deve ter reforçado sua intenção. Disse que ficará na política pelos próximos 12 anos. Precisa combinar antes com o TSE, mas, se for candidato, a direita partirá fragmentada na largada.

No campo da centro-esquerda, o PSB entregou o dever de casa que o PT ainda não fez?

Houve renovação efetiva no partido, iniciada na eleição passada de João Campos para prefeito do Recife e reafirmada agora, na reeleição em primeiro turno com 78,11% dos votos válidos.

Ele e Tabata Amaral simbolizam o novo até pela idade: ambos estão com 30 anos. Campos simboliza o novo ponto de vista da sua idade. Soube adentrar o terreno das redes sociais; é exímio praticante da esgrima da comunicação nessas ferramentas.

Além disso, o PSB elegeu um bom número de vereadores no País, até mais do que o PT, entre eles muita gente jovem. Como o PDT declinou bastante, a tendência é que PSB e PT conduzam pelas mãos o destino da esquerda nos próximos ciclos eleitorais.

O PSB está na frente nas respostas aos apelos da modernidade, e o PT, como disse, precisa fazer urgentemente sua atualização. Aliás, passou da hora. Bolsonaro está inelegível até 2030 e, a depender da evolução de alguns processos, poderá ser preso.

Até que ponto uma vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, na terça-feira, 5, poderá dar fôlego a aliados na luta por uma anistia que o permitiria concorrer em 2026?

O esforço será muito ampliado em caso de vitória de Trump. É preciso saber qual seria a interpretação do Supremo Tribunal Federal caso uma anistia seja aprovada no Congresso, mas as forças de direita e sobretudo extrema-direita estarão automaticamente fortalecidas no Brasil e no mundo, que tornará plausível diversas iniciativas políticas em vários países, incluindo essa no Brasil. A revisão da inelegibilidade de Bolsonaro é hipótese implausível sem a eleição de Trump. Com ela, ganharia força já no dia seguinte.