Filiado ao PDT há cerca de dez anos, o ex-presidenciável Ciro Gomes mantém conversas com o PSDB, que tem interesse no seu regresso. Em 1990, ainda nas fileiras do partido, ele foi eleito governador do Ceará com o apoio de Tasso Jereissati, antecessor no cargo e até hoje o principal cacique tucano no estado. É com Tasso, inclusive, que está a missão de atrair Ciro, que desde a saída da sigla, em 1997, acumula críticas à antiga casa. O político de 67 anos, quatro vezes candidato à Presidência da República, é cotado como possível candidato ao governo do estado no ano que vem.
Presidente nacional do PSDB, que agora estuda novos rumos depois de a ideia de federação com o Podemos ruir, Marconi Perillo afirma que deu aval a Tasso para intensificar as conversas.
— Já autorizei o Tasso a prosseguir nas conversas com ele. Ele será bem-vindo ao partido — diz. As informações são do Jornal O Globo.
Leia maisDepois que a parceria entre PDT e PT foi rompida no Ceará, em 2022, Ciro passou a se aproximar da direita, mesmo estando num partido de centro-esquerda. Chegou até a trocar elogios com bolsonaristas do PL. Para 2026, o PSDB pretende caminhar a nível local na oposição ao PT, que terá o governador Elmano de Freitas como candidato à reeleição.
O próprio Ciro é considerado um possível candidato ao governo, mas há outros nomes de seu grupo político ventilados. Um deles é o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, que deixou o PDT este ano e migrou para o União Brasil.
Afago de bolsonaristas
Nos últimos meses, na esteira da oposição ferrenha aos petistas Elmano e Evandro Leitão, prefeito de Fortaleza, Ciro passou a ser afagado por bolsonaristas. Derrotado na eleição municipal por menos de um ponto percentual no ano passado, André Fernandes (PL) disse em um evento em maio que “Ciro mostrou ser uma pessoa preparada e inteligente, com coragem também para enfrentar o governador Elmano”.
Fernandes reforçou o desejo de unificar a oposição contra o PT no ano que vem. Outro que era adversário de Ciro e passou a ecoar o discurso, também com elogios ao ainda pedetista e possível tucano, foi Capitão Wagner (União), derrotado na eleição estadual de 2022 e na municipal do ano passado.
O racha entre PT e PDT no estado se deu em 2022, quando Ciro decidiu lançar Roberto Cláudio. Os petistas estavam dispostos a apoiar a governadora Izolda Cela, à época filiada ao PDT, mas o presidenciável queria colocar alguém mais ligado a si — Izolda estava na cadeira após a desincompatibilização do atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), que concorreria ao Senado. O PT, então, recusou-se a apoiar Cláudio e lançou Elmano, que venceu no primeiro turno.
Assim que deixou o PSDB, em 1997, Ciro passou a atacar a antiga legenda. Disse, ao anunciar a candidatura presidencial na eleição do ano seguinte — concorreria pelo antigo PPS e ficaria em terceiro lugar —, que se recusava a conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O próprio Tasso, de quem se reaproximou nos últimos anos, foi alvo. Em 2016, ao analisar o cenário para 2018, classificou um grupo da política cearense, incluindo Tasso, como “indústria de picaretas”.
Já em 2017, outro cacique tucano entrou na mira: o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves, classificado por Ciro como “cadáver político”. O mineiro é, ainda hoje, um dos principais quadros tucanos, com ativa atuação nas negociações partidárias.
— Morreu. O que se faz com o cadáver é enterrar — disse Ciro em um evento no Rio, antes de emendar outras críticas aos tucanos. — O PSDB vai fazer campanha situacionista (do governo Michel Temer), segurar a alça do caixão de um governo que tem 3% de aprovação. Vai deixar para véspera da eleição para sair e ficar com justo estigma de oportunista.
Entre o PSDB e o PDT, Ciro passou ainda por PPS, PSB e PROS. Concorreu a presidente quatro vezes, todas depois de deixar de ser tucano. Foram duas pelo partido trabalhista e duas pelo PPS, sigla que virou o atual Cidadania.
Leia menos