Passei boa parte da minha vida, principalmente na adolescência, ouvindo conselhos dos meus pais. Sobre amizades, mamãe dizia que amigos verdadeiros são pai e mãe. Tinha razão minha mãezona, mas o tempo foi me ensinando que não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades.
A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto. Com o tempo, também aprendi a ler Rubem Alves, que mamãe nunca leu. Disse certa vez o cronista que amigo é alguém cuja simples presença traz alegria independentemente do que se faça ou diga.
Leia maisAristeu Plácido Júnior, que apaga hoje as velinhas de mais uma página virada no calendário da vida, é assim. Meu amigo desde o dia em que optei por morar em Brasília, aportando na cidade de mala e cuia, em 1984. Fui eu que o batizei de “Embaixador de Pernambuco em Brasília”. Me convenci que ninguém transita com tamanha desenvoltura na corte do que ele, anfitrião de mão cheia da colônia pernambucana no Distrito Federal.
Mas diferente de mim, que vim, voltei e nesta fase estou indo e voltando, forçado pelas circunstâncias que a profissão impõe, Aristeu nunca fez o voo do regresso. É o pernambucano mais candango que conheço. Como eu, apaixonado por Brasília, a terra que nos deu régua e compasso. Aristeu é aquele amigo que tornam nossas risadas mais altas, as conversas mais gostosas, a vida mais feliz. É o tipo do amigo que desenvolve a felicidade, reduz o sofrimento, duplica a alegria e divide a dor.
Aristeu é um amigo que ganhei no decorrer da vida e que me enriquece, não tanto pelo que dá, mas pela capacidade de transmitir sentimentos que fazem a vida ser muito melhor. Bonachão e divertido como o pai, o velho Aristeu, com quem aprendi muito nos papos agradáveis e sem fim no Dom Pedro, restaurante dos jornalistas no Recife.
Nunca vi um pai tão apaixonado. Entre talagadas de uísque, percebia no velho que sua alegria era acompanhar o sucesso do filho e ver a felicidade estampada no rosto, reluzindo o orgulho de tê-lo como mestre. Coisa de pai para filho e o filho também o reverenciou a vida inteira, até seu último suspiro.
Ao brindar a vida hoje, Aristeu, lembre-se: a celebração de mais um ano é a celebração de um desfazer, um tempo que deixou de ser, não mais existe. Fósforo que foi riscado. Nunca mais acenderá. Daí a profunda sabedoria do ritual de soprar as velas em festa de aniversário, já disse Rubem Alves.
Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido, porque a vida é bela.
Deixa a vida te levar, Aristeu!
Leia menos