Por Pedro Henrique Reinaldo – Para o Jornal do Commercio
Era uma vez um lixão, como tantos que pululam as periferias das cidades brasileiras. Cenário das mais perversas cenas da degradação humana, com adultos e crianças catando lixo e quebrando pedras para a construção civil local, onde os resíduos sólidos e tudo de descartável da sociedade, sem qualquer tratamento, serviam de insumo para famílias humanas, para os porcos, os insetos e roedores.
Certamente por inspiração missionária cristã, foi justamente neste local, nos arredores de Arcoverde, na porta do Sertão pernambucano, que foi lançada a imaginária pedra fundamental da Fundação Terra, constituída de singela casa de taipa, erigida sobre os fortes alicerces do amor e da fé.
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E a fé tem dessas coisas. Ela inspira, replica, transborda e transforma aquilo sonhado por um, numa grande onda de caridade embalada por milhares de pessoas e dezenas de empresas.
Pude testemunhar de perto nestas últimas décadas a força transformadora desse projeto, que resgatou milhares de pessoas da mais profunda miséria, propiciando abrigo, alimento, educação, saúde e cidadania a tantos excluídos e marginalizados. A antiga casa de taipa se manteve como relíquia, enquanto sólidas e dignas construções passaram a ocupar aquele espaço urbano, até então invisível à sociedade pernambucana.
Alfabetização, formação técnica, amparo a idosos, terapia para dependentes químicos, reabilitação de deficiências visuais, auditivas, motoras e intelectuais, através de seus diversos projetos, reconhecidos e certificados pelos órgãos públicos, municipais, estadual e federal, a Fundação Terra se tornou referência e expandiu seus serviços sociais para o Estado do Ceará, onde atende nas cercanias da comunidade pobre de Maracanaú. Os números superlativos desses serviços assistenciais impressionam. São mais de 120 mil procedimentos de reabilitação a cada ano, 12 mil crianças recebendo educação de qualidade e 300 mil atendimentos sociais a pessoas em situação de risco ou de extrema pobreza.
Aquelas 200 famílias que habitavam a Rua do Lixo, há 40 anos, puderam experimentar o amor de quem doa e encontrar um caminho sólido para o desenvolvimento humano pleno e digno. Hoje são mais de 3 mil famílias atendidas pela Fundação. Mas se isso nasceu do sonho e sacerdócio de um só homem, só se tornou real e ganhou tais proporções em função da adesão voluntária de muitos pernambucanos, cearenses, brasileiros e até estrangeiros, que fazem suas doações mensais para o funcionamento dessa grande engrenagem filantrópica. Os homens vêm e vão, nascem e perecem, mas suas obras ficam.
Nós, doadores, ao celebrarmos estas quatro décadas, devemos refletir com humildade sobre nossa menor ou maior parcela de êxito nessas ações humanitárias, mas também e sobretudo pela nossa responsabilidade e continuidade dessa belíssima obra.
Longa vida à Fundação Terra, para que possa continuar por séculos a cumprir o seu lema: “Na Terra para Servir”.
*Pedro Henrique Reynaldo Alves Advogado, procurador do Estado e ex-presidente da OAB/PE
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