Por José Adalbertovsky Ribeiro*
MONTANHAS DA JAQUEIRA – O artigo a seguir, publicado em meu livro “Planeta Palavra – Números são infinitos – palavras são mais infinitas que números”, edição primorosa da Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, com o então deputado constituinte Roberto Freire em novembro-1990, foi produzido em meio ao fracasso do chamado socialismo real no Leste Europeu e à queda do infame Muro de Berlim.
Ex-deputado estadual e federal e ex-senador Roberto era um comunista analógico, ex-militante do histórico MDB, do ortodoxo PCB e mais recentemente dirigente do partido Cidadania. Cérebro pensante das esquerdas, eis um dialético remasterizado, em recesso parlamentar na sua choupana em Brasília. O Brazil de hoje em grande medida veio da Constituinte de 1988, principalmente os privilégios das castas do serviço público. Vejamos.
“Comunista fichado renega o marxismo”
Roberto Freire, um comunista fichado, renega o marxismo-leninismo “e com ele as concepções da ditadura do proletariado, do monopólio do partido único, do centralismo democrático, da predominância dos quadros sobre a participação popular”. Esse modelo exauriu-se, avalia. “Deve ser superado por uma nova cultura e novas concepções extraídas da rica herança teórico-política do movimento socialista e da nova realidade mundial”. Estamos falando da síndrome do socialismo no advento da era Gorbachev.
Ao renegar os dogmas do marxismo-leninismo Roberto faz uma viagem até a era de Nikita Kruschev, cuja maior proeza na memória popular foi bater com os sapatos na mesa em reunião da ONU.
Lembra que o mundo atual com Gorbachev é multipolar. Exemplo: o Oriente Médio, onde Estados Unidos e União Soviética estão do mesmo lado. “Pode até ocorrer uma escalada belicista, mas nunca com riscos de holocausto que o equilíbrio de terror possibilitava”.
Roberto está renegando o socialismo? Vai ingressar no PFL e fazer a pregação do capitalismo? Nem de brincadeira. Observa que o ideário socialista é produto de um movimento histórico e não apenas de ideias brilhantes de teóricos como Marx. “O socialismo, despojado de seus erros, continuará mobilizando corações, mentes, gerando paixões e movimentando milhões de pessoas em todo o mundo por um único motivo: é a proposta mais generosa para o futuro da humanidade. Qual o novo socialismo que você prega? Seria o caso de escrever um livro, mas tentemos transcrever uma síntese do pensamento de Roberto Freire:
“Neste contexto de esgotamento e crise dos projetos comunistas e socialdemocrata, coloca-se para as esquerdas o desafio de repensarem sua trajetória e elaborarem um novo projeto internacionalista, capaz de ser uma alternativa tanto ao modelo do socialismo real exaurido como ao do “Welfare State” (Estado de bem-estar social) social-democrata, limitado por não viabilizar a ultrapassagem do capitalismo. Isso requer uma revisão da fratura do movimento socialista operada depois de 1914, na perspectiva de uma nova Internacional que possa, ao mesmo tempo, fazer frente à internacionalização do capital e implementar uma plataforma de valores universais como a questão da paz, do meio ambiente, direitos humanos e ampliação dos direitos da cidadania”.
*Periodista, escritor e quase poeta