A lista de Schindler de Raquel
A Lista de Schindler é um filme de drama histórico norte-americano de 1993. Foi focado na salvação de mais de mil refugiados judeus holandeses do Holocausto, principalmente poloneses, empregando-os em suas fábricas durante a Segunda Guerra Mundial. Ao discriminar num documento secreto prefeitos aliados, não alinhados e neutros, na reunião com os gestores eleitos em outubro passado, a governadora Raquel Lyra (PSDB) criou a sua “lista de Schindler”.
Quando o prefeito do Recife, João Campos (PSB), chegou, por volta das 9 horas, na última segunda-feira, ao Expor Center, local da reunião, a lista já havia vazado pela Folha de São Paulo, com reprodução neste blog. Ela divide os prefeitos com a tarja de aliados, não alinhados e neutros, convocados pela própria governadora para estarem no evento, que culminou com os “parabéns” pelo seu aniversário, festejado no mesmo dia.
Leia maisNunca se viu tamanha maluquice. A governadora, de fato, não tem assessoria política. João fechou a cara e em entrevista aos jornalistas desabafou: “Tem que haver respeito entre as gestões, independente de quem faça parte da base do governo ou não. Nós estamos aqui para um ato institucional. Os prefeitos vieram aqui em busca de parcerias com o Estado”.
Pela lista, a que o blog teve acesso, dos 184 prefeitos eleitos em outubro passado, 127 são alinhados ao Palácio das Princesas (leia-se ao Governo Raquel), 52 são adversários (o termo usado no documento é este mesmo – adversários) e cinco são neutros. Se isso foi feito para dar tratamento diferenciado, a governadora deu um tiro no pé.
A partir do momento em que se elegeu, Raquel é obrigada a tratar todos os municípios de forma igualitária, sem discriminar nenhum por ter supostamente eleito alguém distante do seu campo político. Sua postura, desastrosa, diga-se de passagem, nesta lista de horrores, foi condenada por grande parte dos convidados para o evento, que coincidiu com a data do seu aniversário.
Indignado, o deputado Waldemar Borges, da bancada do PSB na Assembleia Legislativa, disse que a tucana governa com o fígado. “Quem discrimina prefeitos que não rezam pela mesma cartilha, discrimina o povo pernambucano. Ela é governadora do Estado, não foi eleita para adoçar a boca apenas de aliados”, disse Wal, como é mais conhecido.
Raquel, segundo ele, deveria se espelhar na postura do presidente Lula (PT), que está do outro lado do balcão. “Apesar da governadora ser do PSDB, partido que faz oposição ao Governo Federal, Lula nunca deixou de atender nenhuma das suas demandas. Estamos diante de um presidente que age como estadista e uma governadora que não tem noção da envergadura do seu cargo”, disse Borges.
ATÉ TOINHO – Numa conversa, ontem, com este colunista, o presidente estadual do PP, Eduardo da Fonte, minimizou a sua participação nos bastidores da eleição na Alepe na qual o seu novo aliado, o deputado Francismar Pontes, derrotou Gustavo Gouveia na disputa pela Primeira-Secretaria. “O mérito todo é da bancada, que votou fechada com Francismar”, disse. Perguntado se o governista de carteirinha Antônio Moraes também teria votado em Francismar e não em Gustavo, o candidato de Raquel, Dudu, como é mais conhecido, não titubeou: “Todos, principalmente Toinho”, afirmou, referindo-se a Moraes.
Gesto com Álvaro – Em entrevista ao blog, o deputado Francismar Pontes (PSB) disse que compreendeu o prefeito do Recife, João Campos (PSB), principal liderança do seu partido no Estado, ao concordar com a orientação do líder socialista na Casa, Sileno Guedes, em apoiar a recondução de Gustavo Gouveia (SD) à Primeira-Secretaria. “João fez um gesto com Álvaro Porto (presidente da Casa), que tem sido correto com ele”, afirmou. Segundo Francismar, Porto assumiu o compromisso de tentar reeleger Gustavo.
A trairagem que Sileno não se dobra – Em nenhum momento, após o resultado da eleição da Mesa Diretora da Alepe, o líder do PSB na Casa, Sileno Guedes, assumiu que houve traição na bancada que lidera. “O que nós enfrentamos foi um candidato muito querido pelos colegas e uma indisposição dos deputados em geral de eleger um primeiro-secretário identificado com Raquel”, afirmou. Mas se não houve traição, como escondeu Sileno, como Francismar derrotaria Gustavo no primeiro e no segundo turno se não tivesse a esmagadora maioria dos votos da maior bancada na Alepe, que é a do PSB, com 13 parlamentares?
Transição travada em Ipojuca – Não é só a prefeita eleita de Sertânia, Pollyana Abreu (PSDB), que reclama da falta de informações na transição administrativa. Em Ipojuca, o prefeito eleito Carlos Santana (Republicanos). “Tem secretários que informam, mas outros só criam dificuldades. Não fico olhando pelo retrovisor, o que passou pertence à gestão anterior, mas não há razão para negarem informações”, disse, ontem, em entrevista à Rádio Folha, do grupo Folha de Pernambuco.
Batendo na porta – De um experiente prefeito, quatro vezes gestor do seu município, ao comentar o resultado da reunião da governadora Raquel Lyra com os novos prefeitos, na qual anunciou um ônibus para cada município. “O que prefeito gosta, na verdade, é de dinheiro para calçar ruas, melhorar acessos, fazer pequenas obras de grande efeito social. Enquanto ela não abrir a cabeça e achar que dando ônibus, fazendo uma creche ou uma cozinha comunitária estará atendendo às necessidades dos municípios, os gestores vão continuar batendo na porta dela”.
CURTAS
DIPLOMAÇÃO – O Tribunal Regional Eleitoral marcou a diplomação dos prefeitos e vereadores eleitos no Recife, Olinda, Jaboatão e Paulista na mesma data. Será no próximo dia 16, a partir das 16 horas, no teatro Guararapes, do Centro de Convenções.
POÇO DE MÁGOA – Líder do Grupo Gouveia, o presidente da Amupe e atual prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia (SD), não engoliu ainda a derrota do irmão Gustavo para a primeira-secretaria. Nos bastidores, aliados dizem que ele reclamou da governadora. “Não houve empenho dela”, teria dito.
PALESTRA – Farei hoje uma rápida palestra na 15ª edição do Prêmio Persona Pernambuco, às 20 horas, no Esporte Clube de Arcoverde. O evento é uma promoção bem-sucedida do meu amigo Adriano Ferreira. Reúne muita gente de peso de várias regiões do Estado. Abordarei as perspectivas para 2025.
Perguntar não ofende: A eleição da Amupe vai se transformar na mesma guerra que se deu pela Primeira-Secretaria?
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