“E aí, Zé Múcio, até quando você vai ficar passando pano na cabeça dos militares?” – perguntou o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) ao ministro da Defesa tão logo o encontrou na festa, ontem, em Brasília, do ex-ministro José Dirceu de Oliveira, que completará, amanhã, 78 anos de idade. As informações são do Blog do Noblat.
Travou-se então o seguinte diálogo:
“Por que, Rui, você quer que eu saia do governo?” – retrucou José Múcio, sorrindo.
Leia mais“Quero, sim, Zé. Por mim, você sequer teria entrado no governo”, – disse Falcão, entre sério e sorridente.
“Estou cumprindo a missão que o presidente me deu” – justificou-se o ministro. “Os militares são de paz.”
“De paz? Mas quase tivemos outra vez um golpe como o de 64” – insistiu Falcão. “E Bolsonaro está solto e circulando por aí a fazer agitação contra o governo. Só prenderam pé-rapado até agora.”
Falcão respirou e foi em frente:
“É um absurdo vocês forçarem o presidente a cancelar eventuais manifestações pela passagem dos 60 anos do golpe. As pessoas têm o direito de celebrar seus mortos”.
Múcio admitiu que os militares ficariam melindrados. Afinal, por decisão deles mesmos, as Forças Armadas não lembrarão no próximo dia 31 o que aconteceu naquele dia há 60 anos.
Falcão falou então sobre a proposta de emenda à Constituição, apresentada pelo Ministério da Defesa, que proíbe o retorno à caserna de militares que dela saírem para disputar cargos eletivos.
A proposta dorme há meses numa gaveta do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa. “E por que ela ainda não foi enviada ao Congresso?” – perguntou Falcão a Múcio. Que respondeu: “Logo será”.
Falcão lembrou que seu colega deputado Ricardo Zarattini (PT-SP) é autor de uma proposta de emenda à Constituição, ainda em construção, que acaba com operações de Garantia da Lei e da Ordem e transfere para a reserva o militar que assumir cargo público.
Zarattini está à caça de mais assinaturas de deputados em apoio à emenda, contou Falcão ao ministro da Defesa, pedindo-lhe ajuda para conseguir tal coisa. Múcio sugeriu:
“Vamos almoçar e conversaremos”.
“Você não vai cantar [na festa]?” – perguntou Falcão, esfriando o tom do diálogo.
“Eu não tenho mais cantado. Nem trouxe o violão” – disse Múcio.
Àquela altura, a casa do advogado Marcos Meira, no Lago Sul, local da festa, estava repleta de nomes graúdos da República. O vice-presidente Geraldo Alckmin acabara de chegar.
Ao todo, compareceram nove ministros, entre eles Fernando Haddad (Fazenda) e Nísia Trindade (Saúde). E mais o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e candidatos à sua vaga.
Não faltaram as três ex-mulheres de Dirceu: Clara Becker, Simone Pereira e Evanise Santos. Nem sua atual namorada: Danyelle Galvão, juíza substituta do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.
Antes de deixar Múcio em paz para cumprimentar Alckmin, Falcão reclamou do atraso no envio ao Congresso de projeto que cria a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos.
O projeto também repousa na gaveta de achados e perdidos do ministro Rui Costa, da Casa Civil. Múcio disse que vai tentar saber por que o projeto encalhou.
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